Miguel
Guedes – Jornal de Notícias, opinião
Na
solitária, sem estar preso ainda que pareça estar refém. Quanto vale, sozinho,
o CDS-PP? Se a questão já era pertinente após as eleições, é agora inevitável
após a Esquerda fazer história na democracia parlamentar, acordando para
afastar a Direita do poder. Obviamente, podem encomendar as sondagens. Mas a
questão não resiste sem o presente momento e o seu precioso contexto: pode o
CDS-PP ser Oposição coligado com o PSD sem caminhar, a passos largos e fruto
dessa aliança, ao encontro da sua irrelevância ou fim político? Quando se
anuncia para amanhã uma moção de rejeição única ao programa do Governo
socialista, texto conjunto e afinado pelos dois partidos, a PàF ainda convive e
sobrevive, coligada e unida na Oposição, em catarse pela união nacional na qual
se faz de vítima. Está viva e vitimiza-se. Mas não para o que vier, só para o
que der.
Paulo
Portas, com a queda do Governo, pode ter resistido à tentação de fotocopiar
mais de 60 mil papéis subitamente enfiados no seu submarino amarelo onde
"todos vivem" (tradução "Beatle"). Portas - inteligente,
arguto, tacticamente glacial - não concebe a ideia do seu projecto político
pessoal poder sucumbir vampirizado pelo PSD, à custa de não cindir com o
centrão de Direita que, na realidade, abomina. Mais do que um político, o líder
do partido do seu próprio monograma pessoal (PP) é um estratega em busca do
prazer pelo jogo. Ainda conserva o olhar traquina por detrás da pose de Estado.
Ainda conseguirá rir de si e das suas múltiplas contradições. Paulo Portas é um
"gamer". Se seduzido pelo prazer de um novo jogo, só há duas palavras
que não planeia ver conjugadas: "Game Over". Coligação, só para o que
der. Fugindo do final, sabendo que passar de nível equivale a cavar a
diferença, convive com Passos porque espera que o acordo da Esquerda patine a
curto prazo, que o (im)previsível Marcelo resolva a médio tempo ou - tão-só -
enquanto não lhe for possível romper de imediato alegando uma qualquer razão,
espúria que seja, para evitar a morte bastarda.
Olhar
para os dois lados. Aqueles que não dormem sem lançar adivinhas sobre como
podem os partidos à esquerda do PS fazer oposição quando acordaram viabilizar
políticas comuns, são os mesmos que não cuidam de ventilar o verdadeiro foco de
tensão que sopra e aquece à direita, em lume brando, na coligação de oposição.
Talvez porque seja óbvio. Talvez porque saibam que é à direita que a ruptura é
inevitável.
*O
autor escreve segundo a antiga ortografia
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