Baptista
Bastos – Jornal de Negócios, opinião
A
guerrilha, sempre latente entre os socialistas, regressa em força, e Costa tem
de se acautelar porque os seus oponentes dispõem de tropas e de força.
A palavra "compromisso" entrou, inesperadamente, no vocabulário da
Direita. Começou no discurso, sempre mavioso e atractivo, do dr. Cavaco e foi
imediatamente adoptado pela parelha Passos e Portas. Para recuperar a curiosa
expressão, o dr. Cavaco esteve de quarentena, e não foi às comemorações do 5 de
Outubro porque esteve a pensá-la arduamente. O dr. Cavaco, quanto à República e
ao que ela significa é sempre acometido de curioso mal-estar. Está a terminar a
funçanata para a qual foi incumbido. Acontece um porém: ele nunca foi,
realmente, um Presidente talhado para tal: falta-lhe o rigor exigido pelo
cargo; o equilíbrio político; a cultura mais rudimentar; a imparcialidade e a
moderação. Foi o pior Presidente desta 2.ª República, benza-o Deus.
Esta ideia do "compromisso" nasceu no imediato momento em que se soube não ter a coligação de Direita maioria absoluta, e que a Esquerda obtinha, reunidos os votos, 62 por cento das vontades. A situação dos vencedores, Pedro e Paulo, é, portanto, precária, e a imposição de "estabilidade" governamental só se obtém com a colaboração do PS. O enigma do magno problema será resolvido por António Costa. Este, no entanto, está a ser cercado por Álvaro Beleza e outros apoiantes saudosos de António José Seguro. A guerrilha, sempre latente entre os socialistas, regressa em força, e Costa tem de se acautelar porque os seus oponentes dispõem de tropas e de força.
Por outro lado, a Direita também não é inexpugnável, e a circunstância de ser minoritária tornou-a refém do PS. Os sorrisos cheios de soberba de Portas esmaeceram-se; e o discurso de Passos tornou-se menos arrogante, como se verificou anteontem, ao falar do encontro com o dr. Cavaco. Ao aludirem ao tal "compromisso", os dois dirigentes da coligação sabem que ela está ferida de morte, assim o queira António Costa. Mas este já anunciou que não tem vocação para derrubar governos, ao contrário do PCP, do Bloco e quejandos, os quais apoiados em interpretações da Constituição afirmam que a coligação de Direita não possui legitimidade para governar, pois a soma da votação à Esquerda é maioritária.
António Costa, se admitir a decisão do dr. Cavaco, será amaldiçoado pela Esquerda do seu partido; se não a aceitar, os representantes de Seguro devoram-no. Álvaro Beleza já o anunciou, com gelada fisionomia, e quer imediatamente um congresso para fritar António Costa e colocar-se na primeira linha da sucessão. Não se sabe, o que pensa desta barafunda o dr. António José Seguro, mas presume-se que esfrega as mãos de contente, perante as desgraças que assolam o dr. Costa, que o defenestrou numa jogada política não aplaudida por toda a gente.
No meio de isto tudo quem se entala somos nós. Os mesmos de sempre estão sempre lá, e nem as ameaças dos descontentes, nem o lúcido desassossego dos mais jovens abalam um sistema ancilosado que paralisa a pátria e a envolve num desespero sem saída.
Naturalmente, muitas coisas mudaram a partir de 4 de Outubro, e muitas mais vão mudar, não por vontade dos partidos tradicionais mas pelo próprio movimento natural das coisas. A União Europeia está a desfazer-se aos poucos, a contestação às suas decisões espúrias e autoritárias estão na ordem do dia, revela-se um despertar das consciências populares nos países violentamente afectados pela "austeridade" que veio de fora; quer dizer: a manobra capitalista neoliberal soçobrou, deixando atrás dela um rasto de miséria, de desequilíbrio social, propiciando o reaparecimento dos movimentos fascistas e nazis. Todos estes acontecimentos, sem esquecer o poderoso movimento migratório, têm relação entre si.
Só não vê quem prognostica o "compromisso" como solução, quando, na verdade, o "compromisso" não passa de um paliativo.
Esta ideia do "compromisso" nasceu no imediato momento em que se soube não ter a coligação de Direita maioria absoluta, e que a Esquerda obtinha, reunidos os votos, 62 por cento das vontades. A situação dos vencedores, Pedro e Paulo, é, portanto, precária, e a imposição de "estabilidade" governamental só se obtém com a colaboração do PS. O enigma do magno problema será resolvido por António Costa. Este, no entanto, está a ser cercado por Álvaro Beleza e outros apoiantes saudosos de António José Seguro. A guerrilha, sempre latente entre os socialistas, regressa em força, e Costa tem de se acautelar porque os seus oponentes dispõem de tropas e de força.
Por outro lado, a Direita também não é inexpugnável, e a circunstância de ser minoritária tornou-a refém do PS. Os sorrisos cheios de soberba de Portas esmaeceram-se; e o discurso de Passos tornou-se menos arrogante, como se verificou anteontem, ao falar do encontro com o dr. Cavaco. Ao aludirem ao tal "compromisso", os dois dirigentes da coligação sabem que ela está ferida de morte, assim o queira António Costa. Mas este já anunciou que não tem vocação para derrubar governos, ao contrário do PCP, do Bloco e quejandos, os quais apoiados em interpretações da Constituição afirmam que a coligação de Direita não possui legitimidade para governar, pois a soma da votação à Esquerda é maioritária.
António Costa, se admitir a decisão do dr. Cavaco, será amaldiçoado pela Esquerda do seu partido; se não a aceitar, os representantes de Seguro devoram-no. Álvaro Beleza já o anunciou, com gelada fisionomia, e quer imediatamente um congresso para fritar António Costa e colocar-se na primeira linha da sucessão. Não se sabe, o que pensa desta barafunda o dr. António José Seguro, mas presume-se que esfrega as mãos de contente, perante as desgraças que assolam o dr. Costa, que o defenestrou numa jogada política não aplaudida por toda a gente.
No meio de isto tudo quem se entala somos nós. Os mesmos de sempre estão sempre lá, e nem as ameaças dos descontentes, nem o lúcido desassossego dos mais jovens abalam um sistema ancilosado que paralisa a pátria e a envolve num desespero sem saída.
Naturalmente, muitas coisas mudaram a partir de 4 de Outubro, e muitas mais vão mudar, não por vontade dos partidos tradicionais mas pelo próprio movimento natural das coisas. A União Europeia está a desfazer-se aos poucos, a contestação às suas decisões espúrias e autoritárias estão na ordem do dia, revela-se um despertar das consciências populares nos países violentamente afectados pela "austeridade" que veio de fora; quer dizer: a manobra capitalista neoliberal soçobrou, deixando atrás dela um rasto de miséria, de desequilíbrio social, propiciando o reaparecimento dos movimentos fascistas e nazis. Todos estes acontecimentos, sem esquecer o poderoso movimento migratório, têm relação entre si.
Só não vê quem prognostica o "compromisso" como solução, quando, na verdade, o "compromisso" não passa de um paliativo.
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