sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Portugal. ROMPER COM ESTA POLÍTICA



Seara Nova, editorial

Por muito que o Governo PSD/CDS e seus porta-vozes na comunicação social se agitem em exercícios de contorcionismo, para fazer crer o contrário, é uma evidência que política das "inevitabilidades" e a cassete de "não há alternativa" levaram o País ao desastre económico e social. Na aridez do seu programa, tudo mirrou, na execução de políticas talhadas, pronto-a-vestir, nas centrais de domínio capitalista mundial, de que a tróica e um governo afeiçoado e submisso a tais políticas foram, no contexto do País, ao longo dos últimos anos, agentes e actores qualificados e executores zelosos.

Toda a acção política do governo PSD/CDS teve o deliberado objectivo de empobrecer o País, estiolando a actividade produtiva e sacrificando a vida dos cidadãos, num processo de concentração da riqueza, que aumentou as desigualdades sociais e alargou o fosso que nos separa dos países mais desenvolvidos. E se o nosso país, sob a égide das políticas de malfadado "programa de reajustamento", subiu nas tabelas de classificação, no confronto com os restantes países europeus, foi exactamente em domínios que os portugueses bem dispensariam e onde seria pressuposto não acontecerem, ou seja, o aumento da dívida externa, da dependência económica e do empobrecimento dos portugueses.

Importa acentuar ainda que as vulnerabilidades e dependência da economia portuguesa estão estritamente ligadas ao processo de restauração do domínio económico de antigos e novos dos grupos monopolistas, com o cortejo de privatizações a que assistimos desde há décadas, mas que nos últimos anos têm assumido foros de escândalo, constituindo assim este processo de privatizações e de liquidação de sectores produtivos essenciais para o desenvolvimento autónomo do País a "outra face", dir-se-ia a realização "prática", da submissão ao euro e aos ditames e imposições da União Europeia e de outras instituições supra nacionais, designadamente, o FMI.

Com a realização, a curto prazo, de eleições para a Assembleia da República, surge uma nova oportunidade que os portugueses não poderão desperdiçar de romperem com esta política de submissão e desastre que sufoca o País. De resto, pressente-se na sociedade portuguesa um clima favorável "à mudança" da situação política que se traduz em diversas e aguerridas lutas e protestos de trabalhadores, no mal-estar disseminado por diversos extractos e camadas sociais e até mesmo em tomadas de posição, nos órgãos de comunicação social e outras instâncias de intervenção, por diferentes personalidades, oriundas de sectores conservadores, quando não mesmo de áreas afectas ao actual governo, verberando as políticas prosseguidas e manifestando genuínas preocupações com a situação real do País.

Todo este mal-estar e tais tomadas de posição públicas, que importa reconhecer e valorizar, contam naturalmente por si próprias. Mas valem, sobretudo, como sintoma de um clima social propício a desbravar novos caminhos que permitam ao País desenvencilhar-se do círculo vicioso da dívida, como condição essencial para a criação de riqueza e para desenvolvimento económico e social que os portugueses justamente almejam.

Nesta perspectiva, importará reconhecer que, mais do que o jogo de alternância política, urge a criação de uma verdadeira alternativa de governo que assuma com brio patriótico a defesa dos interesses do país, face à Europa dos poderosos. E que, no cumprimento da Constituição da República Portuguesa, tenha fundamento central a valorização dos recursos nacionais e a dignificação do trabalho e dos trabalhadores portugueses, entre outros temas que se impõem numa verdadeira alternativa política.

Assim todas as forças políticas que se revêm na Constituição da República e nos valores de Abril genuinamente o pretendam e, empenhadamente, sejam capazes de alcançar tal objectivo.

REVISTA SEARA NOVA (revista do verão 2015)

Sem comentários:

Mais lidas da semana