domingo, 1 de novembro de 2015

Brasil. QUAIS AS RAZÕES DA ASCENÇÃO MUNDIAL DA DIREITA?



César Maia – Debates Culturais

O processo de globalização não é privativo da economia. Da mesma forma, a cultura. E, claro, da mesma forma, a política. O mercado de marketing político comprova isso. As experiências adquiridas por publicitários em campanhas eleitorais num país são contratadas por candidatos de outros países. Na América Latina isso é geral. Na Europa, essa mobilidade também é ampla, mas com as naturais restrições de língua.

Nos últimos dias, candidatos de direita e centro-direita venceram as eleições em Portugal, Polônia, Guatemala e em Bogotá. Na Argentina, a votação de Macri surpreendeu até mesmo a sua campanha e parte para o segundo turno como favorito. A extensão desses fatos e a diversidade das situações e tantos outros casos nos últimos anos permite pensar que se trata de uma ascensão globalizada da direita nas expectativas do eleitorado.

Um fator comum a todos esses casos foi a corrupção política. O vencedor do segundo turno na Guatemala –um comunicador de TV- com seus 70% de votos, contra a candidata da esquerda, usou o slogan: “Nem ladrão, Nem Corrupto”. E “a política pode ser feita sem corrupção.”. Em Portugal e Guatemala os anteriores chefes de governo foram presos por corrupção. Em Bogotá, o ex-prefeito de esquerda foi afastado por irregularidades. Na Polônia, os dois primeiros lugares foram dos partidos de direita e centro-direita.

Na Argentina, os escândalos que envolveram o governo de Cristina Kirchner foram o tema eleitoral. A economia em crise profunda, com inflação de 30%, PIB estagnado, Banco Central sem reservas, dólar paralelo quase 80% maior que o oficial, inacreditavelmente, não foi tema de campanha. Taxistas em Buenos Aires repetiam: não queremos um governo como esse de Dilma, aqui. O foco era a corrupção.

Um corte nos temas que levaram os eleitores a optar pela direita e não pela esquerda foi a corrupção política. Mas nesses anos todos para trás, os escândalos afetaram os políticos de direita e os governos de direita. Então por que a direita política surge como uma alternativa? A resposta pode ser encontrada em conversas coloquiais com as pessoas nas ruas, nas praças e em reuniões.

A percepção é que a corrupção na direita é de responsabilidade individual de políticos. Talvez pela inorganicidade dos partidos brasileiros mais à direita, o foco se dirige às pessoas dos políticos. No caso da esquerda nos governos, é como se fosse uma corrupção orgânica das direções partidárias e não apenas de um ou outro político ou dirigente. E os fatos ajudam a reforçar esta percepção. O Brasil é um exemplo, destacado entre outros.

Os destaques na imprensa reforçam isso: o PT faz parte das manchetes continuamente. Os demais partidos surgem nas manchetes, mas o foco é individual nos políticos e não no coletivo. As redes sociais comprovam e reforçam esta percepção. Vídeos e memes não só destacam políticos do PT, assim como o próprio PT, como o personagem principal.

Quando Dilma, no precipício da crise econômica e moral, chama um economista de direita, ajuda a reforçar esta percepção. O PT –e sua estrela- em todas as mobilizações e campanhas eleitorais sempre destacou a sua marca. Esse foi um multiplicador positivo na oposição. Agora, no governo, com os escândalos envolvendo ex-presidentes e tesoureiros, ministros, líderes do PT, a percepção da corrupção partidária passou a ser um multiplicador negativo.

E, pelo menos em 2016, não haverá tempo para reversão dessa percepção. E não é da natureza do PT esconder a sigla atrás do número. Até pode ser feito numa cidade menor. Mas nas maiores, especialmente com cobertura da TV, é impossível, pois o foco maior do PT e Lula é 2018. No Rio querem coligar com o PMDB. Assim escondem o partido e deixam o campo livre para seus candidatos a Vereador. Isso ocorrerá em outras cidades maiores.

*César Epitácio Maia nasceu em 18 de junho de 1945, é economista e professor universitário, foi exilado político e é um dos políticos brasileiros mais atuantes no momento, tendo ocupado diversos cargos públicos, dentre eles o de Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro.


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