domingo, 1 de novembro de 2015

Angola. Samakuva. Á MULHER DE CÉSAR NÃO BASTA PARECER SÉRIA…



O Correio do Sul solicitou a opinião de um analista independente luso-angolano do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa, Eugénio Costa Almeida. Na curta analise enviada à nossa redacção, o académico considera que “coincidências destas”, entre a oferta das viaturas e a recandidatura de Samakuva, levam o Povo a estranhar. Até porque, se não queremos ser vistos como tal, não devemos vestir as mesmas roupas sob pena de sermos apontados como iguais àqueles que criticamos.

Eugénio Costa Almeida*  - Correio do Sul, opinião

Se há alguma coisa que é certa essa passa pelo facto dos seres humanos todos terem telhados e vidro e nunca deverem cuspir contra o vento. Também diz a experiência que quando as coincidências são demasiado evidentes passam por deixar de o ser e são mesmo factos reais.

Tem tudo isto a ver com o facto de, segundo se cogita, o presidente da UNITA, Isaías Samakuva, ter, eventualmente, oferecido – ou estar determinado em oferecer – viaturas aos secretários provinciais.

Até aqui nada demais; se o partido quer que os seus dirigentes, principalmente os que mais estão junto dos simpatizantes e militantes, tenham os mais próximos contactos com estes, devem, naturalmente, ter meios que ajudem nesses contactos. Até porque, não esqueçamos, que muitas aldeias, sanzalas, comunas estão separadas das capitais de províncias em muitos quilómetros.

Ora, é aqui que surgem as tais inoportunas coincidências.

Segundo consta, essa oferta terá ocorrido na véspera do senhor Samakuva se ter candidatado a um novo mandato como presidente do partido.

Ora, coincidências destas levam o Povo a estranhar. E tal como o Povo, também os seus eventuais opositores internos questionarem da oportunidade da eventual oferta. Como diz o velho adágio europeu, à mulher de César não basta parecer séria…

E aqui a manobra se torna muito similar a outras já vistas em outros similares actos eleitorais e que, e muito bem, tem sido, bastas e ásperas vezes, criticados, quer pelo senhor Samakuva quer por outros dirigentes partidários nacionais.

Se não queremos ser vistos como tal, não devemos vestir as mesmas roupas, sob pena de sermos apontados como iguais àqueles que criticamos. Ou seja, antes de apontarmos o dedo ou verberarmos as atitudes de terceiros deveremos olhar-nos bem ao espelho.

É que as coincidências quando são tão fortes deixam de poder ser consideradas como tal. E isso dizima qualquer crédito que possamos levar connosco…

Ora, como dizem dois provérbios do nosso continente, “Se tua boca virar faca, cortará teus lábios” e “o macaco só olha no rabo do outro”. E não é isso que queremos a quem, um dia, nos pode vir a governar!

*Pós-Doutorando e Investigador do CEI-IUL e CINAMIL 

- Correio do Sul, um novo semanário regional da província angolana de Benguela

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