Martinho Júnior, Luanda
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– O agrupamento FAPLA/FAR/PLAN tiveram antecipadamente, ao nível do seu mando,
ao nível de José Eduardo dos Santos, de Fidel de Castro, de Sam Nujoma e de
Oliver Tambo, entre outros mais, a visão das possibilidades de criar vantagens
estratégicas que inevitavelmente se iriam reflectir depois nas conversações, a
fim de alcançar os objectivos maiores: a independência da Namíbia, por tabela o
fim do regime de Ian Smith e a independência do Zimbabwe, bem como o fim do
próprio “apartheid”, com a introdução de eleições abrangentes na base de 1
homem / 1 voto.
A
plataforma ideológica permitia encontrarem-se denominadores comuns na luta.
Sem
essa visão, fruto da doutrina progressista que dominava a “Linha da
Frente”, seria impossível introduzir meios, em tempo oportuno, que resultaram
no desequilíbrio a favor do Movimento de Libertação em África, no próprio
teatro de operações.
A
experiência das possibilidades estratégicas e dos cenários que seriam assim
produzidos, era algo que estava antes da tomada efectiva das decisões, por via
da paciente colecta de dados, assim como de sua análise e foram os aliados dos
angolanos e por inerente tabela os próprios angolanos, que tiveram a noção mais
exacta da situação internacional, da África Austral e da própria África do Sul,
face aos desafios que se impunham
A
diplomacia e os serviços de inteligência cubanos já haviam demonstrado suas
capacidades e aptidões em 1975, antes de ser desencadeada a Operação Carlota,
quando fizeram um exame muito apertado do poder real que estava nas mãos,
sobretudo, de Henry Kissinger (outro assíduo do “Le Cercle”, para além,
entre outros mais, do “Clube Bilderberg” e “Trilateral”).
De
facto nessa altura, os serviços diplomáticos e de inteligência cubanos puderam
avaliar os reflexos do “síndroma do Vietname”, não só na sociedade
norte-americana, mas sobretudo enquanto pressão sobre a administração de turno,
a de Gerald Ford, ela própria debilitada com a imposição de saída de Nixon.
Por
outro lado, a máquina burocrática-administrativa norte-americana demonstrou ser
demasiado lenta face a imprevistos, como o que proporcionou Cuba…
As
conclusões dos cubanos, sobre o que haviam diligentemente coligido e observado,
possibilitaram avaliar da debilidade de suas potenciais respostas e enviar rapidamente
para Angola, praticamente em cima do desencadear dos acontecimentos, um
contingente importante (Operação Carlota) que participou nas três batalhas
decisivas de Cabinda, de Kifangondo e do Ebo e permitiu a vitória ao MPLA no 11
de novembro de 1975, numa autêntica odisseia para quem possuía uma Marinha e
uma aviação tão diminutas.
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– A constatação dos serviços de diplomáticos e de inteligência cubanos, a
quente sobre os desenvolvimentos relacionados com a Operação Carlota em Angola
e suas implicações na África Austral, incluíram mesmo assim e necessariamente a
hipótese de a administração de turno nos Estados Unidos, onde imperava o
Secretário de Estado Henry Kissinger, desencadear uma escalada sem precedentes
de acções militares, sobre Cuba, nas rotas marítimas e aéreas entre Cuba e
Angola e mesmo em Angola.
Sinais
disso teriam sido colhidos pelo jornalista soviético Oleg Ignatiev, conforme o
que escreveu no seu livro “Uma arma secreta em África”.
Tive
a oportunidade de acerca disso, no primeiro artigo subordinado ao tema “Trinta
anos depois o desembarque” (publicado no Semanário “Actual”, na
Internet em 2006), sublinhar os riscos que corriam o movimento de libertação em
África e a revolução cubana:
Para
o movimento de libertação as dificuldades, naqueles anos de 1974, 1975 e 1976
foram porém muitas, no campo militar e no campo das operações encobertas, desde
a trajectória de Daniel Chipenda, que em desespero de causa acabou por se “oferecer” aos
racistas Sul Africanos jogando um papel importante na constituição da força
tarefa que foi disposta por aqueles contra Angola (“Operação Savannah”, pela
via da “Task Force Zulu”), até aos riscos duma intervenção militar
norte-americana que, se ocorresse, iria perturbar ou alterar profundamente a
geo política e a geo estratégia da luta contra o colonialismo e contra o regime
do “apartheid”.
Muito
provavelmente os Estados Unidos teriam obtido ganhos muito sensíveis em África
já na segunda metade da década de setenta se levassem avante a decisão da
intervenção em Angola, apesar de a nível interno os falcões se verem obrigados
a defrontar o cepticismo do eleitorado norte-americano, indelevelmente marcado
pela derrota no Vietname e a sua política externa em relação a África ter de
passar pelo crivo da situação muito incómoda de se ver identificada e alinhada
com o governo corrupto de Mobutu e com o peso tão negativo do regime do “apartheid” .
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– A força tarefa de intervenção militar dos Estados Unidos, segundo Oleg
Ignátiev (um dos historiadores soviéticos que acompanharam os acontecimentos de
então), em “Uma arma secreta em África”, chegou a estar preparada para a
intervenção e em movimento na direcção de Angola, pelo que a força tarefa da
CIA, que foi comandada por John Stockwell, era apenas a vanguarda do
dispositivo total a empenhar.
Oleg
Ignátiev sita a propósito um “relatório secreto preparado para uma
organização internacional muito prestigiosa, sobre a participação da RSA e dos
EUA na guerra de Angola”, mencionado a 11 de Janeiro de 1976 pelo jornal
Londrino “The Observer”, segundo um artigo assinado pelo jornalista David
Martin:
“No
relatório diz-se que uma esquadra de navios de guerra americanos que incluía o
porta-aviões Independence, um cruzador porta foguetões e três contra
torpedeiros de escolta, entre 15 e 23 de Novembro de 1975, recebeu ordens para
estar pronta a executar uma missão no conflito Angolano.
