Perante
o avanço do exército do Estado Islâmico, os EUA e os seus aliados da UE tentam
destruir com bombardeamentos indiscriminados a sua própria criação, pois
perceberam demasiado tarde ter originado um monstro difícil de matar. Nenhuma
guerra pode ser ganha apenas com bombardeamentos. E quem paga o preço são, mais
uma vez, os martirizados povos do Médio-Oriente, de novo e sempre vítimas da
criminosa acção do imperialismo. O
objectivo inicial era acabar com o governo democrático da Síria, mas para os
aprendizes de feiticeiro foi uma má jogada.
A
ingerência dos Estados Unidos e da União Europeia no Médio Oriente para
destruir o Iraque e derrubar o governo constitucional de Bashar al Assad da
Síria, e o apoio económico e militar que incluiu o fornecimento de armas
nucleares a Israel foram determinantes para o aparecimento do ISIS-EIIL (Estado
Islâmico do Iraque) que inicialmente era constituído por grupos terroristas
armados, financiados e treinados pela CIA e outras agências de inteligência da
União Europeia, e constitui agora um exército que semeia o terror em nome do Estado
Islâmico que pretende organizar um califado ao estilo medieval mas com armas de
tecnologia de ponta entregues pelo império e seus aliados europeus.
Perante
o avanço do exército do Estado Islâmico os Estados Unidos e os seus aliados da
União Europeia, entre assustados e assombrados, tentam destruir a sua própria
criação com bombardeamentos indiscriminados, pois perceberam demasiado tarde
ter originado um monstro difícil de matar. Há analistas e especialistas no
Médio Oriente que afirmam que nem em trinta anos poderão derrotar o ISIS-EIL e
que poderá tornar-se no segundo Vietname para o império e seus sequazes.
O
EIL transformou-se em Estado Islâmico no Iraque e no Levante (ISIS pelas suas
siglas em inglês) quando, com o apoio e patrocínio dos Estados Unidos e seus
cúmplices europeus iniciou e alargou as suas acções terroristas na Síria, para
derrubar o presidente Bashar al-Assad. Os mortos sírios contam-se aos milhares
como obra desses terroristas fanáticos, dogmáticos e totalmente
fundamentalistas.
O
objectivo imediato desses terroristas que contam agora com um exército superior
a 18 000 soldados, com reforços provenientes do Reino Unido, de outros países
da Europa e dos Estados Unidos, é a autoproclamação do califado mundial que
quer ser chamado Estado Islâmico e ser reconhecido a nível internacional.
É
precisamente para negar a existência de um Estado Islâmico que Washington e
outros países e especialistas se referem aos jihadistas como ISIS e não como
Estado Islâmico.
O
grupo jihadista ISIS que está a espalhar o seu terror pela Síria e Iraque
modificou o seu nome e em meados do mês de Julho proclamou o seu califado.
Deixou de chamar-se Estado Islâmico no Iraque e no Levante para se
autodenominar Estado Islâmico. O que significa o seu nome? Tem conotações distintas
o uso de um e outro?
A
história do grupo remonta a 2002 quando o jordano Abu Musab al Zarqaw, com o
nome de Tawhid waal-Jihad, que jurou lealdade a Osama bin Laden no que um ano
depois se tornou um ramo no Iraque da Al-Qaeda. Com a morte de Abu Musab al
Zaraw em 2006 a Al-Qaeda criou o Estado Islâmico do Iraque, que se fundiu com
as milícias do Iraque e Síria, criando o actual Estado Islâmico e do Levante.
Adquiriu nesse momento o nome de EII.
Em
2013, com esse nome e ainda como uma marca da Al-Qaeda, estende os seus
tentáculos pela Síria. O EIL transforma-se noutro dos grupos rebeldes que luta
contra o regime de Bashar al Assad, com o apoio da Frente Al Nusra, o ramo da
Al Qaeda na Síria, O seu líder, o inimigo número um dos Estados Unidos, AbuBakr
al Baghadi ordena que o grupo terrorista comece a denominar-se Estado Islâmico
no Iraque e Levante (ISIL pelas suas siglas em Inglês).
