Mariana
Mortágua – Jornal de Notícias, opinião
Passos
Coelho aproveitou o dia da Europa para, numa visita-relâmpago a Itália,
apresentar as suas ideias para o futuro da Europa. O local escolhido para
apresentar a "doutrina Passos", para usar a expressão de um dos
jornalistas, foi o Instituto Universitário de Florença. Já o pretexto foi a
apresentação de uma nova plataforma da fundação financiada pelo dono do Pingo
Doce. A concertação da agenda do primeiro-ministro com a Fundação Manuel dos
Santos é de tal forma comovente que os jornalistas foram selecionados pela
fundação e as suas viagens custeadas pela mesma.
Gesto
mais simbólico sobre o poder que verdadeiramente conta, e as prioridades do
primeiro-ministro, era difícil. Não é na audiência com o primeiro-ministro
italiano, e com assento na Comissão Europeia, que Passos apresenta as propostas
que levará a Bruxelas, mas numa viagem de doutrinação promovida por quem
aproveita a Europa para sediar a sua empresa num regime fiscal muito mais
favorável e assim evitar pagar os impostos que deveria em Portugal. Mas , se o
contexto para tão importante declaração foi este, concentremo-nos na substância
das propostas. Diz Passos que está preocupado para os riscos de desintegração
económica e financeira, de desagregação social e de fragmentação política na
União Europeia. Curiosa declaração, para quem passou os últimos quatro anos a
reboque dos amoques da troika e da senhora Merkel, mesmo quando estavam em
causa os interesses dos portugueses ou dos esmifrados países do sul da Europa.
Para
evitar tais riscos, diz Passos Coelho, é preciso criar um Fundo Monetário
Europeu que financie políticas transeuropeias que podem passar pelo subsídio de
desemprego e modernização de infraestruturas. A curiosidade aqui é redobrada.
Em primeiro lugar porque o PSD, e o próprio Passos, sempre se opuseram a
políticas transeuropeias de promoção de emprego ou investimento (propostas que,
por exemplo, são apresentadas há muito e bom tempo pelo BE).
Mas
a contradição é apenas aparente. Passos Coelho considera que é possível colocar
o ovo de pé sem achatar a base e, vai daí, entende que tudo isto tem que ser
feito sem recorrer ao Orçamento da UE ou dos países membros. Como? Com um fundo
financiado sabe-se lá como, em que moldes, com que dinheiro e com que
interesses.
Como
já tinha acontecido com o plano Juncker, a solução da direita para combater uma
economia deprimida por uma crise desencadeada pelos excessos do mundo
financeiro e endividamento excessivo é alavancar novamente a economia com
recurso a políticas europeias financiadas pela dívida bancária ou modelos de
investimento em
regime PPP. Isto não é o ovo de Colombo, pela insistência nos
erros do passado tem mesmo todos os ingredientes para ser resumido como a
"doutrina Passos".
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