sexta-feira, 3 de abril de 2015

A PROPÓSITO DO KUITO KUANAVALE – III



Martinho Júnior, Luanda (ver textos anteriores)

7 – O poder militar a que recorreu o “apartheid” esgotou-se no “pântano” do Kuando Kubango e na pressão avassaladora que sofreu no Cunene, o que não acontecia no campo oposto, em que se assistiu a um esforço enorme que além do mais introduzia meios adicionais em quantidade e qualidade até então nunca atingida nas duas províncias do Sul e Sudeste.

Vários factores terão concorrido para que as SADF/FALA se concentrassem a leste,“desabrigando” relativamente a ala ocidental dessa linha e essa limitação geo estratégica contribuiu para o abandono definitivo da opção militar que conduziu a transformações sócio-políticas profundas na África Austral, quando a oeste perderam iniciativa, posição atrás de posição, tiveram um aumento considerável do número de baixas e o domínio do espaço aéreo.

Entre os vários factores concorrentes para esse lapso geo estratégico das SADF, há contenciosos históricos da presença na área:

Efectivamente as SADF criaram uma cultura de presença no Kuando Kubango e no sul Moxico mais do que em qualquer outra região de Angola (22 anos), por que elas estavam já coligadas às Forças Armadas Portuguesas naquela província do sudeste de Angola, procurando a todo o transe dar combate à infiltração do MPLA, como da SWAPO entre 1966 e 1974, uma contradição que aliás favoreceu a aproximação das duas guerrilhas e o distanciamento definitivo da SWAPO em relação à UNITA.

No Cunene a presença do “apartheid” ocorreu durante 8 anos, de 1980 a 1988, sustida no seu ímpeto pelo baluarte em que se tornou a Cahama e sempre em função dos conceitos da “border war”, que levou o “apartheid” a criar um anel de bases aéreas bem junto à fronteira do Sudoeste Africano com Angola, algo desastroso perante a ameaça de forças superiores e com o domínio do espaço aéreo.

A presença das SADF no Kuando Kubango entre 1966 e 1975, em estreita aliança com as Forças Armadas Portuguesas e com a UNITA, teve como base principal o Kuito Kuanavale, onde se encontravam os helicópteros PUMA, utilizados preferencialmente pois podiam colocar num raio de acção maior, unidades móveis de contra guerrilha de 22 elementos.

A perspectiva de contra-insurreição das SADF, bebida por via de seus contactos directos associados às respostas do colonialismo português no Sudeste de Angola, foi conjugada aos conceitos da “guerra de fonteiras” que integraram também o emprego de forças convencionais, que foram concentradas precisamente no Kuando Kubango em defesa da Jamba e no ataque que elas foram tentadas a fazer ao Kuito Kuanavale.

Essa maior cultura de presença das SADF no sudeste foi logicamente importante para a aglutinação no plano operacional, quer dos Flechas às ordens do Inspector da PIDE/DGS, Óscar Piçarra Cardoso (que viriam a formar o Batalhão 31, que integrou desde logo a Operação Savanah), quer de dissidentes do MPLA e membros da FNLA que acompanharam a deriva de Daniel Chipenda (que formaram o Batalhão 32, conhecido por Batalhão Búfalo, também ele presente na mesma Operação e subsequentemente durante toda a campanha das SADF), quer o alinhamento incondicional da UNITA (e das FALA), explorando o êxito do agenciamento de Savimbi na Operação Madeira, realizada com tanto empenho pelas autoridades coloniais portuguesas, com reflexo na decisão de instalação na Jamba, a base principal da organização, precisamente no canto sudeste de Angola.

De acordo ainda com os conceitos da “borders war”, a SWAPO estava também muito mais activa entre o Cunene e a Ovambolândia, do que entre a Zâmbia, o Kuando Kubango e a faixa de Caprivi, por razões de geo estratégia e por razões humanas:

- Por razões de geo estratégia por que a partir do Cunene os acessos ao coração da Namíbia, Windoek, ficavam muito mais acessíveis;

- Por razões humanas, por que a SWAPO possuía uma forte base de mobilização e recrutamento no Cuanhama/Ovembolândia, com a vantagem da maior parte da população da Namíbia estar concentrada na Ovambolândia, imediatamente a sul da fronteira de Santa Clara.
  
8 – A presença continuada dos meios de inteligência e militares do “apartheid” de 1966 até à derrota das SADF em 1988, mereceu também a atenção e o empenho de enredos integradores do“lobby” dos minerais, com os interesses do cartel de diamantes à cabeça: a De Beers havia adquirido a concessão de exploração de Mavinga, no Kuando Kubango, o que sintomaticamente influenciou no facto dos serviços de inteligência do “apartheid”, coligados a interesses do “lobby”dos minerais (Anglo American, De Beers e Lonhro, por exemplo), aparecerem com tanto peso em Lusaka, procurando influenciar Kenneth Kaunda e incrementar divisões internas tanto no MPLA como na SWAPO!

As trajectórias de Savimbi e de Daniel Chipenda têm tudo a ver com isso.

A decisão da criação da base principal da UNITA na Jamba, próximo das bases principais dos Batalhões 31 e 32, tal como a cultura da incidência maior da presença das SADF naquela região resultou também, sem qualquer margem para dúvidas, de contenciosos históricos que constituíam por si uma verdadeira “herança colonial” que acabou por limitar a capacidade de discernimento geo estratégico do “complexo” SADF/FALA/SWATF!

Foto: Mapa das principais localidades no amplo teatro de operações que teve p Kuito Kuanavale como ponto de viragem na “border war”. (clicar para ampliar)

Artigos anteriores (os dois primeiros publicados em janeiro e o terceiro publicado em março de 2008, no Página Um, a retirados da blogosfera):

- Cuito Cuanavale – Vinte anos depois – I; 
- Cuito Cuanavale – Vinte anos depois – II; 
- Cuito Cuanavale – Vinte anos depois – III. 
- Bibliografia de R. Alport – http://www.rhodesia.nl/cuito.htm; 
- A batalha do Cuito Cuanavale – Vitória mítica de Cuba – http://rubelluspetrinus.com.sapo.pt/canavale.htm; 
- Guerra de fronteira no Sul de África – http://sistemasdearmas.com.br/ca/bushwar1.html

PORTUGAL NA ROTA DO TRÁFICO DE CRIANÇAS ANGOLANAS




Há vários indícios de que Portugal é uma das plataformas de uma alegada rede internacional de tráfico de menores e de mulheres. Recentemente, as autoridades descobriram em Lisboa duas crianças angolanas maltratadas.

Na Amadora, distrito de Lisboa, onde vive uma grande comunidade de imigrantes africanos, há habitantes que ignoram a existência de tráfico de crianças com origem em Angola.