O
presidente Barack Obama explicou no passado 10 de Setembro a sua estratégia
para acabar com o grupo terrorista. Refere-se sempre aos jihadistas por este
acrónimo e não como Estado Islâmico, nome com que a organização quer ser
conhecida.
A
correspondente da CNN para Assuntos Globais, Elisa Labott, assegura que
Washington não quer reconhecer os seus planos para um califado, o mesmo achando
Halzam Amirah Fernandez, especialista no Mediterrâneo e Mundo Árabe do Real
Instituto Elcano. «Não utilizo o nome de Estado Islâmico porque não é um estado
e a maioria dos muçulmanos não os considera islâmicos» declarou à imprensa.
Por
seu lado John Daniszewski, vice-presidente da Associated Press afirma que a
inclusão do Levante no seu nome é a tradução mais exacta do nome do grupo e
reflecte as suas aspirações de governar sobre uma ampla franja do Médio
Oriente.
A
diferença entre o ISIL e o ISIS refere-se à tradução árabe do nome. Segundo
afirma a CNN, ISIS é uma tradução para o Inglês das siglas em árabe para Dawla
al Islamiya fi al iraq wa al Sham, ou o Estado Islâmico no Iraque e al Sham.
Dado que os planos da organização são fundar um califado que se estenda desde a
Turquia por toda a Síria até ao Egipto e que inclua os territórios palestinos,
Jordânia e Líbano, para muitos especialistas esta seria a opção mais correcta.
No
passado mês de Julho o Estado Islâmico proclamou o califado nos territórios da
Síria e Iraque sob o seu controle. A partir desse momento, pode ser reconhecido
com esse nome. Embora seja o nome mais utilizado nos media e nas declarações
políticas são cada vez os críticos e as vozes que se negam a chamar-lhe assim
para não reconhecer o êxito do seu califado. Haizam Amirah assegura «que se o
apresentarmos assim qualquer ataque ao Estado Islâmico pode ser apresentado
como uma guerra contra o Islão e para eles isso é puro oxigénio»
Seja
como for, qualquer que seja o nome dado, para além do nome o grupo jihadista é
conhecido pelas suas práticas medievais, que incluem crucificações,
decapitações e desmembramentos públicos com que chamou a atenção para o mundo
inteiro.
Estados
Unidos - Estado Islâmico
Noam
Chomsky, renomado escritor e filósofo americano criticou a política
norte-americana no Médio Oriente e relacionou o aparecimento do Estado Islâmico
(EI) com a intervenção daquele país no Iraque.
Numa
entrevista concedida a Truthout afirmou que o aparecimento do EI e a difusão
geral do jihadismo radical é uma consequência bastante natural da pressão de
Washington sobre a sociedade frágil do Iraque. «Creio que os Estados Unidos são
um dos criadores fundamentais do EIL As suas intervenções destruidoras no Médio
Oriente e a guerra no Iraque foram as causas básicas do nascimento do EIIL»
declarou Chomsky.
Mais
adiante e aludindo ao acordo no passado mês de Agosto entre o regime de Israel
e o Movimento de Resistência Islâmica Palestiniana (HAMAS) denunciou o
incumprimento do regime usurpador, enquanto a parte palestiniana segundo o
escritor norte-americano, o cumpriu.
Tendo
em conta o apoio militar, económico, diplomático e ideológico de Washington ao
regime de Telavive, acusou as autoridades israelitas de continuar as suas
políticas expansionistas nos territórios ocupados, deixando os palestinianos em
cantões desmembrados.»
Em
referência à recente agressão israelita contra o povoado palestiniano da Faixa
de Gaza durante a qual morreram mais de 2.160 pessoas, criticou o fornecimento
de armas pelos Estados Unidos ao regime de Israel. «Num dado momento as armas
israelitas pareciam estar no fim e os Estados unidos apoiaram amavelmente o
regime de Israel com armas mais avançadas, o que lhe permitiu continuar a
investida», declarou.
