quinta-feira, 23 de abril de 2015

A CONSTRUÇÃO DO FUTURO



Rui Peralta, Luanda

Automação

I - A expressão "novas tecnologias" obteve, na linguagem corrente, um estatuto que,  com o objectivo de camuflar intenções (fazer passar gato por lebre numa ementa de coelho) ou por mera inadvertência e/ou superficialidade comportamental, a "mistifica", tornando-
a uma realidade presente (que no actual contexto macroeconómico mundial ainda não é) ou uma utopia longínqua (o que leva a esquecer ou ignorar algumas realidades microeconómicas, tanto empresariais, como regionais ou mesmo "espaciais", uma vez que existem realidades organizacionais que estão para além da empresa ou da "região", localizadas em espaços específicos, virtuais, académicas ou mesmo individuais).

Nas "novas tecnologias" nem tudo é "novo" e nem sempre é tudo "tecnologia". Por exemplo: uma comunidade rural africana pode, utilizando os tradicionais métodos da agricultura de subsistência, aumentar a sua produtividade e diversificar a sua produção,  sem inovar ferramentas ou utensílios, optando por uma maior integração no ecossistema. Ou, ainda a titulo de exemplo, conseguir excedentes através do sistema de trocas. Existiu, assim, um processo de inovação, que ou através do aumento de produtividade ou da diversificação, ou pela alteração de correspondência da troca (o que implica alteração do valor), sem qualquer processo tecnológico inovador (mas inovando processos de integração ambiental ou de comercialização).

Se atendermos ao conceito "novas tecnologias" de forma analítica observaremos que esta expressão cobre uma vasta gama de actividades onde se relativiza o "novo" (atendível ao contexto presente) e a "tecnologia". Por um lado encontraremos um conjunto de dispositivos tecnológicos de automatização industrial, a meio caminho a informatização do comércio e serviços, no outro extremo simples adequações como a descoberta do fogo, o boomerang ou a alavanca. Muitas das vezes o "novo" não se refere á tecnologia, mas á sua aplicação, assim como em alguns casos tecnologias inovadoras são consideradas "remodelações" de tecnologias anteriores (o caso de algumas máquinas-ferramentas, ou do micro-ondas ou do conceito telemóvel em relação ao telefone fixo, ou das inúmeras variações em torno do conceito telemóvel).

No final nem tudo é tão "novo" nem tão "tecno"...em muitos casos a inovação reside na aplicação ou na simples percepção de pormenores do mundo que nos rodeia...

II - Os sistemas de automatização da produção industrial - que numa concepção e conceptualização sincrética toma a designação de “automação” - têm como alicerce a ideia-base de todo e qualquer dispositivo automático: funcionar correcta e eficazmente sem intervenção humana. Esta ausência do "factor humano" reside, obviamente ao nível da execução e da acção e não da concepção (embora os mecanismos de automação de IV Geração já se imiscuem na concepção, os de V Geração já executem princípios de concepção e os de VI Geração possam vir a executar grandes parcelas de trabalho conceptual. É provável que a VII Geração seja absolutamente auto-reprodutora, o que implica profundas alterações no modus económico, social e organizacional das sociedades humanas).

Existem automatismos antigos e rudimentares, em muito anteriores à eletrónica, como o "piloto automático" dos navegadores solitários (uma vela pequena acoplada ao leme mantem a embarcação no rumo pretendido) ou o regulador da máquina a vapor de Watt. De qualquer forma pode-se descrever sucintamente um sistema automático utilizando os factores chave: ordem (exterior ao sistema); execução; efeito; controlo e correção. Ou seja, recebida a ordem (ou programa) o sistema executa-a, originando determinados efeitos (produtos). Depois entram em acção as características fundamentais do automatismo: a verificação do produto (controlo), efectuada pelo sistema e em caso de desvios, a correção, desencadeando acções que asseguram a observância da programação.
Os sistemas automáticos actuais configuram um salto qualitativo em relação aos anteriores, salto efectuado quando passaram a contar com a contribuição de elementos eletrónicos e com os tecno-factores miniaturizados (chips, nanotecnologia, etc.), em simbiose (por enquanto, mas com perspectivas radicalmente diferentes que originarão a sua substituição) com os elementos mecânicos, elétricos e pneumáticos dos sistemas tradicionais.

III - Qual a relação - e a distinção - entre uma máquina automática e uma não  automática? Podemos chegar a dois grupos de respostas; 1) existe uma continuidade e uma sequência dos sistemas técnicos, em sucessivas e diferentes gradações e gerações. Esta resposta desvaloriza a "novidade" dos automatismos em relação aos sistemas mecânicos tradicionais, apontando, antes, para uma evolução em continuidade dos sistemas. 2) Os sistemas evoluem em "saltos", gerando rupturas entre cada uma das fases, sendo a nova situação uma ruptura com a anterior.

Atendendo a que os progressos da automatização no meio industrial incidem: a) nas movimentações dos produtos em laboração; b) nos sensores que observam e leem os resultados e que possibilitam as autocorreções; c) nas unidades de tratamento das informações (computadores) onde são introduzidos os programas; d) nos comandos á distancia; e) na flexibilidade, integração, simultaneidade e fluidificação dos processos produtivos; temos assim um complexo de factores e circunstancias, de cenários e contextos, que giram em torno de infinitas variáveis e de pouquíssimas constantes (sendo que estas são determinados por factores variáveis) onde torna-se implícita a racionalidade das duas respostas acima descritas.

É na continuidade de um sistema que o progresso lança as suas prerrogativas. Mas esta continuidade dinâmica gera contradições, que tornam-se incontornáveis quando um sistema perde eficácia e/ou torna-se ineficaz. Surge então a ruptura com a situação anterior. As contradições parem as novas situações, geradas pelas rupturas com as situações anteriores. A continuidade só existe na eficácia. Com a ineficiência as rupturas tornam-se inevitáveis e geram os "saltos", que conduzem a uma nova situação.

IV - Para o aumento da produtividade e melhorias da qualidade dos produtos contribuíram, também, outros progressos tecnológicos que, embora distintos, combinaram-se com os processos de automatização, ao ponto de serem deles inseparáveis.

