Xavier
de Figueiredo – África Monitor, opinião
Por
estes tempos da passagem dos 40 anos de independência de Angola, “vê-se na
cara” que o regime está com medo. Não engana o nervoso que atravessa a
superestrutura do poder e os seus escalões principais; a rede de “capelinhas” e
a casta de procônsules que pontilham o território. É medo da crítica, da
contestação, de ajuntamentos e de manifestações – é disso que o regime tem medo
A
nação proclamada em 11 Novembro, em Luanda, tinha hino, tinha bandeira, mas não
tinha muito povo. Por malas-artes de um descolonizador que melhor fora ter
confiado o encargo a uma competente instância internacional, tão grande era a
desordem e a irresponsabilidade instaladas em sua casa, Angola independente
nasceu fragmentada. E assim ficou, mudando apenas os contextos, o pendor e a
intensidade das divisões
Os
medos que agora o regime tenta disfarçar, empregando métodos que por
demonstrarem fraqueza acabam, afinal, por denunciar a dedo a existência dos
mesmos, são medos decorrentes de efeitos virtualmente aceleradores que os
descontentamentos sociais e políticos provocados por uma severa crise
económico-financeira interna, podem ter nas divisões que hoje em dia retalham a
sociedade e a população
O
frouxo e sempre muito calculado e medido espírito de reconciliação praticado
pelo regime para atender de forma que deveria ter sido completa e autêntica à
necessidade de superar um dos mais delicados resquícios da guerra civil
terminada em 2002. Houve reconciliação (e mesmo assim«.) para os que se
submeteram e aceitaram renunciar às suas convicções e à sua personalidade. Para
os outros não.
Na
linha das causas das mais profundas divisões de que o regime hoje em dia tem
medo, vem depois a desigual e injusta distribuição da riqueza, tão reveladora
de insensibilidade política e social. E será que aqueles 60% ou 70% de pobres a
que coube parte ínfima da abundante riqueza gerada pelo petróleo nos anos
pós-guerra, acredita mesmo em “balelas” como a dos colonos saudosistas ou dos
façanhudos invasores estrangeiros, que andam por ali a fomentar a discórdia? A
opulência da elite que se acolhe no regaço do regime é muito mais impressiva.
A
democracia em Angola afinal não o é tanto, fundada que está em instituições
pomposas, mas esvaziadas de independência, ou aplicada através de políticas
desprovidas de sentido de equidade. Uma democracia assim, de verniz, no fundo
concebida e dimensionada para perpetuar o mesmo poder (apenas reciclado) que
proclamou a independência, também fomenta e cava divisões – as divisões contra
as quais verdadeiramente clama a crítica, a contestação, os ajuntamentos e as
manifestações de que o regime tem medo. E por isso reprime todas.
Havia
hino e havia bandeira para a proclamação daquela noite de 10 para 11 de
Novembro de 1975. Faltou povo, já física e espiritualmente dividido, mas
constituindo isso apenas o princípio de dias piores que viriam a seguir. Até
hoje, 40 anos passados. Esperar que os que estão para vir tragam finalmente os
remédios para sarar estas verdadeiras chagas da “dipanda” é talvez a atitude
mais celebrativa e esperançosa de olhar para este dia.
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