David
Pontes – Jornal de Notícias, opinião
Depois
da prisão de Sócrates e do congresso do PS, havia uma prova dos nove que
interessava tirar sobre o impacto que estes acontecimentos estavam a ter nos
eleitores. A primeira sondagem após estes dois momentos - divulgada pela SIC e
pelo "Expresso" - é este instrumento e revela uma ligeira subida do
PS, para surpresa geral, mostrando que, pelo menos até agora, os portugueses
parecem sufragar a estratégia consagrada por António Costa de separar o caso
Sócrates da vida do partido.
Esta
será a explicação clássica, de quadro de normalidade, a do engenho político a
justificar que a preferência dos portugueses se mantenha no partido de poder
que está fora da governação. Uma outra, mais de acordo com a excecionalidade
dos tempos que temos vivido, e que os últimos eventos judiciais exponenciam, é
de que os portugueses se limitaram a encolher os ombros.
A
prisão do ex-primeiro-ministro foi uma surpresa, mas a ideia de que ele seria
suspeito de práticas irregulares não foi surpresa nenhuma. Não só pela intensa
campanha de Imprensa que há muito decorre contra ele, mas também pela perceção
generalizada de que não há partido de poder que não tenha uma galeria longa de
casos e suspeitas, dos submarinos à Tecnoforma, do BPN ao Face Oculta, dos
sobreiros à Moderna.
Perante
este cenário, a vontade popular não encontra justificação para castigar o PS
como especialmente fértil em casos, até porque, pensarão, não há nenhuma
acusação contra António Costa a não ser a de escolher mal os amigos.
E
não encontra justificação, mas também não encontra forma, já que na grelha de
escolhas partidárias para uma sondagem como esta, o Livre e o PDR de Marinho e
Pinto são ainda frágeis alternativas para o descontentamento em relação ao
sistema.
De
qualquer forma, os partidos clássicos deveriam olhar para este encolher de
ombros com apreensão. O adensar dos escândalos pode bem fazer com que o
mexilhão saia da casca se lhe servirem uma alternativa populista que lhe
permita castigar quem hoje já lhe suscita mais indiferença do que raiva.
*Subdiretor
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