Estes avanços tecnológicos que entrelaçaram-se com a automação formam 4 agrupamentos: 1) novos materiais (como as matérias sintéticas); 2) novas formas de energia e novas formas de utilização da energia; 3) novos procedimentos técnicos (como o uso do laser ou da bioquímica); 4) novos campos de aplicação (por exemplo: a engenharia genética, exploração dos recursos do espaço cósmico, etc.).

V - Quanto às aplicações mais correntes, na actualidade, verificam-se principalmente em dois grupos: a) indústrias de processo (o sector químico, tratamentos de fluidos, etc.), em particular no controlo geral do sistema de produção e no comando á distância dos diversos segmentos do sistema; b) nas indústrias de formas (metalo-mecânica, agregação, etc.), em particular as máquinas-ferramentas automáticas ou transfert e de comando numérico, os robots e os autómatos programáveis, os sistemas CAD/CAM e de fabricação flexível e integrada (FMS e CIM).

As máquinas-ferramentas automáticas executam operações complexas, para as quais foram previamente reguladas, enquanto as máquinas-transfert são conjuntos de máquinas-ferramentas automáticas que caracterizam-se pela forma como processam simultaneamente as várias ferramentas ("cabeças de trabalho") e pela deslocação automática entre as sucessivas "estações de trabalho". Quanto às máquinas-ferramentas por comando numérico (CN, CNC e CND) não passam de "máquinas tradicionais" comandadas por computador.

Já os robots e os autómatos implicam processos de "meta-automação" (por isso serão tema do próximo texto). Embora na prática (e na linguagem corrente, jornalística, que caracteriza a superficialidade dos tempos que correm) estes dois diferentes conceitos sejam confundidos, eles referem coisas diferentes. O robot  (derivado dum termo russo que significa "trabalhador") cumpre, de forma cega, as ordens recebidas. Pode ser polivalente, é "incansável" mas não é "inteligente". Quanto ao autómato, este tem "memória", "aprende com a experiencia e pode ser autónomo.

Por fim temos graus mais complexos de interpenetração entre as máquinas-ferramentas automáticas, robots, sistemas de stockagem e movimentação dos produtos, sistemas logísticos, de controlo de qualidade (e quantidade) e os computadores (onde se realizam programas, controlos, projectos, gestão de processos, etc.). É o caso da concepção assistida por computador (CAD), da fabricação assistida por computador (CAM), do sistema de fabricação flexível (FMS) e da fabricação integrada por computador (CIM).

Existem, ainda, outras formas de automatismos industriais  como os controlos e comandos à distância utilizados nas máquinas e equipamentos de produção, os dispositivos automáticos de controlo das produções e os "manipuladores" (braços articulados que reproduzem os gestos dos operadores e agem às suas ordens, utilizados para o manejo de cargas pesadas, para actuar sobre objectos ou em ambientes perigosos, caso dos materiais radioactivos, bactérias, etc.).

No próximo texto abordar-se-á a robotização e os efeitos da automação sobre as empresas e o trabalho.

Moçambique - Xenofobia. MAIS MOÇAMBICANOS REGRESSAM AO PAIS




Maputo, 23 Abr (AIM) Mais de quatrocentos moçambicanos vítimas de ataques xenófobos na África do Sul regressaram hoje ao país, tendo sido acomodados transitoriamente no centro criado para o efeito no distrito de Boane, província de Maputo.

Ao todo são 429 concidadãos que chegaram ao país em autocarros organizados pelas autoridades moçambicanas, contando-se entre eles 48 crianças, 123 mulheres e 258 homens.

Segundo o director adjunto do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC),Casimiro Dos Santos Teresa Abreu, outros cerca de cem moçambicanos transportados em dois autocarros partiram ainda hoje de Durban com destino a Maputo.

O centro de Boane, com 40 tendas para acomodar imigrantes moçambicanos provenientes da África do Sul, é o primeiro ponto de trânsito de acolhimento antes destes rumarem para os seus pontos de origem.

Este é o segundo grupo de moçambicanos que regressam ao país sob a égide do governo moçambicano. O primeiro grupo, composto por 107 cidadãos, chegou a Maputo na semana passada.

Outros 1.500 moçambicanos regressaram ao país com recursos próprios, segundo disse, terça-feira, o porta-voz do governo, Mouzinho Saíde, apos o Conselho de Ministros.

Albertina Vilanculos, uma das retornadas, pediu apoio do governo, no sentido de dar mais atenção as vítimas de xenofobia.

Os sul-africanos mataram crianças e adultos. Aquilo está mal. Agora que cheguei sinto-me bem, pois estou em casa, mas pedimos ao governo que cuide de nós, disse Vilanculos.

A onda de ataques xenófobos surgiu depois de depoimentos do Rei Goodwill Zwelithini, convidando estrangeiros a abandonar o país, alegacões desmentidas por esta autoridade tradicional, que diz que foi mal interpretado.

Esta vaga anti-imigrantes causou pelo menos sete mortes, entre as quais três moçambicanos.
(AIM) ht/sn

DIVISÃO DE MOÇAMBIQUE SÓ CONDUZIRÁ AO COLAPSO - Nyusi



Anacleto Mercedes, AIM

Namaacha (Moçambique), 23 Abr (AIM)
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse hoje à população do distrito de Namaacha, província meridional de Maputo, que a divisão de Moçambique só o conduzirá ao colapso, pois, tudo quanto o povo conquistou, com muito sacrifício, poderá se desfazer e prejudicar, de certa forma, o contínuo desenvolvimento do país.

Nyusi falava durante um comício popular, no contexto da Presidência Aberta que efectua àquele distrito fronteiriço entre Moçambique, Suazilândia e África do Sul.

Para evitar que o país seja conduzido ao colapso, o mais alto magistrado da nação apelou aos moçambicanos a desenvolverem, entre si, o espírito patriótico e de unidade nacional.

Aliás, Nyusi deu o exemplo do Império de Gaza, liderado por Ngungunhana, e outros ainda, que, mesmo fortes, perderam batalhas contra o regime colonial português, exactamente por falta de unidade entre os povos.

Houve guerras dos grupos ngunis, ndaus, malapendes, matakas. Eram grandes líderes, mas não conseguimos triunfar, porque Moçambique, dividido, não se conseguia encontrar para se libertar. São lições que nos dizem que a separação só pode conduzir Moçambique ao colapso, disse ele.

No seu entender, a unidade nacional, que hoje tanto se refere, é mais facilitada, pois, no passado, era difícil. Cada um vivia no seu canto.