Alguns cidadãos interpelados pela DW África no centro da cidade, entre os quais a jovem Ângela, que espera pelo seu primeiro filho, diz desconhecer o fenómeno no concelho. "Não sabia da sua existência aqui na zona, mas sei que existe tráfico de crianças, não só em Portugal. É preocupante."

O taxista Gaspar, atento ao que se passa à sua volta, já tinha ouvido a notícia do tráfico de crianças, crime que condena.

Buscas na Amadora

Há pouco mais de uma semana, as autoridades portuguesas encontraram duas crianças em moradas diferentes, na Amadora, que eram maltratadas fisicamente por supostos familiares. A busca teve lugar com o auxílio da polícia local e da escola frequentada pelas crianças, no âmbito de uma investigação a crimes de tráfico, bem como de auxílio à imigração ilegal e falsificação de documentos.

De acordo com um comunicado emitido pelos Serviços de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), as crianças haviam sido traficadas de Angola para Portugal com recurso a documentos falsos. Contactado na semana passada pela DW África, o SEF declinou fornecer mais detalhes sobre a operação, remetendo-nos para o referido comunicado, com data de 19 de março.

"As crianças são por vezes trazidas e acompanhadas por pessoas que às vezes nem familiares são", conta Armando Leandro, juiz conselheiro da Comissão Nacional de Proteção das Crianças e Jovens em Risco (CPCJR), que acompanha casos como este com atenção e preocupação.

Normalmente, a Comissão atua protegendo imediatamente a criança, sempre que a sua integridade física está em perigo, encaminhando depois o caso para o Ministério Público, explica o juiz.

Após intervenção da CPCJR na Amadora, as duas crianças angolanas foram de imediato retiradas dos locais de risco e colocadas em instituições afins através da intervenção da comissão de proteção da criança e jovens da Amadora.

Rede internacional de tráfico

Mães ouvidas pela DW África no referido concelho querem que a investigação apure a veracidade destes crimes e que os seus responsáveis sejam punidos. Opinião que é reforçada pelo taxista Gaspar. "Deve ser mesmo combatido a todos os níveis", sublinha.

Nos últimos quatro anos, foram sinalizadas cerca de 93 crianças vítimas de tráfico, com origem em países terceiros.

Em maio do ano passado, as autoridades policiais e judiciais portuguesas já investigavam os indícios de existência de uma rede internacional de tráfico com origem em África, depois da detenção no aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, de um cidadão angolano que se fazia passar por pai de três crianças. O homem era suspeito de tráfico de menores, falsificação de documentos e apoio à imigração ilegal.

Na foto: Bairro 6 de Maio, na Amadora, onde vive uma grande comunidade de imigrantes africanos

João Carlos (Lisboa) – Deutsche Welle

Angola. O MAIS BELO DIA DE TODOS



Jornal de Angola, editorial

Amanhã os angolanos celebram o Dia da Paz e Reconciliação Nacional. Tal como a liberdade tem o suporte de condições concretas, também a paz é suportada por valores que garantem a sua efectivação e consolidação.

Ambas em Angola têm um histórico que ninguém pode perder de vista e um percurso que foi aberto à custa de muito sacrifício, mas também com tolerância e generosidade.

Em Angola a paz e a reconciliação nacional tiveram construtores empenhados, mártires, heróis e um arquitecto: José Eduardo dos Santos. Quando os generais Armando da Cruz Neto  e Kamorteiro assinaram o cessar-fogo, nesse gesto honroso estavam a representar um povo heróico que desde 1961 até 4 de Abril de 2002 enfrentou uma guerra de agressão mortífera e destruidora. Por isso a paz não pode ser um emblema que se coloca à lapela ou mesmo uma arma de arremesso contra os que deram a vida e a juventude por uma Angola pacífica e reconciliada.

A paz é de todos e para todos, não pode ser o biombo que esconde manobras dos que na verdade só reconhecem a paz do fingimento e só se conformam com a paz dos cemitérios. Quando o Presidente José Eduardo dos Santos abraçou na casa da democracia o general Kamorteiro, deu um sinal inequívoco de tolerância, generosidade e fraternidade que poucos no mundo eram capazes de dar. Até hoje tem demonstrado que aquele momento estava carregado de sinceridade. Mas parte daqueles que andavam nas matas com Savimbi continuam hostis e disparam calúnias e injúrias contra quem os recebeu de braços abertos.

Este 4 de Abril coincide com o Sábado de Aleluia. O simbolismo não podia ser mais oportuno. Jesus Cristo foi sacrificado pelos que salvou, mas ressuscitou. O Presidente José Eduardo dos Santos é atacado pelos que salvou mas tem ao seu lado todos os angolanos, porque mesmo os que não votaram nele sabem que têm no Chefe de Estado um líder determinado sempre pronto a resolver os problemas que nos afectam. Os judas de hoje não vão ter sucesso. Apenas mostram que não sabem viver entre as fronteiras da honra e da dignidade, quando injuriam e caluniam aquele que lhes permitiu algo extraordinário: nascer duas vezes.

Hoje vale a pena olhar para o caminho que nos trouxe até aqui. No ano de 1992, foram realizadas as primeiras eleições gerais democráticas sob supervisão da ONU e da Troika de Observadores constituída pelos EUA, Rússia e Portugal. As Nações Unidas acusaram a UNITA de ocupar militarmente várias regiões do país. Jonas Savimbi, que perdeu as eleições, recusou a derrota e ordenou que o seu exército escondido voltasse à guerra.

Em 1994, a UNITA assinou o Protocolo de Lusaka, na Zâmbia, que previa a formação do Governo de Reconciliação Nacional (GURN). Savimbi continuou a guerra e o GURN só tomou posse em 1997. Em 1998, alguns dirigentes criaram a UNITA Renovada, encabeçada por Eugénio Manuvakola. Savimbi intensificou os ataques em várias regiões de Angola. A  ONU a declarou Jonas Savimbi criminoso de guerra e estabeleceu novas sanções contra países, empresas e dirigentes savimbistas. Amanhã comemoramos mais um Dia da Paz. Mas a actual direcção da UNITA ainda louva e venera Savimbi, o criminoso de guerra.

Em 1999, as FAA iniciam a “Operação Restauro”. Milhões de angolanos foram libertados das forças comandadas pelos criminoso de guerra Jonas Savimbi. O general Armando Cruz Neto e os seus homens encurralaram-no algures no Lucusse. Os operacionais da Unidade Anti-Terror atacaram o seu acampamento  no dia 22 de Fevereiro de 2002 e puseram fim ao pesadelo que se abateu sobre os angolanos, desde as eleições em 1992.

Com a morte do criminoso de guerra, militares da UNITA e as FAA entraram em conversações no Luena. Os derrotados foram tratados com humanidade e respeito. Todos sobrevieram, não há vencidos nem vencedores. Essa é a  mais bela bandeira da paz que o Presidente José Eduardo dos Santos içou naquele 4 de Abril de 2002. O Arquitecto da Paz abraçou na Assembleia Nacional o general da UNITA Abreu Muengo Ucuatchitembo Kamorteiro. Desde esse momento, o 4 de Abril passou a ser feriado nacional.

