Marcus
Eduardo de Oliveira*
Com
um padrão de consumo avassalador, “alimentado” pela voracidade consumista de
20% da população mundial (1,4 bilhão de pessoas) residente nas sociedades mais
abastadas, o Planeta Terra apresenta sinais de completo esgotamento, não
suportando os atuais níveis de produção e consumo expansivos.
Não
por acaso, 10% da terra fértil do planeta já se transformou em deserto. Por
ano, são perdidos 7 milhões de hectares. Simplesmente, 60% dos principais
serviços ecossistêmicos estão deteriorados.
Nos
últimos 50 anos houve uma perda de 35% dos manguezais, 40% das florestas, 50%
das áreas alagadas. Atualmente, os estoques de peixes estão 80% menores e a
área cultivada de todo o Planeta cobriu 25% da superfície da Terra.
Para
reverter esse quadro é urgentemente necessário (re)organizar a sociedade
produtiva conciliando o desenvolvimento econômico com a promoção do
desenvolvimento social e o equilíbrio ecológico, respeitando, acima de tudo, a
biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, ou seja, a base e o suporte da
atividade econômica.
A
noção central em relação a isso é a de compatibilizar as dimensões econômica,
social e ambiental. Esse é o ponto-chave para tentar superar o dilema
dicotômico entre a política de crescimento econômico e a necessidade de se
preservar o equilíbrio ecológico.
Por
isso o posicionamento ecológico deve estar acima do pensamento econômico
tradicional.
Busca-se com isso cumprir três princípios básicos que estão referenciados no conhecido Relatório Brundtland, do já longínquo ano de 1987: 1) desenvolvimento econômico (aspiração imanente da humanidade); 2) proteção ambiental (cuidado para com a Casa Comum); e, 3) equidade social (inclusão dos excluídos).
Para
superar essa dicotomia, tem-se um evidente questionamento do ecologismo sobre a
racionalidade econômica, tendo em conta que essa última, pelas lentes do
pensamento neoclássico (tradicional), pouca importância tem conferido às
consequências ambientais advindas do intenso e frenético estímulo ao crescimento
econômico.
Por
sinal, alcançar de forma invasiva o crescimento da economia a qualquer “custo”
se transformou, de tempos para cá, numa espécie de obsessão da macroeconomia
convencional, ignorando que tal fato ocasiona graves distúrbios na biosfera, pondo
em risco a base de sustentação da vida.
É
exatamente por esse tipo de “invasão econômica” provocada pelo crescimento que
os recursos naturais são dilapidados, expondo de igual maneira os principais
ecossistemas.
Continuar
estimulando a aceleração do crescimento produtivo na prática apenas aumenta de
forma substancial a perda de diversidade biológica e ecossistêmica. É
importante não perder de vista que aumentar a produção econômica, dentre tantos
outros estragos ambientais, também é sinônimo de poluir mais ainda a atmosfera.
Nos
dias atuais, mais de dois milhões de pessoas morrem a cada ano no mundo em
decorrência da poluição, alojando nos pulmões pequenas partículas (PM 10)
geradas pela queima de combustíveis fósseis, além da poluição de ozônio (O3).
Somente
na América Latina e no Caribe, a cada ano, morrem aproximadamente 35 mil
pessoas devido à contaminação do ar; na Europa, são mais de 150 mil e, no leste
da Ásia, mais de 1 milhão de vidas são ceifadas pelo mesmo motivo.
Por
isso o posicionamento ecológico deve estar acima do pensamento econômico
tradicional, ferindo assim, para desespero dos economistas tradicionais, o
dogma atinente ao crescimento econômico, visto e defendido erroneamente como
fator preponderante para consolidar a prosperidade de uma sociedade.
* Marcus
Eduardo de Oliveira é professor de economia no Unifeo e na FAC-FITO.
Mestre em Integração da América Latina (USP). prof.marcuseduardo@bol.com.br
*Envolverde
- Publicado originalmente no site EcoD.
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