A unidade nacional actual é simplesmente entendimento entre as ideias. E toda a gente pode dizer o que quiser, desde que não seja fora da lei, afirmou.

O importante, segundo Nyusi, é ter o cuidado para que essas ideias e pensamentos diferentes não desunam os povos moçambicanos, mas que têm que significar a união e consolidar a nação moçambicana.

Todos somos uma nação. O importante é preservarmos as nossas culturas. Ninguém deve ter vergonha de ser machangana, mandau, macua. Isto é bom, pois é o que faz a nação. Quando alguém se envergonha e se complexa por ser moçambicano de origem indiana, branca ou manyungue, isso é atraso e faz com que não possamos evoluir. Queremos uma nação sólida e a evoluir. Por isso mesmo, a unidade nacional é fundamental, sublinhou.

Tal como em todos outros pontos da província por onde passou, o Presidente convidou aos presentes para que interviessem no sentido de cada um dar a sua contribuição, mormente sobre os aspectos que deseja ver resolvidos e dizer de que forma o governo deve funcionar.

Cidadãos de diferentes localidades e povoações falaram. Enalteceram o esforço do actual governo visando dar continuidade a todo um desenvolvimento que se vem mostrando, sobretudo nos últimos anos, em prol do bem-estar de todos, quer em infra-estruturas, quer em serviços básicos prestados pelo Estado.

Entretanto, todos mostraram-se preocupados com a falta de água potável, um problema de há bastante tempo; extensão da rede eléctrica, insuficiência de medicamentos nos hospitais, vias de acesso (estradas e pontes), entre outros problemas.

Em resposta a essas questões, Nyusi prometeu que ele e o seu governo, tudo farão para resolvê-las.

Lembrou que o governo fez um programa
muito ambicioso na dimensão da capacidade do país e aglutinou as áreas, por entender que o crescimento e o desenvolvimento de Moçambique são integrados.

O estadista referia-se ao Plano Quinquenal do Governo 2015/2019, recentemente aprovado pela Assembleia da República, o parlamento moçambicano.

Não parcelamos. Aglutinamos. Estamos num sistema integrado para o desenvolvimento do país. Agora, submetemos o nosso Plano Económico e Social para este ano e esperamos que, muito rapidamente, as coisas possam avançar. Vamos resolver estas questões. No entanto, umas têm soluções imediatas, outras a médio prazo e outras ainda a longo prazo. Mas os meus ministros, vice-ministros e técnicos estão a tomar notas de tudo o que falaram, para irmos trabalhar na sua solução, assegurou.

No entanto, o Presidente vincou que nem todas as questões colocadas serão resolvidas ao nível central, por pensar que os governos distrital e provincial estão à altura de resolvê-los, tais como a falta de medicamentos nos hospitais, falta de transporte e emprego.

Além do encontro com a população, o estadista orientou a sessão extraordinária do governo distrital, visitou o Instituto de Formação de Professores e a fronteira com a Suazilândia, onde se inteirou sobre a situação dos formandos e formadores e funcionamento dos serviços alfandegários, respectivamente.

Esta sexta-feira, o último dia da sua visita à província de Maputo, o Presidente Nyusi irá trabalhar no município da Matola, onde, igualmente, realizará um comício popular e orientará a sessão extraordinária do Governo Provincial de Maputo.


(AIM) ALM/DT


Polícia dispara contra um “chapa” que capota com 20 passageiros e fere 12 em Nampula




Um agente da Polícia da República de Moçambique (PRM) atirou contra um minibus com a chapa de inscrição AEL 909 MP, de transporte semicolectivo de passageiros, o qual estourou um dos pneus e capotou com 20 ocupantes, dos quais 12 feridos, entre ligeiros e graves, na manhã de quarta-feira (22), na rota Nampula/vila sede do distrito de Namapa.

De acordo com testemunhas, um grupo de agentes da Lei e Ordem perseguiam o condutor da viatura em causa, alegadamente ilegal, depois de o mesmo ter desobedecido à ordem de parar para a fiscalização.

Consta ainda que o automobilista, que efectua viagens inter-distritais, faz parte do grupo de “chapeiros” que embarcam passageiros fora do terminal municipal na zona suburbana de Matava-Réx. Os operadores consideram que o local fica longe do centro da cidade, onde alegadamente há mais viajantes. Na terça-feira (21) houve confronto com as forças policiais devido a este problema, que supostamente se deve ao facto de os transportadores inter-provinciais estarem a estimular uma concorrência desleal.

A viatura ficou totalmente danificada. A PRM envolveu-se na perseguição no âmbito de uma colaboração multi-sectorial com as autoridades municipais. Todavia, mesmo apercebendo-se de que havia feridos em estado grave, os policiais ainda tiveram tempo para desferir fortes golpes contra o motorista do minibus e posteriormente evacuaram-no para o Hospital Central de Nampula, onde se encontra a beneficiar de tratamentos intensivos, na companhia de outros 11 passageiros.

Face a atitude, a resposta da população não tardou. Ela insurgiu-se e arremessou pedras e outros objectos contra os polícias, sobretudo contra os estivam directamente envolvidos no sinistro. Para refrear a fúria da multidão foi preciso a Polícia de Trânsito (PT), encabeçada pelo respectivo chefe, António Raul, disparar para o ar.

Verdade (mz)

Moçambique - Nyusi: um balanço dos primeiros 100 dias no poder




Nesta sexta-feira, Filipe Nyusi completa 100 dias como Presidente de Moçambique. Em entrevista à DW África, o especialista em boa governação Adelson Rafael avaliou este período do novo poder.

Os primeiros 100 dias de Filipe Nyusi na presidência foram marcados por dois pontos: a gestão da crise político-militar entre o Governo e a RENAMO, e a saída do anterior Presidente do país, Armando Guebuza, da liderança da FRELIMO, o partido no poder. De uma forma geral, o atual Presidente tem evidenciado bons indicadores em matéria de governação, como considera o especialista Adelson Rafael.

DW África: Que balanço faz deste primeiro periodo da presidência de Filipe Nyusi?

