O estado de saúde
de José Marcos Mavungo é preocupante, segundo o ativista Raul Tati. Ele diz que
é preciso que Mavungo seja libertado imediatamente, "pelo menos por razões
humanitárias".
O ativista angolano
José Marcos Mavungo está detido em Cabinda, sem acusação formal, desde 14 de
março de 2015, dia para que fora convocado um protesto contra a alegada má
governação da província e violação de direitos humanos.
Quase três meses
depois, o estado de saúde do ativista é preocupante, diz Raul Tati, ativista e
membro do "Grupo de Apoio aos Presos Políticos Angolanos". O
movimento já endereçou cartas à governadora de Cabinda, ao Sub-Procurador-Geral
da República em Cabinda, ao delegado do ministro do Interior na província e ao
diretor da cadeia explicando a situação.
Agora, Tati pede à
sociedade civil angolana para ajudar o "Grupo de Apoio" a convencer
as autoridades de que é preciso libertar imediatamente o ativista José Marcos
Mavungo, "pelo menos por razões humanitárias".
DW África: Qual o
estado de saúde de José Marcos Mavungo?
Raul Tati (RT): No
sábado, estive com ele no Hospital Central de Cabinda, depois de ele se ter
sentido mal durante toda a noite de sexta-feira para sábado. Foram os guardas
dos serviços prisionais que o levaram ao hospital, onde fez alguns exames
preliminares e lhe foi diagnosticado malária, além dos problemas que já tem de
coração. A situação do Marcos Mavungo é preocupante. Ele está visivelmente
magro, pálido e até, de certa forma, desfigurado. É uma situação muito grave,
que exige a sensibilidade e o bom senso das autoridades. É preciso que Marcos
Mavungo seja posto em liberdade imediata e incondicionalmente, para que possa
tratar da sua saúde.
DW África:
Portanto, é uma situação de saúde que inspira sérios cuidados.
RT: O Marcos
Mavungo tem-me confidenciado até a possibilidade de ele perder a sua vida na
cadeia. Já me falou nisso várias vezes. No sábado passado, quando observei o
aspeto dele, vi que o que está a dizer não deve ser subestimado. Além disso, a
médica [de Mavungo] não o pode acudir quando ele precisa, só pode ir [à cadeia]
nos dias destinados às visitas. Isso é também um problema muito sério. Porque o
Marcos Mavungo precisa, neste momento, de assistência e tratamento adequado num
ambiente adequado. O ambiente onde ele está é um fator de risco para a sua
saúde.
DW África: As
autoridades de Angola sabem isso? Onde está o aspeto humanitário?
RT: Não
sabemos se as pessoas ainda têm coração ou se passaram a ser máquinas que só
olham para a maldade. Não sabemos se estamos a viver numa sociedade civil, onde
há normas de convivência pacífica, ou se estamos a viver numa selva, onde tudo
vale. É preciso transmitir à sociedade a mensagem de que é preciso acudir a
esta situação, pelo menos por razões humanitárias. Estamos a caminho dos 90
dias na cadeia e ele não tem culpa formada, não se provou absolutamente nada
contra o Marcos Mavungo.
DW África: Marcos
Mavungo é, nesse momento, um prisioneiro de consciência?
RT: É um
prisioneiro de consciência. Isto é uma questão política, não é mais nada. Não
há crime nenhum.
DW África: O que
poderão fazer os ativistas e a sociedade civil angolana para que as autoridades
de Luanda decidam libertar Marcos Mavungo?
RT: Constituímos
um grupo de apoio aos presos políticos em Angola, com alguns amigos, para
tentar pressionar. Há duas semanas, estes nossos amigos estiveram em Cabinda a
trabalhar e tiveram o ensejo de conversar com o Sub-Procurador-Geral da
República em Cabinda sobre esse assunto. As outras entidades negaram-se a
receber essa delegação para conversar e encontrar uma saída para este caso,
relegando a questão para a Justiça porque é ela que se deve pronunciar, em
última instância, sobre este assunto. Todavia, continua este movimento de
solidariedade por outras partes de Angola, onde há pessoas que têm consciência
do momento político que estamos a viver no país, que é muito sério. O regime
parece endurecer cada vez mais os métodos de repressão política, que só nos
fazem lembrar os tenebrosos tempos da DISA [Direção de Informação e Segurança
de Angola], onde as pessoas eram presas e até mesmo levadas a fuzilamentos, sem
culpa formada e sem julgamentos. Portanto, tudo isto nos faz lembrar essas
imagens tristes de um passado que gostaríamos de esquecer. Infelizmente,
estamos diante de um regime que está a atropelar todas as normas de um país que
se diz "Estado de Direito democrático". Não há vontade nenhuma de
cumprir o que foi posto na Constituição.
António Rocha
– Deutsche Welle. Na foto Raul Tati
Sem comentários:
Enviar um comentário