Extraímos
do Diário Liberdade o último - à data - de uma série de artigos sobre “o coração
do capitalismo europeu”, a Alemanha. Deixamos ao despertar do seu interesse (ou
não) ler toda a série de artigos usando as ligações ao seu dispor intercaladas com
o presente texto. Boa leitura. (redação PG)
Na
foto: "O capitalismo é um crime" - protesto anticapitalista em
Frankfurt, 2012. Foto: Kami Silence Action (CC BY-NC 2.0)
Alemanha:
o coração do capitalismo europeu (Parte XII)
Alemanha - Diário Liberdade -
[Alejandro Acosta] A imprensa alemã noticiou com intensidade que o ministro das
Finanças, Wolfgang Schaeuble, quer retirar uma das funções mais importantes da
Comissão Europeia, a de garantir o cumprimento das regras na União Europeia.
Grexit:
bancarrota da Grécia ou da Alemanha?
A
ala direita do imperialismo alemão avalia que a política aplicada pela Comissão
nas negociações com o governo grego do Syriza foi muito fraca.
Há
duas políticas colocadas que representam as duas alas do imperialismo europeu,
encabeçado pela Alemanha. A “linha dura”, que representa abertamente os
interesses dos bancos, da especulação financeira, busca aumentar o controle dos
órgãos executivos e do BCE (Banco Central Europeu), que já é controlado pelo
Bundesbank, o banco central alemão. Essa ala é liderada por Schaeuble. A outra
ala é liderada por Angela Merkel e, agora, como “segundo violino”, conta com o
presidente francês, François Hollande. Esta se encontra ligada,
fundamentalmente, aos setores industriais que, obviamente, também têm fortes
ligações e dependências com a especulação financeira.
Leia
também:
As
duas políticas do imperialismo europeu não se dividem mais entre
“desenvolvimentistas” e especuladores, mas, em vários graus, todos eles têm
como objetivo garantir os lucros dos bancos. Os investimentos em
infraestrutura, ou produtivos, fazem parte do passado.
A
partir do colapso capitalista de 2008, aumentaram as tendências contrárias à
União Europeia, principalmente na periferia. O presidente da Comissão Europeia
passou a ser eleito pelo Parlamento Europeu, ao invés de ser indicado.
A
crise bate às portas da Alemanha
Em
2014, França e Itália, a segunda e a terceira maiores potências da Zona do Euro
respectivamente, tiveram as metas fiscais relaxadas pela Comissão Europeia que,
neste ano, se posicionou a favor da renegociação da dívida grega. Vale lembrar
que o presidente atual é Jean Claude Juncker, o ex-primeiro-ministro de
Luxemburgo, o paraíso fiscal onde se encontra localizada a ultra corrupta
empresa, controlada pelo imperialismo europeu, a partir da qual são
estruturados os repasses especulativos de recursos públicos para os bancos, a
partir dos chamados “resgates” da Grécia e dos demais países.
A
ala direita do imperialismo alemão, representada por Wolfang Schäuble, busca
manter e aumentar a “disciplina” fiscal, manter os mecanismos especulativos em
pé por meio do aumento do parasitismo financeiro.
Leia
ainda:
Os
países mais endividados buscam aliviar a pressão. Os chamados países PIIGS, ou
“porcos” no trocadilho em inglês, se encontram sufocados pelo parasitismo
financeiro e todos eles à beira da bancarrota. São eles Portugal, Itália,
Irlanda, Grécia e Espanha. A estes se soma a França, onde a crise capitalista
tem disparado.
O
governo de François Hollande, do PSF (Partido Socialista Francês) foi eleito,
em 2013, em cima das promessas de campanha de impulsionar o crescimento da
estancada economia francesa e reduzir os ataques contra as massas por meio dos
chamados planos de austeridade. Meses depois, o PSF obteve a maioria da
Assembleia Nacional. François Hollande até tentou convencer os alemães sobre a
necessidade de criar um fundo para promover investimentos em infraestrutura. O
fundo era altamente especulativo, 40 bilhões de euros se tornariam 400 bilhões
na especulação financeira. Mas os alemães se opuseram e o próprio Hollande
passou a encabeçar a política dos “planos de austeridade” junto com Angela
Merkel.
Recentemente,
a França propôs a criação de um parlamento para a Zona do Euro, que passaria a
controlar o orçamento da região. Essa política tem como objetivo relaxar a
pressão sobre os países mais endividados. A Alemanha a rejeitou e, em
contrapartida, tenta impor a criação do ministro das Finanças da Zona do Euro,
com poderes de intervenção nas finanças locais.
A
relativa estabilidade da União Europeia depende, em grande medida, da
estabilidade da locomotiva alemã. A Alemanha depende das exportações para a
região e da importação de peças e insumos baratos dos demais países. Mas o
aprofundamento da crise reduziu o consumo e levou a indústria alemã à recessão.