Amanhã os angolanos vivem um dia histórico. Animados no espírito da reconciliação, de braços estendidos aos que acreditam na democracia, pode ser que, por estarmos a comemorar a Semana Santa, os que glorificam e declaram ser seguidores do criminoso de guerra tenham um rebate de consciência e nos dêem a alegria do Sábado de Aleluia e do Domingo de Páscoa.

Belchior Lanso Tati: "As riquezas de Cabinda podem ser partilhadas, mas não usurpadas"



Voz da América, em Angola Fala Só

As recentes detenções de activistas em Cabinda são prova de que há injustiça no território  e que as autoridades angolanas não querem falar com os cabindas, disse Belchior Lanzo Tati, secretário-geral da Frente Consensual Cabindesa(FCC).

Tati referia-se à detenção em Cabinda do activista Marcos Mavungo e do advogado Arão Tempo no passado dia 14 de Março em Cabinda, dia em que estava prevista uma manifestação no território.

O dirigente desta frente cabindesa  concordou com um ouvinte que afirmou ser sua opinião que o presidente José Eduardo dos Santos deveria visitar as províncias, incluindo Cabinda para se inteirar das realidades.

“O presidente deve estar mal informado”, disse Tati, para quem dentro do gabinete "os relatórios não expressam a realidade”.

Belchior Tati explicou que a Frente Consensual Cabindesa visa criar um diálogo com todas as forças do território  para colmatar as insuficiências do Memorando de Entendimento alcançado entre o Fórum Cabindês para o Diálogo(FDC) e o Governo do MPLA que deveria ter levado a paz ao território.

“Infelizmente isso não foi cumprido”, disse Tati para quem o Fórum é uma oportunidade  de trazer para o diálogo “todos aqueles que não aderiram ao FDC".

Belchior Tati criticou a actuação dos "serviços de inteligência" que deveriam servir para analisar os problemas de modo a despopletar crise mas, em vez disso, "só prendem".
O secretário-geral da FCC defendeu o direito dos cabindas a decidirem o seu futuro.

O problema com o slogan “de Cabinda ao Cunene um só povo uma só nação” é , para Tati, "um slogan que foi criado pelos angolanos e não pelos cabindenses”.“Convivência sim, imposição não”, acrescentou.

O próprio Acordo de Alvor entre Portugal e os três movimentos de libertação para a independência de Angola e em que representantes cabindas não foram incluídos tinha sido posteriormente suspenso pelas autoridades portuguesas pouco mais de dois meses antes da independência do país, na óptica daquele responsável.

“O território de Cabinda não é nossa invenção e não não temos culpa de ter nascido em Cabinda”, disse Tati.

Interrogado sobre as riquezas petrolíferas de Cabinda, ele afirmou que essas riquezas “podem ser partilhada mas não usurpadas”.

Ao contrário do que é habitual, o convidado de hoje, 3, do programa Angola Fala Só  esteve no estúdio da VOA para responder aos ouvintes, aproveitando uma visita aos Estados Unidos de uma delegação da sua organização encabeçada pelo seu presidente Vicente Pena Pitra Yoba.


Angola. ADVOGADO ARÃO TEMPO ESTÁ MUITO DOENTE NA CADEIA DE CABINDA




A denúncia é de José Marcos Mavungo, detido juntamente com o advogado no dia 14 de Março.

Manuel José – Voz da América

O advogado Arão Tempo, presidente provincial da Ordem dos Advogados de Angola em Cabinda, preso no dia 14 de Março, está gravemente doente e sem atenção médica na cadeia onde se encontra detido.

A informação foi revelada à VOA pelo activista José Marcos Mavungo, detido no mesmo dia por tentar organizar uma marcha contra a violação dos direitos humanos no enclave e a gestão da governadora Aldina Matilde da Lomba Katenbo.

Mavungo revelou que Tempo enfrenta há mais de dois dias uma grave crise de pressão arterial e sofre de malária.

Na noite de ontem, o Ministério do Interior, através do delegado provincial, disponibilizou um médico para ver o advogado, mas ele não aceitou por não falta de confiança.

José Marcos Mavungo, Arão Tempo e um terceiro activista cujo nome não foi divulgado continuam detido e sem data para serem apresentados ao juiz.

Mavungo advertiu que as autoridades introduziram panfletos na acusação contra ele como forma de forjar provas.

Oiça o correspondente da VOA em Cabinda momentos depois de sair da cadeia onde apenas pôde reunir-se com José Marcos Mavungo.

Moçambique. Julgamento de supostos apoiantes da RENAMO prosseguirá na segunda-feira




Tribunal Judicial de Chimoio, suspendeu a audiência dos seis supostos apoiantes da RENAMO detidos a 25 de março durante confrontos com as autoridades, devido à ausência dos agentes policiais envolvidos no caso.

Seis supostos apoiantes da RENAMO e que foram detidos há nove dias, durante confrontos com a polícia na cidade de Chimoio, no centro de Moçambique, compareceram esta quinta-feira (02.04) no tribunal para a primeira audiência.

A sessão foi suspensa duas horas depois, porque os agentes policiais que efetuaram as prisões não compareceram e também por falta de sintonia entre a nota de culpa elaborada pela polícia e os depoimentos dos seis arguidos. A próxima sessão terá lugar na segunda-feira (06.04).

As seis pessoas são acusadas de tentar invadir um edifício público e provocar distúrbio popular na sequência de confrontos com a polícia moçambica na capital provincial de Manica, quando as autoridades municipais proibiram a realização de um comício do líder do maior partido da oposição, Afonso Dhlakama, no Estádio Municipal de Chimoio.

Polícia alega que comício não foi autorizado e RENAMO diz o contrário

A polícia alegou que o comício não foi autorizado e, por isso, foi montado um cordão de segurança policial que os apoiantes da RENAMO tentaram atravessar à força.

Para o maior partido da oposição a autorização para a realização do comício foi solicitada com antecedência, mas as autoridades municipais não aceitaram de imediato, e pediram ao partido de Afonso Dhlakama que aguardasse.

Munongolo Campira da direção da RENAMO em Chimoio, disse aos jornalistas que “quando ocorreram os disparos as pessoas agora presas, estavam de passagem pelo local e como não fugiram como as outras porque não tinham nada a ver com o tumulto, chegou a polícia e foram apanhadas. Não havia mais ninguém e por isso foram presas pelos agentes”.

