O
alerta é lançado por vários analistas e economistas que temem um "ciclo
vicioso" de violência, alimentado pela falta de mudanças políticas e o
enfraquecimento da economia.
A
Economist Intelligence Unit reviu em baixa a previsão de crescimento da
economia de Angola para 2,7% este ano, contra os 4,4% apontados pelo Governo.
De acordo com os investigadores da publicação britânica, a taxa de crescimento reflecte uma despesa pública mais baixa que a esperada, um declínio ainda maior nos preços do petróleo este ano e constrangimentos técnicos na produção local.
À luz destas previsões, multiplicam-se os alertas de analistas e economistas: o enfraquecimento da economia em Angola está a contribuir para o aumento da tendência de “intolerância a protestos” por parte do Governo de José Eduardo dos Santos. Por outro lado, o deterioramento da conjuntura económica poderá levar ao aumento da contestação social.
Um "ciclo vicioso" de violência
O Governo angolano vai continuar a “reprimir duramente tudo o que considere ser uma ameaça à sua estabilidade e hegemonia”. Esta foi a mais recente mensagem da Economist Intelligence Unit aos investidores. A unidade de analistas da revista britânica The Economist sublinha que “a sensibilidade aos protestos está a aumentar durante o período económico difícil” que Angola atravessa.
“A economia está muito tremida”, diz Paula Cristina Roque, analista do International Crisis Group. “A Sonangol, que é o motor económico de Angola, está com grandes dificuldades financeiras. Angola tem um défice orçamental enorme e uma dívida externa ainda maior e está a depender de um recurso que é finito”, acrescenta.
“Tudo isto”, explica a analista, “está a gerar tensões e a levar a respostas de violência extrema. E esta violência é um ciclo vicioso. Só vai criar mais ressentimento, frustração e focos de protesto”.
Contra
os políticos e contra a situação económica
Eugénio da Costa Almeida, analista luso-angolano do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa, não duvida da continuidade dos protestos em Angola. Lembra que o caso dos 15 activistas detidos sob a acusação de prepararem um golpe de Estado “abriu algumas consciências que andavam um pouco adormecidas”.
“Tem havido essencialmente contestações políticas. A manutenção no poder de certas individualidades acaba por cansar e, muitas vezes, até toldar a vista dessas individualidades, porque se habituam a determinado parâmetro e, depois, dificilmente têm capacidade para dar a volta ou para se reciclarem”, considera Eugénio da Costa Almeida.
Por outro lado, diz o analista, o estado de fraqueza da economia pode vir a reforçar a contestação social, uma vez que “a situação económica vai ser cada vez mais pautada por uma contenção nas despesas, o que poderá ter reflexo económico na população e isso poderá levar a protestos sérios”.
Mais repressão?
Quanto à resposta das autoridades à contestação popular, Costa Almeida não espera grandes mudanças de comportamento, tal como o aumento da repressão previsto por vários analistas, “por uma razão muito simples: tem sido sempre habitual nesse aspecto, sempre existiu”.
O
analista luso-angolano explica que “apesar de a Constituição angolana dizer que
as manifestações são legítimas e que basta informar as autoridades locais que
vai haver manifestações, normalmente – ou em absoluto – as autoridades proíbem.
Por isso, não é agora que isso se vai alterar”.
A mudança, ressalva, poderá vir de influências externas, se “a comunidade internacional fizer pressões substanciais sobre o Governo, no sentido de permitir uma maior abertura aos movimentos de contestação”.
Na nota de análise enviada aos investidores, a Economist Intelligence Unit deixa ainda outro aviso: a dureza da resposta aos protestos em Angola pode ter um efeito contrário aos interesses do Executivo, podendo levar “a uma instabilidade sustentada".
Maria
João Pinto / Lusa – Deutsche Welle
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