Peça-chave
Chomsky
assegura estar de acordo com as declarações recentes do escritor e ex. agente
da CIA Graham Fuller que acusou os Estados Unidos de serem um dos
criadores-chave do grupo terrorista, como resultado da guerra contra o Iraque
iniciada em 2003. «A situação é um desastre para os Estados Unidos, mas é um
resultado natural da sua invasão», afirmou Chomsky.
«Uma
das consequências graves da agressão norte-americana e inglesa foi a de
inflamar os conflitos sectários que estão agora a destruir o Iraque, e que se
estenderam por toda a região com consequências terríveis», acrescenta o
académico.
Chomsky
adverte que o fanatismo religioso não se propaga só nesses países do Médio
Oriente mas também nos Estados Unidos, fenómeno do que em parte responsabiliza
o Partido Republicano.
«Não
há muitos países no mundo em que a grande maioria da população acredite que a
mão de Deus guia a evolução e onde quase a metade pensa que o mundo foi criado
há alguns milhares de anos», afirmou.
«E
à medida que o Partido Republicano foi ficando cada vez mais ao serviço dos
ricos e do poder das corporações, não pode agora apelar à opinião pública para
apoiar as suas políticas reais, e vê-se obrigado a recorrer a estes sectores
como uma base de votantes, dando-lhes uma influência substancial sobre a
política,» denunciou Chomsky.
Por
seu lado Leon Panetta, que foi chefe do Pentágono e da CIA, assegura que a
guerra contra os jihadistas do Estado Islâmico (EI) será complexa e poderá
durar 30 anos devido às decisões tomadas pelo presidente Barack Obama. Em
declarações ao USA Today afirmou «Penso que estamos perante um tipo de guerra
que poderá durar 30 anos e que poderia criar ameaças para a Líbia, Nigéria,
Somália e Iémen».
Em
concreto Panetta garante que Obama fracassou não pressionando o governo do
Iraque para autorizar a permanência de um contingente de tropas
norte-americanas no país depois da retirada das tropas em 2011, achando que
isso criou um vazio na segurança.
O
jornalista Murad Sezer da Reuters garantiu que os ataques aéreos dirigidos
pelos Estados Unidos na Síria não conseguiram interromper o avanço do Estado
Islâmico em Koban, pondo em dúvida a eficácia da estratégia ocidental utilizada
para acabar com o movimento jihadista.
Praticamente
depois de o Pentágono ter alargado a sua campanha aérea do Iraque até à Síria
para combater os activistas do Estado Islâmico os milicianos curdos afirmam que
esses bombardeamentos tiveram um impacto mínimo para fazer retroceder posições
a esse movimento jihadista, informou The Guardian.
«Não
basta realizar ataques aéreos de forma isolada para derrotar o Estado Islâmico,
em Koban» afirma Idris Nassan porta-voz dos combatentes curdos. Estão a atacar
a cidade em três frentes e os aviões de combate simplesmente não podem abater
todos os activistas do Estado Islâmico no terreno.
Mesmo
assim Nassan adverte que o Estado Islâmico adaptou as suas próprias tácticas
militares para escapar a esses ataques aéreos, dispersando-se e escondendo-se
ao ver os aviões de combate. Na prática os milicianos curdos são os que têm
defendido a cidade de Koban. Há denúncias de que os jihadistas do EIL
capturaram, torturaram, violaram e assassinaram milicianas curdas que defendiam
a cidade.
Nesse
sentido o reconhecimento de que os bombardeamentos aéreos não são suficientes
para combater o rumo da situação desestabiliza os membros da coligação liderada
pelos Estados Unidos, incluindo o Governo do Reino Unido, que também apoia a
ideia de que a guerra aérea é a melhor opção na luta contra o Estado Islâmico.
