quarta-feira, 5 de agosto de 2015

ALEMANHA: O CORAÇÃO DO CAPITALISMO EUROPEU




Extraímos do Diário Liberdade o último - à data - de uma série de artigos sobre “o coração do capitalismo europeu”, a Alemanha. Deixamos ao despertar do seu interesse (ou não) ler toda a série de artigos usando as ligações ao seu dispor intercaladas com o presente texto. Boa leitura. (redação PG)

Na foto: "O capitalismo é um crime" - protesto anticapitalista em Frankfurt, 2012. Foto: Kami Silence Action (CC BY-NC 2.0)

Alemanha: o coração do capitalismo europeu (Parte XII)

Alemanha - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] A imprensa alemã noticiou com intensidade que o ministro das Finanças, Wolfgang Schaeuble, quer retirar uma das funções mais importantes da Comissão Europeia, a de garantir o cumprimento das regras na União Europeia.

Grexit: bancarrota da Grécia ou da Alemanha?

A ala direita do imperialismo alemão avalia que a política aplicada pela Comissão nas negociações com o governo grego do Syriza foi muito fraca.

Há duas políticas colocadas que representam as duas alas do imperialismo europeu, encabeçado pela Alemanha. A “linha dura”, que representa abertamente os interesses dos bancos, da especulação financeira, busca aumentar o controle dos órgãos executivos e do BCE (Banco Central Europeu), que já é controlado pelo Bundesbank, o banco central alemão. Essa ala é liderada por Schaeuble. A outra ala é liderada por Angela Merkel e, agora, como “segundo violino”, conta com o presidente francês, François Hollande. Esta se encontra ligada, fundamentalmente, aos setores industriais que, obviamente, também têm fortes ligações e dependências com a especulação financeira.

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As duas políticas do imperialismo europeu não se dividem mais entre “desenvolvimentistas” e especuladores, mas, em vários graus, todos eles têm como objetivo garantir os lucros dos bancos. Os investimentos em infraestrutura, ou produtivos, fazem parte do passado.

A partir do colapso capitalista de 2008, aumentaram as tendências contrárias à União Europeia, principalmente na periferia. O presidente da Comissão Europeia passou a ser eleito pelo Parlamento Europeu, ao invés de ser indicado.

A crise bate às portas da Alemanha

Em 2014, França e Itália, a segunda e a terceira maiores potências da Zona do Euro respectivamente, tiveram as metas fiscais relaxadas pela Comissão Europeia que, neste ano, se posicionou a favor da renegociação da dívida grega. Vale lembrar que o presidente atual é Jean Claude Juncker, o ex-primeiro-ministro de Luxemburgo, o paraíso fiscal onde se encontra localizada a ultra corrupta empresa, controlada pelo imperialismo europeu, a partir da qual são estruturados os repasses especulativos de recursos públicos para os bancos, a partir dos chamados “resgates” da Grécia e dos demais países.

A ala direita do imperialismo alemão, representada por Wolfang Schäuble, busca manter e aumentar a “disciplina” fiscal, manter os mecanismos especulativos em pé por meio do aumento do parasitismo financeiro.

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Os países mais endividados buscam aliviar a pressão. Os chamados países PIIGS, ou “porcos” no trocadilho em inglês, se encontram sufocados pelo parasitismo financeiro e todos eles à beira da bancarrota. São eles Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha. A estes se soma a França, onde a crise capitalista tem disparado.

O governo de François Hollande, do PSF (Partido Socialista Francês) foi eleito, em 2013, em cima das promessas de campanha de impulsionar o crescimento da estancada economia francesa e reduzir os ataques contra as massas por meio dos chamados planos de austeridade. Meses depois, o PSF obteve a maioria da Assembleia Nacional. François Hollande até tentou convencer os alemães sobre a necessidade de criar um fundo para promover investimentos em infraestrutura. O fundo era altamente especulativo, 40 bilhões de euros se tornariam 400 bilhões na especulação financeira. Mas os alemães se opuseram e o próprio Hollande passou a encabeçar a política dos “planos de austeridade” junto com Angela Merkel.

Recentemente, a França propôs a criação de um parlamento para a Zona do Euro, que passaria a controlar o orçamento da região. Essa política tem como objetivo relaxar a pressão sobre os países mais endividados. A Alemanha a rejeitou e, em contrapartida, tenta impor a criação do ministro das Finanças da Zona do Euro, com poderes de intervenção nas finanças locais.

A relativa estabilidade da União Europeia depende, em grande medida, da estabilidade da locomotiva alemã. A Alemanha depende das exportações para a região e da importação de peças e insumos baratos dos demais países. Mas o aprofundamento da crise reduziu o consumo e levou a indústria alemã à recessão. Por esse motivo, o parasitismo financeiro tem disparado e os alemães são obrigados a mantê-lo em pé. A crise na periferia aumenta o contágio, de maneira crescente sobre a Alemanha que, por sua vez, ameaça implodir os demais países.

