“Vêm
de helicóptero dizer olá às pessoas mas quando é para socorrer não se vêem
helicópteros”
Adérito
Caldeira - Verdade (mz)
O
município de Cuamba está isolado do resto de Moçambique, desde a passada
segunda-feira (11), após vários dias de chuva torrencial. Enquanto o povo
procura ajuda, os governantes em Maputo estão preocupados com os seus cargos e
as equipas de emergência “vêm de helicóptero dizer olá às pessoas mas quando é
para socorrer não se vêem helicópteros”.
A
meio da manhã do dia em que tomaram posse os novos membros do Parlamento
moçambicano uma cidadã residente em Cuamba reportou-nos que o rio Muanda estava
a subir. Algumas horas passadas o rio galgou as suas margens e submergiu a
estrada que conecta um dos mais importantes entrepostos comerciais da província
do Niassa com a capital. “Já não se passa para Mecanhelas” relatou-nos e
acrescentou que “já não se sai de Cuamba para Nampula devido à subida do caudal
do rio Muandá que inundou uma secção da estrada nacional nº8”.
Durante
o resto do dia a chuva não deu tréguas, tendo caído mais 70 milímetros de chuva
que transformaram a inundação em cheia.
Quase
em simultâneo o rio Namutimbwa também não parava de subir e acabou por também
sair do seu leito e alagar a estrada, e também a linha férrea, entre o
município e a província de Nampula.
Nesta
terça-feira (12), alguns trabalhadores da reabilitação em curso nessa via foram
“engolidos” pelas águas. Não foi possível apurar se foram apanhados
desprevenidos ou se num acto irreflectido tentaram cruzar a estrada, imaginando
que as águas não estariam muito profundas. Pelo menos duas viaturas pesadas
submergiram. Não conseguimos apurar o que aconteceu com os ocupantes.
A
linha férrea, que assegura o transporte de pessoas e bens entre Nampula e
Cuamba, e vice-versa, também ficou submersa num troço onde um comboio
acabou mesmo por descarrilar.
“A
ponte em direcção a Mandimba também já está inundada. Já não há energia há mais
de 15 horas e as comunicações estão muito fracas” relatou-nos Margarida, uma
residente de Cuamba, que afirma que “centenas de pessoas já perderam as casas
que caíram devido às inundações (...). Há pessoas em cima de pedras, em cima de
árvores”. Segundo a nossa fonte, os residentes mais antigos do município “dizem
que não se lembram de ser tão mau há muitos anos.”
Questionada
sobre a presença das autoridades governamentais que prestam apoio, nomeadamente
equipas de emergência do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades, que até
decretou alerta vermelho para a região Margarida, lamentou nos seguintes
termos. “Vêem de helicóptero dizer olá às pessoas mas quando é para socorrer
não se vêem helicópteros. Uma triste realidade.”
Cheias
isolam Zambézia
Entretanto,
na província da Zambézia o drama das cheias não pára de crescer. Em Mocuba
cerca de dezenas de milhares pessoas dormiram em salas de aulas (das escolas
primárias e secundárias), outras em lojas e residências na zona alta. Quem não
foi atingido faz de tudo para ajudar os afectados mas lamenta o fraco apoio do
Governo. “Ontem deram comida crua, não havia fogão nem forma de os cozinhar”.
As
dezoito crianças, surpreendidas em ritos de iniciação, continuam dadas como
desaparecidas, incluindo os seus padrinhos.
No
rio Licungo as águas não baixaram. “As casas que estavam inundadas até quase ao
tecto já não se vêem” disse-nos Velmilde, residente em Mocuba que se desdobra
com outras pessoas menos afectadas para prestar todo o apoio que é possível.
“Demos algo para o mata-bicho, vamos dar o almoço”.
A
jovem lamenta a lenta intervenção das autoridades. “Está um barco salva-vidas
atracado na Polícia quando existem pessoas no meio da água”.
Ainda
na província da Zambézia há o registo de três mortos no distrito do Ile,
vítimas de desabamento de uma parede. A ligação rodoviária entre Morrumbala e o
posto administrativo de Chire está interrompida; o rio subiu de nível e
arrastou a ponte metálica que ali existia.
Não
há também ligação por estrada com os distritos a norte da Zambézia, como sejam
Guruè, Ile, Namarrói, Alto-Molócuè e Gilé.
O
Instituto Nacional de Meteorologia prevê a continuação de ocorrência de chuvas
muito fortes (mais de 75 milímetros de precipitação em 24 horas), acompanhadas
de trovoadas e ventos moderados (até 70 quilómetros por hora) até
quinta-feira(15) nas pronvíncias de Sofala, Zambézia, Tete, Nampula e Niassa.
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