Mário Motta, Lisboa
Ao
que aconteceu ontem entre o Parlamento, Largo do Rato e a Lapa podemos considerar uma
manifestação desumana (felizmente fracassada). Cerca de 900 militantes do PSD e
do CDS deram as mãos e estenderam-se em formato de cordão entre o Parlamento, a
sede do PS (Largo do Rato) e a sede do PSD (Lapa). Também queriam fazer a ligação
com o Largo do Caldas, sede do CDS, mas tal missão foi impraticável e nem passou de um "sonho". Era muito
insuficiente o seu número de militantes. Chamaram a isto cordão humano. Humano?
Desde
o fracasso de não conseguirem estabelecer ligação entre o Parlamento, a sede do PS e as do
PSD e do CDS, até à impropriedade de chamarem àquilo cordão humano, ficou
evidente que felizmente não existem tantos desumanos como por vezes parece. Assistiu-se
a um fracasso a todos os níveis. O que começa a ser pendor da direita desumana
que se tem governado em Portugal. Até parece que os próprios militantes
daqueles partidos da governação aliada que tem ocupado o Palácio de Belém e a
sede do governo não são tantos quanto isso. Pelo menos os desumanos nem chegam
ao que se propuseram estabelecer - a pretendida “ligação”.
Desumanos?
Sim. Porque só desumanos querem mais do mesmo. Só desumanos podem estar a
pretender prosseguir e agravar as políticas destes últimos quatro anos; levando
ao suicídio centenas de portugueses, causando mortes antecipadas a muitos que
recorrendo aos hospitais não tiveram o acolhimento e tratamentos adequados
devido aos cortes de orçamento e de pessoal especializado no setor da saúde. Aos
que foram sendo empurrados para a miséria, para a fome, para o desemprego, para
as ruas por perderem as suas casas e verem as suas famílias miserabilizadas e destroçadas.
Ontem,
pouco mais de 900 desumanos tentaram fazer um cordão do mesmo nome para
prosseguirem com essas mesmas políticas de desgraça caso o PS atendesse a uma
aliança com o PSD e o CDS, ambos neste governo mal-amanhado e do anedotário nacional,
que o faccioso presidente Cavaco empossou para fazer os maiores estragos ainda
possíveis no mais curto espaço de tempo.
Cordão
desumano. É vidente. Tão desumano quanto as políticas defendidas e praticadas
por Cavaco, por Passos e por Portas, para além dos seus cúmplices neste
processo de arrasar a soberania e aquilo que tanto custou a construir aos
portugueses em desenvolvimento, no social, na justiça, na democracia e
liberdade. Desumanos, por encarnarem o revanchismo e a obsessão de rumar ao
passado da exploração desenfreada e inumana.
Felizmente,
com o cordão, não conseguiram seus intentos e, esperamos, que igualmente não
consigam com o entendimento eminente entre os partidos à esquerda, que são em número
maioritário no Parlamento.
Cinjam-se
à democracia, deixem-se da obsessão do regresso ao passado. Passado desumano e
antidemocrático. O mesmo que Cavaco e o governo tem demonstrado pretenderem
atingir.
Sobre
o cordão desumano, no Público. (MM/PG)
“Ficou
a faltar só um bocadinho” para um cordão humano ligar a Lapa ao Rato
Nuno Sá Lourenço - Público
O
objectivo do movimento “Compromisso Democrático” era “unir o que está
dividido”. Para tal, nesta quarta-feira ao final do dia, juntou cerca de mil
pessoas para ensaiar um cordão humano que ligasse o Parlamento às sedes do PS,
PSD e CDS. Uma hora depois, a imagem que se pretendia não tinha sido atingida,
apesar de a organização garantir que se tinha ficado perto. “Ficou a faltar só
um bocadinho”, gritava um dos elementos ao microfone quando os participantes
regressavam já à fachada do Parlamento para os discursos de encerramento. O
grupo dos balões rosa ficou à entrada do Largo do Rato, sede do PS. O cordão
dos balões laranja chegou à Lapa, mas sem atingir a rua da sede do PSD. E os do
balão azul nem perto ficaram de chegar ao Largo do Caldas.
Ainda
assim, em frente à Assembleia da República, não deixou de se falar em “momento
histórico”. O porta-voz da iniciativa, Tomás Almeida, depois de apresentar o
movimento como a “voz da sociedade civil”, afirmou que a manifestação era de
quem não podia “aceitar o clima de insulto” entre os partidos e de quem
acreditava num entendimento entre PSD, PS e CDS. “Ainda é tempo de compromisso,
ainda é tempo de Portugal”. Antes, havia dito ao PÚBLICO que o que o movia era
a premência de sair da “situação grave” em que o país mergulhara, e que
“obrigava a que os portugueses se unissem”.
Esse
“grupo de cidadãos que não vive da política mas do seu trabalho” queria
que os partidos pusessem de lado as picardias e trabalhassem em conjunto para
que o país pudesse “colher os frutos dos nossos sacrifícios”. Por mais de uma
vez foi frisado o apartidarismo da iniciativa. Sibila Camal, uma das promotoras
do movimento, falou no fim para se congratular. “A voz da sociedade civil ainda
está viva.”
Entre
os que aplaudiram estava Pinheiro Torres, ex-deputado
social-democrata e um dos activistas que avançaram com a petição que fez a
coligação alterar a lei do aborto já este ano. “Eu valorizo as iniciativas
cívicas, gosto de ver esta malta nova a mexer-se”, disse ao PÚBLICO.
Não
estava na organização mas quis comparecer porque se identificava “com isto”.
Tal como os promotores não achava “inevitável” um governo de esquerda. “Há um
PS profundo que tem uma história de tradição democrática. Esse outro PS pode
ser que não consinta isto ao dr. António Costa”. O que pretendia Pinheiro
Torres e o movimento era mesmo o que se via à frente do Parlamento. Aqueles
balões laranja, rosa e azuis (as cores dos três partidos) presos por cordas uns
aos outros, enquanto se cantava o hino de Portugal. Só que, num sinal
premonitório, ainda antes do hino, um dos balões rosa soltou-se do baraço e, em
poucos segundos, desapareceu no céu escuro da noite lisboeta.
Na
foto: O cordão humano tentou ligar o Parlamento às sedes do PS, PSD e CDS – Nuno
Ferreira Santos
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