Governo
alemão muda abruptamente a sua política para os refugiados e suspende o acordo
de Schengen de livre circulação, fechando a fronteira com a Áustria e
suspendendo também o tráfego ferroviário entre os dois países. Divisões deverão
marcar cimeira europeia desta segunda-feira sobre a crise dos refugiados.
Até
agora, a chanceler Angela Merkel afirmava que a Alemanha poderia receber até
800 mil refugiados sírios; o seu parceiro de coligação, Sigmar Gabriel, do
Partido Social-Democrata, falava mesmo em receber meio milhão por ano. Mas
neste domingo, o ministro do Interior do governo alemão, Thomas de Maizière,
disse que já fora alcançado o limite de capacidade de acolhimento e anunciou a
suspensão temporária do acordo de Schengen, de livre circulação na Europa,
fechando na prática a sua fronteira com a Áustria.
"Precisamos
de mais tempo e de uma certa dose de ordem nas nossas fronteiras",
justificou o governante.
A
Polícia Federal alemã mobilizou todas as suas unidades disponíveis para os
controlos de fronteira.
A
rede ferroviária da Áustria anunciou que o tráfego de comboios em direção à
Alemanha está suspenso desde as 17h locais deste domingo, até segunda ordem.
A
decisão significa uma viragem da política germânica para a crise dos
refugiados.
Crítica
do parceiro bávaro
A
posição de Merkel já tinha ficado enfraquecida quando o seu principal aliado,
Horst Seehofer, líder
da União Cristã Social (CSU), o partido irmão da CDU da chanceler na Baviera, a
criticou por, segundo ele, encorajar os refugiados chegados à Hungria a
continuarem para a Alemanha. Segundo a Der Spiegel, Seehofer, que é
também o governador da Baviera, convidou o primeiro-ministro da Hungria, Viktor
Urban, para a conferência do grupo parlamentar do seu partido, para “encontrar
uma solução comum” para a crise dos refugiados.
Seehofer
considerou que o afluxo de milhares de refugiados à Alemanha é produto de um
erro de Merkel que acompanhará o país por muito tempo. “Em breve estaremos numa
situação de emergência que já não conseguiremos controlar.”
Merkel
cedeu e agora pode criar situações tensas na fronteira com a Áustria e também
na fronteira da Sérvia com a Hungria, onde o governo de Budapeste está a acabar
de construir uma vedação de 4 metros de altura nos 175 quilómetros da extensão
da fronteira. A Hungria também está prestes a aprovar legislação que
criminaliza com penas de cadeia quem atravesse a fronteira sem a documentação
que o governo considera necessária.
Cimeira
europeia
Em
comunicado, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, sublinhou a
urgência de um acordo para aprovar as medidas propostas por Bruxelas para gerir
a crise dos refugiados, sublinhando a importância da reunião extraordinária dos
ministros da Administração Interna da UE, que decorre esta segunda-feira, e a
necessidade de serem aprovadas rapidamente as cotas de refugiados, para
distribui-los por todos os países da União.
Depois
de Angela Merkel ter afirmado que o país aceitaria os refugiados da guerra na
Síria, a Alemanha passou a ser o destino prioritário dos refugiados. Em duas
semanas chegaram a Munique cerca de 63.000, dos quais 13.000 só no sábado.
República
Checa aumenta controlo de fronteira
A
República Checa anunciou também o aumento do controlo da fronteira com a
Áustria.
"A
República Checa está a reforçar as medidas na sua fronteira com a Áustria. As
etapas seguintes serão determinadas de acordo com o número de refugiados em
direção à República Checa", disse o ministro do Interior Milan Chovanec.
A
República Checa, junto com a Hungria, a Eslováquia e a Polónia rejeitam a
política de cotas, da União Europeia, naquilo que um diplomata citado pela Der
Spiegel chegou a chamar “Guerra Fria”.
Dia
Europeu de Ação pelos Refugiados
Neste
sábado, dezenas de milhares participaram numa manifestação a favor do
acolhimento dos refugiados. No Reino Unidos foram dezenas de milhares de
pessoas, numa manifestação em que participou o novo líder do Partido
Trabalhista, Jeremy Corbyn. Ainda no Reino Unido houve manifestações em
Edinburgh, Glasgow e Cardiff. Outros capitais europeias onde houve também
manifestações foram Paris (24 mil pessoas), Roma, Copenhaga (30 mil) e Lisboa.
Esquerda.net
- Foto: Família síria exausta depois de ter sido recolhida por um navio
italiano no Mediterrâneo. Foto de UNHCR - A. D'Amato
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