Apesar
das vozes que insistem que a estratégia actual não é a adequada para vencer os
jihadistas, Nick Clegg, o vice primeiro-ministro britânico, afirma que não
acredita que a solução resida no aumento das forças armadas terrestres como se
se tratasse de uma luta convencional de «estado contra estado».
Pela
sua parte o primeiro-ministro David Cameron não se quer pronunciar sobre os
bombardeamentos aéreos na Síria até os liberas democratas e trabalhistas
estarem de acordo.
Sem
dúvida a situação no Iraque, na Síria, nos Estados árabes que fazem parte da
coligação e na Turquia é sumamente complexa tanto pelos interesses geopolíticos
e económicos das grandes potencias, a corrupção de muitos estados árabes que se
tem prestado ao jogo do império e seus aliados como pelos sentimentos
religiosos fanatizados dos combatentes jihadistas.
Há
analistas que criticam acidamente os Estados Unidos ao afirmar que não poderão
derrotar o Estado Islâmico se até agora não foram capazes de vencer a Al-Qaeda
que é outra criatura gerada pelo Império e pela CIA. O Estado Islâmico é uma
criatura mais monstruosa e mais radical e perguntam: «Trata-se por acaso de
preservar a unidade do Iraque? Ignacio Ramonet numa análise efectuada no Le
Monde Diplomatique e imediatamente difundida por cubadebate, pergunta: «Mas
então por que começar a ofensiva actual armando maciçamente os peshmergas
curdos que anunciam publicamente a sua intenção de separar-se e proclamar a
independência do Curdistão iraquiano? Ou talvez se trate, como se pretendeu em
2003, de estabelecer uma democracia autêntica no Iraque. Mas então porque se
tolerou até há pouco tempo que Nuri Al Maliki primeiro-ministro iraquiano de
2008 a 2014, fizesse uma política escandalosamente discriminatória a favor dos
xiitas contra os sunitas, empurrando estes para os braços do Estado Islâmico?»
Por
outro lado, afirmou, «a grande coligação, constituída em volta dos Estados
Unidos para atacar o EI, que supera os quarenta países, parece demasiado
heterogénea e até contraditória. Por exemplo um dos seus pilares, a Arábia
Saudita, é uma das piores ditaduras do mundo, com milhares de presos políticos
nas suas masmorras, com pena de morte para os homossexuais, discriminações
aberrantes contra as mulheres, com uma concepção do Islão (o wanabismo) do mais
retrógrado e mais integrista que existe, é sobretudo um país que financiou
durante anos o estado islâmico, antes de descobrir como o Dr. Frankenstein que
a sua criação lhe fugiu das mãos. O Qatar outra espantosa ditadura que financia
os Irmãos Muçulmanos em todo o mundo islâmico... Não há uma contradição em
querer fazer a guerra aos terroristas dos EI aliando-se a países que financiam
abertamente outro terrorismo islâmico?»
Modifica-se
a estratégia global
É
óbvio que a decisão do presidente Obama de começar uma nova guerra no Próximo
Oriente modifica muito a estratégia global dos Estados Unidos em matéria de
conflitos e de prioridades geopolíticas. Washington tinha decidido iniciar um
movimento amplo de um novo avanço para a Ásia, onde se encontra o seu principal
opositor para o Século XXI, a China e onde está hoje (e amanhã muito mais) o
centro económico do mundo. Segundo os grandes cérebros norte-americanos a
Europa já não precisa (apesar da situação no leste da Ucrânia) de uma presença
militar norte-americana forte.
E
embora os enredos do Próximo Oriente vão continuar a ser inextricáveis, já não
põem em perigo a segurança estratégica dos Estados Unidos, já que graças ao
petróleo e ao gás xisto descobertos em território norte-americano a dependência
dos hidrocarbonetos do Próximo Oriente deixou de ser significativa.
A
dupla moral do Império no Médio Oriente foi demonstrada numa reportagem
difundida pela Reuters quando afirma «enquanto o Estado Islâmico consolida as
suas posições na cidade de Koban, uma fonte na chancelaria dos Estados Unidos
revela como os americanos mantêm o diálogo com a elite política curda na Síria
e apoiam os seus opositores.
