terça-feira, 31 de março de 2015

Moçambique. ERA GUEBUZA CHEGOU AO FIM. E AGORA?




Em Moçambique, analistas consideram que o chefe do Estado, Filipe Nyusi, eleito como novo presidente da FRELIMO, o partido no poder, já pode operar mudanças profundas na governação do país.

A sucessão põe fim a uma gestão bicéfala de Moçambique, caraterizada pela subserviência do Presidente da República ao seu partido, e marca uma nova etapa de governação, em que Filipe Nyusi deverá materializar a sua perspetiva inclusiva de governação, segundo analistas.

Aliás, esta foi parte do discurso do novo presidente da FRELIMO, no encerramento da quarta sessão do Comité Central, encontro onde Nyusi foi eleito para o cargo.

"Ciente da missão histórica do nosso partido como o guardião do estandarte da paz e do desenvolvimento, vamos concentrar os nossos esforços na mobilização dos nossos membros e militantes para que continuemos empenhados no fortalecimento do papel da FRELIMO na edificação de uma sociedade de justiça social, de inclusão, de tolerância e harmonia", destacou Filipe Nyusi.

Governo e partido devem falar a mesma língua

O analista João Miguel refere que o estadista deverá garantir que tanto o partido como o Governo falem a mesma língua no tratamento dos assuntos de interesse nacional, como é o caso das negociações que decorrem com a RENAMO, o maior partido da oposição no país.

"Num dado momento, Nyusi enquanto Presidente dizia uma coisa e outros integrantes da FRELIMO diziam outra coisa totalmente diferente. Agora, enquanto dirigente do partido e também chefe de Estado, Nyusi estará em melhores condições para que, de facto, possa fazer avançar o processo que visa a concretização de uma paz efetiva", disse João Miguel.

Outro desafio de Filipe Nyusi enquanto Presidente da República e da FRELIMO, segundo o analista, passa por garantir a coesão necessária no partido, por forma a transformá-lo numa força política ajustada ao atual contexto democrático, onde o respeito às diferenças de pensamento é cultivado. "Não foi fácil, porque havia uma ala dentro do próprio partido que defendia a permanência do antigo Presidente Armando Guebuza como líder da FRELIMO. Agora, ele vai ter esta missão espinhosa, difícil, de congregar os membros se quiser manter a unidade, que é fundamental no seio da FRELIMO."

População quer estabilidade e paz

Por seu lado, o analista Dércio Alfazema considera que esta sucessão permite que o estadista governe o país de forma confortável nas suas relações com os membros do partido, mas representa uma enorme responsabilidade perante o povo.

"Agora não há outra justificação. Nyusi deixou sempre claro aquilo que eram as expetativas da população em relação ao seu mandato e as pessoas também foram claras em relação ao que esperam de Nyusi. Portanto, há uma espécie de acordo estabelecido e, aparentemente, as condições estão criadas para que haja a devida resposta. Acho que é uma leitura muito justa e sábia que Nyusi fez em relação àquilo que as pessoas mais esperam. Por exemplo, a população quer estabilidade e paz, que estiveram muito ameaçadas nos últimos tempos e condicionaram muito a vida das pessoas. Acredito que este processo vai ganhar uma nova dinâmica e celeridade nos próximos dias."

Durante a governação de Guebuza, a FRELIMO foi fortemente criticada pelo seu caráter autoritário na abordagem de assuntos de interesse público. A questão que fica por responder é se, de facto, Nyusi saberá ou não influenciar os seus correligionários para uma abordagem política consentânea com os princípios democráticos.

Ernesto Saúl (Maputo) – Deutsche Welle

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