Arguidos dizem que não pertencem à RENAMO 

Os arguidos têm insistido que não são membros da RENAMO e a própria oposição já confirmou esta informação. Mas Campira disse à DW África que se deslocou ao tribunal “em defesa dos cidadãos mesmo que os arguidos não sejam membros do meu partido. Estou aqui para dizer que essas pessoas não devem permanecer na prisão principalmente quando se sabe que a própria polícia não compareceu na audiência.”

Por outro lado, a RENAMO, acusou a polícia e o Ministério Público de tentar queimar tempo como forma de intimidar a principal força política da oposição emMoçambique. “Este governo sempre tentou intimidar a RENAMO para poder ganhar tempo em qualquer processo. Não sei se a justiça e a polícia fizeram um mau ou bom trabalho, o certo é que estão pessoas presas ilegalmente”, sublinhou Campira.

Para Bartolomeu Amone, porta-voz da polícia de Chimoio, “estamos a saber agora que o julgamento começou hoje. Normalmente a polícia elabora o auto e remete a outras instancias para os procedimmentos a seguir. Se o julgamento foi hoje e se o tribunal necessita do pronunciamento da polícia sobre o caso, acredito que a qualquer momento poderá solicitar-nos os dados em falta para a continuação do processo”.

Entretanto, Luísa Chaimite, mãe de um dos acusados, aparentemente agastada com o caso, disse à DW África que o seu filho não pertence a nenhum partido politico e pelo facto ficou surpresa com a informação referente à sua detenção que “na altura da prisão buscava o seu ganha pão”.

Arcénio Sebastião (Beira) – Deutsche Welle

Moçambique. RENAMO DESMENTE TER ATACADO BASE DO EXÉRCITO



Álvaro Ludgero Andrade - Voz da América

A Renamo desmente que as Forças de Segurança e Defesa tenham capturado ontem, 2, três guerrilheiros seus na província de Gaza, após um alegado incidente entre o exército e homens do partido de Afonso Dhlakama. Muchanga reage  assim a informações da Rádio Moçambique e do jornal Notícias, ambos públicos, de que guerrilheiros da Renamo tinham atacado uma base militar em Gaza.

António Muchanga, porta-voz da Renamo, diz que as Forças de Segurança e Defesa atacaram os guerrilheiros da Renamo com morteiros e bazucas mas que ninguém ficou ferido nem detido.

“Tudo não passa de propaganda do Governo e o comunicado foi forjado no Ministério da Defesa em Maputo e foi distribuído pelas províncias”, acusa Muchanga que ainda diz que um jornalista da Rádio Moçambique  foi colocado lá para simular que houve um ataque. “Entretanto, hoje, a voz do jornalista despareceu quando falava de guerrilheiros presos”, continua o porta-voz da Renamo.

Para aquele responsável, o Governo está a preparar um ataque aos homens que fazem a segurança do presidente da Renamo Afonso Dhlakama, bem como contra os seus guerrilheiros que se encontram em Gaza à espera da desmobilização.

António Muchanga avisa, no entanto, que a Renamo “vai reagir porque quem tinha a missão de morrer foi apenas Cristo”, apesar de reiterar que Afonso Dhlakama tem pedido aos seus homens para não reagirem “ às provocações da Renamo”.

Quem quer continuar a assegurar o crescimento e a continuidade do polvo em Portugal?




Passado e presente

A sociedade portuguesa está dependente do querer e saber de uma elite que enveredou pela bandalheira a partir de um consulado de um cavalheiro de triste figura: Cavaco Silva. São inúmeros os atores políticos, do empresariado e da banca, que vieram surgindo durante o consulado e primado de Cavaco, enquanto primeiro-ministro. Inúmeros envolvidos em escândalos de que não havia memória anteriormente. Talvez o mais mediático seja o caso BPN, mas outros há. Pela mão de Cavaco veio Isaltino Morais, o bepenista e esselenista Oliveira Costa e outros. A lista é fastidiosa.

Se assim aconteceu com Cavaco Silva no PSD também o PS não se pode vangloriar de não ter casos escabrosos no seu rol histórico de escândalos. Nem o CDS. Cada um dos partidos dos citados formou a sua própria escória elitista. Sem dúvida que o mais relevante foi o PSD a partir do momento da direção de Cavaco Silva. Cavaco que foi ao XII congresso da Figueira da Foz (Maio de 1985) para “fazer a rodagem a um automóvel novo” e que de lá saiu presidente do PSD sem contar com isso (disse ele nos seus ensaios de hipocrisia).

A partir daí, banca, banqueiros, economistas, gestores, advogados, empresários e todos que fossem da parceria laranja (PSD) ascenderam a uma elite inimaginável. O PS não ficaria atrás nesta hecatombe que traria às elites alguns dos maiores vigaristas nacionais. O CDS também formou a sua “escola”, pois não podia ficar atrás e perder terreno no grande terreiro da política e do dinheiro. Portugal ficou, com o andar de décadas, a ver prosperar meteoricamente, como que por milagre, alguns políticos, banqueiros e empresários e outros que tivessem aderido às cartilhas dos referidos partidos políticos.

Para os portugueses começaram então a chamar às permanências nos poderes partilhados alternância e partidos do arco da governação. Na realidade o que têm sido é partidos do arco da corrupção. Do compadrio. Dos conluios. Do nepotismo. Algo que se assemelha a organizações mafiosas. Sem contemplações da gente de bem e capacitada que ali milita. Aliás, usando essa mesma gente, dita de bem, como cobertura para as suas depravadas ações de puro banditismo. São tantos e a tal ponto que já lhes podemos chamar de polvo. Um polvo que tem trazido a desgraça e o empobrecimento a Portugal. Quem faz parte desse polvo já nem sabemos com exatidão. Ou melhor, são definidos por uma palavra: “eles”.

E tem sido assim, presos nos tentáculos deste polvo, que vimos bancos e banqueiros serem salvos pelos contribuintes. Roubando os contribuintes. Evidencias que são do conhecimento de todos os portugueses. Foi nesta teia que deparámos com o escândalo do BES/GES e “associados”. Outros há. São inúmeros.

Os portugueses são testemunhas e vítimas de uma classe política que a bordo dos partidos do Arco da Governação e da Corrupção se apoderaram dos poderes e fazem da população gato-sapato. Não tendo sequer o pudor de lhes mentir com quantos dentes têm e mais alguns suplementares. Foi, ainda recentemente, o que aconteceu com Cavaco Silva, atual detentor da Presidência da República - poderes que lhe foram conferidos eleitoralmente para que a dignificasse. Cavaco faz o contrário. No caso BES é flagrante o descaramento com que usa palavras e falsas declarações que prejudicaram diretamente portugueses que acreditaram nele. Disse ele, durante a visita que fez a Seul, Coreia do Sul, que podíamos confiar no BES. O que levou portugueses a investir para agora andarem a protestar por se sentirem roubados.

