Rui
Peralta, Luanda
I
- O ataque terrorista ao satírico magazine francês Charlie Hebdo, executado por
dois jovens franceses, os irmãos Kouachi (Cherif e Said) de origem argelina e a
ressonância desse ataque (como o acto de fazer reféns num supermercado
judaico), tornou evidentes algumas graves questões que nos últimos anos têm-se
avolumado, gerando fortes tensões no relacionamento entre os imigrantes islâmicos
e os países que os acolhem.
Os
irmãos Kouachi eram já velhos conhecidos da inteligência francesa. Em 2008
Cherif foi condenado a 3 anos de prisão, devido ao seu envolvimento numa rede
de recrutamento da Al-Qaeda, que enviava terroristas para o Iraque. Os nomes
dos dois irmãos constam em diversos relatórios dos serviços franceses e sírios,
que referem a sua presença na Síria, durante o Verão ultimo.
O
motivo alegado para este atentado ao Charlie Hebdo - que causou a morte a
12 pessoas, entre eles proeminentes cartoonistas, incluindo o editor Stephane
Charbonnier, conhecido por Charb - foram os cartoons sobre o Profeta. A
publicação foi colocada pela Al-Qaeda na sua lista de morte em 2013, embora em
2011 tenha sofrido o seu primeiro atentado, um ataque bombista que destrui as
instalações, mas que não causou mortes.
Os
últimos atentados surgem num período de tensões, em que a extrema-direita
europeia move uma intensa campanha contra as comunidades imigrantes islâmicas. Existe
um conjunto de problemas, que nos últimos 20 ou 30 anos refletem-se
negativamente no relacionamento - e inserção - das comunidades islâmicas
imigrantes com as sociedades europeias que os acolhem e os problemas agravam-se
quando são transferidos para os descendentes dos imigrantes, já europeus. Estas
questões colocam-se a dois níveis: primeiro, a inserção (abrangente a todas as
comunidades imigrantes) e segundo (respeitante apenas aos imigrantes islâmicos)
as tensões internas nos países de origem e os conflitos em curso entre o mundo
islâmico e o Ocidente (Médio-Oriente, Afeganistão, Iraque, Irão, Síria, Líbia,
etc.).
O
atentado ao Charlie vem na sequência do avolumar de tensões que fazem-se sentir
ao nível das dinâmicas externas (as intervenções ocidentais no mundo islâmico)
e ao nível das dinâmicas internas das sociedades europeias e das sociedades islâmicas.
Pode-se erguer um marco que represente o início do cruzamento das dinâmicas das
sociedades ocidentais capitalistas avançadas e das sociedades islâmicas, de
capitalismo emergente: a fatwa lançada pelo clero xiita iraniano sobre Salman
Rushdie, devido aos "Versículos Satânicos". Esta decisão do clero
iraniano vem na sequência do mal-estar da comunidade islâmica imigrante, na
Europa. O ayatolla Khomeyni e muitos outros clérigos iranianos estiveram
exilados durante anos em França, Inglaterra e Alemanha. Tomaram contacto com os
problemas das comunidades e aproveitaram os guetos culturais em que estas
comunidades viviam, impossibilitadas de realizarem o processo de aculturação
devido á cristalização das políticas europeias em torno do multiculturalismo,
que de factor de aculturação passou a factor de conservação da identidade,
impedindo a adaptação necessária. Na ansia de "preservar identidades"
as burguesias dos países europeus produziram guetos, em nome do respeito pelos
valores culturais, foi travado a natural adaptação a partir desses valores
identitários. Ora, com o passar dos anos, com o advento das novas gerações, a
identidade cultural entrou em choque com o meio que a circundava. Os elementos
tradicionalistas da identidade cultural sobrepuseram-se aos factores de
adaptação, os valores entraram em ruptura com os valores dominantes das
sociedades para onde migraram. O resultado foi devastador. Na Europa o Califado
tomou forma.
II
- Antissemitismo, islamofobia e outras fobias identitárias e territorialistas
são exploradas pela extrema-direita europeia e por diversos sectores da
direita, menos extremistas e com um discurso mais moderado, embora populista.
