Há
vários indícios de que Portugal é uma das plataformas de uma alegada rede
internacional de tráfico de menores e de mulheres. Recentemente, as autoridades
descobriram em Lisboa duas crianças angolanas maltratadas.
Na
Amadora, distrito de Lisboa, onde vive uma grande comunidade de imigrantes
africanos, há habitantes que ignoram a existência de tráfico de crianças com
origem em Angola.
Alguns
cidadãos interpelados pela DW África no centro da cidade, entre os quais a
jovem Ângela, que espera pelo seu primeiro filho, diz desconhecer o fenómeno no
concelho. "Não sabia da sua existência aqui na zona, mas sei que existe
tráfico de crianças, não só em Portugal. É preocupante."
O
taxista Gaspar, atento ao que se passa à sua volta, já tinha ouvido a notícia
do tráfico de crianças, crime que condena.
Buscas
na Amadora
Há
pouco mais de uma semana, as autoridades portuguesas encontraram duas crianças
em moradas diferentes, na Amadora, que eram maltratadas fisicamente por
supostos familiares. A busca teve lugar com o auxílio da polícia local e da
escola frequentada pelas crianças, no âmbito de uma investigação a crimes de
tráfico, bem como de auxílio à imigração ilegal e falsificação de documentos.
De
acordo com um comunicado emitido pelos Serviços de Estrangeiros e Fronteiras
(SEF), as crianças haviam sido traficadas de Angola para Portugal com recurso a
documentos falsos. Contactado na semana passada pela DW África, o SEF declinou
fornecer mais detalhes sobre a operação, remetendo-nos para o referido
comunicado, com data de 19 de março.
"As
crianças são por vezes trazidas e acompanhadas por pessoas que às vezes nem
familiares são", conta Armando Leandro, juiz conselheiro da Comissão
Nacional de Proteção das Crianças e Jovens em Risco (CPCJR), que acompanha
casos como este com atenção e preocupação.
Normalmente,
a Comissão atua protegendo imediatamente a criança, sempre que a sua
integridade física está em perigo, encaminhando depois o caso para o Ministério
Público, explica o juiz.
Após
intervenção da CPCJR na Amadora, as duas crianças angolanas foram de imediato
retiradas dos locais de risco e colocadas em instituições afins através da
intervenção da comissão de proteção da criança e jovens da Amadora.
Rede
internacional de tráfico
Mães
ouvidas pela DW África no referido concelho querem que a investigação apure a
veracidade destes crimes e que os seus responsáveis sejam punidos. Opinião que
é reforçada pelo taxista Gaspar. "Deve ser mesmo combatido a todos os
níveis", sublinha.
Nos
últimos quatro anos, foram sinalizadas cerca de 93 crianças vítimas de tráfico,
com origem em países terceiros.
Em
maio do ano passado, as autoridades policiais e judiciais portuguesas já
investigavam os indícios de existência de uma rede internacional de tráfico com
origem em África, depois da detenção no aeroporto Francisco Sá Carneiro, no
Porto, de um cidadão angolano que se fazia passar por pai de três crianças. O
homem era suspeito de tráfico de menores, falsificação de documentos e apoio à
imigração ilegal.
Na
foto: Bairro 6 de Maio, na Amadora, onde vive uma grande comunidade de
imigrantes africanos
João
Carlos (Lisboa) – Deutsche Welle
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