quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

RACISMO, ENDORRACISMO E RESISTÊNCIA (Parte II)



Esther Pineda G - Afropress

Ainda que a sociedade se caracterize por ser dinâmica, pela constante modificação de estruturas, instituições e modos interativos, há elementos constantes e persistentes em uma pluralidade de realidades sociais distintas. Por isso, uma das principais dificuldades com que nos defrontamos em relação a desarticulação, erradicação e superação do racismo em nossas sociedades modernas é seu intricado enraizamento no tecido sóciocultural.

É frequente questionar sua vigência aduzindo as mudanças manifestas ao largo das décadas enquanto em outros âmbitos de desenvolvimento social, continuamos impávidos frente a persistência do racismo e, mais ainda, suas periódicas e radicalizadas manifestações. A que se deve a continuidade do racismo em nossas sociedades pluriétnicas e multiculturais?

Em primeiro lugar encontramos dificuldades para sua superação pelo desconhecimento do racismo, suas características e manifestações; em algumas oportunidades, podemos estar discriminando alguém do nosso entorno sem nos darnos conta e sem a intenção de fazê-lo, pelo fato de que está introjetado em nosso imaginário.

Em segundo lugar, a superação do racismo tem encontrado obstáculos como consequência da negação da existênca do racismo e outras formas de discriminação; enquanto o negarmos não seremos capazes de questioná-lo e, portanto, desarticulá-lo.

Finalmente, um dos aspectos que na sociedade contemporânea tem limitado de forma significativa a erradicação do racismo tem sido o endorracismo, o qual se estabeleceu como um dos mecanismos mais efetivos de sua manutenção.

O endorracismo pode ser definido como o racismo desde dentro, quer dizer, uma autodiscriminação, uma autorrejeição. Quem já foi discriminado por seu pertencimento étnicorracial, por sua pele e fenótipo aceita ver-se a si mesmo e a seu grupo social desde o olhar do colonizador, considerando o outro como superior e assumindo a chamada inferioridade de seu grupo ao qual vai considerar atrasado, selvagem, incapaz, incivilizado, desprovido de beleza e de capacidades intelectuais deficientes.

O sujeito racializado internaliza como própria a discriminação que foi imposta e se reproduz sobre si, como também sobre aqueles pertencentes a seu grupo étnico e racial. Esta discriminação, desde o sujeito racializado também conhecido como endorracismo, vai expressar-se através dos diferentes agentes socializadores, mas também é fundamentalmente, protagonizada pelos sujeitos nos espaços cotidianos da vida em comum.

Mas, como se manifesta o enderrocismo? Se bem que sejam múltiplos e diversos os cenários e manifestações deste fenômeno, podemos considerar como os mais recorrentes:

- o desconhecimento histórico e a negação da herança étnica indígena ou africana;

- a vergonha estética, a consideração de que o belo é europeu, o que explica a rejeição da cor da pele, dos traços, evidenciados em casos de pessoas que se submetem a tratamentos para branqueamento da pele como Michael Jackon, Lil Kim, Beyonce, mas também no cotidiano mediante o uso de cremes clareadores da pele, o alisamento do cabelo e procedimentos cirúrgicos de caráter estético com o objetivo de apagar a herança indígena ou africana;

- a rejeição a que a descendencia seja de pele escura e traços africanos, pelo qual se busca melhorar a raça.

Tradução para o Português: Dojival Vieira

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