quarta-feira, 3 de junho de 2015

Governo timorense quer reabrir processo de espionagem contra a Austrália no tribunal de Haia




Díli, 03 jun (Lusa) - O Governo timorense quer que o Tribunal Permanente de Arbitragem em Haia reabra o processo em que a Austrália é acusada de ter realizado atividades de espionagem durante a negociação dos acordos do Mar de Timor.

Em comunicado, o executivo liderado por Rui Maria de Araújo explica que esta questão da espionagem tinha ficado suspensa depois de uma segunda queixa em Haia, apresentada por Timor-Leste contra a Austrália, sobre a "apreensão e detenção de certos documentos e dados".

Este processo dos "documentos" - como ficou conhecido - refere-se a um conjunto de documentos pertencentes a Timor-Leste e que foram apreendidos no escritório do advogado Bernard Colleary, em Camberra, a 03 de dezembro de 2013, por uma equipa de agentes da ASIO (Organização Australiana de Serviços Secretos).

Esse material incluía "detalhes sobre atividades de espionagem por parte da Austrália em relação a Timor-Leste, durante a negociação do Tratado sobre Determinados Ajustes Marítimos no Mar de Timor (DAMMT)".

Em declarações aos jornalistas na semana passada, Rui Araújo relembrou que Timor-Leste mantém a sua posição de que o DAMMT foi negociado "numa base de má-fé, porque houve ações de espionagem da Austrália, na altura, para influenciar o curso das negociações".

"Esta questão central, sobre os fundamentos do DAMMT, é que estava a ser tratada em Haia. Suspendemos o processo há 7 meses para ver se conseguíamos uma resolução sobre essa questão dos documentos", explicou.

"A Austrália devolveu os documentos e Timor-Leste pode agora avançar para retirar a suspensão e avançar com o processo de arbitragem, para que o Tribunal decida se o que o Timor-Leste está a reclamar sobre o tratado é verdade", afirmou, mostrando-se confiante num resultado favorável ao seu país devido à "má-fé" da Austrália.

No comunicado hoje divulgado, o Governo timorense relembra que em setembro concordou "com um pedido da Austrália para adiar as negociações (de arbitragem) por um período de seis meses, para permitir um diálogo mais fundamentado".

"Esse período terminou em março. A expectativa de Timor-Leste, de que o diálogo poderia conduzir à produção de uma agenda estruturada para a realização das conversações sobre a delimitação permanente das fronteiras marítimas, não se concretizou", refere o comunicado.

Agio Pereira, porta-voz do Governo e ministro de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, refere no comunicado que a posição de Timor-Leste não se alterou e que, apesar de procurar evitar o confronto legal quer concentrar toda a energia e recursos no desenvolvimento nacional.

"No entanto, é também a missão do Governo defender os interesses nacionais. Timor-Leste está a concentrar os seus esforços no sentido de avançar para um diálogo significativo nas relações com o seu vizinho, de modo a concluir uma delimitação permanente fronteira marítima, baseada nos princípios do direito internacional", afirmou.

Na conferência de imprensa recente em que apresentou o relatório dos 100 dias de Governo, Rui Araújo recordou que esta questão da arbitragem é separada da questão de fundo, que tem a ver com as negociações com Camberra sobre as fronteiras marítimas.

Na altura, Rui Araújo considerou "uma vitória para Timor-Leste" que Camberra tenha devolvido os documentos que confiscou durante uma rusga ao escritório de um advogado em Camberra que representava os interesses timorenses neste processo.

"Representa uma vitória de uma batalha, porque implicitamente a Austrália reconheceu que, como referia o tribunal de Haia, respeita as ordens de não interferir nas comunicações de uma entidade soberana com os seus advogados", concluiu.

ASP // JPS

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