Mas Cavaco não se ficou por aí neste episódio. Posteriormente, porque era referenciado pela comunicação social como tendo declarado falsidades em Seul, veio declarar que os jornalistas nunca o tinham ouvido dizer que o BES era de confiança. Outra mentira. Desmentiu, mentindo, o que havia afirmado em Seul acerca do BES. A comprovar existem gravações áudio e vídeo dessas declarações.

Cavaco é efetivamente um presidente da República escabroso, que evidencia a sua falta de respeito e consideração pelos portugueses, não se refutando a mentir, sabendo que mente. A malignidade para a República reside em Cavaco como doença que urge estirpar. Para mal do país ainda falta cerca de um ano para terminar normalmente o mandato. E Cavaco evidencia falta de vergonha. Faça o que fizer de prejuízo para a República Portuguesa não se demitirá. É como lapa agarrada ao poder. Como comandante de navio mal orientado e governado que está prestes a afundar-se devido à sua conduta mas que não larga o leme, preferindo que o navio se afunde e leve tudo e todos para o fundo. Como esse navio metafórico, Cavaco prefere manter-se no poder e navegar no mar da indignidade.

Para mal maior Cavaco não está sozinho naquele-neste mar de indignidade. A seu lado e em parceria seguem no tombadilho dos poderes a almejada e conseguida maioria que assegura a fórmula “uma maioria, um governo, um presidente”.

Deputados e governo da maioria pertencem à mesma estirpe maligna de Cavaco. É o contágio absoluto que grassa nos poderes políticos e outros em Portugal, fruto da referida fórmula tão ambicionada. Que foi conseguida através de enormes mentiras eleitorais. Mentiras que a toda hora podemos revisitar nos registos vídeo-gravados das páginas sociais da internete.

Através dessas revisitações podemos aquilatar minimamente quanto os portugueses foram enganados e por que motivos Portugal está como está. Na miséria material, moral e democrática. Nas mãos de uma máfia que se veio apoderando do país ao longo de décadas, quase sempre mentindo, desbaratando os bens públicos e roubando.

Futuro

Dentro de poucos meses, em Setembro ou Outubro, os portugueses vão às urnas de voto para as eleições legislativas. Daí poderá sair novo governo, ou não. Não sairá novo governo se forem novamente eleitos os partidos do chamado Arco da Governação – e da corrupção, acrescente-se. Então acontecerá mais do mesmo. Os poderes democráticos serão entregues mais uma vez, pelos portugueses eleitores, aos partidos da súcia de políticos e partidos que vieram conduzindo o país ao descalabro, mentindo e roubando.

É assim mesmo que irá acontecer se os votos dos portugueses permitirem que a continuidade deste regime putrefacto. Em que vimos alguns enriquecerem como que por milagre e outros serem condenados à exploração desenfreada só pelo facto de serem trabalhadores a quem retiram os seus direitos. Incluindo o direito a terem um emprego, uma habitação, uma família, saúde, educação, liberdade na mobilidade, etc. Esses direitos correspondem a algumas das conquistas de Abril de 1974, muitas mais houve. Direitos que agora foram – ou estão a ser – retirados.

Dependendo de como os portugueses votarem nas próximas eleições legislativas assim será assegurado melhor ou pior futuro. Os partidos do Arco da Governação não são a solução mas sim o problema. Mas sim os carrascos dos portugueses e de Portugal. Quase quatro décadas depois foi o que provaram. Quem pode, assim, entregar-lhes novamente os poderes de governarem e legislarem? 

Quem é que vai querer continuar a assegurar o crescimento e a continuidade do polvo?

Portugal - Serviços Secretos. PCP acusa maioria de travar esclarecimento sobre escutas




O PCP acusou hoje PSD e CDS-PP de travarem o esclarecimento sobre denúncias de escutas ilegais por parte dos serviços secretos, admitindo que há prova documental indiciando este tipo de práticas inconstitucionais e do foro criminal.

António Filipe, deputado do PCP e vice-presidente da Assembleia da República, assumiu esta posição à agência Lusa em reação à divulgação de indícios de que os serviços de informações nacionais recorrem com frequência à prática ilegal de escutas.

"Há algum tempo que têm surgido denúncias concretas de que os manuais pelos quais os agentes são instruídos incluem a faculdade de escutas, o que é ilegal, inconstitucional e inclusivamente constitui um ilícito criminal. O Conselho de Fiscalização dos Serviços de Informações da República Portuguesa (CFSIRP) foi confrontado com isso, mas desvalorizou a questão. No entanto, o fumo começa a ser muito intenso e, como se costuma dizer, não há fumo sem fogo e importa esclarecer cabalmente este assunto", defendeu António Filipe.

O deputado do PCP exigiu por isso que o CFSIRP "preste mais esclarecimentos" e que a maioria PSD/CDS-PP "deixe de ter a atuação lamentável de continuar a obstaculizar o conhecimento destas questões".

"O PCP pediu a audição do secretário-geral do SIRP [Rui Pereira] e do conselho de fiscalização [órgão presidido pelo deputado social-democrata Paulo Mota Pinto] para esclarecer acusações deste tipo feitas no âmbito do processo judicial que envolve o ex-diretor do SIED (Serviço de Informações Estratégicas e de Defesa) Jorge Silva Carvalho, mas foi rejeitado. Estamos neste momento confrontados com dois casos graves: As acusações concretas feitas aos serviços de informações, com a apresentação de prova documental; e os obstáculos da maioria PSD/CDS para que o parlamento exerça os seus poderes de fiscalização", acusou António Filipe.

Confrontado com a possibilidade de o parlamento estar apenas perante uma alegada vingança de ordem pessoal de um ex-quadro superior das "secretas", o deputado do PCP contrapôs que, "independentemente das motivações que possam estar na origem das denúncias, a questão de fundo é saber se há ou não práticas ilegais por parte dos serviços de informações".

"Caso se demonstre que os serviços de informações cometem ações ilegais, designadamente escutas ou interceções telefónicas, têm de ser apuradas responsabilidades, inclusivamente do foro criminal", defendeu o vice-presidente da Assembleia da República.

Questionado se o PCP pode aceitar escutas pelos serviços de informações em situações limite para proteger a segurança nacional, António Filipe respondeu: "Pelo que se diz, meios de escuta toda a gente pode ter, assim como toda a gente pode ter meios para cometer crimes".

"A Constituição e a lei portuguesa são muito claras em especificar que apenas as autoridades com competência para a investigação criminal podem utilizar a escuta telefónica. Não podemos abdicar de combater uma devassa incontrolada sobre a generalidade dos cidadãos", frisou.

Para António Filipe, "o mecanismo de fiscalização em Portugal não é adequado e já está demonstrado que o CFSIRP não tem condições para fiscalizar aquilo que deve, andando sempre a correr atrás do prejuízo".

