Rui Peralta, Luanda
Os
partidos políticos, tal como o Estado, tentam obter a mais ampla base de
interesses em torno da organização. Deste modo em virtude da necessidade de
multiplicar “militantes”, “simpatizantes” e, particularmente, eleitores, os
partidos são grandes maquinas organizativas (em muitos casos tornam-se “elefantes
brancos” e funcionam por efeito da gravidade) que burocratizam-se. Este
processo de burocratização das organizações políticas afecta, irremediavelmente,
dois factores essenciais e orgânicos: 1) Os objectivos de longo prazo; 2) a
democracia interna e espaço crítico interno.
O
carácter mecânico das organizações torna-se crucial, fenómeno observável nas
actividades partidárias calendarizadas em função não de uma dinâmica inerente á
organização mas em função de estímulos externos (eleições, campanhas, apoio ao
executivo, etc.), as nas analises politicas e definição estratégicas que passam
a um exclusivo das cúpulas e dos órgão dirigentes, passando á margem das bases
e sendo a estas transmitidas sob a forma de resoluções e directivas, reduzida
compreensão das especificidades, os princípios assumem uma forma estereotipada
enquanto as questões de cultura da organização e os debates politico-ideológicos
internos, são substituídos por intensas e frenéticas actividades
propagandistas, campanhas de recolha de apoios, pagamentos de quotas, etc.
Os
militantes, que supostamente deveriam ser a massa pensante e motora da
organização são transformados em força de trabalho amorfo e mentecapta. A
organização perde a amplitude da perspectiva necessária para olhar as coisas e
os factos com fundamento e torna-se irracional. Se o partido estiver no governo
(situação em que este processo de destruturação da organização se acelera) as
actividades limitam-se em torno da agenda do executivo, se estiver na oposição
as actividades limitam-se em torno da execução de grandes campanhas de
marketing exercidas e focadas no eleitorado, com o objectivo de regressar o
mais rapidamente possível ao Poder.
Tudo
é aprovado com um abanar de cabeça afirmativo e sem um murmúrio. As reuniões
transformam-se em espaços onde os militantes trocam entre si os olhares vazios
e inexpressivamente acríticos. Estão por interesse (um melhor emprego, um
favor, um empréstimo bancário, uma benesse, um melhor salario, uma subida na
hierarquia social, um negocio com o partido) e por interesse movimenta-se a sua
“inactividade”.
Nas
paredes da sala os olhares vigilantes e os rostos firmes dos dirigentes são
omnipresentes, em sinal de uma omnisciência parda e de uma omnipotência que
está muito além da capacidade dos mortais…
Leituras
aconselhadas
Michels,
R. Para uma sociologia dos partidos políticos na Democracia Moderna Ed.
Antígona, Lisboa, 2001
Bobbio,
N. Teoria generale della Politica Ed. Einaudi, Torino, 1999
Rizzi,
B. A burocratização do mundo Ed. Antígona, Lisboa, 1983
Aron,
R. As Etapas do pensamento Sociológico Ed. Dom Quixote, Lisboa, 2000
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