quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Moçambique: CHEIAS ISOLAM COAMBA E I INGC




“Vêm de helicóptero dizer olá às pessoas mas quando é para socorrer não se vêem helicópteros”

Adérito Caldeira  - Verdade (mz)

O município de Cuamba está isolado do resto de Moçambique, desde a passada segunda-feira (11), após vários dias de chuva torrencial. Enquanto o povo procura ajuda, os governantes em Maputo estão preocupados com os seus cargos e as equipas de emergência “vêm de helicóptero dizer olá às pessoas mas quando é para socorrer não se vêem helicópteros”.

A meio da manhã do dia em que tomaram posse os novos membros do Parlamento moçambicano uma cidadã residente em Cuamba reportou-nos que o rio Muanda estava a subir. Algumas horas passadas o rio galgou as suas margens e submergiu a estrada que conecta um dos mais importantes entrepostos comerciais da província do Niassa com a capital. “Já não se passa para Mecanhelas” relatou-nos e acrescentou que “já não se sai de Cuamba para Nampula devido à subida do caudal do rio Muandá que inundou uma secção da estrada nacional nº8”.

Durante o resto do dia a chuva não deu tréguas, tendo caído mais 70 milímetros de chuva que transformaram a inundação em cheia.

Quase em simultâneo o rio Namutimbwa também não parava de subir e acabou por também sair do seu leito e alagar a estrada, e também a linha férrea, entre o município e a província de Nampula.

Nesta terça-feira (12), alguns trabalhadores da reabilitação em curso nessa via foram “engolidos” pelas águas. Não foi possível apurar se foram apanhados desprevenidos ou se num acto irreflectido tentaram cruzar a estrada, imaginando que as águas não estariam muito profundas. Pelo menos duas viaturas pesadas submergiram. Não conseguimos apurar o que aconteceu com os ocupantes.

A linha férrea, que assegura o transporte de pessoas e bens entre Nampula e Cuamba, e vice-versa, também ficou submersa num troço onde um comboio acabou mesmo por descarrilar.

“A ponte em direcção a Mandimba também já está inundada. Já não há energia há mais de 15 horas e as comunicações estão muito fracas” relatou-nos Margarida, uma residente de Cuamba, que afirma que “centenas de pessoas já perderam as casas que caíram devido às inundações (...). Há pessoas em cima de pedras, em cima de árvores”. Segundo a nossa fonte, os residentes mais antigos do município “dizem que não se lembram de ser tão mau há muitos anos.”

Questionada sobre a presença das autoridades governamentais que prestam apoio, nomeadamente equipas de emergência do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades, que até decretou alerta vermelho para a região Margarida, lamentou nos seguintes termos. “Vêem de helicóptero dizer olá às pessoas mas quando é para socorrer não se vêem helicópteros. Uma triste realidade.”

Cheias isolam Zambézia

Entretanto, na província da Zambézia o drama das cheias não pára de crescer. Em Mocuba cerca de dezenas de milhares pessoas dormiram em salas de aulas (das escolas primárias e secundárias), outras em lojas e residências na zona alta. Quem não foi atingido faz de tudo para ajudar os afectados mas lamenta o fraco apoio do Governo. “Ontem deram comida crua, não havia fogão nem forma de os cozinhar”.

As dezoito crianças, surpreendidas em ritos de iniciação, continuam dadas como desaparecidas, incluindo os seus padrinhos.

No rio Licungo as águas não baixaram. “As casas que estavam inundadas até quase ao tecto já não se vêem” disse-nos Velmilde, residente em Mocuba que se desdobra com outras pessoas menos afectadas para prestar todo o apoio que é possível. “Demos algo para o mata-bicho, vamos dar o almoço”.

A jovem lamenta a lenta intervenção das autoridades. “Está um barco salva-vidas atracado na Polícia quando existem pessoas no meio da água”.

Ainda na província da Zambézia há o registo de três mortos no distrito do Ile, vítimas de desabamento de uma parede. A ligação rodoviária entre Morrumbala e o posto administrativo de Chire está interrompida; o rio subiu de nível e arrastou a ponte metálica que ali existia.

Não há também ligação por estrada com os distritos a norte da Zambézia, como sejam Guruè, Ile, Namarrói, Alto-Molócuè e Gilé.

O Instituto Nacional de Meteorologia prevê a continuação de ocorrência de chuvas muito fortes (mais de 75 milímetros de precipitação em 24 horas), acompanhadas de trovoadas e ventos moderados (até 70 quilómetros por hora) até quinta-feira(15) nas pronvíncias de Sofala, Zambézia, Tete, Nampula e Niassa.

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