"A Assembleia da República tem de ter poderes diretos de fiscalização dos serviços de informações, não através de um conselho de fiscalização refém de uma maioria parlamentar. Os conselhos de fiscalização são sistematicamente reféns de uma maioria alargada PSD, PS e CDS. Esta é uma situação anómala do regime democrático", sustentou.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. DURO CAMINHO



Paula Ferreira – Jornal de Notícias, opinião

1 - Um novo capítulo se abre no caminho que nos levará até às eleições legislativas. António Costa deixou ontem, formalmente, a presidência da Câmara Municipal de Lisboa. É candidato a primeiro-ministro. A partir de agora, terá de clarificar as águas, avançar as propostas para desviar Portugal do caminho austeritário. Não é um programa de governo que é pedido ao líder socialista. António Costa deverá gerir, em plena liberdade, os seus tempos. Mas convém mostrar, ponto por ponto, o que pretende para o país, se for eleito primeiro-ministro. Pede-se, pois, clareza no discurso. Sem rodeios, deverá esclarecer os portugueses sobre a sensível matéria das coligações. Quem aceita como parceiros, no caso de não haver maioria absoluta? Ou melhor: com quem não admite coligação?

O ex-presidente da Câmara de Lisboa não pode continuar a refugiar-se em respostas evasivas, que deixam quem o ouve sem saber as ideias concretas do candidato a primeiro-ministro de um país saído de um programa de resgate. De um país esvaído. A política, a tão maltratada arte da política, carece de protagonistas que digam claramente ao que vêm. Não há mais, assim nos parece, lugar a palavras que deixam espaços opacos: para tarde, se necessário for, afirmar tudo e o seu contrário.

É um desafio enorme, o de António Costa. José Sócrates está preso e a figura do ex-primeiro-ministro socialista pairará. Não haja ilusões. Se Sócrates serviu de desculpa, de bode expiatório, para todos os problemas do país, desde que o Governo Passos Coelho tomou posse, a trégua não surgirá durante a campanha - que se adivinha dura, muito dura.

2 - Parece uma anedota. Mas não é. Na recontagem dos votos nas eleições da Madeira, um erro do sistema informático da Comissão Nacional de Eleições esqueceu os sufrágios da ilha de Porto Santo. Este é o país dos erros informáticos e dos esquecimentos. Durante duas horas, o PSD perdia a maioria absoluta, a CDU ganhava mais um deputado. Fica para o anedotário, sem dúvida. Grave é a denúncia - feita pelos comunistas - de erros de contagem em várias mesas de votos. A falta de confiança no sistema eleitoral numa região governada décadas em maioria absoluta cresce desmesuradamente. Da esquerda à direita, por um motivo ou outro, todos os partidos desconfiam - recorrem ao Tribunal Constitucional.

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Longa vida ao provocador – Manuel de Oliveira, por David Pontes

Portugal. COSTA ARRANCA COM CAMPANHA DO PS DEPOIS DA PÁSCOA




Depois de na semana passada ter posto fim à sua ligação com a Câmara Municipal de Lisboa, o líder socialistas vai começar, formalmente, a defesa política das suas ideias.

O pontapé de saída na campanha para as legislativas, dá conta o Expresso, será dado esta segunda-feira pelo Partido Socialista.

Segundo explica o semanário, depois de António Costa se ter desvinculado da Câmara Municipal de Lisboa vai abrir o combate político, com o foco posto na necessidade de apresentar os portugueses as suas ideias para o país.

“A campanha começa segunda-feira”. Confirmou, de forma perentória, um destacado socialista ao Expresso.

Segundo é explicado, o calendário para os próximos tempos já estará definido, sendo que o secretário-geral ‘rosa’ dividirá o seu tempo entre plenários e sessões de esclarecimento por todo país. O arranque deverá ocorrer em Setúbal, já na terça-feira.

O programa, esse, só deverá ser apresentado a meados do mês, dias antes da celebração do 42 anos da revolução de abril.

Notícias ao Minuto

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A GUERRA CIVIL ÁRABE



Thierry Meyssan*

Retomando um tema que havia já abordado, Thierry Meyssan mostra que, para lá das estratégias dos Estados, os povos do mundo árabe se dividem agora por dois campos, que não são nem determinados por conflitos de classe, nem pela Resistência ao sionismo, nem mesmo por guerras de religião. O enfrentamento, que está em vias de se generalizar com o bombardeamento do Iémene pela Arábia Saudita, fez surgir uma clivagem social que ninguém esperava : dois novos campos emergem à volta da questão dos direitos das mulheres.

O ocidente aplaude o bombardeio do Iémene (Iêmen-br) pela Arábia Saudita e a tomada de Idleb pela al-Qaida. Ora, oficialmente, a al-Qaida seria uma organização terrorista anti-saudita responsável pelos atentados do 11-de-Setembro. O que é que mudou, pois, para fazer repassar os discípulos de Osama bin Laden para o lado dos «combatentes da liberdade», como antigamente quando eles lutavam contra os Soviéticos no Afeganistão, pela simples alegação de que eles tomaram Idleb à Síria, de Bashar al-Assad?

A realidade no terreno confirma, infelizmente, o que eu escrevi, nestas colunas, há duas semanas: a loucura assassina que tomou conta do conjunto do mundo árabe nada tem a ver nem com as classes sociais, nem com clivagens ideológicas, nem com sensibilidades religiosas. Desde há quatro anos, um grande número de pessoas se reposicionaram e mudaram de campo. Pouco a pouco as coisas sedimentam e uma nova linha de separação aparece, sem que as populações tenham consciência disso.

Nos anos 50, o mundo árabe estava dividido entre pró-Americanos e pró-Russos. Durante os anos 90, ele estava dividido entre pró-Israelitas e Resistentes. Mas, a lógica dos interesses de Estado foi quebrada por George W. Bush e Dick Cheney em proveito dos interesses das companhias petrolíferas. Actualmente, nós recolhemos os frutos da política de Barack Obama.

Estamos a assistir a uma explosão de violência dos partidários da poligamia contra os dos direitos das mulheres. As monarquias árabes e os Irmãos Muçulmanos defendem uma sociedade dominada pelos homens, enquanto o Irão (Irã-br) e os seus aliados defendem uma sociedade nova, na qual os homens e as mulheres são senhores da sua fecundidade e iguais em direitos. Pode-se virar e revirar os factos em todos os sentidos, não há mais quase nenhuma outra clivagem entre os dois campos.

Opõem-se duas visões diferentes do mundo.

Que têm os alvos do Ocidente : Zinedine Ben Ali (Tunísia), Hosni Moubarak (Egipto), Mouamar el-Kadhafi (Líbia), Bachar el-Assad (Síria), Nouri al-Maliki (Iraque), o xeque Ali Salman (Barein), Abdul-Malik al-Houthi (Iémene) em comum ? Nada, a não ser que todos eles lutaram contra a poligamia. Que têm em comum os protegidos do Ocidente: os Estados membros do Conselho de cooperação do Golfo e os Irmãos muçulmanos ? Todos eles são favoráveis à poligamia.