Adelson Rafael (AR): A avaliação é positiva porque há evidências de uma alteração de paradigma no que diz respeito à governação. O primeiro aspeto do novo paradigma refere-se a uma mudança no tipo de comunicação. Se num passado recente a comunicação entre o Presidente e os diferentes interlocutores era vertical, agora é notório o interesse em ter uma comunicação horizontal e sem exclusão. Isto tem em alguns momentos transferido ou influenciado os diferentes ministérios, com destaque para os da Educação e do Desenvolvimento Rural, onde há uma necessidade de revisitar os anteriores referenciais de governação. Outro aspeto que revela esta mudança de paradigma diz respeito ao interesse que o chefe de Estado tem em manter a paz e em ter os moçambicanos como o centro da sua intervenção. A médio prazo poderemos começar a ter resultados satisfatórios.

DW África: O calcanhar de Aquiles desta presidência, que foi a saída de Armando Guebuza da liderança da FRELIMO, foi resolvido durante estes 100 primeiros dias de governação. Em que medida acha que isso pode ser determinante na presidência de Nyusi nos próximos tempos?

AR: Seria necessária essa bicefalia pelo menos por uns 6 meses, tendo em conta a experiência que se requer do Presidente. Por mais potencialidades que vejamos no Presidente Filipe Nyusi, não podemos esquecer que em termos de experiência prática, principalmente de governação, com excepção de como ministro da Defesa, ainda não teve a interação global que se requer. Um aspeto de extrema importância é que agora, mais do que nunca, o processo e a tomada de decisões não terão uma segunda ou terceira pessoa a quem atribuir culpas, porque se num passado recente a discussão era a de que os fracassos advinham da bicefalia, agora não há nenhuma possibilidade de esse fracasso ser repartido. Quanto aos benefícios que pode trazer, acho que já se estão a tornar visíveis. Filipe Nyusi, na governação do país e do partido, deixa de depender de outras pessoas para fazer escolhas, e isso é notório no discurso sobre a questão das negociações com o partido RENAMO, e sobre a questão de paz. As partes começam a ganhar forma e dimensão próprias.

DW África: Nyusi tem pautado a sua governação por visitas abertas aparentemente menos dispendiosas do que as da anterior presidência, usando carro em vez de helicóptero, por exemplo, e por um contato mais humano e próximo com a população. Esta estratégia visa demarcar-se da anterior presidência ou é realmente um modo de mostrar uma maior proximidade e um maior interesse para com os problemas reais da população?

AR: Não podemos esquecer que no discurso de investidura, por duas vezes o Presidente Nyusi mencionou a necessidade de austeridade e de uma maior redução de despesas. Para gerar coerência, nada melhor que o Presidente reduzir os gastos desnecessários, mas não retirar a metodologia introduzida pelo Presidente Guebuza das presidências abertas. Em termos práticos, estas trouxeram mais-valia para o país com a possibilidade de o Presidente ter contato direto com os problemas reais de Moçambique.

Nádia Issufo - Deutsche Welle

Isabel dos Santos quer diversificar investimentos em Portugal




Depois das apostas na banca, nas telecomunicações e na comunicação social, a empresária angolana tem agora a firme pretensão de entrar na indústria portuguesa. O preço: 200 milhões de euros.

A empresária Isabel dos Santos voltou a aparecer nas manchetes da imprensa portuguesa pelo manifesto interesse em ter uma participação maioritária no capital da Efacec Power Solutions. A filha primogénita do Presidente de Angola ofereceu cerca de 200 milhões de euros por esta sociedade do grupo Efacec, criada para reunir os ativos mais rentáveis da Efacec Portugal.

Ao que tudo indica as negociações estão numa fase adiantada, envolvendo a família Mello e os bancos credores da referida sociedade, prevendo-se que a operação fique concluída em breve, o que, a acontecer, poderá deixar de fora os concorrentes chineses da State Grid, acionistas maioritários da REN, empresa portuguesa que gere a rede de distribuição de energia elétrica.

"A Efacec é uma empresa com muito 'know-how' em áreas ligadas à energia. O desenvolvimento do setor energético em Angola é decisivo para o futuro do país. Portanto, do ponto de vista teórico, faz todo o sentido que Isabel dos Santos olhe para a Efacec, para ir buscar essas competências e poder transportá-las para Angola", diz Celso Filipe, um analista económico que segue de perto as pisadas do capital angolano em Portugal.

Energia é motor da indústria

A Efacec é, por outro lado, uma empresa com vasta experiência internacional, atuando nas áreas da energia, engenharia, ambiente, serviços e transportes, com operações nas Américas, na Europa, Ásia e África.

O grupo é visto como um bom parceiro para a pretensão de diversificar os investimentos de Isabel dos Santos. O interesse da empresária africana na Efacec difere dos seus interesses nas telecomunicações e na banca, áreas em que aposta em criar uma malha internacional, argumenta Celso Filipe, autor do livro "O Poder Angolano em Portugal", publicado em 2013.

"Parece-me que o foco está diretamente relacionado com Angola", diz. "Havia um plano de desenvolvimento do setor energético angolano, em parte já desatualizado, mas, entre 2013 e 2017, previam-se investimentos de 15 mil milhões de dólares. Há a convicção generalizada dos governantes angolanos de que, no mínimo, é preciso duplicar a capacidade de produção de energia elétrica para que Angola possa desenvolver o setor industrial e agro-industrial. Nesse sentido, a Efacec encaixa que nem uma luva."

A concretizar-se, a participação maioritária de Isabel dos Santos na Efacec Power Solutions far-se-á, por hipótese, através de um aumento de capital. Segundo Celso Filipe, 200 milhões de euros dariam, neste momento, muito jeito à multinacional portuguesa. "A situação da Efacec é periclitante, há alguma instabilidade laboral na empresa. Haverá, porventura, dificuldades de acesso a financiamento, o que limita a atividade da empresa, que necessita, julgo eu, tão rapidamente quanto possível de encontrar um sócio que lhe permita relançar a atividade e ter acesso a crédito bancário."

O jornalista considera que este interesse de há oito meses e que agora voltou a ser falado, depois da falhada OPA (Oferta Pública de Aquisição) que Isabel dos Santos recentemente lançou à PT, é revelador de que há mais espaço para a entrada do capital angolano em Portugal.

