José
Mendes – Jornal de Notícias, opinião
A
profunda crise que assola Portugal gerou a mais problemática vaga de emigração
da nossa história. Ao contrário do que aconteceu no passado, designadamente na
década de 1960, o fenómeno assume agora um carácter mais transversal, já que
inclui os habituais menos qualificados mas também aqueles que se designam por
talento, que são genericamente licenciados mais ou menos jovens. Num país de
fracos recursos, menos massa cinzenta significa menos competitividade, logo
menos riqueza, mais crise e, de novo, mais propensão para a emigração. Importa,
pois, quebrar esta espiral, um desafio que demanda sensibilidade e políticas
ajustadas à gravidade do fenómeno.
Começando
pela sensibilidade, o Governo português demonstrou a sua indiferença quando, em
2011, o primeiro-ministro convidou os seus concidadãos a zarpar para outras
terras, aliás bem secundado por um secretário de Estado que recordou a
necessidade de sair da "zona de conforto". Estava dado o tiro de
partida para a nova espiral da emigração. Quase quatro anos depois, partiram
entre 300 e 400 mil portugueses, com lágrima no olho e revolta na alma.
Quando
já nada o fazia prever, o Governo tira da cartola um dos mais ridículos, para
não dizer cínicos, apontamentos da sua governação. No final do Conselho de
Ministros desta semana, o secretário de Estado Pedro Lomba brinda-nos com um
exótico briefing de fim de mandato, onde nos faz saber que os números da emigração
estão empolados e que há muitas décadas que não havia em Portugal uma política
para as migrações que contemplasse incentivos ao regresso dos emigrantes. E vai
daí apresenta o programa VEM (Valorização do Empreendedorismo Emigrante), uma
ideia ainda sem qualquer especificação que visa, imagine-se, fazer regressar 40
a 50 portugueses emigrados.
Mas
a pérola maior estava ainda para chegar. É que as medidas de que beneficiará
aquela meia dúzia de emigrantes poderão ser também aproveitadas pelos
residentes. Esta é a nova política das migrações! Há formas de fazer
eleitoralismo populista sem insultar a inteligência dos emigrantes e dos
restantes portugueses.
Se
não fosse já tarde demais, proporia ao Governo português a leitura do
"Consultation Paper" para a revisão do compromisso da Irlanda com a
sua diáspora, datado de 2014. E recordava que, desde o ano passado, o Governo
Irlandês passou a integrar um ministro para a diáspora. Fica à atenção do
próximo Governo, do qual se espera a seriedade que este não demonstra.
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