José
Goulão – Jornal de Angola, opinião
É
provável que nenhum dirigente da União Europeia ou de Estados membros tenha
alguma vez ouvido falar da “teoria do caos”, lançada e burilada no pós-guerra
pelo filósofo Leo Strauss, da elite política judia e do “establishment” dos
Estados Unidos, continuada até hoje pelos seus discípulos – e financiada pelo
Pentágono.
Raros
são também os jornalistas que a integram nas suas investigações e análises,
sujeitando-se a ser imediatamente rotulados como seguidores lunáticos das
chamadas teorias da conspiração.
Em poucas palavras, a “teoria do caos” de Leo Strauss estabelece que a melhor maneira de os Estados Unidos da América impedirem a criação de países ou blocos rivais e beneficiarem de matérias-primas baratas e com acesso desregulado é através da instauração de situações de caos governamental e social em diferentes países e regiões, de maneira a que Washington delas possa tirar proveito praticamente exclusivo. Para Leo Strauss, a criação de situações de caos favoráveis aos Estados Unidos deveria ser um fim, nunca um meio.
A “teoria do caos” de Strauss teve desenvolvimentos no início dos anos noventa do século passado, quando Washington tratou de fazer vingar a unipolaridade disfarçada de multipolaridade a seguir ao desmembramento da União Soviética.
Por iniciativa de George Bush pai nasceu então a “teoria Wolfowitz”, que deve o nome a Paul Volfowitz, discípulo de Strauss, igualmente membro da elite judia norte-americana, arquitecto da política externa de George Bush filho e da invasão do Iraque. Também foi presidente do Banco Mundial. Volfowitz regressou à sombra depois de conhecidos os escândalos através dos quais rateava cargos públicos entre os amigos neoconservadores, familiares e namoradas.
Em poucas palavras, a “teoria Wolfowitz – ainda secreta mas parcialmente revelada pelo “New York Times” e pelo “Washington Post” em Março de 1992 – estabelece que a supremacia global norte-americana exige o controlo militar, político e económico sobre a União Europeia, para que esta não se torne uma potência capaz de rivalizar com os Estados Unidos. Aliada sim, mas nunca em plano igualitário.
Suponhamos então que a teoria de Strauss e a sua sucessora delineada por Wolfowitz não passam de delirantes teorias da conspiração. Suponhamos até que o seu gestor financiado pelo Pentágono, Andy Marshall, não se reformou apenas no ano passado, já com 92 anos, e nunca existiu. Nem foi nomeado em 1973 – sucedendo a Leo Strauss, por morte deste – por Richard Nixon e confirmado por todos os presidentes até Obama.
Ignoremos então esses supostos delírios e olhemos para a Europa, em especial para a União Europeia e respectivo percurso desde o início dos anos noventa do século passado. Reflictamos sobre as consequências do mergulho suicida no neoliberalismo, da submissão à OTAN como braço operacional do Pentágono, do envolvimento em guerras desencadeadas pelos Estados Unidos, desde o Afeganistão à Síria e à Líbia, onde aliás as principais aventuras militares foram confiadas à França de Sarkozy/Hollande e ao Reino Unido de Cameron. Observemos o que está a acontecer na Europa, sobretudo na União Europeia, com a tragédia dos refugiados resultante dessas guerras.
Não será disparatado concluir que a hecatombe humanitária, política e económica dos refugiados resulta das situações de caos criadas no Afeganistão, no Iraque, na Somália, na Líbia, no Mali, na Nigéria, na Síria, no Iémen. Antes destas guerras com a marca do Pentágono, arrastando os mais importantes países da OTAN em condições de subalternidade, o problema dos refugiados na Europa não atingira nunca uma dimensão sequer próxima da que agora se regista.
A Europa está há longos anos mergulhada numa crise disparada a partir dos Estados Unidos e que se alimenta a si mesma pelos erros sucessivos cometidos pela União Europeia, ao pretender ser um espelho do modelo do lado de lá do Atlântico, mas sem voz própria militar e económica. Crise essa que se agrava através da submissão reforçada com o acordo de comércio livre (TTIP) e, sobretudo, com o problema dos refugiados decorrente das situações de caos que estão para lavar e durar nas zonas e países atrás citados. A gravidade da crise dos refugiados é o veículo que transporta o caos para o interior das fronteiras europeias, potenciado de maneira desagregadora pelo recrudescimento do terrorismo nazi-fascista.
A “teoria do caos” será uma miragem, mas o caos real vai provocando os efeitos desejados pelo complexo militar, político, económico e financeiro que domina o mundo sob as bandeiras dos Estados Unidos e da OTAN.
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