Raphael
Padula, professor da UFRJ, afirma que entre os 10 maiores importadores de
petróleo, apenas China e Índia estão fora do controle americano
Alex
Prado – Carta Capital
A
geopolítica estratégica dos Estados Unidos é ameaça à soberania do Brasil sobre
o pré-sal. Esta é a principal conclusão da palestra
do professor Raphael Padula, da UFRJ, no seminário “Uma estratégia para o Brasil, um plano para a
Petrobras”, promovido pela Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET)
e pelo Programa de Pós-graduação em Economia Política Internacional da
UFRJ, nesta quarta-feira (23), no Clube de Engenharia (RJ). Segundo Padula, a
geopolítica dos EUA, no século XXI, tem como foco a garantia de acesso a
recursos naturais indispensáveis tanto para eles, como para os aliados.
Entre
os 10 maiores importadores de petróleo, apenas China e Índia podem ser
considerados fora do controle estratégico dos EUA. Para o professor isto
explica a importância da “tutela” que garante aos norte-americanos o apoio dos
países aliados na defesa de seus interesses diretamente ligados às questões
neoliberais, de garantia de mercados às empresas e serviços dos EUA.
Para
confirmar seu raciocínio, Padula relatou as mudanças na política externa dos
EUA no século passado, no pós-guerra e depois da dissolução da União Soviética.
O fim da guerra fria levou a maior potência do planeta a eleger novas ameaças à
paz mundial, da qual se julga o grande defensor, como o narcotráfico e o
terrorismo.
Mas
os altíssimos níveis de desenvolvimento da China trouxeram um novo ator ao
cenário mundial que, associado ao nacionalismo de Vladmir Putin, na potência
militar da Rússia, fazem frente ao poderio norte-americano. A China já é o
segundo maior consumidor de recursos naturais do planeta, e tem poucas
reservas. A Rússia, além do arsenal atômico, tem reservas de hidro carburetos
indispensáveis, principalmente à Europa ocidental, grande aliada dos EUA.
Diante
deste cenário e coerente com sua geopolítica, os Estados Unidos reforçam sua
política intervencionista de garantir o acesso aos recursos naturais, tendo
seus aliados como parceiros, diante da fragilidade deles na obtenção destes
recursos.
No
final da palestra, Padula trouxe esse cenário para a realidade da América
Latina e, principalmente, para o Brasil. Segundo ele, a estratégia dos EUA é a
de impedir o surgimento de potências regionais em áreas de abundância de
recursos naturais. Geograficamente, o Brasil está estrategicamente localizado,
além de possuir um território que representa mais de 50% do subcontinente
sul-americano e com reservas consideráveis das principais commodities minerais.
Assim,
o modelo proposto para a nossa região, segundo Padula, insere-se dentro da
geopolítica dos EUA como países que devem ter suas Forças Armadas voltadas para
o controle de conflitos internos, combate ao narcotráfico e ao terrorismo, mas
incapazes de defender suas riquezas naturais. Papel que caberia aos Estados
Unidos. Além disto, é necessário impedir o fortalecimento de associações como o
Mercosul e a Unasul, contrapondo isto a políticas apenas de livre comércio.
Raphael
Padula demonstrou como o giro na política externa brasileira, a partir de 2003,
até então totalmente favorável aos interesses da geopolítica dos EUA, passa a
incomodar a grande potência. O Brasil assume seu papel de protagonista em seu
entorno estratégico, reforçando o ideal integrador do Mercosul, além de um
espaço de livre comércio e expandindo suas ações rumo à África ocidental, vizinha
do Atlântico sul.
Com
a descoberta do pré-sal, as decisões brasileiras sobre a forma de exploração
desta riqueza elevaram as tensões entre diplomáticas entre Brasil e EUA. O
emergente protagonismo do primo pobre do sul incomodou. O primo rico tratou de reativar
a 4ª Frota Naval, específica para o Atlântico sul; rejeitou a resolução da ONU
que garantia o direito brasileiro nas 200 milhas continentais. E espionou, como
revelado no caso Wikileakes.
Raphael
Padula encerrou sua palestra afirmando que os interesses da geopolítica
americana não podem permitir o surgimento de uma potência regional, detentora
de recursos minerais estratégicos e, ao mesmo tempo, com uma empresa pública
eficiente como operadora única da maior reserva de petróleo descoberta neste século.
Foto
Agência Petrobras
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