No
portaaviões Independence havia 90 aviões a jacto F-14, Phantom e depois de 15
de Novembro o navio recebeu mais algumas centenas de toneladas de napalm, os
foguetões sidewinder e bombas de metralha anti pessoal.
Juntamente
com o Independence, no porto americano de Portsmouth encontravam-se as fragatas
americanas Bowen e Ainsworth, o contra torpedeiro porta foguetões Farragut, o
navio de salvação Kitywake e dois navios de transporte Kalamazzo e Denebola.
O
porta-aviões Independence, segundo se diz no relatório secreto, fez-se ao mar
em Portsmouth na noite de 27 para 28 de Novembro e, como afirmam círculos bem
informados, acompanhado pelo Bowen e pelo Ainsworth.
Na
primeira quinzena de Dezembro esta esquadra fez uma paragem nos Açores para se
abastecer de alimentos e combustível. Os navios encontravam-se em estado de
preparados para o combate.
O
facto do porta-aviões e os navios que o acompanhavam estarem preparados para o
combate deve ser avaliado à luz da informação transpirada dos círculos
governamentais do governo americano, de que aviões de reconhecimento dos EUA
realizavam voos no espaço aéreo de Angola a partir da região meridional da
República do Zaire, a fim de seguir a deslocação das tropas do Movimento Popular
de Libertação de Angola (MPLA).
As
personalidades do Pentágono resolveram enviar esta esquadra para a costa de
Angola precisamente a 15 de Novembro e este facto deixa de ser fortuito quando
visto à luz da situação que surgiu na frente angolana a meados desse mês. No
artigo acima mencionado do The Observer, diz-se que inicialmente as
personalidades oficiais de Washington que sabiam dos futuros ataques da Namíbia
(isto é da invasão de Angola pelas tropas regulares da RSA da Namíbia)
consideravam que essas colunas iriam atingir Luanda a meados de Novembro, tendo
derrotado antes as tropas do MPLA. Na realidade as tropas do MPLA fizeram essas
colunas parar a norte de Novo Redondo.
Enquanto
os navios de guerra americanos abundantemente munidos de material de guerra e
de napalm e com quase uma centena de aviões militares a jacto a bordo navegavam
junto ao litoral de Angola, o Presidente Ford, ao comentar a 19 de Dezembro a
decisão do Senado de proibir o fornecimento de novos recursos e de armas às
organizações de sua tutela em Angola exclamou dramaticamente – como podem os
EUA … recusar-se a prestar qualquer ajuda à maioria da população local que pede
o material de guerra apenas para a sua defesa! O problema de Angola não é,
nunca foi e jamais será uma questão de envio de tropas armadas americanas. O
único problema é a concessão de uma ajuda modesta”.
Com
as lições que advieram sobre o “síndroma do Vietname” que afinal
tanta afectava a manobra política, diplomática e geo estratégica por parte dos
Estados Unidos em relação à África Austral, os países da Linha da Frente e seus
aliados extra continentais, encontraram formas adicionais de encorajamento em
relação às possibilidades e potencialidades do prosseguimento da luta contra o“apartheid”,
algo que permitiu em 1987/1988 a vitória estratégica do Kuito Kuanavale.
*Foto
do último encontro entre o Presidente José Eduardo dos Santos com o Presidente
dos Conselhos de estado e de Ministros de Cuba, General de Exército Raul de
Castro, a 18 de junho de 2014 – Recebió Raul el Presidente de Angola – http://www.cubadebate.cu/noticias/2014/06/18/recibio-raul-al-presidente-de-angola/#.U6STaH1dZjo
Artigos
anteriores (os dois primeiros publicados em janeiro e o terceiro publicado em
março de 2008, no Página Um, a retirados da blogosfera):
- Cuito
Cuanavale – Vinte anos depois – I;
-
Cuito Cuanavale – Vinte anos depois – II;
-
Cuito Cuanavale – Vinte anos depois – III.
.
Síndroma do Vietname – http://medical-dictionary.thefreedictionary.com/Vietnam+Syndrome; http://en.wikipedia.org/wiki/Vietnam_Syndrome
.
The Vietname syndrome – http://www.vanityfair.com/news/2006/08/hitchens200608
.
Le Cercle – membership list – http://www.gnosticliberationfront.com/le_cercle.htm
.
As vidas de altíssimo risco dos Nogueira Pinto – http://www.publico.pt/sociedade/noticia/as-vidas-de-altissimo-risco-dos-nogueira-pinto-1460418
. Operação
Carlota constitui façanha do povo - general Samuel Planas – http://www.portalangop.co.ao/angola/pt_pt/noticias/politica/2010/10/45/Operacao-Carlota-constitui-facanha-povo-general-Samuel-Planas,aaf553e7-3cc6-4a68-9706-ddfda2248ba2.html
.
Cuito Cuanavale vinte años despues – http://www.cubanet.org/htdocs/CNews/y08/abril08/04cronica1.html
.
Cuito Cuanavale: batalla que terminó com el apartheid – http://www.cubadebate.cu/opinion/2013/03/23/cuito-cuanavale-batalla-que-termino-con-el-apartheid/#.VRl7cLd0y1s
.
Epopeya de millones – http://www.granma.cu/granmad/secciones/30_angola/artic03.html
.
The poverty of debate : Washington, UNITA and the public press – https://www.nytexaminer.com/2014/08/the-poverty-of-debate-washington-unita-and-the-american-press/
.
Guerra de la frontera – http://www.ecured.cu/index.php/Guerra_de_la_frontera
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