Verdade
(mz) - Editorial
Não
devíamos nos preocupar apenas com a impregnação da corrupção de valores no
tecido social moçambicano. Também devemos olhar para as situações em que se
sobrepõe o bem-estar da população em nome de interesses económicos nos negócios
cujos lucros beneficiam somente a um punhado de pessoas. Na verdade, quando se
tem no Governo indivíduos com assaz peculiar pendor mercantilista, não se pode
esperar grande coisa.
Esse
intróito vem a propósito do memorando de entendimento assinado pelo ministro da
Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER), Celso Correia, e o
representante da Anadarko, John Peffer, para a viabilização do reassentamento
de cinco mil famílias residentes na Península de Afungi, no distrito de Palma, em Cabo Delgado.
O
acordo que supostamente integrará económica e socialmente todas as famílias
numa vila a ser erguida traz no seu bojo um conjunto de questões e disfarça uma
série de ilegalidades. Desde cedo, as comunidades abrangidas pelo projecto de
exploração de gás na Bacia do Rovuma opuseram-se à empresa Anadarko, devido aos
problemas relacionados com os procedimentos sobre o reassentamento e os
benefícios decorrentes desta acção para as famílias, para além de problemas no
Direito de Uso e Aproveitamento da Terra (DUAT).
Porém,
espanta-nos o facto de o ministro Celso Correia ter assinado o documento,
sabendo que a atribuição do DUAT àquela firma foi feita de forma ilegal, e não
foi acautelado os direitos das populações locais. É inconcebível que num país
que se pretende ser sério assistamos actos de violação deliberada dos
interesses do povo.
A
assinatura do memorando é paradigmático do que sempre o Governo faz quando a
situação envolve o povo e interesses económicos de uma dúzia de indivíduos
ligados ao partido no poder. Basta um mero olhar atento para se aperceber da
impunidade e do descaso do Executivo moçambicano nas prioridades da população.
Diga-se em abono da verdade, quando a questão é negócio de interesse pessoal,
os governantes agem como autênticos necrófagos que, sem nenhuma réstia de peso
de consciência, se alimentam da penúria dos moçambicanos.
Com
a exploração de recursos naturais em grande escala em Moçambique, só temos
assistido a exploração, opressão, repressão, dominação, ostracismo e até
excomunhão do povo que teve, digamos, o azar de nascer numa região rica em recursos. Por outras
palavras, não tem havido lugar para o povo. O povo não tem tido voz nem vez. As
populações moçambicanas continuam seres miseráveis que vivem de mão estendida a
vida inteira, devido a um grupo de pessoas que dirige o país.
Portanto,
não nos vamos surpreender se um dia acordarmos com o território nacional
vendido, não havendo um hectare sequer para o povo produzir a sua comida, até
porque é prefeitamente previsível as suas acções do Governo de turno.
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