Alemanha: a crise do coração do capitalismo europeu

Os superávits da Alemanha com a Europa estão na base da sobrevivência do imperialismo alemão, que representa o coração do imperialismo europeu.

A crise capitalista tem se aprofundado na Alemanha de maneira crescente porque a estrutura atual da União Europeia e da Zona do Euro tem se tornado fundamental para os lucros dos monopólios.

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A bancarrota de um país menor, como a Grécia, pode deixar para atrás dezenas de bilhões em perdas. Mas a bancarrota do Estado espanhol ou da Itália, a quarta e a terceira potências do euro, respectivamente, tem o potencial de provocar um colapso mundial de grandes proporções.

Perante o futuro sombrio, esses mesmos monopólios continuam injetando dinheiro nos partidos políticos de extrema-direita, que têm experimentado grande crescimento no último período.

O aumento do saque do imperialismo sobre os países da periferia é o fator que se encontra na base da estabilidade do coração do capitalismo europeu. Mas o contágio da crise avança sobre o centro, conforme se aprofunda na periferia. E vice versa.

Após o segundo semestre de 2012, quando os mecanismos de contenção do colapso capitalista de 2008 ruíram, a crise tem avançado de maneira impiedosa. Todos os planos de contenção fracassaram.

Na segunda metade de 2013, o BCE (Banco Central Europeu) passou a controlar diretamente, passando por cima dos bancos centrais nacionais, 80% dos bancos privados da União Europeia. E somente não passou a controlar todos por causa do enorme volume de títulos podres detidos pelos bancos locais alemães.

O parasitismo financeiro tem crescido a tal ponto que são os bancos e as divisões financeiras dos monopólios os responsáveis pelo grosso dos lucros. Apesar dos bancos receberem empréstimos ilimitados a taxas de juros de 0%, ou ainda menores, a crise não tem sido contida. A última medida do BCE já fracassou, de maneira absoluta, nos Estados Unidos. A compra de títulos podres, pelo valor de face, teve que ser suspendida, apesar de ter chegado a injetar, desta maneira, US$ 90 bilhões mensais.

A indústria alemã em recessão

A indústria alemã representa uma das duas principais potências industriais do planeta, junto com o Japão. A União Europeia foi transformada num instrumento de controle, pelos países centrais, dos países periféricos. A maioria deles viu a indústria local quebrar e as próprias economias se transformarem em apêndices dos monopólios. Este foi o caso de todos os países do chamado PIIGS (alusão à palavra pig, em inglês, que significa porco), Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha. Os países mais fracos da Europa Oriental que adotaram o euro viram as economias serem transformadas em repúblicas das bananas, como pode ser visto na Romênia e na Bulgária. Na Romênia ainda há algumas indústrias menores atreladas ao imperialismo europeu e agora começaram a desembarcar call centers, seguindo o modelo da Polônia. A Bulgária é um país fundamentalmente agrícola.

As economias dos países Bálticos são insignificantes. O papel destes países está mais relacionado com a pressão que a Europa exerce sobre a Rússia, apesar da Alemanha ter começado a vender armas para eles.

A República Tcheca e a Eslováquia foram praticamente transformadas em províncias alemãs. Para a Polônia migraram, em grande quantidade, empresas industriais e, ultimamente, calls centers, por causa dos salários, que representam a terceira parte dos salários alemães e a grande facilidade da proximidade, a infraestrutura e a alta qualificação da mão de obra.

A tendência para o próximo período é a dos monopólios apertarem o cerco contra a periferia, ainda mais, na tentativa de salvar os lucros.

De acordo com dados da Comissão Europeia, a balança das contas correntes alemãs deverá bater um novo recorde neste ano. De 7,6% do PIB, passará para os 7,9% neste ano. De acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), deverá passar dos 8%, enquanto, no Estado espanhol, será de 1,2% e, na França, de -0.9%.

Obviamente, esses ganhos dos alemães só podem ter como contrapartida as perdas dos demais membros da União Europeia e, com maior intensidade, na periferia. Por esse motivo, a desaceleração industrial tem acelerado nestes países.

As taxas de inflação baixas têm como base na redução do consumo. Enquanto o BCE inunda o mercado com dinheiro podre, as massas têm visto o poder de compra ruir e as condições de emprego piorarem. Grande parte do crédito alemão tem sido direcionado a salvar os lucros dos monopólios no exterior, como tem ficado muito evidente no caso da Grécia, reduzindo assim o consumo doméstico e provocando o aumento do desemprego em toda a região.

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