CARLOS
MORAIS JOSÉ – Hoje Macau, editorial
Agora
que as águas acalmaram um pouco talvez seja altura de se voltar a falar de
liberdade de imprensa em
Macau. Tenho lido e ouvido muita argumentação, na maior parte
dos casos de pessoas que não são jornalistas, ou seja, não estão realmente por
dentro do assunto. Para muita gente, existir liberdade de imprensa, para além
de estar garantida na lei (como é o caso de Macau), significa viver no melhor
dos mundos, onde anjos tocam trombetas, o mel escorre das árvores juntamente
com o leite, não existem mosquitos e onde os jornalistas gozam de uma liberdade
que, para certas estéticas, devia roçar a libertinagem. Ora, acreditem, vê-se
logo que nunca praticaram a profissão e não sabem do que estão a falar e,
presume-se, também não sabem o que estão a pensar ou, como se diz muito hoje, a
“achar”.
Se
o achismo se expande a todos os sectores, sobre a imprensa de facto toda a
gente acha qualquer coisa. Inclusivamente, são eles que comunicam aos
jornalistas se estes são livres ou não de exercer a sua profissão. É que, entenda-se,
trata-se de uma profissão e não da liberdade de andar a mandar bocas,
enxovalhar ideias ou denunciar casos sem provas, por mera suspeição ou “ouvir
dizer”. O jornalismo, para o ser, obedece a regras, a preceitos e a valores,
que convém explicitar. O resto é outra coisa.
Se
as pessoas que em países como Portugal, EUA ou o Ocidente em geral que existe
uma total liberdade de imprensa, recomendo os comentários sobre os media de
Noam Chomsky que, muito calmamente, explica como aquilo a que chama “mainstream
media” estão claramente controlados e quem não concorda com a cartilha será
melhor procurar trabalho noutro lado. Pode é claro fazer um blogue, uma página
de notícias na internet e morrer de fome.
Não
me venham com tretas: desde o início desta profissão que o jornalista sabe
muito bem o que são os jornais e por isso mesmo com o tempo arranjou regras que
lhe garantam a independência. A profissão implica saber dar a volta ao texto
mesmo quando não existe censura, de modo a fazer passar a notícia que de outro
modo se arriscaria a não ser publicada, por ir contra os interesses ou a
opinião, por exemplo, dos donos dos jornais. Isto é verdade no Guardian e no
New York Times, como o é no Público ou no Diário de Notícias.
O
jornalismo não é para anjinhos. Mas muitos gostam de se juntar em coro
eclesial, demonstrando uma grande ingenuidade, e bolsar opiniões irrelevantes,
cuja utilidade se limita a mostrar como quem as promove se encontra a anos-luz
da realidade.
A
situação do jornalismo em Macau, em termos de liberdade de imprensa é muito
melhor que em todos os países e regiões que nos rodeiam, incluindo Hong Kong.
Tenho dito.
Sem comentários:
Enviar um comentário