Os investimentos em território português encabeçados pela filha do Presidente de Angola já ascendem a três mil milhões de euros, destacando-se as participações influentes que ela tem na banca (BPI, BCP e BIC) e na área das telecomunicações (ZOPT, resultante da fusão entre a ZON e a SONAE), além de ativos no setor imobiliário e da comunicação social. Como sócia da petrolífera angolana Sonangol, a empresária tem também uma participação na energética portuguesa Galp através do Grupo Amorim.

João Carlos (Lisboa) – Deutsche Welle

Angola. Antigos militares prepararam duas manifestações para Luanda




Antigos militares querem encontro com PR para resolver questão de salários

Voz da América

Duas manifestações de caracter diferente estão marcadas para o dia 2 de Maio em Luanda.

Antigos militares angolanos  que reivindicam o pagamento de indemnizações e salários em atraso vão exigir o pagamento dos mesmos.

Quem também vai se manifestar no mesmo dia são os jovens pertencentes ao Conselho Nacional dos Activistas de Angola que exigem a libertação dos activistas presos em Cabinda há mais de 30 dias.

Depois de cinco anos à espera de verem satisfeitas as suas revindicações, os ex-militares exigem agora serem recebidos pelo Presidente da República,  José Eduardo dos Santos, tal como fez com a juventude angolana.

Os antigos combatentes acreditam que apenas o Presidente da República ou o ministro do Estado e Chefe da Casa Militar do Presidente da República, General Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa” podem resolver os seus problemas.

Alberto Santos, um dos sobreviventes ao assassinato de Isaías Cassule e Alves Kamolingue em Maio de 2012, diz não ter medo de que o que aconteceu com os seus companheiros venha a acontecer com eles.

“Se eles quiserem nos fazer tal como fizeram aos nossos companheiros nós não temos medo, porque não se manifestando também nos perseguem e foi isso que eu disse no tribunal”, disse.

A manifestação de 27 de Maio de 2012 não foi realizada por terem sido chamados na altura pelo general Bento Kangamba para resolver o problema. Questionado se esperam mais uma vez pelo contacto do empresário Bento Kangamba, os ex-militares rejeitam qualquer acordo com o político e empresário.

“Se o Bento Kangamba nos chamar nós não vamos aceitar porque a ultima manifestação ele nos chamou e não conseguiu resolver nada a ponto dos nossos companheiros terem sido mortos”, adiantou.

Por seu turno, Raúl Mandela, do Conselho Nacional dos Activistas de Angola, que exige a libertação dos activistas presos em Cabinda há mais de 30 dias, diz que ele e os colegas estão preparados para a agressão policial e que vão se manifestar defronte ao Palácio da Justiça.

“Nós estamos preparados para tudo que der e vier”, avisou.

As notas a comunicar as duas manifestações consideradas de pacíficas foram enviadas ao Governo provincial de Luanda esta terça-feira, 21.

Angola. Casa-CE acusa Governo de ter colaborado com seita do Huambo




Coligação diz que Kapuleteka recebeu viatura do Governo e Unita afirma que seita discutiu com o Executivo a sua legalização.

Voz da América

A Casa-CE rejeitou acusações governamentais de envolvimento da oposição nas actividades da seita “Luz do Mundo” e acusou o Governo de ter ele próprio tido uma colaboração local com o o dirigente da seita Julino Kalupeteka.

Uige: CASA e UNITA acusam governo de responsabilidade por mortes no Huambo.

“Esse problema é deles, o próprio MPLA é que sabe o que está a fazer porque ele quando pretende sujar os outros arranja sempre uma artimanha para poder encobrir os seus erros”, disse o secretário adjunto da Casa-CE Fernando Luís que disse que ninguém pode acreditar nas acusações do governo de que a Unita é responsável pelas catividades da seita.

“Isso que aconteceu agora também aconteceu em 1975, quando diziam que os da oposição comiam pessoas, outra vez  em 1977 quando diziam que o ´fraccionismo´ estava a matar pessoas”,  disse Luís que acrescentou que o contrário é que tinha acontecido.

“Eu não vejo porque o MPLA criou tanto alarido? Se ele deu um carro ao Kalupeteka e o primeiro secretário do MPLA no Huambo assistia ali à missa, o que é ele esperava?” questionou o secretário adjunto da CASA-CE no Uíge Fernando Luis.  
   
O secretário provincial da Unita Felix Simão Lucas acusou o Governo angolano de negligenciar as ações do Julino Kalupeteka, líder da seita religiosa A Luz do Mundo.

Segundo Simão Lucas, a culpa é do Governo por ter deixado a mesma seita  realizar actividades enquanto não estivesse legalizada.

Lucas disse existirem outras seitas que  que trabalham em parceria com o Executivo.

“Há muitas igrejas ilegais no país e o próprio Governo conhece estas seitas”,  disse, afirmando que o governador do Huambo se tinha reunido com dirigentes da seita A Luz do Mundo para “averiguar a situação da sua legalização” .

O secretario adjunto da Casa-CE no Uíge Fernando Luis recordou ainda outras acções ocorridas na mesma abrangência que, segundo ele, foram protagonizadas pelo partido no poder.

Angola. JULGAMENTO DE RAFAEL MARQUES ADIADO MAIS UMA VEZ




David Mendes, advogado do activista, não confirma a existência de um acordo com os generais que o acusam de denúncia caluniosa.

Alice Cruz – Rede Angola

A sessão do julgamento do jornalista Rafael Marques, marcada para hoje em Luanda, foi adiada novamente para que sejam analisadas ao pormenor algumas questões do processo que foram colocadas na primeira sessão. O julgamento continua a 14 de Maio.

A parte acusadora pediu o adiamento da sessão para verificar, entre vários aspectos, se Rafael Marques entrou realmente em contacto com os directores das empresas citadas no seu livro antes da publicação, e quais as pessoas que receberam as correspondências alegadamente enviadas pelo jornalista, declarou ao Rede Angola o advogado de Rafael Marques, David Mendes. “Eles precisam confirmar quando é que as correspondências deram entrada e quem recepcionou para que possam ter um posicionamento de acordo com aquilo que seria o contraditório”.

Sobre o provável acordo entre Rafael Marques e os generais para que seja alcançado um entendimento amigável, David Mendes diz não ter conhecimento sobre esta questão e negou-se a opinar. “Não existe nenhum acordo amigável. Não tenho conhecimento. O que não está escrito ou colocado na mesa, eu não posso me debruçar. Tecnicamente posso dizer que não houve adiamento por causa de algum provável acordo entre as partes, nem se colocou isso se quer em momento algum”.

