O
aumento da intimidação e perseguição de jornalistas é denunciado pelos
correspondentes da Voz da América e da Rádio Ecclesia na província angolana de
Cabinda. "Fazer jornalismo aqui é um martírio", afirma um deles.
Os
jornalistas de Cabinda, sobretudo os ligados à imprensa independente,
queixam-se de constantes perseguições e de limitação da atividade jornalística
por parte das autoridades governamentais. "Questões de segurança" tem
sido o argumento usado para restringir a liberdade de expressão e de imprensa
no enclave.
Segundo
o correspondente da Voz da América (VOA) em Cabinda, José Manuel, as
perseguições, intimidações e limitação da liberdade de imprensa e de expressão
acentuaram-se drasticamente depois da assinatura do Memorando de Entendimento,
em 2006, entre o Governo e um grupo de dissidentes do movimento de guerrilha
separatista da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), denominado
Fórum Cabindês para o Diálogo.
O
acordo que procurou terminar formalmente com o conflito armado e garantir a paz
no enclave transformou-se num factor de restrição e de intimidação da liberdade
de imprensa, afirma o jornalista.
"Com
a assinatura do memorando de entendimento e com a concessão de um estatuto
especial para Cabinda, as liberdades todas foram amputadas", diz.
"Criou-se a ideia da existência de um grupo que era hostil ao Estado. Este
grupo era composto por pessoas que não integraram esse memorando: jornalistas e
membros da sociedade civil."
Também
o correspondente da Emissora Católica de Angola, Cristóvão Luemba, afirma que
"fazer jornalismo em Cabinda é um autêntico martírio". De acordo com
o jornalista, "aquilo que às vezes é permitido noutros locais do país, em
Cabinda é praticamente um bicho-de-sete-cabeças. Vale tudo por aqui. A cada dia
que passa, vamo-nos afundando cada vez mais".
Perseguição
e intimidação
O
clima de repressão estende-se igualmente a ativistas dos direitos humanos. O
correspondente da VOA em Cabinda, que já foi detido várias vezes, denuncia
abusos policiais. E revela que numa dessas ocasiões foi detido e pressionado a
revelar as suas fontes. "Não se sofre apenas uma intimidação física,
sofre-se uma intimidação psicológica", explica José Manuel, que tem sido
alvo de vários processos judiciais.
O
jornalista conta ainda que o ativista Marcos Mavungo, detido pelas autoridades
angolanas a 14 de março, quando preparava uma manifestação contra a má
governação e violação dos direitos humanos em Cabinda, ainda conseguiu
telefonar-lhe no dia em que foi preso para o informar do sucedido. "O
facto de Marcos Mavungo me ter ligado criou um estigma em torno da minha
pessoa", diz.
Devido
ao clima de intimidação e perseguição, muitos jornalistas, sobretudo os que
trabalham em órgãos públicos e na Rádio Comercial de Cabinda, emissora
pertencente a um grupo privado ligado ao partido no poder, abstêm-se de
divulgar questões politicamente sensíveis. "Há muito que recolher e
divulgar, mas não conseguimos porque existem estas limitações", conta
Cristóvão Luemba, correspondente da Rádio Ecclesia.
Os
correspondentes locais da VOA e da Ecclesia, estação de rádio da igreja católica,
são os únicos jornalistas independentes baseados na província mais a norte de
Angola.
Nelson
Sul d'Angola (Cabinda) – Deutsche Welle – Foto: José Manuel, correspondente da
VOA em Cabinda
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