César Maia –
Debates Culturais
O
processo de globalização não é privativo da economia. Da mesma forma, a
cultura. E, claro, da mesma forma, a política. O mercado de marketing político
comprova isso. As experiências adquiridas por publicitários em campanhas
eleitorais num país são contratadas por candidatos de outros países. Na América
Latina isso é geral. Na Europa, essa mobilidade também é ampla, mas com as
naturais restrições de língua.
Nos
últimos dias, candidatos de direita e centro-direita venceram as eleições em
Portugal, Polônia, Guatemala e em Bogotá. Na Argentina, a votação de Macri
surpreendeu até mesmo a sua campanha e parte para o segundo turno como
favorito. A extensão desses fatos e a diversidade das situações e tantos outros
casos nos últimos anos permite pensar que se trata de uma ascensão globalizada
da direita nas expectativas do eleitorado.
Um
fator comum a todos esses casos foi a corrupção política. O vencedor do segundo
turno na Guatemala –um comunicador de TV- com seus 70% de votos, contra a
candidata da esquerda, usou o slogan: “Nem ladrão, Nem Corrupto”. E “a
política pode ser feita sem corrupção.”. Em Portugal e Guatemala os anteriores
chefes de governo foram presos por corrupção. Em Bogotá, o ex-prefeito de
esquerda foi afastado por irregularidades. Na Polônia, os dois primeiros
lugares foram dos partidos de direita e centro-direita.
Na
Argentina, os escândalos que envolveram o governo de Cristina Kirchner foram o
tema eleitoral. A economia em crise profunda, com inflação de 30%, PIB
estagnado, Banco Central sem reservas, dólar paralelo quase 80% maior que o
oficial, inacreditavelmente, não foi tema de campanha. Taxistas em Buenos Aires
repetiam: não queremos um governo como esse de Dilma, aqui. O foco era a
corrupção.
Um
corte nos temas que levaram os eleitores a optar pela direita e não pela
esquerda foi a corrupção política. Mas nesses anos todos para trás, os
escândalos afetaram os políticos de direita e os governos de direita. Então por
que a direita política surge como uma alternativa? A resposta pode ser
encontrada em conversas coloquiais com as pessoas nas ruas, nas praças e em
reuniões.
A
percepção é que a corrupção na direita é de responsabilidade individual de
políticos. Talvez pela inorganicidade dos partidos brasileiros mais à direita,
o foco se dirige às pessoas dos políticos. No caso da esquerda nos governos, é
como se fosse uma corrupção orgânica das direções partidárias e não apenas de
um ou outro político ou dirigente. E os fatos ajudam a reforçar esta percepção.
O Brasil é um exemplo, destacado entre outros.
Os
destaques na imprensa reforçam isso: o PT faz parte das manchetes
continuamente. Os demais partidos surgem nas manchetes, mas o foco é individual
nos políticos e não no coletivo. As redes sociais comprovam e reforçam esta
percepção. Vídeos e memes não só destacam políticos do PT, assim como o próprio
PT, como o personagem principal.
Quando
Dilma, no precipício da crise econômica e moral, chama um economista de
direita, ajuda a reforçar esta percepção. O PT –e sua estrela- em todas as
mobilizações e campanhas eleitorais sempre destacou a sua marca. Esse foi um
multiplicador positivo na oposição. Agora, no governo, com os escândalos
envolvendo ex-presidentes e tesoureiros, ministros, líderes do PT, a percepção
da corrupção partidária passou a ser um multiplicador negativo.
E,
pelo menos em 2016, não haverá tempo para reversão dessa percepção. E não é da
natureza do PT esconder a sigla atrás do número. Até pode ser feito numa cidade
menor. Mas nas maiores, especialmente com cobertura da TV, é impossível, pois o
foco maior do PT e Lula é 2018. No Rio querem coligar com o PMDB. Assim
escondem o partido e deixam o campo livre para seus candidatos a Vereador. Isso
ocorrerá em outras cidades maiores.
*César
Epitácio Maia nasceu em 18 de junho de 1945, é economista e professor universitário,
foi exilado político e é um dos políticos brasileiros mais atuantes no momento,
tendo ocupado diversos cargos públicos, dentre eles o de Prefeito da Cidade do
Rio de Janeiro.
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