Várias são as opiniões nas redes sociais sobre o julgamento. Internautas discutem e fazem suposições sobre o desfecho deste caso. Há comentários ainda que dizem que provavelmente Rafael Marques tenha sido “comprado”. O advogado também esclareceu que os rumores sobre isso não fazem sentido pelo facto de o autor do livro Diamantes de Sangue estar numa condição de dependência. “Se ele fosse o acusador e o forçassem a retirar uma queixa, aí sim poderiam dizer que foi influenciado. O Rafael Marques é o acusado, não pode desistir”.

Rafael Marques é acusado de denúncia caluniosa, por ter exposto abusos contra os direitos humanos na província diamantífera da Lunda Norte, com a publicação, em Portugal, em Setembro de 2011, do livro Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola.

Os queixosos são sete generais, entre eles o ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior, conhecido como “Kopelipa”, e os representantes de duas empresas diamantíferas.

O julgamento teve início no fim do mês de Março, no Tribunal Provincial de Luanda, mas acabou por ser suspenso para hoje. A sessão de hoje também foi adiada para análise minuciosa do processo.

Polícia angolana diz que durante confronto no Huambo morreram 13 seguidores de Kalupeteka



África 21 com agências

O comissário chefe Paulo Gaspar de Almeida, segundo comandante geral da Polícia Nacional, diz que "morreram 13 pessoas não inocentes, que estiveram a confrontar-se com os agentes da ordem, os ditos seguranças do líder da seita e autores dos assassinatos". De acordo com a versão policial, o confronto prolongou-se por três horas.

Luanda - O segundo comandante-geral da Polícia Nacional, comissário-chefe Paulo Gaspar de Almeida, negou quarta-feira (22), no Huambo, região centro do país, informações segundo as quais a corporação matou cidadãos civis na operação de captura do líder da seita religiosa A Luz do Mundo, José Julino Kalupeteka, informa a agência governamental de notícias Angop.

De acordo com a autoridade policial,  citada pela agência, o comissário disse que "muitos jornais, rádios e sites estão a especular o número de fiéis mortos". Segundo Paulo de Almeida, "morreram 13 pessoas não inocentes, que estiveram a confrontar-se com os agentes da ordem, os ditos seguranças do líder da seita e autores dos assassinatos".

"Os 13 mortos são franco atiradores, pertencentes à guarda do Kalupeteka, que tinham por objectivo neutralizar e desestabilizar a operação", afirmou.

Falando numa formatura geral, o responsável reconheceu o brio e profissionalismo demonstrado pelos nove polícias assassinados por seguidores desta seita, pois, de acordo com o comissário-chefe Paulo Gaspar de Almeida, se assim não fosse muitos cidadãos encontrados no acampamento poderiam ser mortos.

"Temos que destacar estes grandes camaradas, que, durante os confrontos de três horas com os fiéis seguidores do tal Kalupeteka, souberam poupar vidas humanas de crianças, mulheres e velhos.

Paulo de Almeida também esclareceu não ter havido negligência alguma da parte da corporação, explicando que os membros envolvidos na operação não podiam reagir, pois sabiam da presença de crianças, mulheres e velhos dentro do acampamento e que podiam ser mortos inocentemente.

"Muitos não sabem o que se passou na localidade de São Pedro Sumé e dizem que fomos negligentes. Repito, foram três horas de confronto e a Polícia não podia reagir para não matar civis enganados pelo Kalupeteka", disse.

Unita quer abertura de inquérito

A Unita, maior partido da oposição em Angola, denunciou, terça-feira (21), a existência de valas comuns na província do Huambo, região centro do país, onde terão sido enterrados, até segunda-feira, os corpos de mais de 700 pessoas mortas em retaliação da polícia contra seguidores da seita de José Kalupeteca, noticiou a rádio estatal norte-americana VoA ( Voz da América).

A Unita pediu à Assembleia Nacional a constituição de uma comissão parlamentar de inquérito para aferir da dimensão dos incidentes que na passada semana envolveram a Polícia Nacional e fiéis da seita também conhecida por Kalupeteca.

O chefe da bancada parlamentar da Unita Raul Danda disse que buldózeres estão a ser usados para enterrar as vitimas em valas comuns.

Danda acrescentou, no entanto, que o seu partido não vai esperar por uma eventual missão parlamentar, devendo enviar de imediato para o Huambo uma equipa de deputados para verificar no terreno o número de civis mortos.

Na segunda-feira, o comandante adjunto da Polícia Nacional, Paulo de Almeida, revelou que na sequência dos incidentes 13 civis tinham sido mortos a par dos nove policiais que perderam a vida.

Informações da província do Bié deram conta que 11 cidadãos ligados à seita Kalupeteka foram condenados, em processo sumário, a dois anos de prisão por crime de resistência às autoridades.

Entretanto, em conversa não gravada com a VoA, o comandante geral da Polícia Nacional comissário chefe Ambrósio Lemos reconheceu ter havido troca de tiros entre os agentes da polícia e seguidores da seita, mas disse não poder precisar o número de mortos da outra parte. Segundo o comissário, o número de seguidores mortos não ultrapassará as duas dezenas.

Ambrósio de Lemos afirmou desconhecer se as vítimas civis já foram enterradas por não ter recebido nenhum relatório da comissão que se encontra a trabalhar no terreno. Questionado sobre a afirmação de Raúl Danda, da Unita, disse que as suas afirmações devem ser provadas.

Angola. PURGA OU LIMPEZA ÉTNICA? APENAS FALTA “DEUS” DECIDIR!




O secretário-geral da UNITA classificou como uma “chacina” os recentes confrontos entre membros de uma seita religiosa e efectivos da Polícia, no Huambo. O regime fala em 13 civis mortos, a população em mais de 700.

Orlando Castro

Em marcha parece estar uma reedição do que se passou em 1992, ou seja, recorde-se, o massacre de Luanda, perpetrado pelas forças militares e de defesa civil do MPLA, visando o aniquilamento da UNITA e de cidadãos Ovimbundus e Bakongos, e que se saldou no assassinato de 50 mil angolanos, entre os quais o vice-presidente da UNITA, Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral, Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili.

