quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Portugal. HÁ COLIGAÇÃO NA OPOSIÇÃO?



Miguel Guedes – Jornal de Notícias, opinião

Na solitária, sem estar preso ainda que pareça estar refém. Quanto vale, sozinho, o CDS-PP? Se a questão já era pertinente após as eleições, é agora inevitável após a Esquerda fazer história na democracia parlamentar, acordando para afastar a Direita do poder. Obviamente, podem encomendar as sondagens. Mas a questão não resiste sem o presente momento e o seu precioso contexto: pode o CDS-PP ser Oposição coligado com o PSD sem caminhar, a passos largos e fruto dessa aliança, ao encontro da sua irrelevância ou fim político? Quando se anuncia para amanhã uma moção de rejeição única ao programa do Governo socialista, texto conjunto e afinado pelos dois partidos, a PàF ainda convive e sobrevive, coligada e unida na Oposição, em catarse pela união nacional na qual se faz de vítima. Está viva e vitimiza-se. Mas não para o que vier, só para o que der.

Paulo Portas, com a queda do Governo, pode ter resistido à tentação de fotocopiar mais de 60 mil papéis subitamente enfiados no seu submarino amarelo onde "todos vivem" (tradução "Beatle"). Portas - inteligente, arguto, tacticamente glacial - não concebe a ideia do seu projecto político pessoal poder sucumbir vampirizado pelo PSD, à custa de não cindir com o centrão de Direita que, na realidade, abomina. Mais do que um político, o líder do partido do seu próprio monograma pessoal (PP) é um estratega em busca do prazer pelo jogo. Ainda conserva o olhar traquina por detrás da pose de Estado. Ainda conseguirá rir de si e das suas múltiplas contradições. Paulo Portas é um "gamer". Se seduzido pelo prazer de um novo jogo, só há duas palavras que não planeia ver conjugadas: "Game Over". Coligação, só para o que der. Fugindo do final, sabendo que passar de nível equivale a cavar a diferença, convive com Passos porque espera que o acordo da Esquerda patine a curto prazo, que o (im)previsível Marcelo resolva a médio tempo ou - tão-só - enquanto não lhe for possível romper de imediato alegando uma qualquer razão, espúria que seja, para evitar a morte bastarda.

Olhar para os dois lados. Aqueles que não dormem sem lançar adivinhas sobre como podem os partidos à esquerda do PS fazer oposição quando acordaram viabilizar políticas comuns, são os mesmos que não cuidam de ventilar o verdadeiro foco de tensão que sopra e aquece à direita, em lume brando, na coligação de oposição. Talvez porque seja óbvio. Talvez porque saibam que é à direita que a ruptura é inevitável.

*O autor escreve segundo a antiga ortografia

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