terça-feira, 28 de julho de 2015

Portugal. OS PASSOS EM VOLTA DO MESMO



Paula Ferreira – Jornal de Notícias, opinião

Voltaremos a ser felizes. É o que nos propõe todos os dias Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro, em campanha eleitoral. Ou alguém por ele. De cada vez, um bocadinho mais longe. Primeiro, acenaram com a devolução de uma parte da sobretaxa de IRS; agora, todos os rendimentos que nos foram tirados ao longo dos últimos quatro anos - à revelia das regras de um Estado de direito e de qualquer sensibilidade social - ser-nos-ão devolvidos. Os mais pobres não são esquecidos, para eles há promessas douradas: o salário mínimo tem de aumentar. Claro. É pegar ou largar, as eleições aproximam-se.

E não há maior vantagem que essa. Para quem vai a votos e para os eleitores. A promessa é do primeiro-ministro, límpida e apetecível: "Vamos recuperar os nossos rendimentos nos próximos quatro anos. Este ano, já não há cortes nenhuns nas pensões [inferiores a 4600 euros]". Se o atual Governo promete, caso seja eleito, devolver todos os rendimentos, cabe ao atual primeiro-ministro, e cabeça de lista da coligação PSD/CDS, explicar como conseguirá a proeza.

Vai prosseguir o caminho trilhado até agora, ou vai mudar de rumo e iniciar, finalmente, a Reforma do Estado há tanto prometida e nunca sequer ensaiada? Nos últimos quatro anos, baseou toda a política no aumento da receita, através de um brutal aumento de impostos e de um trabalho quase pidesco da Autoridade Tributária. Do lado da despesa, tudo se mantém inalterável: continua a subir, sem parar, como provam os dados mais recentes da execução orçamental, publicados na última sexta-feira. Citando o próprio boletim do Ministério das Finanças, ficamos a saber. "As despesas de investimento aumentaram, no primeiro semestre, 315,7 milhões de euros, sobretudo justificado pelo efeito dos encargos associados às subconcessões rodoviárias". As famigeradas PPP continuam a pesar nas contas do Estado.

Era precisamente aí que Passos Coelho nos devia garantir que iria cortar. Os credores abandonaram Lisboa e nada, afinal, de estrutural mudou. Passos Coelho promete devolver os cortes que fez nos salários dos funcionários públicos e nas pensões, mas não nos diz que vai reformar o Estado. Portanto, teremos mais do mesmo. Quem paga impostos vai continuar a pagar o "êxito" das políticas desta maioria. E quando isso já não for mais possível, porque algum dinheiro de salários os trabalhadores têm de levar para casa, a troika lá estará para aceitar um novo pedido de resgate.

Passos Coelho bem pode querer que acreditemos na sua diabolização de António Costa. Não é preciso tanto. Se ganhar as eleições de outubro, e não mudar de rumo, será ele a levar-nos de regresso ao passado.

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