domingo, 14 de dezembro de 2014

Portugal: O MEXILHÃO AINDA PODE SAIR DA CASCA



David Pontes – Jornal de Notícias, opinião

Depois da prisão de Sócrates e do congresso do PS, havia uma prova dos nove que interessava tirar sobre o impacto que estes acontecimentos estavam a ter nos eleitores. A primeira sondagem após estes dois momentos - divulgada pela SIC e pelo "Expresso" - é este instrumento e revela uma ligeira subida do PS, para surpresa geral, mostrando que, pelo menos até agora, os portugueses parecem sufragar a estratégia consagrada por António Costa de separar o caso Sócrates da vida do partido.

Esta será a explicação clássica, de quadro de normalidade, a do engenho político a justificar que a preferência dos portugueses se mantenha no partido de poder que está fora da governação. Uma outra, mais de acordo com a excecionalidade dos tempos que temos vivido, e que os últimos eventos judiciais exponenciam, é de que os portugueses se limitaram a encolher os ombros.

A prisão do ex-primeiro-ministro foi uma surpresa, mas a ideia de que ele seria suspeito de práticas irregulares não foi surpresa nenhuma. Não só pela intensa campanha de Imprensa que há muito decorre contra ele, mas também pela perceção generalizada de que não há partido de poder que não tenha uma galeria longa de casos e suspeitas, dos submarinos à Tecnoforma, do BPN ao Face Oculta, dos sobreiros à Moderna.

Perante este cenário, a vontade popular não encontra justificação para castigar o PS como especialmente fértil em casos, até porque, pensarão, não há nenhuma acusação contra António Costa a não ser a de escolher mal os amigos.

E não encontra justificação, mas também não encontra forma, já que na grelha de escolhas partidárias para uma sondagem como esta, o Livre e o PDR de Marinho e Pinto são ainda frágeis alternativas para o descontentamento em relação ao sistema.

De qualquer forma, os partidos clássicos deveriam olhar para este encolher de ombros com apreensão. O adensar dos escândalos pode bem fazer com que o mexilhão saia da casca se lhe servirem uma alternativa populista que lhe permita castigar quem hoje já lhe suscita mais indiferença do que raiva.

*Subdiretor

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