sábado, 7 de fevereiro de 2015

China - Macau: IMPRENSA E LIBERDADE



CARLOS MORAIS JOSÉ – Hoje Macau, editorial

Agora que as águas acalmaram um pouco talvez seja altura de se voltar a falar de liberdade de imprensa em Macau. Tenho lido e ouvido muita argumentação, na maior parte dos casos de pessoas que não são jornalistas, ou seja, não estão realmente por dentro do assunto. Para muita gente, existir liberdade de imprensa, para além de estar garantida na lei (como é o caso de Macau), significa viver no melhor dos mundos, onde anjos tocam trombetas, o mel escorre das árvores juntamente com o leite, não existem mosquitos e onde os jornalistas gozam de uma liberdade que, para certas estéticas, devia roçar a libertinagem. Ora, acreditem, vê-se logo que nunca praticaram a profissão e não sabem do que estão a falar e, presume-se, também não sabem o que estão a pensar ou, como se diz muito hoje, a “achar”.

Se o achismo se expande a todos os sectores, sobre a imprensa de facto toda a gente acha qualquer coisa. Inclusivamente, são eles que comunicam aos jornalistas se estes são livres ou não de exercer a sua profissão. É que, entenda-se, trata-se de uma profissão e não da liberdade de andar a mandar bocas, enxovalhar ideias ou denunciar casos sem provas, por mera suspeição ou “ouvir dizer”. O jornalismo, para o ser, obedece a regras, a preceitos e a valores, que convém explicitar. O resto é outra coisa.

Se as pessoas que em países como Portugal, EUA ou o Ocidente em geral que existe uma total liberdade de imprensa, recomendo os comentários sobre os media de Noam Chomsky que, muito calmamente, explica como aquilo a que chama “mainstream media” estão claramente controlados e quem não concorda com a cartilha será melhor procurar trabalho noutro lado. Pode é claro fazer um blogue, uma página de notícias na internet e morrer de fome.

Não me venham com tretas: desde o início desta profissão que o jornalista sabe muito bem o que são os jornais e por isso mesmo com o tempo arranjou regras que lhe garantam a independência. A profissão implica saber dar a volta ao texto mesmo quando não existe censura, de modo a fazer passar a notícia que de outro modo se arriscaria a não ser publicada, por ir contra os interesses ou a opinião, por exemplo, dos donos dos jornais. Isto é verdade no Guardian e no New York Times, como o é no Público ou no Diário de Notícias.

O jornalismo não é para anjinhos. Mas muitos gostam de se juntar em coro eclesial, demonstrando uma grande ingenuidade, e bolsar opiniões irrelevantes, cuja utilidade se limita a mostrar como quem as promove se encontra a anos-luz da realidade.

A situação do jornalismo em Macau, em termos de liberdade de imprensa é muito melhor que em todos os países e regiões que nos rodeiam, incluindo Hong Kong. Tenho dito.

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