Pedro
Bacelar de Vasconcelos* – Jornal de Notícias, opinião
Foi
um espetáculo inédito de humilhação gratuita de um estado soberano. Ao Ministro
das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, foi dada a oportunidade de exibir num
espetáculo televisivo a Ministra das Finanças de Portugal, Maria Luís
Albuquerque, como troféu de uma política europeia errada que destrói a
solidariedade entre os povos, perturba o funcionamento dos sistemas políticos
democráticos e ameaça a própria sobrevivência da União.
Enquanto
Schäuble mostrava a sua cobaia como prova do sucesso dos "programas de
resgate" conduzidos pela "troika", o Presidente da Comissão,
Jean-Claude Juncker, admitia o falhanço dos mesmos programas, denunciava a
falta de legitimidade democrática da solução corporizada pela
"troika" e pedia perdão pelas ofensas assim consumadas contra a
dignidade dos povos da Grécia, da Irlanda e de Portugal!
No
Parlamento Europeu, também o Grupo dos Socialistas e Democratas, pela voz da
sua Vice-Presidente, a deputada Maria João Rodrigues, tomava posição em defesa
da necessidade de se chegar a um acordo com o Governo grego para mudar as
políticas de austeridade dos últimos cinco anos, responsáveis pela gravíssima
crise humanitária que assola o país sem que se consiga travar um endividamento
crescente.
Por
último, o Banco Central Europeu abriu a linha de crédito de emergência
solicitada pela Grécia, para acorrer às necessidades imediatas de
financiamento, enquanto prosseguem as negociações nas instâncias competentes.
Ao
contrário dos que vaticinaram a sua rápida e inevitável rendição, o Governo grego
soube assumir com exemplar determinação - e até inusitada cordialidade e
elegância! - as promessas que contraiu perante os seus eleitores. É tempo de os
governos reconhecerem à mesa do Conselho que não há futuro para o projeto
europeu sem capacidade de negociação e compromisso, sem a consideração do
interesse nacional de cada estado membro e o respeito devido à vontade
democrática dos seus representantes legítimos. A Grécia é a principal credora
da solidariedade dos povos da Europa.
O
Governo português ficou aprisionado na armadilha que ele próprio teceu.
Desfeito o mito da ausência de alternativa política, já não tem como justificar
as consequências desastrosas das escolhas que fez nem tem fôlego para
contrariar o estatuto de irrelevância que cultivou, ao longo de quase quatro
anos, junto dos seus "tutores". Ninguém pergunta nem já quer saber o
que pensa ou vai fazer este Governo e esta maioria. É a hora da oposição.
*Professor
de Direito Constitucional
Foto:
EPA
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