quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Portugal. CORDÃO DESUMANO PARA LIGAR PARLAMENTO AO PS, PSD E CDS FRACASSOU




Mário Motta, Lisboa

Ao que aconteceu ontem entre o Parlamento, Largo do Rato e a Lapa podemos considerar uma manifestação desumana (felizmente fracassada). Cerca de 900 militantes do PSD e do CDS deram as mãos e estenderam-se em formato de cordão entre o Parlamento, a sede do PS (Largo do Rato) e a sede do PSD (Lapa). Também queriam fazer a ligação com o Largo do Caldas, sede do CDS, mas tal missão foi impraticável e nem passou de um "sonho". Era muito insuficiente o seu número de militantes. Chamaram a isto cordão humano. Humano?

Desde o fracasso de não conseguirem estabelecer ligação entre o Parlamento, a sede do PS e as do PSD e do CDS, até à impropriedade de chamarem àquilo cordão humano, ficou evidente que felizmente não existem tantos desumanos como por vezes parece. Assistiu-se a um fracasso a todos os níveis. O que começa a ser pendor da direita desumana que se tem governado em Portugal. Até parece que os próprios militantes daqueles partidos da governação aliada que tem ocupado o Palácio de Belém e a sede do governo não são tantos quanto isso. Pelo menos os desumanos nem chegam ao que se propuseram estabelecer - a pretendida “ligação”.

Desumanos? Sim. Porque só desumanos querem mais do mesmo. Só desumanos podem estar a pretender prosseguir e agravar as políticas destes últimos quatro anos; levando ao suicídio centenas de portugueses, causando mortes antecipadas a muitos que recorrendo aos hospitais não tiveram o acolhimento e tratamentos adequados devido aos cortes de orçamento e de pessoal especializado no setor da saúde. Aos que foram sendo empurrados para a miséria, para a fome, para o desemprego, para as ruas por perderem as suas casas e verem as suas famílias miserabilizadas e destroçadas.

Ontem, pouco mais de 900 desumanos tentaram fazer um cordão do mesmo nome para prosseguirem com essas mesmas políticas de desgraça caso o PS atendesse a uma aliança com o PSD e o CDS, ambos neste governo mal-amanhado e do anedotário nacional, que o faccioso presidente Cavaco empossou para fazer os maiores estragos ainda possíveis no mais curto espaço de tempo.

Cordão desumano. É vidente. Tão desumano quanto as políticas defendidas e praticadas por Cavaco, por Passos e por Portas, para além dos seus cúmplices neste processo de arrasar a soberania e aquilo que tanto custou a construir aos portugueses em desenvolvimento, no social, na justiça, na democracia e liberdade. Desumanos, por encarnarem o revanchismo e a obsessão de rumar ao passado da exploração desenfreada e inumana.

Felizmente, com o cordão, não conseguiram seus intentos e, esperamos, que igualmente não consigam com o entendimento eminente entre os partidos à esquerda, que são em número maioritário no Parlamento.

Cinjam-se à democracia, deixem-se da obsessão do regresso ao passado. Passado desumano e antidemocrático. O mesmo que Cavaco e o governo tem demonstrado pretenderem atingir.

Sobre o cordão desumano, no Público. (MM/PG)

“Ficou a faltar só um bocadinho” para um cordão humano ligar a Lapa ao Rato

Nuno Sá Lourenço - Público

O objectivo do movimento “Compromisso Democrático” era “unir o que está dividido”. Para tal, nesta quarta-feira ao final do dia, juntou cerca de mil pessoas para ensaiar um cordão humano que ligasse o Parlamento às sedes do PS, PSD e CDS. Uma hora depois, a imagem que se pretendia não tinha sido atingida, apesar de a organização garantir que se tinha ficado perto. “Ficou a faltar só um bocadinho”, gritava um dos elementos ao microfone quando os participantes regressavam já à fachada do Parlamento para os discursos de encerramento. O grupo dos balões rosa ficou à entrada do Largo do Rato, sede do PS. O cordão dos balões laranja chegou à Lapa, mas sem atingir a rua da sede do PSD. E os do balão azul nem perto ficaram de chegar ao Largo do Caldas.

Ainda assim, em frente à Assembleia da República, não deixou de se falar em “momento histórico”. O porta-voz da iniciativa, Tomás Almeida, depois de apresentar o movimento como a “voz da sociedade civil”, afirmou que a manifestação era de quem não podia “aceitar o clima de insulto” entre os partidos e de quem acreditava num entendimento entre PSD, PS e CDS. “Ainda é tempo de compromisso, ainda é tempo de Portugal”. Antes, havia dito ao PÚBLICO que o que o movia era a premência de sair da “situação grave” em que o país mergulhara, e que “obrigava a que os portugueses se unissem”.

Esse “grupo de cidadãos que não vive da política mas do seu trabalho” queria que os partidos pusessem de lado as picardias e trabalhassem em conjunto para que o país pudesse “colher os frutos dos nossos sacrifícios”. Por mais de uma vez foi frisado o apartidarismo da iniciativa. Sibila Camal, uma das promotoras do movimento, falou no fim para se congratular. “A voz da sociedade civil ainda está viva.”

Entre os que aplaudiram estava Pinheiro Torres, ex-deputado social-democrata e um dos activistas que avançaram com a petição que fez a coligação alterar a lei do aborto já este ano. “Eu valorizo as iniciativas cívicas, gosto de ver esta malta nova a mexer-se”, disse ao PÚBLICO.

Não estava na organização mas quis comparecer porque se identificava “com isto”. Tal como os promotores não achava “inevitável” um governo de esquerda. “Há um PS profundo que tem uma história de tradição democrática. Esse outro PS pode ser que não consinta isto ao dr. António Costa”. O que pretendia Pinheiro Torres e o movimento era mesmo o que se via à frente do Parlamento. Aqueles balões laranja, rosa e azuis (as cores dos três partidos) presos por cordas uns aos outros, enquanto se cantava o hino de Portugal. Só que, num sinal premonitório, ainda antes do hino, um dos balões rosa soltou-se do baraço e, em poucos segundos, desapareceu no céu escuro da noite lisboeta.

Na foto: O cordão humano tentou ligar o Parlamento às sedes do PS, PSD e CDS – Nuno Ferreira Santos

Sem comentários:

Mais lidas da semana