Curiosamente estes sectores da direita parlamentar europeia são os porta-vozes
dos lobbys da indústria da segurança, um negócio que rende milhões e que
estabelece alianças com a indústria da defesa. Forças policiais, militares, paramilitares,
serviços de inteligência, de segurança, vigilância, serviços de fronteiras,
etc., tornam-se clientes-alvo deste rentável negócio que assentou arraiais nos
corredores dos Estados, ao nível dos poderes legislativo, executivo e judicial.
É, portanto, um mercado promissor, onde podem ser descarregados os prejuízos da
crise. O Choque de Civilizações é uma caixa registadora e os seus pregadores
caracterizam-se pelas carteiras recheadas. As expressões onomatopaicas da
extrema-direita são música sacra para os seus ouvidos e a frigida rispidez de
Marine Le Pen um cântico de musa.
Este
mercado é dividido com a extrema-direita islâmica, catalisadora das frustrações
e executante da parte mais suja do negócio. O conjunto representa uma santíssima
aliança que joga com a tradição, a ignorância, a frustração, o desemprego,
enfim com as misérias e desgraças que proporcionam o clima necessários para os negócios
da morte, do terror e da submissão. Fazer caricaturas do Profeta, ironizar com
o "sagrado", fazer rir com os actos épicos, com referencias a
fundadores de nações e afundadores de Povos, é salutar e saudável. O humor e a
ironia são património valioso da Humanidade e têm duas particularidades: 1) são
universais, logo, cosmopolitas; 2) são como o amor, segundo Aristóteles, impossível
de quantificar, pois que a única medida do amor (e da ironia, acrescento eu, á
margem de Aristóteles) é amar (ironizar) sem medidas.
Defender,
como fazem alguns trastes tristes, que as caricaturas do Profeta, a ironia, o
humor, são uma falta de respeito, ou uma pedra arremessada contra as indefesas
comunidades de crentes, vitimas da demoníaca ironia, é como terminar a
história (estória, como se escreve) da Carochinha com o Lobo no caldeirão ou
pôr, na história do Capuchinho Vermelho (ou encarnado, escarlate, rubro) o João
Ratão a comer a avozinha. Mas o objectivo da coerção não se prende apenas com o
humor e a ironia. Prende-se, também com a liberdade de expressão, de
informação, de circulação e com o exercício daquele direito expresso naquele
artigo (qual, mesmo?) daquela Declaração Universal dos Direitos do Homem
(recordam-se dessa declaração? Como? São direitos formais?) que referia algo
sobre escolher o sítio onde se pretende viver...
III
- O Charlie Hebdo, antes de assim se chamar, dava pelo nome de Hara-Kiri e
tinha como subtítulo: "Le journal bête et méchant". Não era objectivo
do Hara-Kiri "atacar os inocentes" como referem, acerca do Charlie,
algumas vozes "politicamente correctas" na Europa e no mundo islâmico,
que choraram lágrimas de crocodilo sobre os recentes atentados, escrevendo nas
entrelinhas tortas que eles, o suprassumo da integridade e da razoabilidade,
bem tinham avisado.
A
história do Hara-Kiri não se prende com nenhum "ultraje" ao Profeta.
O Hara-Kiri teve um grave problema aquando da morte de Charles De Gaulle. Uma
semana antes do herói nacional francês despedir-se da França, das francesas e
dos franceses, ocorreu uma tragédia numa boîte em Paris, em que morreram 20
pessoas. Durante uma semana os jornais, na primeira página, referiam, em título,
"Tragédia em Paris. 20 mortos!" Uma semana depois morre De Gaulle e o
Hara-Kiri, no próprio dia da morte, sai para a rua com a seguinte capa: "Tragédia
em Paris. 1 morto!"
