Para
a FRELIMO dialogar sobre Governo de gestão está fora de questão. Depois de ter
anunciado essa vontade há algum tempo, a RENAMO insiste agora que pretende um
frente-a-frente com o novo executivo moçambicano.
O
maior partido da oposição, a RENAMO, pretende ainda envolver diplomatas no
caso, mas o Governo minimiza a pressão. A decisão de uma conversação com o
Governo surgiu depois de um encontro de alto nível da RENAMO, em Caia,
província central de Sofala na última terça-feira (20.01).
A reunião, que juntou também os 89 deputados que boicotaram a investidura do novo Parlamento, visava discutir a estratégia futura do maior partido da oposição em Moçambique, que continua a exigir a formação de um Governo de gestão, sob ameaça de criar uma república autónoma no centro e norte do país.
Sobre
o finca-pé relativo ao Governo de gestão, a DW África entrevistou o porta-voz
da FRELIMO, Damião José, que começou por definir os limites de abertura do
diálogo.
DW
África: O Governo da FRELIMO está aberto a iniciar esse diálogo?
Damião
José (DJ): O Governo de Moçambique e a FRELIMO sempre estiveram abertos ao
diálogo, não só com a RENAMO, mas também com todas as forças vivas da
sociedade, porque para a FRELIMO o diálogo é o caminho ideal para a inclusão
dos moçambicanos no projeto de desenvolvimento do nosso país. Agora, em relação
ao dito Governo de gestão, o nosso Governo e a FRELIMO não encorajam que se
promovam encontros para discutir questões que ponham em causa a Constituição da
República e as demais leis. Portanto, a FRELIMO e o Governo de Moçambique
defendem e estão abertos ao diálogo, mas um diálogo para tratar de assuntos que
tem a ver com o bem estar do povo moçambicano e não para falar de assuntos que
possam pôr em causa o cumprimento e o respeito da Constituição da República e
não obedecer as leis que nós mesmo aprovámos. Só para dizer que para a FRELIMO
o Governo de gestão está fora de hipótese.
DW
África: Então quer dizer que o Governo da FRELIMO não vai aceitar um diálogo
com a RENAMO se o tema for Governo de gestão?
DJ: Exatamente
isso. E as razões, como dizia anteriormente, são muito claras. Falar de Governo
de gestão é falar de anarquia do Estado.
DW
África: A oposição queixa-se da falta de inclusão neste Governo, algo que o
Presiente Filipe Nyusi tinha prometido na sua tomada de posse. Como o Governo
pensa fazer essa inclusão de forma a satisfazer os anseios da oposição?
DJ: Quando
a oposição se queixa da inclusão no novo Governo, se calhar percebe o sentido
de inclusão numa visão muito pequena, que seria, por exemplo, convidar membros
da oposição a fazerem parte do Governo. Mas a visão da FRELIMO e do Governo de
Moçambique sobre a questão da inclusão não é nesse sentido. Nós como
moçambicanos, partido FRELIMO e Governo de Moçambique, precisamos de ouvir e,
nalguns momentos, acolher as ideias construtivas de todos os moçambicanos. Não
corresponde a verdade quando se diz que não está a ser posta em prática a ideia
da inclusão defendida pelo camarada Presidente Filipe Nyusi. Ela está a ser
posta em prática, só que para nós não teria nenhum sentido que um membro da
oposição, que tem um programa e filosofia de trabalho diferente da FRELIMO,
viesse a aceitar todas orientações e decisões da direção máxima da FRELIMO. Não
sabemos se isso seria possível.
DW
África: Voltando à questão do Governo de gestão. A RENAMO pretende envolver
diplomatas neste assunto. O Governo da FRELIMO resisitiria a essa pressão?
DJ: Aqui
não se trata de resistir ou não às pressões. O que existe é o comprometimento e
a responsabilidade que a FRELIMO tem em cumprir com as leis existentes no nosso
país. Se tudo estiver em consonância com as leis, a FRELIMO está sempre aberta
ao diálogo. Agora, aquilo que vier a contradizer a Constituição da República,
naturalmente isso não é acolhido. A FRELIMO não encoraja e naturalmente o
Governo de Moçambique também não acolherá qualquer ideia do género.
Nádia
Issufo – Deutsche Welle
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