domingo, 15 de novembro de 2015

“MOÇAMBIQUE ESTÁ EM GUERRA E PRECISA DE MEDIAÇÃO INTERNACIONAL” - diz Muchanga



Sansão Machava - Mozmassoko

O futuro de Moçambique continua incerto, isto devido a crise Política e militar que continua atormentando a nossa pérola do índico.

Nos últimos dias, tem sido registado frequentemente confrontos entre os homens armados da Renamo e as forças governamentais, a maioria dos quais terminam com mortos e feridos graves.

A crise Política no país já agita a imprensa internacional, a título de exemplo, a Euronews entrevistou o porta-voz e deputado da Renamo, António Muchanga para falar sobre a situação que do país.

Confira abaixo a entrevista completa do Porta-voz da Renamo a Euronews.

Michel Santos, Euronews: Boa tarde, Dr. António Muchanga. O que está acontecer em Moçambique? O país não aprendeu com a trágica guerra que fez milhões de mortos e refugiados?

António Muchanga, Renamo: O que está acontecer são desentendimentos políticos. A primeira questão é que o governo tem protelado a integração de elementos da Renamo nas Forças de Defesa e Segurança de Moçambique (FDS). Não está a cumprir o que está plasmado. Há elementos da Renamo que têm armas e que esperam receber o estatuto de polícia desde 1992. Até hoje, o governo nunca se mostrou disponível para integrar estas pessoas. Tivemos problemas em 2013 e 2014, assinou-se um acordo que preconiza que os elementos da Renamo devem integrar as FDS, nomeadamente a polícia e o exército, mas o governo quer integrá-los como quaisquer pessoas. A Renamo, por seu lado, pensa que elementos devem partilhar a direção, a chefia e o comando das FDS, porque também somos moçambicanos. Este é o grande desentendimento. E o governo está a atacar os locais de concentração das pessoas que esperam a sua integração.

Michel Santos, Euronews: Em relação às eleições, vocês continuam a contestar as eleições?

António Muchanga, Renamo: As eleições foram contestadas e nós avançámos com uma proposta que pensamos que também pode ajudar o país, na descentralização do poder, alterando a lei e criando condições para que o partido que ganhar determinados círculos eleitorais governe essa região. Temos esse modelo na África do Sul. Províncias são governadas pelo ANC e há outras dirigidas pelos partidos da oposição. Há relutância por parte do governo em aceitar essa proposta.

Michel Santos, Euronews: E vocês ganharam as eleições nessas regiões?

António Muchanga, Renamo: A premissa é essa. Moçambique está dividido em círculos eleitorais. O nosso partido, o nosso candidato ganhou as eleições em Sofala, Nampula, Zambézia, Tete, Niassa e Manica.

Michel Santos, Euronews: Há cerca de um mês o líder da Renamo foi cercado na sua casa na Beira e mesmo antes terá sido alvo de emboscadas. O que aconteceu de facto?

António Muchanga, Renamo: O presidente foi alvo de uma emboscada no dia 12 de setembro. Houve um ataque à sua comitiva. Graças a deus ninguém foi atingido mas houve danos materiais nas viaturas. No dia 25 de setembro, por volta das onze horas foi novamente atacado. Houve confrontos com a guarda do presidente e os atacantes perderam três armas.

Michel Santos, Euronews: E houve baixas? Mortos ou feridos?

António Muchanga, Renamo: Houve muitos mortos e feridos.

Michel Santos, Euronews: Consegue quantificar o número de baixas?

António Muchanga, Renamo: Não consigo porque não estive no local.

Michel Santos, Euronews: E depois houve o cerco…

António Muchanga, Renamo: Fomos buscar o presidente Dhlakama. Chegámos à Beira às 22h. Por volta das 6h do dia seguinte já estava cercado. Disseram que vinham buscar as armas que perderam no dia 25. Nomeadamente, uma metralhadora MGG, uma AKM e uma bazuca. Depois de serem entregues essas armas, disseram que precisavam de todas as armas, aquelas que os elementos de segurança do presidente estavam a usar. Achamos que foi uma atitude pouco dignificante e só contribuiu para criar ruturas. A situação ficou clara, não se pode confiar nessas pessoas, razão pela qual achamos que para podermos trazer tranquilidade a todos os moçambicanos, mais do que nunca a comunidade internacional tem que se envolver nas mediações. A Igreja Católica, sendo uma instituição que demonstrou ter experiência na ajuda para encontrar a paz em 1992 tem que ser envolvida nas negociações e partirmos para negociações sérias. O outro lado diz que não é preciso envolver a estrangeiros, mas nós pensamos que quando as pessoas morrem deixa de ser um assunto doméstico.

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