A posição contra esta “chacina” no Huambo foi assumida por Vitorino Nhany, em conferência de imprensa realizada em Luanda, convocada para abordar os acontecimentos à volta de seita religiosa “A Luz do Mundo”, também conhecida por Kalupeteca, nome do seu líder.

Uma delegação de deputados da UNITA, limitada nos seus movimentos e controlado por efectivos do regime, está desde hoje naquela província, para confrontar as famílias enlutadas com as informações oficiais.

Em causa está, segundo a versão oficial, a morte de nove polícias e de 13 elementos da seita religiosa, a 16 de Abril, no município da Caála. Os agentes, na versão policial, entraram em confronto na tentativa de capturar Julino Kalupeteca, líder da seita, ilegal e que advoga o fim do mundo em 2015.

“O que se passa na província do Huambo é um autêntico terror, uma chacina, um genocídio, o que é condenável a todos os títulos”, referiu Vitorino Nhany, comentando informações da população local que apontam para a alegada morte de mais de 700 pessoas, versão negada pela polícia.

“Só uma investigação séria e isenta poderá determinar os factos que realmente terão ocorrido na Serra do Sumi na passada semana”, disse ainda o político da UNITA.

Em comunicado, o Governo Provincial do Huambo acusou terça-feira a UNITA de ter orquestrado um plano político para ser executado pela seita “A Luz do Mundo”.

No documento, as autoridades provinciais referem que o plano “com muitos traços que identificam a actuação política da UNITA” tinha como objectivo levar as populações a abandonarem as suas residências, para se fixarem nas matas, sobretudo nas ex-bases militares daquela força política.

O governo do Huambo afirma ainda que no âmbito do mandado de captura, emitido pela Procuradoria-Geral da República, as autoridades encontraram no morro do Sumé – local do acampamento da seita – “muito material de propaganda da UNITA, incluindo cartões de membros dessa organização, recentemente emitidos e assinados pelo seu secretário provincial, Liberty Chiyaka”.

A direcção do partido liderado por Isaías Samakuva manifestou mesmo “revolta pelas tentativas de envolvimento do nome da UNITA numa situação que nada tem a ver com ela”, considerando-as “irresponsáveis, descontextualizadas e imbuídas de má-fé”.

Como aqui foi escrito no passado dia 18, o MPLA volta a pôr na rua o fantasma da guerra civil e do terrorismo, justificando assim a reedição de uma nova limpeza étnica. Goza, aliás, do beneplácito de estar no Conselho de Segurança da ONU onde, aliás, conta com o férreo apoio de dois velhos e queridos amigos, a Rússia e a China.

“Os dados até agora recolhidos permitem facilmente concluir que por detrás destes factos estão outras forças, que pretendem criar condições para um retorno a situações de perturbação generalizada, que não poderão ser toleradas”, afirma o Bureau Político do Comité Central do MPLA, liderado por José Eduardo dos Santos.

Embora – como é hábito nos que são fortes com os fracos e fraquinhos com os fortes – o partido dirigido por José Eduardo dos Santos recorda que “estes actos bárbaros” foram concretizados “com armas de fogo” que “ilegalmente” estavam na posse de pessoas que “pretendem alterar a ordem pública em Angola”.

Para “estancar esse tipo de acções criminosas”, o MPLA exorta a Polícia Nacional e “todos os órgãos de Defesa, Segurança e de Justiça” a tomarem medidas “que conduzam à responsabilização dos desordeiros”, apelando ainda às populações “a não segui-los, a manterem vigilância cerrada sobre eles e a denunciá-los, quando estejam a preparar acções subversivas”.

Previsivelmente, na óptica do regime, estes actos bárbaros são o prenúncio do regresso à guerra civil pelo que o melhor será certamente decretar a ilegalização de todos os partidos da oposição, regressar ao partido único, e prender – ou até matar – os responsáveis das tais “outras forças”, começando por Isaías Samakuva.

O Ministério do Interior de Angola já exigiu que “os autores deste crime hediondo” sejam “levados à barra dos tribunais” e “exemplarmente punidos”, exortando a polícia para uma “resposta firme a todos quantos enveredem por este tipo de conduta, bem como aos eventuais instigadores de ignóbeis acções desta natureza”.

Razão tinha, e pelos vistos continua a ter, Kundi Paihama (por sinal governador do Huambo) quando explicou ao país que os antigos militares do MPLA, “se têm armas”, não é para “fazer mal a ninguém” mas sim “para ir à caça”. Já quanto aos outros…

Quanto aos antigos militares da UNITA, que o governador do Huambo (Kundy Paihama ) não considera angolanos, de há muito que a versão ortodoxa do regime aponta para a sua execução.

Poderá assim estar em marcha o plano do MPLA para consubstanciar uma insurreição a nível nacional, tipo Líbia, Egipto e Tunísia, sendo as províncias de Luanda, Huambo, Huíla, Benguela e Uíge as visadas.

Sempre que no horizonte se vislumbra, mesmo que seja uma hipótese remota, a possibilidade de alguma mudança, o regime dá logo sinais preocupantes quanto ao medo de perder o poder. Este caso da Kalupeteca parece ser o mote ideal, segundo a óptica norte-coreana do regime.

Para além do domínio quase total dos meios mediáticos, tanto nacionais como estrangeiros, o regime aposta forte numa estratégia que tem dado bons resultados. Isto é, no clima de terror e de intimidação.

Recorde-se que, por exemplo, no início de 2008, notícias estrategicamente veiculadas pelo regime diziam que, no Moxico, “indivíduos alegadamente nativos criaram um corpo militar que diz lutar pela independência”.

Hoje confirma-se que todos aqueles que têm, tiveram, ou pensam ter qualquer tipo de armas são terroristas da UNITA.

E, na ausência de melhor motivo para aniquilar os adversários que, segundo o regime, são isso sim inimigos, o MPLA poderá sempre jogar a cartada, tão do agrado das potências internacionais que incendeiam muitos países africanos, de que há o perigo de terrorismo, de guerra civil.

Se no passado, pelo sim e pelo não, falaram de gente armada no Moxico, hoje falam do Huambo e amanhã do Bié.

Kundy Paihama, um dos maiores especialistas de Eduardo dos Santos nesta matéria, não tardará a redescobrir mais uns tantos exércitos espalhados pelas terras onde a UNITA tem mais influência política, para além de já ter dito que quem falar contra o MPLA vai para a cadeia, certamente comer farelo.

