Díli,
26 fev (Lusa) - O presidente do Parlamento Nacional timorense pediu hoje a
outros países e a instituições estrangeiras que deixem de "perturbar"
e respeitem a decisão "fundamental e estratégica" de Timor-Leste
sobre as suas línguas nacionais, tétum e português.
"Tenho
visto, desde o início, infelizmente, interesses estranhos a Timor a perturbar
as escolhas fundamentais estratégicas que o país tomou", disse Vicente da
Silva Guterres em entrevista à Lusa.
"Peço
às pessoas que são estranhas a Timor que nos respeitem. Que respeitem as opções
fundamentais que os timorenses tomam relativamente aos seus interesses
fundamentais. Peço a países estrangeiros ou instituições das Nações Unidas que
respeitem a vontade dos timorenses", afirmou.
Vicente
da Silva Guterres falava à Lusa dias antes de o parlamento timorense debater e
votar - está agendado para terça-feira - uma Apreciação Parlamentar para revogar
a vigência de dois polémicos diplomas que colocam o português como língua
principal apenas no 3.º ciclo.
Os
quase 20 deputados que assinam a Apreciação Parlamentar consideram que os dois
diplomas do Governo - publicados no Jornal da República em janeiro - são
inconstitucionais e "afetam negativamente o ensino da língua portuguesa em
Timor-Leste".
Os
deputados acham "flagrantemente contraditório" que o Governo, no
mesmo diploma, proclame o objetivo de "garantir um sólido conhecimento de
ambas as línguas oficiais", mas acabe por as discriminar, "colocando
em papel de destaque as línguas maternas e o tétum".
Os
parlamentares consideram que o diploma faz "perigar a aprendizagem do
português ao não lhe atribuir a devida importância na fase da vida da criança
em que ela está mais predisposta à assimilação de conhecimentos".
Afirmando
que tem defendido a mesma posição sobre as duas línguas oficiais "desde
sempre", o presidente do parlamento pediu aos timorenses que sejam
"coerentes e consequentes".
"Trata-se
de uma decisão fundamental para o país, maduramente pensada, na convicção de
que é vital para a sobrevivência de Timor como pais independente que possa
dominar de uma forma definitiva a língua portuguesa", afirmou.
Vicente
da Silva Guterres disse que defendeu esta mesma posição, esta semana, num
encontro que a vice-ministra da Educação, Dulce Jesus Soares, que, acompanhada
de duas assessoras portuguesas, defendeu os decretos.
O
presidente do parlamento disse ter ficado "admirado" e "não
conseguir compreender" o facto de os decretos terem sido defendidos por
duas assessoras portuguesas.
E
insistiu que, "independentemente de todas as teorias", ele próprio é
um exemplo de que ensinando o português desde o início se consegue aprender
essa língua, mesmo que não seja a materna.
"Aquilo
que convictamente defendo é que se avance, em simultâneo, com as duas línguas
oficiais: o português e o tétum. O português pode arrastar o tétum e o tétum,
juntamente com o português, podem desenvolver-se de forma harmoniosa, consolidando
os nossos conhecimentos nas duas línguas oficiais", disse.
"E
consegue aprender-se o português sem esquecer as línguas maternas. Adquiri o
português e não perdi as minhas línguas maternas", afirmou.
Vicente
da Silva Guterres afirmou que há exemplos em que a implementação de programas
de promoção das línguas maternas, como a África do Sul, só pretendeu impedir o
acesso a outra língua, que poderia fornecer maiores conhecimentos científicos.
"E
aqui perto, na nossa região, também se foi nesse sentido. Para dividir, desunir
e evitar que o povo dê um salto e se possa inserir adequadamente neste mundo
globalizado", afirmou.
ASP
// JPS
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