O
portal da revista Foreign Policy informa que há anos Washington mantinha conversações
indirectas com o Partido curdo da União democrática Síria (PYD), embora sempre
o tenha negado. Como se descobriu, os Estados Unidos dialogavam com a força
política curda e quase ao mesmo tempo tratavam de garantir aos seus rivais ou
seja à milícia curda do Conselho Nacional curdo (KNC das siglas em Inglês) e
reconciliá-los com a oposição armada do Exercito Sírio Livre, o governo de
Bashar al Assad. Embora Washington tenha recusado os pedidos do PYD para
realizar encontros formais, os Estados Unidos iniciaram conversações indirectas
com o grupo em 2012, segundo reconheceu ao Foreign Policy, o embaixador
norte-americano na Síria, Robert Ford.
Segundo
duas fontes curdas conhecedoras das reuniões, as conversações até poderiam
estar a realizar-se desde que Ford abandonou a Síria em 2011. As reuniões
realizaram-se através da Embaixada dos Estados Unidos em Paris, de acordo com
as fontes citadas. Tanto Ford como os curdos se negaram a identificar o
intermediário dessas reuniões.
Aproximadamente
na mesma altura Washington tratou de dar poderes à coligação rebelde no
Conselho Nacional curdo, que também coopera com a oposição síria apoiada pelo
Ocidente.
Em
Maio de 2012, uma delegação do KNC, liderada pelo seu então presidente Abdul
Hakim Bashar, visitou Washington e reuniu-se com Ford, com o secretário adjunto
para os Assuntos de Próximo Oriente, Jeffrey Feltman e o enviado dos Estados
Unidos à oposição síria, Frederic Hof.
A
prioridade para os americanos era introduzir o KNC na oposição síria no exílio,
na época dirigida pelo Conselho Nacional Sírio (CNS). Ford e Hof instaram o KNC
a concentrar-se e superar as diferenças do grupo com o CNS e a concentrar-se na
eliminação de Assad, como o objectivo mais urgente, segundo um documento do
Departamento de Estado elaborado após uma das reuniões e obtido pelo Foreign
Policy.
Por
outro lado, Vladimir Astapovich, em RIA Novosti, informava que o ministro dos
Negócios Estrangeiros da Rússia Serguei Lavrov achava que é evidente que nem o
Estado Islâmico, nem a Frente Al Nusra, nem a Al Qaeda poderiam fazer o que
fazem sem apoio do exterior. Acrescentava que a Rússia e os seus aliados no
Conselho de Segurança da ONU procuram o meio de cortar os canais de
financiamento a grupos terroristas como o Estado Islâmico, a Al Qaeda e a
Frente Al Nusra.
Ignacio
Ramonet informava «No passado 11 de Setembro - data mais que simbólica - o
presidente dos Estados Unidos, Barack Obama dirigiu-se à nação para anunciar a
sua nova estratégia militar contra o Estado Islâmico (EI) que segundo ele,
representa uma ameaça para todo o Médio Oriente». Obama garantiu que as forças
norte americanas atacariam o EI «esteja onde estiver» mesmo na Síria. Esta nova
estratégia passa pelo lançamento de ataques aéreos «sistemáticos» contra os
jihadistas e o aumento do número de especialistas militares norte americanos
enviados para o Iraque para apoiar as tropas iraquianas em assuntos de treino
militar, espionagem e equipamento.
Obama
acrescentou que o exército americano não participaria em ofensivas terrestres contra
o EI e que Washington não tem intenção de lutar contra os jihadistas «a sós». A
força norte-americana - explicou - pode marcar uma diferença decisiva, mas não
podemos fazer pelos iraquianos o que eles têm que fazer por si mesmos, como
também não podemos ocupar o posto dos aliados árabes para garantir a segurança
da região.
