Verdade
(mz) - Editorial
Alain
WOODROW (1996:14) já dizia que por dinheiro, os profissionais de
comunicação são objectos de solicitações. Eles, “menos escrupulosos
fazem pagar a sua influência, aceitam presentes e acabam por trair a sua
missão”, de informar. “Em vez de informar honestamente o público que lhes
paga, preferem servir os interesses do establishment, que os remunera a
segunda vez", ignoram a comunicação desinteressada e incómoda e enveredam
pela informação cómoda e previamente peneirada segundo os critérios de
actores políticos.
Este
intróito surge na sequência de o Presidente da República, Filipe
Nyusi, ter conferido posse, na semana passada, a jornalistas de
órgãos públicos, nomeadamente Sacour Latipo, Suzana Espada e Pedro
Nacúo, como parte dos novos membros do Conselho Superior de Comunicação
Social (CSCS). Mesmo se tivessem sido indicados profissionais de um dos
ditos órgãos independentes/privados a coisa só mudava de figura em termos da
proveniência, mas, na realidade, uma vez lá dentro, o espaço de manobra seria
bastante exíguo e seriam todos reduzidos a jornalistas ao serviço do
poder político.
O
contexto que ditou a indicação de Sacour Latipo, Suzana Espada e
Pedro Nacúo não só é suspeito dada a relação umbilical e uma certa
promiscuidade que há 40 anos caracterizam a "cooperação" entre a
Televisão Moçambique, a Rádio Moçambique, o Notícias e o Governo, como, também,
esclarece muitas coisas em torno do facto de o jornalista da imprensa pública
ser ou não um legítimo intermediário entre o Executivo e a sociedade. Será
este um sinal de que "ser jornalista é pertencer um uma máfia controlada
pelo poder político"?
Nunca houve
dúvidas de que as traficâncias políticas do partido de Filipe Nyusi imperam em
todos os meios de comunicação cujo funcionamento dependem dos nossos impostos.
O que ainda não estava devidamente esclarecido, é que o regime tem uma tamanha
apetência em controlar, a todo o custo, as mentes de jornalistas e as suas
instituições para melhor poder manipular e os jornalistas deixam-se levar... Há
todo um interesse de se transformar jornalistas, quanto maior for o número
para melhor, em máquinas activas de combate político?
Entre
serem membros do CSCS e agir em prol dos órgãos de comunicação social e da salvaguarda
dos seus interesses, Sacour Latipo, Suzana Espada e Pedro Nacúo já
são, obviamente, moleques e serviçais do regime, em particular de Filipe
Nyusi, enquanto este continuar no poder. Como dizia um cantor angolano, "a
máscara caiu e vê-se o podre" e a sugeria por detrás de todo o esforço
feito pelos ilustres colegas durante a última campanha eleitoral. Isso é,
realmente, sinal de que a política compensa, pese embora seja um jogo sujo.
Nota-se, infelizmente, que alguns elementos da comunicação social não mais
conseguem despir-se das suas cores e paixões partidárias.
O
abuso do poder político na imprensa não é de ontem. Aqueles que alegam que para
a indicação dos visados para o CSCS houve um processo de escolha, que fique
claro que tudo não passou de um teatro. A serventia ao regime compensa nem que
para tal as fronteiras entre o jornalismo e a política sejam fracas ou
praticamente inexistentes. E, desta forma, a pressão governamental e partidária
diminuem substancialmente a autonomia dos órgãos de informação pública.
Aliás,
escrever uma biografia sobre um Chefe de Estado como Filipe Nyusi também
compensa. Pedro Nacúo que o diga.
Assim,
o povo que não conte mais com esses jornalistas, até porque eles nunca
estiveram comprometidos em ser intermediários entre o Governo e a Sociedade.
Tudo o que buscaram lograr ao longo das suas carreiras são mordomias às custas
da política, diante da qual o povo “é tratado como se fosse uma coisa, é
ludibriado, iludido, induzido em erro, crê no que é falso" (Philippe Breton, 1997:29).
Sem comentários:
Enviar um comentário