quarta-feira, 8 de julho de 2015

FAO DESTACA REDUÇÃO DA POBREZA EM ANGOLA



Kumuênho da Rosa, Roma - Jornal de Angola

O director-geral do Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) disse ontem em Roma que Angola é um modelo a seguir por outros países africanos, em matéria de combate à pobreza no período pós-conflito.

José Graziano da Silva, uma das entidades a quem o Presidente José Eduardo dos Santos concedeu audiência no âmbito da sua visita oficial à Itália, destacou o papel do líder angolano na transformação de Angola de um país severamente afectado pela guerra e que hoje é exemplo para outras nações. 

O número um da FAO acredita no poder da obra feita e quer contar com Angola como parceira num projecto que visa levar às nações mais poderosas do planeta uma mensagem sobre a relação existente entre a paz e a segurança alimentar. “Entreguei ao Presidente uma proposta para que durante o mandato de Angola como membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, promova o debate sobre a relação entre a paz e a segurança alimentar”.

Para Graziano da Silva, a paz e a segurança alimentar são fenómenos que estão intrinsecamente ligados, e Angola, disse, é o exemplo de um país que conseguir reconstruir a paz e agora caminha a passos acelerados para erradicar a fome e a pobreza.

“Isso faz de Angola um modelo a ser seguido por outros países e nós achamos que esse assunto deve ser levado a debate no Conselho de Segurança das Nações Unidas”, disse o brasileiro, antes de revelar que a FAO tem levado a experiência angolana para outros países africanos.

A audiência com o Presidente José Eduardo dos Santos, na capital italiana, foi também uma oportunidade para Graziano da Silva elogiar o Chefe de Estado angolano pelo papel que tem desempenhado na forte cooperação que existe entre Angola e a Brasil.

“Dessa cooperação entre os dois países surgiu a parceria com a empresa brasileira Agropecuária, que é um dos maiores exemplos de projectos de cooperação sul-sul”, declarou, antes de prometer levar esse assunto à agenda da reunião que vai manter com a Presidente Dilma Rousseff, em Roma.

Graziano da Silva falou ainda do apoio de Angola ao Fundo de Solidariedade Africano (FSA). Angola respondeu prontamente à iniciativa da FAO que tem por objectivo promover a solidariedade de africanos para africanos em dificuldades devido a conflitos e outras interpéries, e doou 10 milhões de dólares, que foram aplicados em projectos espalhados por praticamente todos os países do continente berço.

Sector energético

“São essencialmente projetos para apoiar os países em guerra, mas também promover a participação de jovens na agricultura como um modo de vida e de rejuvenescimento da agricultura africana”, explicou o director-geral da FAO, para quem o gesto de Angola, ao contribuir para o fundo, reflecte um espírito de solidariedade distinto, por ser um país que saiu da guerra e que hoje apresenta resultados inspiradores no combate à pobreza. Noutra audiência, o Presidente da República conversou com o Administrador Delegado da ENI, Cláulio Descalzi, sobre os projectos dessa importante companhia italiana e europeia no sector energético de Angola.

Expansão de investimentos

Descalzi apontou números que são reveladores da atenção que a ENI atribui a Angola em matéria de expansão de investimentos. “Pretendemos investir em Angola a volta de 4,5 mil milhões de dólares para o desenvolvimento do Bloco 15/06, e até ao fim do ano vamos atingir a cifra de 100 mil barris por dia, e dentro dos próximos três/quatro anos chegaremos aos 200 mil barris diários”. Segundo o responsável da ENI, a audiência com o Chefe de Estado angolano serviu também para sobre uma proposta de aproveitamento do gás focada no desenvolvimento da indústria angolana e outra no sector da energia eléctrica, com uma central de ciclo combinado, que agrega a produção de fertilizantes para exportar e fomentar a agricultura.

A ENI tem ainda interesses nas energias renováveis e na construção de infraestruturas do sector eléctrico, e ontem, durante a audiência, falou-se de um projecto de edificação da rede de distribuição electricidade para o litoral e interior do país.

Controlo dos mares

A alta tecnologia ao serviço da vigilância da costa angolana foi o tema dominante da audiência concedida a Mauro Moretti, administrador delegado e director-geral da Finmecanica. 

“A nossa área de actuação é essencialmente as tecnologias avançadas, sobretudo no sector aeroespacial e defesa”, disse Mauro Moretti aos jornalistas.

A Finmecanica está na primeira linha em questões de sistemas de defesa de costas marítimas, utilizando soluções tecnológicas avançadas no controlo de mares através de informação proveniente de satélites, drones e de bases navais. “Criamos sistemas de defesas activos que são hoje fundamentais para protecção e vigilância dos mares”, frisou o empresário.

A carteira da Finmecanica inclui ainda meios aéreos ultrassofisticados de patrulhamento e transporte de pessoal. Existe inclusive um acordo para o fornecimento de helicópteros para uso civil e para defesa. “Somos um dos maiores produtores de helicópteros para operações na área de petróleo e gás, e são sem dúvidas os mais avançados que hoje estão no mercado”, disse.

Indústria da carne

Mauro Moretti falou da importância desse tipo de acordos na perspectiva da transferência de tecnologia e das mais avançadas, por sinal. “Vamos trabalhar dentro de um espírito de colaboração, foi-nos solicitado, e assim vamos proceder, incluindo dando formação altamente qualificada, na Itália e em Angola, aos angolanos que vão manusear os equipamentos”, frisou.

A última audiência do dia foi concedida ao empresário da agro-indústria, Luigi Cremonini. No centro do encontro um projecto avaliado em mais de 200 milhões de dólares, para a instalação em Angola de todo o aparato que envolve a linha completa de produção, transformação e distribuição de carne.

“Estamos a investir numa indústria de topo, tendo em conta que Angola vive hoje uma realidade que obriga a que o investimento a ser feito tenha os mesmos padrões de exigência que na Europa ou em qualquer outra sociedade moderna”, disse o empresário.
A implantação da indústria de carnes deverá levar pelo menos quatro anos, segundo o patrão do Grupo Cremonini. 

“É um projecto complexo e que não se faz do dia para noite”, disse o empresário, que atribuiu uma atenção especial à formação e do pessoal que vai trabalhar em toda a cadeia de produção. Foi assim que fizemos com a Rússia”, revelou. “Desde os directores, os técnicos dos laboratórios de qualidade ao pessoal da limpeza, todos terão uma formação segmentada para garantir que sejam respeitados e seguidos os padrões de qualidade e exigência da marca Cremonini. 

O projecto da indústria de carnes em Angola prevê a criação de gado, a construção de um matadouro no Cuando Cubango e de um grande centro logístico em Luanda, e ali também criar uma grande rede de distribuição para hotéis, supermercados e restaurantes.

Foto: Francisco Bernardo

Sem comentários:

Mais lidas da semana