A
pressão sobre os ativistas e defensores dos direitos do homem em Angola parece
estar a aumentar. Muitos já falam até de um futuro “apertar do cerco” a todos
os opositores e contestatários no país.
Após
três meses na cadeia, o conhecido intelectual e ativista de Cabinda Marcos
Mavungo foi informado pelo seu advogado de que a acusação de crime contra a
segurança do Estado foi substituída pela acusação de crime de instigação à
violência. Tudo isso porque Mavungo pretendia reabilitar a Mpalabanda -
Associação Cívica de Cabinda. Vale lembrar que a associação foi extinta em 2006
por um tribunal de Cabinda, mas os membros interpuseram recurso ao Tribunal
Supremo, que, decorridos dez anos continua a não se pronunciar.
Porquê
afinal isso acontece?
Para
assustar futuros manifestantes, é o que acredita Rafael Morais que integra o
Grupo de Apoio aos Presos Políticos Angolanos (GAPPA) e é coordenador da ONG
SOS Habitat.
Em
entrevista à DW África, Morais disse que o GAPPA já solicitou às autoridades
informações sobre onde estão os ativistas detidos em Luanda no último fim de
semana (20.06.2015) e que lhes seja permitido acesso a advogados. Porém, apesar
de todas as tentativas, o governo angolano até agora não respondeu ao pedido
feito pelo grupo de apoio. Na opinião de Morais, o governo angolano entende que
não deve dar trégua a manifestações e que por isso, a cada dia, está a cercar
mais os manifestantes.
DW
África (DW): Acredita que a atitude do governo angolano (no último fim de
semana) esteja ligada à aproximação de eleições presidencial, legislativa ou
autárquica?
Rafael
Morais (RM): No passado, quando faltava um ano para as eleições, havia uma
contenção por parte do governo. Esse ano, o cerco vai continuar, quer dizer que
as prisões e torturas não vão parar. Talvez, no próximo ano, a situação seja um
pouco diferente porque em 2017 haverá eleições e a população precisa ser
tratada bem para que vá às urnas votar.
DW:
Foram detidos ativistas que, segundo as autoridades angolanas, se preparavam
para realizar atos tendentes a alterar a ordem e a segurança pública do país.
Existe alguma justificação para isso?
RM: Se
há provas de que eles estejam alterando a ordem pública é normal que as
autoridades tomem medidas, mas o que tem acontecido é que sempre que o cidadão
se organiza para se manifestar ou contestar alguma situação, há uma comunicação
dirigida aos órgãos do governo e infelizmente a resposta é sempre negativa. Mas
segundo a Constituição, a comunicação ao governo sobre uma manifestação não
carece de autorização. Essa é a contradição. Não sabemos se estamos a cometer
um crime por omissão ou por ação.
DW:
O GAPPA, do qual você faz parte, já pediu explicações às autoridades de Angola,
correto?
RM:
Sim, mas não obtivemos nenhuma resposta. Não há cumprimento da lei. É uma
tortura psicológica para desencorajar a população. O objetivo disso é meter
medo em outros que por ventura venham a querer organizar uma manifestação.
A versão de um advogado
Salvador Freire, membro da Associação cívica angolana Mãos Livres, contactado pela DW África sublinhou:
“Não posso dizer com precisão o que de fato está a acontecer. Ouvimos de terceiros que alguns jovens foram detidos e desconhecemos por enquanto os motivos destas detenções. Estamos à espera de uma informação mais exata sobre o assunto. Ainda não fomos informados sobre quantas pessoas foram detidas, onde estão e porquê. Só depois de sabermos tudo isso é que poderemos analisar se podemos ou não intervir. Como advogados, temos que estar atentos sobre esses acontecimentos e não podemos tirar conclusões de imediato, porque não sabemos verdadeiramente o que se passa.”
A versão de um advogado
Salvador Freire, membro da Associação cívica angolana Mãos Livres, contactado pela DW África sublinhou:
“Não posso dizer com precisão o que de fato está a acontecer. Ouvimos de terceiros que alguns jovens foram detidos e desconhecemos por enquanto os motivos destas detenções. Estamos à espera de uma informação mais exata sobre o assunto. Ainda não fomos informados sobre quantas pessoas foram detidas, onde estão e porquê. Só depois de sabermos tudo isso é que poderemos analisar se podemos ou não intervir. Como advogados, temos que estar atentos sobre esses acontecimentos e não podemos tirar conclusões de imediato, porque não sabemos verdadeiramente o que se passa.”
Por
outro lado, a Associação Mãos Livres ainda não foi contactada pelos familiares
dos detidos, afirmou o advogado Freire. Segundo ele, a associação cívica
angolana - de que é membro - dá às pessoas que precisam um apoio ou assistência
jurídica, mas acrescenta: “não temos capacidade para atender toda a demanda.
Somos poucos, tudo isso requer meios, recursos e ações que têm que ser feitas
com esses recursos e nós estamos limitados nesse sentido”.
António
Rocha – Deutsche Welle
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