Carta
aberta aos angolanos lembra que os 15 jovens ativistas detidos já completaram
quatro meses de prisão em condições desumanas: isolamento, àgua imprópria para
consumo, comida de má qualidade, doenças várias.
A
carta aberta aos angolanos, divulgada em Luanda na passada terça-feira, 27 de
outubro, e assinada por Nuno Álvaro Dala em nome dos 14 ativistas detidos no
Hospital prisão de São Paulo, lembra que já se passaram mais de quatro meses
desde que, no dia 20 de junho, foram detidos na Vila Alice, na sala de aulas do
Instituto Luandense de Línguas e Informática (ILULA).
Na
carta, que também já está a circular nas redes sociais, lê-se que “desde o dia
da nossa detenção até hoje as acusações transformaram-se diversas vezes (de
“preparação do golpe de estado“ a “actos preparatórios de rebelião"). O
isolamento e a incomunicabilidade, a água bruta imprópria para consumo, a
comida de má qualidade, a escuridão das celas, as camas de betão, os mosquitos
e outras condições desumanas provocaram-nos diversas doenças, foram e continuam
a ser uma terrível prova à nossa integridade ética e à manutenção dos nossos
ideais em geral, em prol de uma Angola de todos e para todos”.
A
carta destaca ainda que “alguns companheiros foram agredidos fisicamente por
agentes dos serviços prisionais e outros", mas que todos se "mantêm
firmes.
Saúde
de Nito Alves recupera um pouco
Porém,
a firmeza dos jovens tem repercussões graves para a sua saúde.
Fernando
Baptista, pai de Nito Alves, um dos jovens detidos, disse à DW África que,
apesar de a saúde do filho registar alguma melhora em relação à situação de há
três semanas, ele “foi transferido para o Hospital Prisão de São Paulo, onde
fez uma consulta de oftalmologia, e a médica disse-lhe que tinha que usar
óculos urgentemente. Por outro lado, fez uma outra consulta por causa das
constantes dores de cabeça e foi-lhe diagnosticado malária. Continua a fazer o
tratamento”.
Baptista
só é autorizado a contactar o seu filho detido às terças-feiras e aos sábados:
“Tenho dois dias de visita. O Nito e os outros estão a ser tratados conforme o
pessoal da cadeia acha que devem tratar os presos. Por exemplo, a alimentação é
sempre arroz e feijão. Eles reclamam sempre que a alimentação poderia ser um
pouco melhor. Muitos dos detidos queixam-se de doenças e pedem para ter uma
consulta, mas, até agora, os seus pedidos não foram respondidos”.
O
pai de Nito Alves acredita que o julgamento dos jovens ativistas, cujo início
será a 16 de novembro, poderá mudar a situação dos mesmos, mas ressalva: “Com o
regime que temos, eles tentarão sempre encontrar formas para intimidar e
condenar pessoas, para criar medo nos cidadãos. Por exemplo, fazer com que os
jovens deixem de discutir os seus direitos e calem a boca em relação àquilo que
está mal na sociedade na qual vivem”.
Desfecho
positivo do processo dos jovens detidos
Mas
embora espere um desfecho positivo do processo, Fernando Batista mostra-se
cauteloso: “Espero que a justiça seja bem feita, mas desconfio sempre. Às
vezes, não existem razões para condenarem as pessoas. Criam factos para precisamente
condenarem as pessoas. É esse o medo que tenho”.
Adolfo
Campos, também ativista cívico em Angola e que esteve sempre solidário com a
greve de fome de Luaty Beirão, disse em entrevista à DW África: “Como o Luaty
já terminou a greve de fome e porque estava em perigo, então toda a atenção era
para ele, porque pensávamos que ele iria morrer. Mas, mesmo assim, nunca
deixámos de dar atenção aos outros. Só que os colegas e amigos foram proibidos
de realizar visitas aos ativistas detidos”.
Saúde
de todos os ativistas detidos inspira cuidados
Sobre
o estado de saúde dos ativistas detidos, Campos sublinha que "a situação
não está nada boa. Estão sozinhos, sem o apoio dos amigos. A saúde é precária,
a alimentação é má. Por isso, estamos a tentar fazer tudo ao nosso alcance para
falarmos com o diretor da prisão, no sentido de nos autorizar a efetuar uma
visita aos nossos companheiros antes do dia 16 de novembro. Não queremos
esperar até esse dia para vermos os nossos irmãos”.
Oposição
angolana une-se para pedir libertação dos 15 ativistas
Os
presidentes dos seis principais partidos políticos da oposição angolana
apelaram, em posição conjunta, à libertação dos 15 ativistas detidos e à
"completa independência" dos tribunais para garantir
"julgamentos justos" em Angola.
A
posição surge num comunicado divulgado esta quinta-feira (29.10) em Luanda, e
assinado pelos líderes da UNITA, Isaías Samakuva, da coligação CASA-CE, Abel
Chivukuvuku, do PRS, Eduardo Kwangana, e da FNLA, Lucas Ngonda, todos com
assento parlamentar, juntamente com o Bloco Democrático. É o resultado de uma
reunião com carácter de "urgência", realizada na quarta-feira, 28 de
outubro, na capital angolana, para análise da "problemática da violação
dos direitos humanos em Angola".
Na
declaração conjunta, os seis líderes partidários apelam à libertação imediata
dos 15 ativistas, afirmando tratar-se de uma "prisão ilegal".
Ainda
neste processo, os políticos pedem ao Tribunal Constitucional que rapidamente
aprecie o recurso apresentado há algumas semanas pela defesa, que alegava
igualmente prisão ilegal e reclamava a libertação.
O
caso Marcos Mavungo não deve ser esquecido
No
comunicado, os líderes da oposição angolana lembram ainda o caso do ativista
Marcos Mavungo, cujo recurso da condenação do Tribunal de Cabinda está pendente
de decisão no Tribunal Supremo.
Além disso, os líderes da UNITA, CASA-CE, PRS, FNLA e BD defendem que "de uma vez por todas" sejam "suspensos" os "atos de tortura e maus tratos físicos e psicológicos sobre os presos, e que os responsáveis de tais práticas sejam claramente punidos, após apuramento dos factos".
Além disso, os líderes da UNITA, CASA-CE, PRS, FNLA e BD defendem que "de uma vez por todas" sejam "suspensos" os "atos de tortura e maus tratos físicos e psicológicos sobre os presos, e que os responsáveis de tais práticas sejam claramente punidos, após apuramento dos factos".
António
Rocha – Deutsche Welle
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