FRANCE
INTER - PARIS
O
sucesso do partido Frente Nacional de Marine Le Pen na primeira volta das
eleições regionais do dia 6 de dezembro é o último episódio de um fenómeno que
afeta todo o continente. Este exige uma resposta solidária dos movimentos
democráticos, se quisermos evitar a desintegração da União, adverte Bernard
Guetta.
O
resultado das eleições regionais francesas não
é apenas francês. É europeu, pois não
é só em França que uma nova extrema-direita encontrou o seu lugar na
cena política, onde está agora em pé de igualdade com esquerdas e direitas que
dominavam até agora.
Além
de existirem partidos como o Frente Nacional em quase todos os países da UE,
todos se têm vindo a desenvolver, ao mesmo ritmo ou quase, neste mesmo quarto
de século que nos separa do colapso da União Soviética e pelas mesmas razões.
Em
vinte e cinco anos, saímos de um equilíbrio do terror que garantia uma
estabilidade que, afinal de contas, era tranquilizadora. Vimos surgir novas
potências, cuja ascensão subitamente derrubou cinco séculos de predomínio
ocidental e sempre presenciamos mais os conflitos sangrentos de um Islão que
procura o seu caminho depois de oito séculos de decadência.
Ainda
em curso, essas três mudanças têm alimentado medos que não param de crescer.
Num mundo considerado perigoso, os europeus já não se sentem protegidos pois não
têm defesa e o guarda-chuva americano está a fechar-se. Os
trabalhadores europeus veem ruir uma proteção social sem qualquer garantia de
sustentabilidade, uma vez que o capital já não está disposto a fazer as mesmas
concessões ao trabalho que no tempo do comunismo e a transformação dos países
emergentes em fábricas mundiais exerce uma pressão tremenda sobre os salários,
desindustrializando a Europa.
Assim,
há uma lógica por trás do sucesso da extrema-direita que se apresenta como
defensora dos benefícios adquiridos anteriormente e defende o encerramento das
fronteiras e o fim do comércio livre. Tal como no início do fascismo italiano e
nacional-socialismo alemão, o nacionalismo e a angústia social misturam-se nos
coquetéis mais explosivos e o regresso do nacionalismo em si é alimentado por
uma dupla rejeição, a do Islão, considerada mortal a nível mundial, e a da
união europeia, cada vez mais rejeitada como um cavalo de Troia da globalização
e como destruidora dos Estados nos quais foram negociados os compromissos
sociais do pós-guerra.
Se
nada vier contrariá-las, estas novas forças levarão a Europa a um desastre
económico, pois o recurso ao protecionismo acabaria com as exportações
europeias, enquanto um regresso às moedas nacionais mergulharia os países da
União numa competição monetária suicida. As dificuldades sociais não se
reduziriam, pelo contrário, multiplicar-se-iam e, em paralelo, a rejeição dos
muçulmanos enquanto muçulmanos provocaria rapidamente distúrbios à escala
nacional e internacional.
Os
países europeus não podem deixar-se paralisar pela sua extrema-direita. Existe
um risco que é necessário evitar e tal não poderá ser feito a não ser que a
esquerda e a direita denunciem verdadeiramente, e frontalmente, a loucura
destes programas e se unam – não no sentido de fundir-se, mas unir-se – em
oposição à maioria dos compromissos que possam e sempre que necessário, e que
dois terços dos europeus o desejassem.
Traduzido
por Rita Azevedo, em Vox Europ – Imagem: Bernard Bouton/CartoonMovement
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