O
Correio do Sul solicitou a opinião de um analista independente luso-angolano do
Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa, Eugénio
Costa Almeida. Na curta analise enviada à nossa redacção, o académico considera
que “coincidências destas”, entre a oferta das viaturas e a recandidatura de
Samakuva, levam o Povo a estranhar. Até porque, se não queremos ser vistos como
tal, não devemos vestir as mesmas roupas sob pena de sermos apontados como
iguais àqueles que criticamos.
Eugénio Costa Almeida* - Correio do Sul,
opinião
Se
há alguma coisa que é certa essa passa pelo facto dos seres humanos todos terem
telhados e vidro e nunca deverem cuspir contra o vento. Também diz a
experiência que quando as coincidências são demasiado evidentes passam por
deixar de o ser e são mesmo factos reais.
Tem
tudo isto a ver com o facto de, segundo se cogita, o presidente da UNITA,
Isaías Samakuva, ter, eventualmente, oferecido – ou estar determinado em
oferecer – viaturas aos secretários provinciais.
Até
aqui nada demais; se o partido quer que os seus dirigentes, principalmente os
que mais estão junto dos simpatizantes e militantes, tenham os mais próximos
contactos com estes, devem, naturalmente, ter meios que ajudem nesses
contactos. Até porque, não esqueçamos, que muitas aldeias, sanzalas, comunas
estão separadas das capitais de províncias em muitos quilómetros.
Ora, é aqui que surgem as tais inoportunas coincidências.
Segundo
consta, essa oferta terá ocorrido na véspera do senhor Samakuva se ter
candidatado a um novo mandato como presidente do partido.
Ora, coincidências destas levam o Povo a estranhar. E tal como o Povo, também os
seus eventuais opositores internos questionarem da oportunidade da eventual
oferta. Como diz o velho adágio europeu, à mulher de César não basta parecer
séria…
E
aqui a manobra se torna muito similar a outras já vistas em outros similares
actos eleitorais e que, e muito bem, tem sido, bastas e ásperas vezes, criticados, quer pelo senhor Samakuva quer por outros dirigentes partidários nacionais.
Se
não queremos ser vistos como tal, não devemos vestir as mesmas roupas, sob pena de
sermos apontados como iguais àqueles que criticamos. Ou seja, antes de
apontarmos o dedo ou verberarmos as atitudes de terceiros deveremos olhar-nos bem
ao espelho.
É
que as coincidências quando são tão fortes deixam de poder ser consideradas
como tal. E isso dizima qualquer crédito que possamos levar connosco…
Ora, como dizem dois provérbios do nosso continente, “Se tua boca virar faca,
cortará teus lábios” e “o macaco só olha no rabo do outro”. E não é isso que queremos
a quem, um dia, nos pode vir a governar!
- Correio do Sul, um novo semanário regional da província angolana de Benguela
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