Deuses,
profetas e mitos nacionais são assuntos complexos para a ironia. Muitas das
vezes estes elementos são visceralmente irónicos, ou contêm episódios irónicos,
mas a coisa é sempre encarada com ar sério e compenetrado. O Hara-Kiri ao
ironizar com De Gaulle viu a sua circulação impedida. Sem alarido o trabalho é
continuado na semana seguinte com o Charlie Hebdo (Charlie, de Charles, como o
De Gaulle, embora disfarçado com a imagética de Charlie Brown, uma figura dos
cartoons Peanuts). Este tipo de publicações é incomum. Existem poucas e podem
contar-se pelos dedos. Os norte-americanos conheceram o National Lampoon e o
The Onion, no tempo do Hara-Kiri, em França. Mais tarde, enquanto o Charlie já gozava
de prestígio na Europa, os USA conheceram o South Park, na linha politica e
editorial do Charlie e têm, actualmente, o Raw. Os dinamarqueses têm o
Jyllands-Posten, de direita e que conheceu fama devido a uns cartoons sobre
Islão, que provocaram fortes reações no clero islâmico e nas comunidades islâmicas
imigrantes na Dinamarca e resto da Europa. Os portugueses também conheceram uma
interessante publicação, embora virada para o erotismo de alcova: o “Vilhena".
Estas
publicações, geralmente acusadas de provocadoras e provocativas que causam
reações violentas, são o exercício da liberdade de expressão e agem, numa
sociedade democrática, regida pelo governo das leis, de acordo com o direito
estabelecido, dentro dos limites da lei. O Charlie não provocou ninguém, porque
só o compra ou o lê quem quer. Os que pretendem impor limites á liberdade de
expressão em função do respeito pelo próximo, do combate ao terrorismo ou de um
pretenso multiculturalismo que não passa de um zoo de guetos, esquecem-se ou
ignoram que existem tribunais, onde podem apresentar a indignação, que o
combate ao terrorismo não pode, sob qualquer circunstancia, cortar direitos e
liberdades fundamentais (se isso acontecer estamos perante um acto de
terrorismo de Estado) e os imigrantes não são figuras de museu de cera, são
pessoas, pensam e agem e que o facto de terem emigrado já é um sinal
(independentemente das causas que o levaram a emigrar) de empreendedorismo.
No
fundo impor restrições á liberdade de expressão é como acusar as mulheres vítimas
de violação de serem as culpadas pela violência que sofreram, porque provocaram
com a sua beleza e exuberância os homens que as violaram. São argumentos
defendidos por três tipos de gente: ignorantes; gente movida por má-fé; gente
sem berço. A democracia pressupõe cultura democrática e praxis da liberdade. Os
ignorantes terão de cultivar os seus espíritos. A má-fé tem tratamento
judicial. Quanto aos sem berço, não existem. Todos tivemos berço. Mesmo que
feito de palha (como o do Menino Jesus), ou que seja a pedra por detrás do
monte...
IV
- As comunidades imigrantes são, geralmente, sujeitas às mais diversas formas
de discriminação. Os imigrantes islâmicos no Ocidente, nos últimos anos, são
vítimas de uma descriminação agravada, camuflada nas "medidas de segurança"
do "combate ao terrorismo". Estas comunidades sofrem, durante a sua
migração, inúmeras violações sobre os seus direitos básicos. Emigrar é um
processo complicado na maioria dos seus países de origem. A luta inicia-se pela
obtenção do passaporte, um processo burocrático, que pela sua complexidade e
preço torna-se um luxo impensável para a maioria da população. Depois vem a
autorização para viajar, ainda necessária em muitos países. Ultrapassada esta
fase, constituída, passo-a-passo, por violações flagrantes da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, vem a viagem, geralmente atribulada, feita com
parcos meios e que muitas vezes termina de forma trágica, antes da chegada ao
país de destino. Quando, finalmente, o emigrante assume a figura do imigrante,
as violações continuam. Atirado para o gueto, o imigrante é, simultaneamente,
atirado para a influência da extrema-direita islâmica. A verborreia popularista
e demagógica dos grupos fascistas e o ressentimento que vai crescendo nos
pensamentos do imigrante fazem o resto.