Barack
Obama, que foi eleito em 2008 como crítico da invasão do Iraque em 2003
ordenada pelo seu predecessor George W. Bush, assegurou que não estava
novamente a enviar tropas para o terreno. E num exemplo típico de negação
freudiana (die Verneigung) declarou: Como comandante em chefe, não permitirei
que os Estados Unidos se vejam novamente envoltos numa guerra no Iraque. Ou
seja, já começou a guerra no Iraque.
A
primeira, mais conhecida como «Guerra do Golfo» (1990-1991) foi liderada pelo
presidente dos Estados Unidos George Bush à frente de uma coligação de trinta e
quatro países que se opuseram, com autorização da ONU, a uma invasão do Kuwait
pelas forças iraquianas de Saddam Hussein. Acabou com a derrota do Iraque e a
evacuação do Kuwait.
A
segunda (2003-2010) foi desencadeada pelo presidente George W. Bush (filho do
primeiro) numa atmosfera de paranóia que se seguiu aos atentados do 11 de
Setembro de 2001 e sob o falso pretexto de que Saddam Hussein possuía «armas de
destruição maciça». A ONU não autorizou essa guerra. As forças iraquianas foram
derrotadas em poucas semanas, mas nunca se conseguiu a paz. O Iraque afundou
num caos de violência de que não saiu ainda.
Como
as duas precedentes e após vinte e cinco anos de luta, esta nova guerra não
conseguiu o seu objectivo. Primeiro, porque nunca se ganhou uma guerra
unicamente com bombardeamentos aéreos e segundo porque simplesmente os
objectivos desta nova guerra não estão nada claros, afirma Ramonet.
A
verdade é que os Estados Unidos e a Europa armaram o Estado Islâmico com o
apoio da OTAN. A Rede Voltaire afirma: Países do Leste da Europa armaram o
grupo jihadista Emirato Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL, ou Daesh, em
árabe), com a aprovação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Isto foi revelado pelo jornal norte-americano The World Tribune, citando uma
fonte diplomática anónima.
A
fonte acrescentou que o EIIL (conhecido hoje como Estado Islâmico) pediu
mísseis antitanques, RPG, equipes de telecomunicações e fatos anti-bala aos
países europeus como a Bulgária, Croácia, Roménia e Ucrânia.
Os
serviços de espionagem da OTAN facilitaram a entrega desse armamento afirmando
que era ajuda humanitária à Síria, assegurou a fonte, para sublinhar depois que
a Turquia desempenhou um papel crucial no equipamento do EI. O diplomata
garantiu que o EI começou a pedir armas e equipamento militar desde os
princípios de 2013. Nesse sentido a Croácia proporcionou lança-foguetes e veículos
blindados, enquanto a Roménia cedeu os tanques. A Ucrânia deu armamento para
infantaria e a Bulgária as munições.
Devemos
assinalar que as forças iraquianas revelaram que os elementos do Emirato
Islâmico utilizam armamento israelita nas suas ofensivas dentro do território
iraquiano.
Os
jihadistas do EI, que têm o apoio de países ocidentais e regionais, perpetram
diversos actos criminosos tanto na Síria como no Iraque, incluindo execuções
sumárias e sequestros em massa. Tica Font e Pere Ortega, activistas e
investigadores pela paz, membros do Centro Delas d'Etudis per la Pau garantem.
Em meados de Agosto, numa reunião extraordinária e urgente os ministros de
Negócios Estrangeiros da União Europeia concordaram em apoiar a entrega de
armas aos peshmerga do governo autónomo curdo. O acordo não foi unânime, alguns
ministros mostraram-se reticentes e outros como o do Reino Unido, a França, a
Itália e em menor grau a Alemanha exigiam um acordo e tomada de posição forte.
Por isso, os envios de armamento europeus não serão centralizados por Bruxelas
nem requerem um acordo comum, cada país decidirá se fornece ou não material
militar aos combatentes do governo autónomo curdo e deverá contar com o
consentimento do governo iraquiano.