É apenas, hoje em dia, a única linha de clivagem que divide o conjunto do mundo árabe, com excepção do Iraque e do Egipto. No primeiro, os Estados Unidos ainda não escolheram claramente os seus parceiros. Oficialmente, eles apoiam Haider al-Abadi contra o Daesh (Exército islâmico- ndT), mas a imprensa iraniana e iraquiana tem provado que eles fazem um jogo duplo, e, têm fornecido, voluntariamente, armas ao Daesh e mataram soldados iraquianos. Quando ao segundo estado, o presidente al-Sissi hesita ainda entre a sua concepção pessoal, favorável aos direitos das mulheres, e a do seu patrocinador saudita, cujo dinheiro é indispensável à economia deste país em falência.

Anos de propaganda taparam-nos olhos.

Achamos, erradamente, que os códigos de vestuário iranianos são equivalentes aos dos sauditas. No entanto, no Irão, as mulheres tornaram-se donas da sua fecundidade desde os primeiros anos da Revolução — isto é, antes das mulheres da maior parte dos Estados europeus—, Elas são muito mais numerosas nas universidades do que os homens e exercem funções nos mais altos cargos. Pelo contrário, na Arábia Saudita elas não têm nenhum direito por si próprias.

Achamos, erradamente, que o mundo muçulmano está dividido entre sunitas e xiitas, que se dedicam a travar uma guerra sem quartel. Ora, no Iémene, os Hutis, é certo largamente maioritários a nível nacional, não teriam conseguido tomar Sanaa, nem Áden, sem o apoio de uma poderosa força sunita, maioritária nestas duas cidades. E aqui, na Síria, o Exército Árabe Sírio, apoiado pelo Irão contra os takfiristas, é composto por mais de 70% de sunitas.

Pode-se ficar incrédulo ao observar que a primeira realização da «revolução» tunisina —antes mesmo de qualquer reforma legislativa—, foi a de organizar o regresso de Rached Ghannouchi, um Irmão Muçulmano, que propôs, logo após a sua chegada, o restabelecimento da poligamia.

Pode-se ter ficado estupefacto, quando se viu membros do Baath(partido laico de índole socialista- ndT) sírio virarem-se contra o Estado, ou, ainda, comunistas iemenitas virarem-se contra o seu partido, e todo o conjunto se juntar à al-Qaida. Mas, basta, no entanto, observar as suas famílias para compreender porque eles mudaram de campo.

E, que dizer dos vencedores da Líbia anunciando o restabelecimento da lei da Charia?

Estes exemplos, surpreendentes, são frequentes, mas as passagens do campo pró para o campo anti-Ocidental são muito mais numerosas.

Como sempre, as potências coloniais aliaram-se ás forças que não poderiam triunfar sem a sua ajuda, neste caso os partidários de um mundo do passado. Bem entendido, os Estados Unidos não anteciparam as consequências das suas escolhas. Os seus estrategas pensaram unicamente nos seus interesses, imperialistas, de curto prazo. Hoje em dia, eles surfam sobre as ondas da violência que provocaram, mas que os ultrapassam como elas ultrapassam as populações atingidas.

Ninguém poderá apagar o fogo que abrasa o mundo árabe, porque este mudou muito depressa. Ninguém consegue escapar à questão dos direitos das mulheres.

O Ocidente iniciou a produção industrial de preservativos em 1844, mas foi preciso esperar até à epidemia da SIDA (AIDS-br), um século e meio mais tarde, para que todos os Estados ocidentais autorizassem a sua publicidade. O diafragma foi inventado em 1880 e o DIU popularizou-se nos anos de 1930, enquanto a pílula anti-conceptiva surgiu na década de 1950.

O controle da fecundidade transformou profundamente a vida dos casais heterossexuais. O casamento combinado, que era a norma no Ocidente até a Primeira Guerra Mundial, deu lugar ao casamento por amor após a Segunda Guerra Mundial. Consequentemente a sociedade aceitou a homossexualidade, que era descrita, anteriormente, como «contra-natura», muito embora ela seja atestada em todos os mamíferos estudados e nalgumas aves [1].

Voltando atrás, desde o Maio de 68, as sociedades ocidentais, sob a influência da «sociedade de consumo», generalizam actualmente os divórcios múltiplos. Não são, mais, apenas as mulheres, mas os dois sexos que são considerados como produtos de consumo e material descartável. Pela primeira vez, na história da humanidade, a poligamia torna-se um facto de sociedade, mas espaçado no tempo. Pode-se ter tantas esposas ou maridos quanto possível, desde que eles se sucedam uns aos outros.

Simultaneamente, as feministas, que ontem lutavam para libertar as mulheres, hoje em dia encarniçam-se, muitas vezes, em fechá-las novamente, mas em papéis masculinos. Elas afirmam que os dois sexos, muito embora sejam diferentes um do outro, são absolutamente idênticos e negam a existência de pessoas inter-sexos (num caso em cada 700, pessoas tendo órgãos genitais femininos não são portadoras de cromossomas XX mas XXY, num caso em cada 20. 000, são portadoras de cromossomas XY, portanto supostamente do sexo masculino) [2]. É esta visão do mundo que incarna, nos EUA, a advogada feminista Hillary Clinton, tornada secretária de Estado e grande comanditária das «primaveras árabes». Esta ideologia impõe-se em França com o Partido socialista, e, os seus conceitos de «casamento para todos» e de «paridade» : nas últimas eleições nenhum cidadão podia concorrer sozinho. Foi forçado a formar um «par» com outro cidadão do sexo oposto legal.

Aquilo que o Ocidente experimentou, com dificuldade, em quase dois séculos, conheceu o mundo árabe numa única geração.

Se, de um modo geral, os partidários da Arábia Saudita são muçulmanos sunitas, enquanto os do Irão pertencem a todo o tipo de comunidades religiosas, há muitas excepções que não se explicam senão pela sua atitude face à contracepção.

No século XIX, as igrejas cristãs opuseram-se violentamente à contracepção. Em 1958, o Papa Pio XII condenava a pílula, enquanto em 2015 o Papa Francisco enaltece a «paternidade responsável» e denuncia os cristãos que «se reproduzem como coelhos». Há pouco anos ainda, a Igreja Católica ensinava que a homossexualidade era um pecado contrário ao «plano de Deus», enquanto o Papa Francisco declara agora que ele não pode condenar os homossexuais.

No entanto, a evolução de mentalidades não acabou ainda, uma vez que muitos cristãos consideram ainda o aborto, durante as primeiras semanas de gravidez, um assassínio quando mesmo São Tomás de Aquino, no século XIII, demonstrou que um feto de algumas semanas não poderia ser um ser humano. E, o apoio trazido por alguns jovens muçulmanos ocidentais ao Daesh atesta que a batalha da «paternidade responsável» ainda não está ganha na Europa.

