quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

2015: BOM ANO? PARA QUEM?



Mário Motta, Lisboa

Há cerca de quinze horas que um novo ano começou, 2015. A tradição manda que desejemos à família, amigos e camaradas um bom ano. Aliás, é mesmo nossa vontade (se de cada um de nós dependesse) que 2015 fosse um ótimo ano para todos, para os povos de todo o mundo. Não só para aqueles que nos estão próximos e o povo da nacionalidade a que pertencemos. Contudo as perspetivas globais não indicam que 2015 venha a ser um ano melhor que 2014, 2013 ou anteriores. Desde que a selvajaria capitalista se apoderou dos Estados e inventou uma crise que retornou a concentrar descaradamente a distribuição da riqueza numa vintena de famílias e de corporações que o mundo ficou mais injusto e seus povos muito mais escravizados. O pretexto é a crise. Os mercados, como lhe chamam, é quem põe e dispõe. De toda esta arquitetura o que se sabe é que os ricos estão mais ricos e os pobres muito mais pobres.

O rumo para os povos do mundo é a miséria, a sujeição ao capitalismo selvagem com todas as suas vertentes desumanas, incluindo as guerras que fabrica, dizimando povos e culturas por valores materiais e geoestratégicos que alimentam o capitalismo desbragado. O petróleo, a água, a mão-de-obra barata, a exploração, o esclavagismo andaram e andam à solta para beneficio de uns poucos que são os senhores do mundo, os ditadores que sob o falso pretexto de levarem a liberdade e democracia a países que lhes interessam sobremaneira económica e estrategicamente ocupam-nos, desestabilizam-nos e exploram-nos como já haviam feito os conquistadores de há séculos atrás. Afinal liberdade e democracia para esses da atualidade são palavras vãs. Nem eles já sabem (se é que alguma vez souberam) o que é a democracia ou a liberdade porque desses dois estatutos inferem a justiça e essa é a que mais é pisoteada a nível global.

Existe uma nação principal que está a subverter os valores democráticos, de liberdade e justiça e a aplicar a pilhagem do mundo e dos povos em seu benefício, em benefício do capitalismo selvagem que professa e pratica: os Estados Unidos da América. Outros existem que vão ao arrepio destas políticas, a União Europeia, por exemplo. Este não é o caminho que interesse à humanidade. Tanto não é que na UE os povos padecem de fome em números que desde há cinco anos aumentaram inadmissivelmente. Dizem que se deve à crise. Sim, à crise de valores, à subversão da democracia, da justiça, em benefício das grandes corporações capitalistas. Perante tal quadro vimos a ONU obedecer quase cegamente aos ditames impostos pelos EUA e países seus assimilados e aliados nas políticas e ações de descalabro.

Em 2015 tudo vai ser igual. Até pior se aqueles senhores do mundo considerarem necessário para atingirem os seus objetivos de submissão e exploração dos países e povos. Como podemos desejar um bom ano aos que estão ao nosso lado e vimos no quotidiano sabendo que não passa de um voto irrealizável? Como podemos fazer que acreditamos em dias melhores se permitirmos que tudo continue na mesma? Se não lutamos numa perspetiva patriótica e internacionalista contra o que existe de errado nas políticas e ações vigentes?

Vimos na União Europeia os nacionalismos dos povos de cada país que a constituem. Cada um olha para o seu o próprio umbigo. Vimos compatriotas serem empurrados para a miséria sem reagir nem impondo que assim não aconteça, mudando pelo voto tudo aquilo que está errado. Em vez de votar sempre nos mesmos, aqueles que têm vindo a servir o capitalismo selvagem desbragado. Em Portugal são os do Arco da Governação. Noutros países, da Europa e do mundo, acontece o mesmo. Os eleitores são manipulados e fazem exatamente aquilo para que foram manipulados, sem olhar à volta e para a má vida deles próprios. Sempre na perspetiva do cumprimento das promessas dos políticos dos partidos que estão ao serviço do capitalismo selvagem. Não é por acaso que as doações dos capitalistas aos partidos que à vez ocupam os poderes são generosas. Afinal estão a pagar para que os sirvam. E os eleitores não vêem isso? Não percebem? Não pensam? Não agem? Não lutam pela mudança do que está errado? Não. Até agora não. Em 2015 o que vai mudar? As pessoas vão mudar as suas atitudes ou vão continuar a enfermar de ingenuidade e autismo? Todos sabemos a resposta. A maioria vai apostar em mais do mesmo. E então como querem um ano melhor? Bom ano? Para quem? Para os mesmos de sempre, os que nos exploram e concentram a riqueza entre eles com a obediente colaboração dos governos que os servem e de quem babujam migalhas que lhes proporcionam boas vidas, alguma riqueza… até que se portem bem e se mantenham servis aos intentos e ações do capitalismo.

Um bom ano de 2015 seria mudar radicalmente de políticas. Participar ativamente numa mudança que recuperasse a democracia, a liberdade e a justiça. Urge uma revolução que só é possível pôr em prática se nos revolucionarmos a nós próprios e soubermos sair dos nossos egoísmos e confortos (os que algum têm) para nos entregarmos à luta por uma melhor sociedade. É o caso de Portugal e dos portugueses, é o caso dos países da lusofonia, é o caso dos povos da maior parte do mundo.

Bom ano? Para quem? Só será um bom ano para os povos quando eles fizerem por isso em uníssono, em sintonia com uma luta patriótica e internacionalista que mude mentalidades, comportamentos e ações contrarias aos interesses globais da humanidade. 2015, mais do mesmo ou ainda pior? Pensemos nisso. Depende de todos nós mudar o que está errado. Consentir a desumanidade vigente é um erro crasso e autodestrutivo. Sem ativismo e solidariedade permanentes a humanidade não sobreviverá à guerra que o capitalismo selvagem e global declarou aos países e povos do mundo.

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