Actualmente
os Estados Unidos anunciaram que a CIA está encarregada de mandar directamente
armas aos peshmerga. A França anunciou que enviou armas e a Alemanha acaba de
anunciar que vai faze-lo e pediu aos países do antigo Pacto de Varsóvia para
mandarem munições aos curdos, já que o armamento que possuem tem origem
soviética. O presidente da região autónoma do Curdistão iraquiano, Masud
Barzani, afirmou que o Irão foi o primeiro país que lhes entregou armas.
Peshmerga
significa «aqueles que enfrentam a morte» e refere-se aos combatentes curdos do
Iraque e do Irão, não aos membros do PKK da Turquia. Os peshmerga iraquianos
são compostos pelas unidades armadas do Partido Democrático do Curdistão (PDK)
e a União Patriótica do Curdistão. De acordo com diversas fontes o número de
peshmerga oscila entre 100 000 e 190 000 efectivos armados. Na década de 80 e
90 os peshmerga constituíam uma guerrilha que reivindicava um estado curdo e
era fortemente combatida por Saddam Hussein pelas suas aspirações territoriais
e independentistas, os peshmerga combateram contra o exército iraquiano durante
a Guerra do Golfo e a invasão Ocidental de 2003.
Os
peshmerga não fazem parte do exército iraquiano e são portanto brigadas armadas
fora do controlo do governo do país, o qual não sufraga os seus salários nem as
armas, que se pagam com as vendas do petróleo sob controlo curdo. O facto de no
Iraque existir um exército e outras forças armadas fora do controlo do estado
representa por um lado uma fonte de tensão interna relevante e por outro
modernizar e armar brigadas poderá modificar o equilíbrio de forças na região,
ao mesmo tempo que é necessário avaliar as repercussões que no futuro pode ter
um grupo armado curdo sobre a reivindicação histórica dos curdos no Iraque,
Irão, Síria e Turquia de ter um território e um Estado próprios.
O
motivo para armar e formar militarmente estas brigadas é combater o Estado
Islâmico (EI), mas há também que avaliar o futuro impacto desta decisão, a de
armar e formar militarmente uns grupos cujo projecto político é o de construir
um novo Estado, o Estado curdo.
Em
termos de legalidade, como já se mencionou, o destinatário das armas não é o
Estado do Iraque nem as suas forças armadas mas sim um dos corpos regionais não
controlados pelo governo do país e portanto não de acordo com a legalidade. Por
outro lado, a legislação espanhola expressa que se negaram exportações quando
havia indícios racionais de que as armas podem ser utilizadas em acções que
perturbem a paz, a estabilidade, ou a segurança no âmbito mundial ou regional
ou possam exacerbar as tensões.
Definitivamente
e como sempre, os interesses políticos imediatos antepõem-se ao bem comum e
facilitam-se armas a forças ilegais. Neste momento, combater o EI, aliando-se
para isso a inimigos históricos ou recentes sem levar a cabo avaliações sobre o
impacto a longo prazo que as mesmas possam acarretar pode ser nefasto.
Recordamos que no Afeganistão se apoiaram os talibãs enquanto estes lutavam
contra a ex-URSS, no Iraque deu-se apoio a Saddam Hussein enquanto inimigo do
Irão. Bashar Al Assad foi demonizado e combatido e agora compartilhamos a luta
contra o EI. Num período recente vimos aliados que se convertem em inimigos e
inimigos que se convertem em amigos, enquanto a população civil sofre as
consequências deste jogo de alianças e partilha de poderes. Entretanto, as
vítimas inocentes contam-se aos milhares e o mundo assiste a outra guerra
imperial decretada pelos Estados Unidos e pelos seus amigos europeus.
Tribunal
Dignidade, Soberania, Paz contra a Guerra/Comité Independência e Soberania para
a América Latina. Correio electrónico: tribunalpazecuador@yahoo.com
Pravda.ru , em 14.01.2015 - Tradução: Manuela Antunes
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