Desde há quatro anos que eu analiso as estratégias dos Estados face ás «primaveras árabes», assim, actualmente eu constato que os povos não obedecem mais aos que os manipulavam. As gentes são movidas por uma outra força, mais poderosa ainda, que os domina para além da sua vontade, e os enlouquece.

Quem sabe se não poderíamos reler a nossa própria história à luz do que se passa hoje em dia no mundo árabe. Nós constataríamos, então, com o mesmo espanto que, durante a II Guerra Mundial, os Aliados (Reino Unido, França Livre, União Soviética, Estados Unidos) foram sacudidos por movimentos feministas e atribuíram responsabilidades às mulheres, no momento em que os seus homens morriam em combate. Enquanto as potências do Eixo (Alemanha, Itália, o Estado francês, Japão) interditavam, estritamente, a contracepção e persistiram apesar da necessidade em manter as mulheres longe de qualquer acção.

Thierry Meyssan - Tradução Alva - Rede Voltaire

Na foto: Símbolos da luta de Mouamar el-Kadhafi contra os islamistas. O Líder líbio rodeara-se de guarda-costas femininas. No entanto, depois de o ter linchado e enterrado, a Otan justificava o seu crime, para as opiniões públicas ocidentais, «revelando» que as amazonas não passavam de prostitutas às mãos de um predador sexual. Esta propaganda foi espalhada através de um livro, baseado, apenas, num único testemunho, o da «jornalista» do Le Monde, Annick Coljean.

Notas
[1] A dificuldade reside no facto que, durante séculos, os pesquisadores ocidentais não definiram a sexualidade animal senão como um comportamento reprodutivo, ainda que Aristóteles tenha observado pares homossexuais de hienas e perdiz. Desde os anos 90, numerosos estudos foram realizados em mais de 1500 espécies. Encontram-se resultados completamente diferentes, se se toma em conta a parada nupcial, afecto, união e educação familiar. Biological Exuberance : Animal Homosexuality and Natural Diversity (Exuberância Biológica: Homossexualidade Animal e Diversidade Natural – ndT), Bruce Bagemihl, St. Martin’s Press (1999). Em 2006, a Universidade de Oslo organizou uma exposição notável, Against Nature ? - an exhibition on animal homosexuality (Contra Natura ? - uma exibição sobre homossexualidade animal -ndT), fazendo um balanço da questão. Este trabalho levou a um novo debate sobre a teoria da evolução, cientistas como Joan Roughgarden elaboraram o conceito de «seleção social» para substituir a de «seleção pelo sexo». Evolution’s Rainbow : Diversity, Gender and Sexuality in Nature and People (Evolução do arco-íris: Diversidade, Género e Sexualidade na natureza e Humanos- ndT), University of California Press (2004).

[2] Há uma quantidade muito grande de casos distintos que vão de uma parte de pessoas tendo características biológicas dos dois sexos sem que ninguém possa dizer com certeza a qual dos sexos pertencem até, por outro lado, pessoas cujo cariótipo não corresponde à aparência física. A única coisa clara é que alguns seres não são nem exactamente homens, nem exatamente mulheres .

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

QUE O POVO GOVERNE. AÍ É QUE ESTÁ A DIGNIDADE



Red Roja

Mais uma vez exigimos que os que causaram a crise paguem por ela 

Uma dívida impagável nos esmaga, nós, que sofremos todos os dias a mais insuportável insegurança no trabalho; a privatização e o desmanche da saúde e da educação; o adiamento da idade mínima para aposentadoria; o fim da ajuda para dependentes; e nossos milhões de desempregados que valem menos que nada, para os que estão no poder.

As medidas de austeridade e os cortes estão sendo usados para pagar uma dívida que foi gerada para salvar a gangue de banqueiros, grandes empresários e seus vassalos na Assembleia Nacional, que jogam xadrez com nossa vida.

Além de encherem os bolsos com o nosso sofrimento, essa gente espera que baixemos a cabeça e, em silêncio, nos deixemos matar. É o que nos recusamos a fazer.

Não estamos absolutamente nem perto de satisfeitos com só ouvir falar de "reestruturação" ou "auditorias" da tal dívida. Não podemos nos deter em meias medidas, quando nossa vida está em jogo, quando não cabe já dúvida alguma de que essa dívida é a causa direta dos despejos criminosos, do desemprego sem fim e do recuo até nos passos modestos que já haviam sido tomados contra a violência doméstica que condena tantas mulheres ao terror e sofrimento diários e à morte.

Decidir "Não ao pagamento da dívida" não é 'encaminhamento técnico'. É ação que o povo pode tomar, para fazer valer o direito de decidir sobre a própria vida.

Em tempos como os que vemos hoje, é compreensível que tantos ainda se iludam com a esperança de que alguma eleição traga alguma "vitória", que possamos "derrubar o Partido Popular [da direita]" ou "nos livrar do estrato mais rico". Mas é preciso mais que eleições.

Ninguém dos envolvidos em novas iniciativas eleitorais está falando contra as leis nacionais e europeias que obrigam, antes de qualquer outra medida, a pagar essa dívida ilegítima e criminosa. Não basta qualquer boa vontade. Não basta que um outro seja honesto.

Prova disso é que a vitória do SYRIZA na Grécia não conseguiu impedir nenhuma das medidas que a Troika [Comissão Europeia, FMI e Banco Central Europeu] tomou contra o povo grego. Logo se vê quem manda na Grécia: é a ditadura da União Europeia. Essa 'democracia' não passa de fantasia, de ilusão.

De fato, nem mesmo essa manifestação, embora necessária, é suficiente. Não basta nos juntarmos e declararmos que queremos "Pão, Trabalho e Habitação" – coisas que só serão possíveis depois de já termos decidido não pagar a dívida assassina –, ou fazer uma grande e bela manifestação de dignidade.

Como já se viu na Grécia, como se vê todos os dias nas ruas, banqueiros e grandes empresários não desistirão de encher os próprios bolsos com a nossa boa vontade.

Temos de nos unir, organizar os bairros, as vilas, as cidades, nas empresas e nas escolas e atacarmos todos juntos, num só golpe, todos ao mesmo tempo.

Temos de unificar nossas lutas, só o povo unido, só o povo que trabalha e sofre junto, e organizado para lutar junto, conseguirá impor políticas que trabalhem a nosso favor.

Votar não basta. O povo tem de se organizar. Porque o direito de mandar é direito exclusivo do povo organizado. E então, sim, conseguiremos viver com dignidade.

O original encontra-se em redroja.net/... e a tradução em www.tlaxcala-int.org/article.asp?reference=14428 (com pequenas alterações).

Este comunicado encontra-se em http://resistir.info/
 

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