segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Portugal. VEM AÍ MAIS DESEMPREGO. FARSANTES DA COLIGAÇÃO PROCURAM OCULTAR




Representante do FMI: “Muitas empresas endividadas e pouco produtivas vão ter de fechar”

Luís Reis Pires - Económico

Albert Jaeger defende que empresas endividadas com baixa produtividade representam 20% do emprego total em Portugal.

É urgente resolver o problema do endividamento das empresas. E o resultado de algumas reformas estruturais ficou aquém do esperado.

O que alcançou o programa?

A primeira conquista, talvez a mais importante, é que o país recuperou a credibilidade. A segunda é que o consenso social foi mantido. No início, tínhamos aquele slogan: "Portugal não é a Grécia". Não sei se todos estávamos convencidos disso, mas revelou-se verdade. Divergiu-se nos detalhes, mas o consenso nunca desapareceu. A terceira é a recuperação económica iniciada em 2013. A economia deu a volta. Pode argumentar-se que a recuperação não foi suficientemente rápida, mas recuperou. A quarta é algo que ouço de colegas portugueses: o programa aumentou a transparência e a noção de que há constrangimentos orçamentais e não se pode aumentar a dívida para os ultrapassar.

Portugal não foi a Grécia. Também não foi a Irlanda.

Eram casos diferentes. O programa irlandês teve uma especificidade própria, os factores da crise eram diferentes.

O programa foi um sucesso?

Alcançou os grandes objectivos. Não alcançou duas coisas que talvez esperassem dele. Os níveis de endividamento do sector privado e público só estabilizaram, não se reduziram significativamente. E o crescimento ficou aquém. Um programa não coloca um país numa trajectória de crescimento rápido completamente diferente do passado. Cria um ponto de partida, com reformas estruturais.

Assumiram ao início que não se conseguiria reduzir a dívida?

No sector público é uma questão de aritmética. Começou-se com um défice muito elevado, reduziu-se, mas ainda se tem um défice, por isso continua a somar-se à dívida. E muita dívida que estava escondida apareceu. Era algo que não tinha sido antecipado.

Ficaram mesmo surpreendidos com isso?

Bom, na realidade... Depois de tantos anos com PPP, empresas públicas... não é incomum.

E no sector privado?

Aí foco-me nas empresas. Havia despesa excessiva face aos lucros. À medida que foi reduzida, os desequilíbrios atenuaram-se. Mas o endividamento continuou a subir, depois estabilizou e só agora começou a descer. Não se podia esperar que, nos três anos do programa, esses níveis de dívida descessem de forma significativa.

E agora vão descer? As empresas em Portugal precisam de crédito para investir.

Há diferentes situações. Há empresas com baixa produtividade e elevado endividamento. Não produzem muito, representam quase 20% do emprego total, têm dívida elevada e muitas vão ter de fechar. Depois, há empresas com elevado endividamento, mas com produtividade aceitável ou elevada. São uma fatia grande da economia, quase metade do valor acrescentado e do investimento, mas também mais de metade da dívida. Não estão no seu potencial máximo. Uma empresa altamente endividada foca-se em sobreviver, não em produzir e vender, e está limitada no investimento. São empresas viáveis, mas têm de reduzir o endividamento.

Resolver o problema do endividamento implica esse processo darwiniano de empresas menos produtivas fecharem?

Sim. A questão é o ritmo a que o processo decorre, porque há um problema de recursos mal colocados. Temos de deslocar os trabalhadores para empresas com melhor performance.

E as outras, produtivas mas endividadas, vão absorvê-los?

Temos de os transferir para as produtivas não endividadas. Portugal tem um elevado número de empresas que estão bem, com baixo endividamento e boa performance. É para aí que temos de os transferir.

Onde fracassou o programa?

Ouvi sempre que havia demasiada austeridade. Mas a economia gastava mais 10% do que produzia, não podia continuar. Propôs-se reduzir o excesso para 3% em 2014. Era demasiado rápido? Indo devagar, continua-se a somar ao endividamento. E era preciso restaurar a confiança. A questão era tentar subir a competitividade no curto prazo, mitigando a perda de emprego. Uma ideia foi a desvalorização fiscal. A alternativa são reformas para subir rapidamente a produtividade. Algumas das laborais tentaram isso.

Mas não conseguiram.

Penso que não.

A TSU podia ter feito diferença?

Podia, mas era muito difícil implementar. Valeu a pena tentar, porque poderia ter reduzido as perdas de emprego. Mas houve três problemas. Primeiro, houve um entendimento errado do que a medida faz. Algumas pessoas pensaram que era substituta das reformas estruturais. Não é. É uma medida de curto prazo, que ajuda a minorar perdas de emprego. Mas houve quem pensasse que, com a desvalorização, não teriam de se fazer reformas.

O Governo pensava isso?

Não só. Era uma ideia generalizada. Aliás, no memorando inicial, a TSU estava na parte das reformas estruturais. Talvez tenha sido mal vendida, sobrevalorizada. O modelo da desvalorização fiscal assume que o sector não transaccionável vai baixar os preços com a descida da TSU. Mas é difícil acreditar nisso, foi sempre uma assunção dúbia. O terceiro problema foi político: era difícil antecipar a reacção dos parceiros sociais.

*Título PG

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