Os
advogados estagiários que fazem defesas oficiosas no Tribunal da Comarca do
Porto Novo, Santo Antão, deixaram de prestar esse serviço por tempo
indeterminado desde o dia 8 de Junho. Por causa dessa situação os processos que
requerem a intervenção desses estagiários estão “bloqueados” no tribunal, e
dizem que só retomam as defesas oficiosas quando a Ordem dos Advogados de Cabo
Verde (OACV) pagar o que lhes deve pelo trabalho prestado no Tribunal dessa
Comarca no período entre 2013 e 2015. A bastonária da OACV “fecha-se em copas”
e até o fecho desta edição não prestou qualquer declaração sobre o assunto,
apesar das inúmeras tentativas deste jornal para ouvir esta responsável sobre
os motivos para tão longo atraso. Já o ministro de Justiça, José Carlos
Correia, já respondeu aos advogados que tudo vai fazer para repor o normal
funcionamento nessa instituição.
s
estagiários explicam o que diz a Constituição da República: O Estado deve
disponibilizar em cada ano uma fatia do Orçamento Geral do Estado (OGE) para
garantir aos cidadãos sem condições financeiras o acesso à justiça. Esse
montante é transferido à Ordem dos Advogados de Cabo Verde (OACV) que, na
qualidade de Associação Pública, é responsável pela classe, e, como tal, deve
pagar o serviço que os advogados estagiários prestam nos diversos tribunais
espalhados pelo país. Só que esta verba nunca é paga a tempo e horas.
Os
advogados referem numa nota enviada a este jornal que “existem casos de colegas
que desde o ano de 2013 estão sem receber um centavo das defesas oficiosas que
fizeram até a presente data”. Denunciam ainda que o mais caricato é que mesmo
sendo a culpada pelo atraso, é a própria OACV que depois usa “truques para não
pagar esses honorários alegando prescrição de dívida”.
Esses
profissionais avançam que estão cansados de esperar pelo pagamento que nunca
chega a acontecer e, por causa dessa situação, desde a última segunda-feira, 08
de Junho, decidiram suspender por tempo indeterminado – ou até que seja
efectuado o pagamento – todo e qualquer serviço de defesa oficiosa prestado aos
mais desfavorecidos no Tribunal da Comarca do Porto Novo, como vinham fazendo,
com todas as consequências advenientes. Ou seja, paralisando também a agenda e
os trabalhos no Tribunal dessa Comarca. Com isso, os mais pobres ficam sem
apoio jurídico.
A
nota avança ainda que “a esmagadora maioria dos advogados estagiários são
chefes de família. Vivem das defesas oficiosas feitas, pois não têm outros
rendimentos”. Por essa razão, avisam que estão firmes e enquanto não receberem,
não fazem julgamentos.
Ainda
assim, pedem desculpas à sociedade e principalmente aos cidadãos que vierem a
ser prejudicados com esta greve justificando-a com o facto de que “não se
vislumbra outra alternativa para reaverem o que é seu de direito”.
Contactada
ao longo de uma semana para um pronunciamento sobre este assunto, a bastonária
da Ordem dos Advogados de Cabo Verde, Leida Santos, não respondeu nem ao email
nem aos inúmeros telefonemas efectuados tanto para a sede da OACV como para o
seu escritório-privado. Este jornal foi informado apenas que Leida Santos se
encontrava na ilha do Sal e não deixara autorização às duas secretárias que
atenderam o telefone para facultarem o seu contacto móvel.
O
ministro da justiça, José Carlos Correia, através do seu gabinete, já respondeu
aos advogados a quem “reconhece o trabalho meritório que estão prestando à
Justiça em Cabo Verde ”
e garante que diligências estão sendo feitas, com urgência, para efectuar o
pagamento.
PN
– A Semana (cv)
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