Todos
estes factores associados ao mal-estar causado pela intervenção ocidental no
mundo islâmico tornam a situação explosiva, se adicionarmos o discurso
popularista e a verborreia demagógica do fascismo islâmico. Por outro lado as
movimentações reivindicativas dos imigrantes islâmicos são encaradas, pela
comunicação social, sob um angulo preconceituoso. As comunidades islâmicas
quando exercem os seus direitos vêm os seus protestos secundarizados ou mesmo
transfigurados. Ao manifestar-se, por exemplo, contra os cartoons do Charlie,
as comunidades islâmicas estão a exercer um direito, o mesmo direito que permite
o Charlie publicar os seus cartoons ou aos cristãos protestarem e desencadearem
acções de protesto contra a legislação do aborto. O facto de haver uma lei do
aborto (que defendo), não impede (e nunca deverá impedir) os cristãos de
protestarem, recorrendo á objeção de consciência e a outras formas pacíficas. E
os meios de comunicação divulgam, sem alarmismos, essas revindicações. Mas o exercício
dos direitos por parte das comunidades islâmicas imigrantes, já é motivo de
receios e a notícia deturpa os objectivos, tecendo comentários que nada têm a
ver com o acto em causa. As
manifestações islâmicas são sempre acompanhadas, na imprensa ocidental, pelos
termos "medievalismo", "integrismo",
"fundamentalismo".
Também
o terrorismo tem um duplo sentido, conforme quem o pratica. O fascismo islâmico
pratica actos bárbaros, sem dúvida. Estes actos são em tudo idênticos aos actos
bárbaros da extrema-direita europeia, como o acto terrorista islamofóbico
praticado na Noruega, pelo terrorista ultranacionalista norueguês Anders
Breivik, que assassinou mais de 70 pessoas, ou pelo militante da
extrema-direita sionista Baruch Goldstein, que em 1994, na Palestina,
assassinou 29 pessoas. Estes actos são descritos como actos individuais,
efectuados por indivíduos bem treinados, mas com problemas psicológicos. É
descurado o facto de pertencerem a grupos terroristas e as informações que
chegam a público focam e centralizam a acção individual na concepção, no planeamento
e na execução. São divulgadas falsidades como, por exemplo, que estaremos a
assistir a uma nova forma de terrorismo, assente na execução individual. A
forma não è nova. Já era utilizada pelas células anarquistas europeias e
russas no século XIX e também pelos carbonários e outras sociedades secretas
republicanas. O acto individual foi utilizado no século XX em toda a Europa e
USA, em Espanha na década de 20 e 30, na Indochina, no Médio Oriente, na Africa
do Sul, no Líbano, na Irlanda, no Pais Basco, no Sri Lanka, enfim por todo o
lado, do início ao fim do século XX.
Quando
os ataques são efectuados por grupos islâmicos ou provenientes do Medio
Oriente, as coisas são vistas já no todo, em termos da estrutura organizativa,
mesmo que tendo execução individual. Foi o que se passou, agora, em França. O ataque ao
Hebdo, os reféns no supermercado judeu, foram acções que as autoridades
analisaram em termos organizativos, acções de estrutura. A mesma análise
não foi efectuada no ataque islamofóbico da Noruega e não é efectuada pelos responsáveis
israelitas quando as acções de terror são efectuadas pela extrema-direita
sionista.
V
- Um outro factor deve ser analisado na problemática das comunidades islâmicas
em França: o facto da presença islâmica neste país estar profundamente ligada á
História do colonialismo francês. A maioria das comunidades islâmicas em França
é proveniente de países que esta colonizou, principalmente países do Norte de
África e da África Ocidental. Para entender a forma como as comunidades islâmicas
coabitam na sociedade francesa actual é necessário observar o legado colonial
que influencia a relação entre a França e o Islão. O factor colonial ficou
evidenciado nos motins de 2005, que incendiaram os guetos da França, com
especial incidência em Paris e Marselha. O motivo que incendiou os guetos foi a
aplicação de uma lei que obrigava o sistema educacional francês a
"enfatizar de forma positiva o papel colonial histórico da França".
Os
motins de 2005 originaram um partido laico, o Partido Indígena da Republica
(PIR), um movimento político que abrange todas as comunidades imigrantes e seus
descendentes, já franceses (e que lideraram os motins). O PIR é ignorado pela
comunicação social e pela cultura institucional francesa. A extrema-direita islâmica
diaboliza o PIR e a Frente Nacional, pela boca de Marine Le Pen ameaça
ilegalizá-lo se chegarem ao poder ou tiverem uma força parlamentar que o
permita.