Por esse motivo, o parasitismo financeiro tem disparado e os alemães são
obrigados a mantê-lo em pé. A
crise na periferia aumenta o contágio, de maneira crescente sobre a Alemanha
que, por sua vez, ameaça implodir os demais países.
Alemanha:
a crise do coração do capitalismo europeu
Os
superávits da Alemanha com a Europa estão na base da sobrevivência do
imperialismo alemão, que representa o coração do imperialismo europeu.
A
crise capitalista tem se aprofundado na Alemanha de maneira crescente porque a
estrutura atual da União Europeia e da Zona do Euro tem se tornado fundamental
para os lucros dos monopólios.
Leia
mais:
A
bancarrota de um país menor, como a Grécia, pode deixar para atrás dezenas de
bilhões em perdas. Mas
a bancarrota do Estado espanhol ou da Itália, a quarta e a terceira potências
do euro, respectivamente, tem o potencial de provocar um colapso mundial de
grandes proporções.
Perante
o futuro sombrio, esses mesmos monopólios continuam injetando dinheiro nos
partidos políticos de extrema-direita, que têm experimentado grande crescimento
no último período.
O
aumento do saque do imperialismo sobre os países da periferia é o fator que se
encontra na base da estabilidade do coração do capitalismo europeu. Mas o
contágio da crise avança sobre o centro, conforme se aprofunda na periferia. E
vice versa.
Após
o segundo semestre de 2012, quando os mecanismos de contenção do colapso
capitalista de 2008 ruíram, a crise tem avançado de maneira impiedosa. Todos os
planos de contenção fracassaram.
Na
segunda metade de 2013, o BCE (Banco Central Europeu) passou a controlar
diretamente, passando por cima dos bancos centrais nacionais, 80% dos bancos
privados da União Europeia. E somente não passou a controlar todos por causa do
enorme volume de títulos podres detidos pelos bancos locais alemães.
O
parasitismo financeiro tem crescido a tal ponto que são os bancos e as divisões
financeiras dos monopólios os responsáveis pelo grosso dos lucros. Apesar dos
bancos receberem empréstimos ilimitados a taxas de juros de 0%, ou ainda
menores, a crise não tem sido contida. A última medida do BCE já fracassou, de
maneira absoluta, nos Estados Unidos. A compra de títulos podres, pelo valor de
face, teve que ser suspendida, apesar de ter chegado a injetar, desta maneira,
US$ 90 bilhões mensais.
A
indústria alemã em recessão
A
indústria alemã representa uma das duas principais potências industriais do
planeta, junto com o Japão. A União Europeia foi transformada num instrumento
de controle, pelos países centrais, dos países periféricos. A maioria deles viu
a indústria local quebrar e as próprias economias se transformarem em apêndices
dos monopólios. Este foi o caso de todos os países do chamado PIIGS (alusão à
palavra pig, em inglês, que significa porco), Portugal, Itália, Irlanda, Grécia
e Espanha. Os países mais fracos da Europa Oriental que adotaram o euro viram
as economias serem transformadas em repúblicas das bananas, como pode ser visto
na Romênia e na Bulgária. Na Romênia ainda há algumas indústrias menores
atreladas ao imperialismo europeu e agora começaram a desembarcar call centers,
seguindo o modelo da Polônia. A Bulgária é um país fundamentalmente agrícola.
As
economias dos países Bálticos são insignificantes. O papel destes países está
mais relacionado com a pressão que a Europa exerce sobre a Rússia, apesar da
Alemanha ter começado a vender armas para eles.
A
República Tcheca e a Eslováquia foram praticamente transformadas em províncias
alemãs. Para a Polônia migraram, em grande quantidade, empresas industriais e,
ultimamente, calls centers, por causa dos salários, que representam a terceira
parte dos salários alemães e a grande facilidade da proximidade, a
infraestrutura e a alta qualificação da mão de obra.
A
tendência para o próximo período é a dos monopólios apertarem o cerco contra a
periferia, ainda mais, na tentativa de salvar os lucros.
De
acordo com dados da Comissão Europeia, a balança das contas correntes alemãs
deverá bater um novo recorde neste ano. De 7,6% do PIB, passará para os 7,9%
neste ano. De acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), deverá passar
dos 8%, enquanto, no Estado espanhol, será de 1,2% e, na França, de -0.9%.
Obviamente,
esses ganhos dos alemães só podem ter como contrapartida as perdas dos demais
membros da União Europeia e, com maior intensidade, na periferia. Por esse
motivo, a desaceleração industrial tem acelerado nestes países.
As
taxas de inflação baixas têm como base na redução do consumo. Enquanto o BCE
inunda o mercado com dinheiro podre, as massas têm visto o poder de compra ruir
e as condições de emprego piorarem. Grande parte do crédito alemão tem sido
direcionado a salvar os lucros dos monopólios no exterior, como tem ficado
muito evidente no caso da Grécia, reduzindo assim o consumo doméstico e
provocando o aumento do desemprego em toda a região.
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