Seara
Nova, editorial
Por
muito que o Governo PSD/CDS e seus porta-vozes na comunicação social se agitem
em exercícios de contorcionismo, para fazer crer o contrário, é uma evidência
que política das "inevitabilidades" e a cassete de "não há
alternativa" levaram o País ao desastre económico e social. Na aridez do
seu programa, tudo mirrou, na execução de políticas talhadas, pronto-a-vestir,
nas centrais de domínio capitalista mundial, de que a tróica e um governo
afeiçoado e submisso a tais políticas foram, no contexto do País, ao longo dos
últimos anos, agentes e actores qualificados e executores zelosos.
Toda
a acção política do governo PSD/CDS teve o deliberado objectivo de empobrecer o
País, estiolando a actividade produtiva e sacrificando a vida dos cidadãos, num
processo de concentração da riqueza, que aumentou as desigualdades sociais e
alargou o fosso que nos separa dos países mais desenvolvidos. E se o nosso
país, sob a égide das políticas de malfadado "programa de
reajustamento", subiu nas tabelas de classificação, no confronto com os
restantes países europeus, foi exactamente em domínios que os portugueses bem
dispensariam e onde seria pressuposto não acontecerem, ou seja, o aumento da
dívida externa, da dependência económica e do empobrecimento dos portugueses.
Importa
acentuar ainda que as vulnerabilidades e dependência da economia portuguesa
estão estritamente ligadas ao processo de restauração do domínio económico de
antigos e novos dos grupos monopolistas, com o cortejo de privatizações a que
assistimos desde há décadas, mas que nos últimos anos têm assumido foros de
escândalo, constituindo assim este processo de privatizações e de liquidação de
sectores produtivos essenciais para o desenvolvimento autónomo do País a
"outra face", dir-se-ia a realização "prática", da
submissão ao euro e aos ditames e imposições da União Europeia e de outras
instituições supra nacionais, designadamente, o FMI.
Com
a realização, a curto prazo, de eleições para a Assembleia da República, surge
uma nova oportunidade que os portugueses não poderão desperdiçar de romperem
com esta política de submissão e desastre que sufoca o País. De resto,
pressente-se na sociedade portuguesa um clima favorável "à mudança"
da situação política que se traduz em diversas e aguerridas lutas e protestos
de trabalhadores, no mal-estar disseminado por diversos extractos e camadas
sociais e até mesmo em tomadas de posição, nos órgãos de comunicação social e
outras instâncias de intervenção, por diferentes personalidades, oriundas de
sectores conservadores, quando não mesmo de áreas afectas ao actual governo,
verberando as políticas prosseguidas e manifestando genuínas preocupações com a
situação real do País.
Todo
este mal-estar e tais tomadas de posição públicas, que importa reconhecer e
valorizar, contam naturalmente por si próprias. Mas valem, sobretudo, como
sintoma de um clima social propício a desbravar novos caminhos que permitam ao
País desenvencilhar-se do círculo vicioso da dívida, como condição essencial
para a criação de riqueza e para desenvolvimento económico e social que os
portugueses justamente almejam.
Nesta
perspectiva, importará reconhecer que, mais do que o jogo de alternância
política, urge a criação de uma verdadeira alternativa de governo que assuma
com brio patriótico a defesa dos interesses do país, face à Europa dos
poderosos. E que, no cumprimento da Constituição da República Portuguesa, tenha
fundamento central a valorização dos recursos nacionais e a dignificação do
trabalho e dos trabalhadores portugueses, entre outros temas que se impõem numa
verdadeira alternativa política.
Assim
todas as forças políticas que se revêm na Constituição da República e nos
valores de Abril genuinamente o pretendam e, empenhadamente, sejam capazes de
alcançar tal objectivo.
REVISTA
SEARA NOVA (revista do verão 2015)
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