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Galp alerta que equívocos na fase inicial do investimento no gás natural em
Moçambique podem comprometer "um projeto para gerações", esperando
uma decisão final nos próximos meses para a plataforma flutuante prevista para
o "offshore" da bacia do Rovuma.
"Há
muito trabalho a ser feito, muitos passos estão a ser dados e é muito
importante que não nos equivoquemos nesta fase inicial, porque vamos ficar
comprometidos num projeto para gerações, para 30, 40, 50 anos", disse à
Lusa o presidente da comissão executiva da petrolífera portuguesa, Carlos Gomes
da Silva, que se encontra de visita a Maputo para participar no primeiro fórum
económico e social de Moçambique (Mozefo).
O
dirigente da Galp, que está presente na pesquisa e exploração de gás natural no
norte de Moçambique, com uma participação de 10% no bloco 4, liderado pela
italiana ENI, espera uma decisão final de investimento do consórcio nos
próximos meses para a plataforma flutuante a ser construída no
"offshore" da bacia do Rovuma, mas o projeto em terra deverá demorar
mais tempo.
"O
que estamos a fazer, no contexto atual de baixa de preços do petróleo e de
expetativas mais contidas, é criar condições para que quer o projeto 'onshore'
quer o projeto 'offshore', que é o projeto âncora e de futuro neste processo,
sejam sustentáveis e rentáveis", afirmou.
Gomes
da Silva observou que o investimento implica pressupostos como a colocação do
gás, através de contratos de longo prazo e superiores a vinte anos, os projetos
de engenharia e financiamento.
"Trata-se
de projetos que exigem grandes recursos financeiros e uma complexidade
contratual sofisticada e, quando estiverem reunidas estas premissas e dentro de
pressupostos de rentabilidade, é que tomaremos a decisão de investimento",
declarou.
Carlos
Gomes da Silva insistiu que este tipo de indústria "consome muito
tempo" e que o facto de o calendário não estar alinhado com a expetativa
inicial do Governo moçambicano - que esperava o início da exploração antes do
fim desta década - não significa que as empresas não estejam a trabalhar.
"Pelo
contrário, a sofisticação de meios que é exigida, o nível de recursos que temos
colocados, todos, para o projeto é enorme", assegurou, salientando que
todos têm pressa mas "é preciso consciência de que se tem de fazer
bem".
Em
relação ao projeto em terra, o presidente da comissão executiva da Galp lembrou
que exige um processo de unitização, envolvendo as empresas da área 1, liderada
pela norte-americana Anadarko e que também não tomou ainda a sua decisão final
de investimento, mas um acordo prévio com a chancela do Governo moçambicano
permite que qualquer uma das partes tenha autonomia para avançar os seus
projetos.
"O
processo de unitização é necessário mas não limitativo", referiu Gomes da
Silva, acrescentando que os dois consórcios continuam a trabalhar também na
criação de instalações e infraestruturas para o projeto em terra.
Gomes
da Silva descreveu o projeto de gás natural em Moçambique como "um dos
dois grandes ativos da Galp", a par do Brasil, onde o projeto se encontra
já "numa fase de desenvolvimento acelerado para atingir uma maturidade de
produção em oito a dez anos".
O
projeto de Moçambique encontra-se numa fase similar à que o Brasil
experimentava há justamente oito a dez anos, segundo o gestor da Galp, que
considera "natural e justa" a expetativa que os moçambicanos colocam
no início da exploração de gás natural e que pode representar uma aceleração da
sua economia, que é já uma das mais crescentes na África Austral, e numa forte
fonte de receitas para o Estado.
"O
que não está devidamente calibrado, naquilo que é o cidadão comum, é a
expetativa temporal, e é preciso falar claro e ser realista e explicar quais
são os vários marcos que o projeto tem de inevitavelmente seguir",
defendeu, voltando a falar da complexidade do projeto, que implica, pela primeira
vez, a utilização de uma plataforma flutuante na exploração de gás natural e
que "Moçambique vai ter uma tecnologia nova de fronteira".
HB
// ATR - Lusa
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