sábado, 19 de setembro de 2015

ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS PREOCUPADOS COM TENSÃO POLÍTICA EM MOÇAMBIQUE



Associações de estudantes universitários moçambicanos manifestaram-se hoje preocupadas com a tensão política em Moçambique, enaltecendo a importância da paz e da estabilidade para o desenvolvimento do país.

"Viémos manifestar a nossa indignação e preocupação, notamos, com alguma tristeza, que há determinados acontecimentos que ameaçam a paz no país", disse à agência Lusa Nuno Horácio, presidente da Associação de Estudantes Universitários da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), à margem de uma manifestação de apelo à paz em Maputo, organizada hoje pela União Nacional de Estudantes de Moçambique.

Numa altura em que o país atravessa um clima de tensão, com a ameaça de confrontações militares entre o exército e o maior partido da oposição, a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), os estudantes universitários apelaram às partes envolvidas para optarem por um diálogo sério, franco e aberto, assinalando que a educação é a base para o desenvolvimento de qualquer Estado, mas que esta é impossível num clima de guerra.

"A paz é a condição para o nosso desenvolvimento. Aliás, foi a paz que nos trouxe espaço para o surgimento das academias", sublinhou Joaquim Cabaca, vice-presidente da Associação de Estudantes da Universidade Técnica de Moçambique, convidando os lideres políticos a aconselharem-se junto das academias para melhor dirigirem os destinos do país.

Trajados de camisetas brancas, com mensagens de apelo ao diálogo e a imagem de uma pomba, a aludir à paz, centenas de estudantes de várias instituições de ensino superior publicas e privadas concentraram-se na praça da paz às 08:30 locais (09:30 de Lisboa), mesmo sob a ameaça da chuva e da temperatura baixa que se faz sentir hoje na capital moçambicana.

"Todos nós, enquanto cidadãos, somos chamados a manifestar-se contra qualquer possibilidade de guerra em Moçambique", afirmou à Lusa Hermenegildo Machoi, presidente da Associação de Estudantes da Academia de Ciências Policiais, salientado que a existência de um "grupo armado não autorizado" é um perigo para a segurança pública, em alusão ao braço armado do maior partido da oposição.

A manifestação, que começou quase com uma hora de atraso, foi acompanhada por um pequeno contingente policial, contrariamente ao que é hábito em situações similares.
"Esta é uma iniciativa louvável e que deve ser levada a sério", declarou à Lusa Teresa Isabel Adriano, diretora pedagógica do Instituto Superior de Gestão e Finanças, relembrando que Moçambique já viveu a guerra dos 16 anos, que terminou em 1992.

"Nós, como um estrato da sociedade, exigimos apenas a paz e pedimos que as partes envolvidas dialoguem para resolução definitiva desse problema", reiterou o presidente da Associação de Estudantes Universitários da UEM.

A Renamo exige a criação das autarquias províncias em todo país e quer governar as seis regiões onde reclama vitória eleitoral nas eleições de outubro de 2014 em Moçambique, sob ameaça de tomar o poder à força.

Na semana passada, uma comitiva do líder da Renamo foi atacada em Chibata, junto do rio Boamalanga, quando regressava de um comício em Macossa, a caminho de Chimoio, capital de Manica, no centro de Moçambique.

Na quinta-feira, a Renamo ameaçou vingar-se do ataque e acusou diretamente o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, de ter dado ordens para assassinar o seu líder, Afonso Dhlakama, imputando ao ministro da Defesa, Salvador Mtumuke, e ao chefe do Estado-Maior General, Graça Chongo, conveniência no alegado plano.

Em 2013, o braço armado do principal partido de oposição bloqueou a única estrada que liga o sul e o centro ao norte de Moçambique, levando a confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e a Renamo durante 17 meses, tendo causado um número desconhecido de mortes.

Os confrontos pararam formalmente em 05 de setembro do ano passado, com a assinatura do Acordo de Cessação das Hostilidades Militares entre Afonso Dhlakama e o então chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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