Forca
politica viva e actuante o PIR - tal como os integristas islâmicos e a FN
- é um reflexo da incapacidade da França em libertar-se do seu passado
colonial. A direita gaullista emoldura-o e os socialistas tiram o pó á moldura,
para que o passado fique limpo. Uns e outros reformulam e renovam as políticas
coloniais francesas. São os responsáveis pelo neocolonialismo, enquanto a FN
quer retirar o "neo" e restabelecer o Império, tema que leva Marine a
atingir o clímax...
VI - As
circunstâncias que tornam o fascismo islâmico atrativo para largas camadas da
juventude do mundo islâmico, ou dos descendentes nascidos na Europa, são
similares às que atraem largas camadas da juventude europeia para o neofascismo
europeu: desemprego prolongado, ausência de perspectivas, exclusão.
Nas
comunidades islâmicas residentes na Europa, estas causas são agravadas por
factores socioculturais que prendem-se com o legado colonial que perdura nas
sociedades que foram colonizadoras e nas sociedades que foram colonizadas,
sendo esse relacionamento transfigurado na relação centro/periferia. Sabe-se
que os parisienses Chérif Kouachi e Said Kouachi eram jovens com a vivência
normal dos jovens franceses da camada media-baixa. Ouviam rock francês, os
novos estilos norte-africanos, consumiam marijuana e haxixe, abandonaram a escola
e não têm trabalho. É um quadro característico da crise económica e social da
Europa.
Um
dia entraram numa mesquita, provavelmente convidados por amigos. Mais tarde
viram vídeos da guerra do Iraque, das torturas efectuadas pelos
norte-americanos em Abu
Ghraib e dos assassinatos em Faluya. Nas mesquitas
encontraram consolo e aí radicalizaram-se e foram recrutados pelos bandos
fascistas islâmicos, sendo enviados para o Iraque. Retornam a Paris e mais
tarde viajam para a Síria (muito provavelmente contando com a cumplicidade dos
serviços secretos franceses), sendo inseridos nas milícias do Califado.
Regressam novamente a Paris e criam uma célula. Planejam e executam o atentado
ao Charlie Hebdo, efectuado num momento em que na Alemanha a extrema-direita dirigia
uma campanha islamofòbica.
Se
algo deve começar a ser analisado é a relação entre a extrema-direita europeia
e a extrema-direita islâmica. Estamos, provavelmente, a assistir a uma orquestrada
cadeia de reações, iniciada pelos discípulos do Choque das Civilizações, que
predominam nas ortodoxias académicas do Ocidente (ao nível das Relações
Internacionais e dos Altos Estudos Estratégicos) e no integrismo dos meios académicos
teológicos do mundo islâmico.
Agora
é a fase das hipócritas manifestações de repúdio e já começou uma intensa
operação de repressão, que incide sobre as comunidades islâmicas na Europa e
que muito em breve incidirá sobre a cidadania europeia (o que vai de encontro
aos interesses das cada vez mais retrógradas - e falidas - burguesias nacionais
dos países europeus. Apenas podem subsistir como burguesias nacionais, ou seja,
no quadro do Estado-Nação. Não existe uma burguesia europeia no quadro federal
europeu, razão pela qual a crise prevalecerá até á certidão de óbito do
projecto europeu, se as relações de força no espaço europeu não forem
alteradas).
2015
começa, assim, com um novo cenário: os playboys e os funcionários assalariados
dos monopólios globalizadores que ocupam os aparelhos de Estado dos países
europeus são agora playboys musculados e funcionários assalariados musculados.
E tudo numa relação inversamente proporcional com a inteligência...Quanto ao
Charlie perdurará, nem que seja como um clandestino jornal de parede, feito com
papel higiénico! E, sem qualquer sombra de dúvida, assistirá ao Hara-Kiri das
elites nacionais na Europa e ao Outono das elites islâmicas. E então será
altura de fazer um museu de tralha, em que os bonecos de De Gaulle e do Profeta
serão motivo do riso inocente das crianças...
Fontes
Ramadan,
T. Western Muslims and the future of Islam Oxford University Press, 2013
Spiegelman,
A. Drawing blood http://harpers.org/archive/06/2006
Achcar,
G. The People want: a radical exploration of the Arab Uprising University of
London Press, 2014
Ali,
T. Maximum Horror http://www.counterpunch.org/2015/01/09
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