Pedro
Marques Lopes – Diário de Notícias, opinião
Ogoverno
finalmente apercebeu--se de que muitos portugueses estavam a abandonar o país.
Muito a custo, parece ter admitido que isto de muita gente sair é capaz de não
ser assim uma coisa tão boa. Que um país perder em três anos 7% da população
ativa não será um bom indicador para o futuro da comunidade.
Vai
daí, alguém se lembrou de pôr o secretário de Estado adjunto do ministro
adjunto a tratar do assunto. Porém, pelas abundantes declarações do cavalheiro,
não parece que ele lhe dê grande importância. Lá foi dizendo que Portugal
sempre foi um país de emigrantes e que isto da mobilidade até é uma coisa boa.
Deu até o seu exemplo pessoal: também ele esteve a estudar no estrangeiro e
depois regressou. Um exemplo apropriadíssimo para a recente saída em massa de
portugueses para fora da sua zona de conforto. Estavam eles superconfortáveis
sem emprego, sem horizontes, sem meios para sustentar a família e lá foram
estudar para uma universidade qualquer.
Pedro
Lomba tem razão: sempre fomos - na esmagadora maioria das vezes, pelas piores
razões - um país de emigrantes. Porém, desde que há registos credíveis, que não
tinha saído tanta gente - nem nos anos 60 foi como nos últimos anos. Mas isso o
secretário de Estado não sabe. Aliás, ele nem sabe quantos portugueses saíram.
Como disse ao jornalista Paulo Magalhães, na TVI 24, acha que foi bastante
gente e tem duas certezas: que não foram 400 mil pessoas e que há muita
desinformação sobre o assunto. Aliás, percebeu-se pela entrevista que eram as
duas únicas coisas que Pedro Lomba, de facto, sabia. Digamos que é um bocadinho
estranho que o homem a quem foi dada a incumbência de tratar assuntos
relacionados com a emigração não tenha sequer uma ideia de quantas pessoas
estamos a falar. Até era fácil, bastava consultar a Pordata e teria a
informação de que de 2011 a 2013 saíram 350 504 - ainda não há registos
respeitantes a 2014 e para 400 mil falta pouco. Detalhes, bem entendido.
Seja
como for, desconhecendo a razão pela qual tanta gente teve de sair do país e
tendo apenas uma ideia vaga de quantos foram, o secretário de Estado engendrou
um plano para apoiar os portugueses que querem regressar.
Bom,
quem queira não; quem se candidatar a um subsídio para lançar um negócio. Uma
coisa com viabilidade, com arrojo, com espírito empreendedor. Portanto, o
empreendedor secretário de Estado analisará se o emigrante que não conseguiu
empreender no estrangeiro ou que prefere agora empreender em Portugal tem um
projeto com viabilidade e se é um verdadeiro homem de empreendimentos. Se for,
subsidia-o em dez mil euros, ou, se mostrar ser mesmo um fantástico
empreendedor, leva 20. Ui, isto é que vai ser empreender. Não estou a ver que
negócio se lança com essa fortuna, mas deve ser para aí uma fábrica de alta
tecnologia ou assim - não tenho conhecimento se as viagens de volta do
emigrante e da sua família estão incluídas.
E
quantas pessoas poderão concorrer, ou seja, quantos portugueses poderão VIR ao
abrigo do programa VEM, queria saber o referido jornalista da TVI 24, "30?
40?". Parece que são 40, numa primeira fase, claro. "Mas...",
espantou-se o Paulo Magalhães, "saíram 350 mil..."Mas o secretário de
Estado não queria ouvir falar do número de pessoas que se tenciona captar com o
VEM. A questão não é essa, disse, já exasperado, o governante, "o que
conta é a intenção".
E
quanto custa o VEM? Qual a dotação orçamental? Isso não interessa nada, o que
conta é que se "criou um quadro", diz Pedro Lomba.
"Números?", insistia o Paulo Magalhães, "as coisas não se fazem
assim", suspirava o secretário de Estado, com certeza por achar que o
jornalista não percebia que havendo intenção não era necessário mais nada.
É
compreensível que o Pedro Lomba não goste de falar de números. Um cavalheiro
que acha que dando um subsídio de dez mil euros a uma pessoa, que mudou toda a
sua vida para outro país, a faz regressar não está preparado para fazer uma
continha de somar que seja.
Não
vale a pena tentar explicar a quem tem o desplante de apresentar uma coisa tão
disparatada, que acha que não tem de definir objetivos, que julga desnecessário
falar de números, que não se preocupa em saber sequer quantas pessoas saíram do
país, que fala de intenções e, cheio de autoridade, que diz "que as coisas
não se fazem assim", que não é com uns subsídios patéticos que se faz
regressar quem quer que seja. É evidente que quem se resigna a fazer esta ação
de campanha eleitoral mal amanhada não imaginará que está a insultar quem foi
obrigado a deixar o país por puro desespero.
O
mais preocupante no VEM não é a manifesta incompetência e impreparação de quem
o fez ou apresenta, é a forma leviana como se olha para um problema que é
central para o país.
Mas,
pronto, foi giro, sempre deu para matar saudades dos briefings do secretário de
Estado. Nada como umas boas gargalhadas para nos dar algum ânimo. E bem
precisados estamos.
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