O
presidente do Conselho Económico e Social (CES), Silva Peneda, defendeu a
necessidade de reformar a zona euro e duvida que seja possível manter a moeda
única numa zona com 18 dívidas diferentes e geridas cada uma por si.
"Era
preciso avançar com reformas importantes na zona euro. Acho muito difícil
manter a moeda única numa zona em que há 18 dívidas públicas diferentes e são
geridas cada uma a seu modo e não há uma perspetiva em conjunto na gestão
dessas dívidas públicas. Também acho muito difícil manter uma moeda única sem
um orçamento a nível da zona euro, o que também me parece complicado",
afirmou o presidente do CES, em entrevista à agência Lusa.
A
cerca de três meses de assumir o cargo de conselheiro na Comissão Europeia,
Silva Peneda considerou que "há muita coisa a discutir" em prol do
sucesso da zona euro, uma vez que "ainda não existe um pensamento orgânico
sobre a zona euro".
O
antigo ministro do Emprego do Governo de Cavaco Silva reconheceu que a política
monetária já existe e que o Banco Central Europeu (BCE) funciona, mas insistiu
na necessidade de "uma política orçamental na zona euro".
"A
união bancária deu uns passos, mas tímidos, e não temos união fiscal. A zona
euro, a moeda única, tinham de assentar numa mesa com quatro pernas e esta só
tem uma perna e meia. A coisa está muito periclitante", disse.
A
falta de equidade na zona euro e, consequentemente, na União Europeia, está a
gerar desilusão entre os cidadãos europeus que perderam a confiança nos
partidos tradicionais, abrindo a porta ao radicalismo e à ascensão de radicais,
como é o caso recente da Grécia, entre outros.
"Porquê
o Syriza? Porquê o Podemos? Porquê a subida da extrema-direita em França?
Porquê o apoio da extrema-direita em França ao Syriza? Porquê alianças entre a
extrema-direita e movimentos da extrema-esquerda há pouco tempo? Esta pergunta
para mim tem uma resposta: tem a ver com o falhanço dos partidos
tradicionais", acentuou.
A
desilusão é, no entender de Silva Peneda, uma das principais razões desta
mudança entre os europeus.
"Hoje
há muitos milhões de europeus que estão desiludidos com o papel dos partidos
tradicionais e há muitos milhões de europeus que também estão desiludidos com a
forma como a União Europeia está a caminhar. Esta história de dizer que a
democracia está nos nossos corações, esta só está nos corações das pessoas se
as pessoas sentirem que os seus problemas estão a caminho de ser resolvidos.
Quando sentem que em vez de serem resolvidos estão a piorar, as pessoas não
podem ter a democracia no seu coração e temos aqui um problema político muito
sério", sublinhou.
O
surgimento de movimentos como o Syriza, na Grécia, ou o Podemos, em Espanha,
significa que "o poder político, até agora, não tem tido capacidade para
dar resposta aos anseios das pessoas", gerando "desesperança".
A
situação mais gravosa é, segundo o presidente do CES, nos países do Sul da
Europa, nomeadamente, Espanha, Chipre, Portugal, Itália e Grécia, onde a taxa
de desemprego média simples desses países é de 17% [na zona euro é de 10%],
sendo que o valor da taxa de desemprego dos jovens nestes países ultrapassa os
40%, enquanto na União Europeia é de metade.
"Temos
um problema muito grave no Sul da Europa e esta região tem de ser vista de uma
forma excecional e de uma forma muito específica porque a realidade é
diferente", advogou.
Silva
Peneda disse ainda que não acredita no perdão da dívida grega, mas assinalou:
"Tudo o que vier a ser benéfico em termos de concessões à Grécia estamos
na fila e não podemos deixar de exigir as mesmas coisas".
Lusa,
em Notícias ao Minuto
Sem comentários:
Enviar um comentário