Tal como mandam os manuais, o MPLA começa a subir o dramatismo para, paralelamente às enxurradas de propaganda, prevenir os angolanos de que sem ele será o fim do mundo.

Além disso, nos areópagos internacionais vai deixando a mensagem de que ainda existem por todo o país bandos armados que precisam de ser neutralizados.

Aliás, como também dizem os manuais marxistas, se for preciso o MPLA até sabe como armar uns tantos dos seus “paihamas” para criar a confusão mais útil. E, como também todos sabemos, em caso de dúvida a UNITA será culpada até prova em contrário.

Numa entrevista à LAC – Luanda Antena Comercial, no dia 12 de Fevereiro de 2008, o então ministro da Defesa, Kundy Paihama, levantou a suspeita de que a UNITA mantinha armas escondidas e que alguns dos seus dirigentes tinham o objectivo de voltar à guerra. Nesse entrevista disse textualmente: “Ainda hoje se está a descobrir esconderijos de armas”.

O regime reedita agora, obviamente numa versão acrescentada e melhorada, as linhas estratégicas de um documento datado de 20 de Março de 2008, então elaborado pelos Serviços Internos de Informação, SINFO.

Na cruzada actual, como nas anteriores, estão os turcos do regime: Kundy Pahiama, Dino Matross, Bento Bento, Kwata Kanawa e Kopelipa com os meios de comunicação do Estado.

“A situação interna não transparece em bons augúrios para o MPLA, devido a várias manobras propagandísticas por parte dos partidos da oposição e de cidadãos independentes apostados em incriminar o Partido no Poder para fazer vingar as suas posições mercenárias junto da população civil e das chancelarias e comunidade internacional”, lia-se na versão de 2008 do documento do SINFO que, como reedita hoje, propunha o seguinte plano operacional:

1- Iniciar de imediato uma onda propagandística sobre a UNITA e os seus dirigentes nos órgãos de comunicação social, relacionados com a descoberta de novos paióis de armamento nas províncias e denegrir a imagem de dirigentes da oposição como Abel Chivukuvuku, Alcides Sakala e Isaías Samakuva, com notícias com carácter escandaloso como contas bancárias no exterior, contactos com serviços secretos estrangeiros e também de espancamento de mulheres e crianças junto do núcleo familiar destes mercenários oposicionistas.

2- Avançar com processos criminais sob denúncia de elementos da população que podem compreender acusações de violações de menores, tráfico de influências em negócios ilegais e transacção ilegal de diamantes.

3- Aumentar a vigilância pessoal sobre os dirigentes da cúpula da UNITA e as escutas telefónicas em curso desde o nosso Departamento de Comunicações e reactivar as células-mortas de informadores no interior do Galo Negro sendo para isso necessário um plafond financeiro urgente.

4- Expulsar do território nacional, pelo menos seis ONG já identificadas em relatórios anteriores por manterem contactos em Luanda e nas capitais provinciais com elementos conotados com a cúpula da UNITA.

5- Reactivar as Brigadas Populares de Vigilância nos bairros de Luanda e nas capitais provinciais em acto paralelo com a distribuição de armamento ligeiro aos seus efectivos para defesa da população civil.”

Afinal, na História recente (desde 1975) do regime angolano, nada se perde e tudo se transforma para que os mesmos continuem a ser donos do poder e, é claro, de Angola.

Com esta avalanche de contra-informação e com a consequente caça às bruxas que já decorre o regime prepara-se para pela força justificar uma purga ou limpeza étnica, até mesmo – como aconteceu a 27 de Maio de 1977 – dentro do próprio MPLA onde, apesar do medo, começam a aparecer algumas importantes vozes a discordar do dono do país.

E se os acontecimentos de 27 de Maio de 1977, que provocaram milhares de mortos, foram o resultado de uma provocação, longa e pacientemente planeada, tendo como responsável máximo Agostinho Neto, que temia perder o poder, será que o actual “querido líder” está, ou teme vir a estar, na mesma posição?

Será que, como há 38 anos, Angola tem algum Nito Alves, ministro ou não, político ou não, chefe militar ou não, disposto a protestar contra o rumo despótico do MPLA?

E se tem, voltaremos a ter, tal como em 12 de Julho de 1977, uma declaração oficial do Bureau Político do MPLA a falar de uma “tentativa de golpe de Estado”?

Folha 8 (ao)


Portugal. AMADORA, TERRA SEM LEI




Na Amadora a única lei que conta é a do mais forte e o executivo faz questão de utilizar a sua imensa força contra os mais fracos.

João Camargo - Esquerda.net, opinião

A Câmara tem despejado centenas de pessoas sem alternativas habitacionais, demolindo em nome de um realojamento inexistente.

A Amadora é conhecida por todo o país por ser problemática. A pobreza no município produziu grandes zonas de exclusão, de preconceito, de violência, de perseguição. Vigora um regime de terror sobre os mais pobres da Amadora, particularmente nos bairros marcados pela Câmara para demolição.

A habitação é fulcral na Amadora. Largas centenas de pessoas viram-se perante a crise, o desemprego e uma nova lei das rendas medieval na iminência de ficarem sem casa. As redes familiares foram a sua principal assistência. Deslocando-nos para o espectro da pobreza extrema encontramos os bairros, muitos de génese ilegal, que albergaram as dezenas de milhares de pessoas que vieram para Lisboa e para Portugal para pôr de pé as zonas novas de Lisboa, a Expo 98, a Ponte Vasco da Gama e os estádios do Euro 2004.

É nestes bairros, com condições degradantes de vida, que se desenrola a violência sistemática, liderada pelo executivo de Carla Tavares. Há anos que a Câmara da Amadora executa demolições e despejos violentos nos Bairros de Santa Filomena, 6 de Maio, Estrela de África e outros. Utilizando o desatualizado Programa Especial de Realojamento, criado em 1993, a Câmara tem despejado centenas de pessoas sem alternativas habitacionais, demolindo em nome de um realojamento inexistente.

A recomendação do Provedor de Justiça, que a Câmara se recusa a reconhecer, declara que se estão a usar dinheiros e meios públicos para defender interesses privados ao limpar o Bairro de Santa Filomena, cujos terrenos são de um fundo de investimento privado fechado gerido pelo BCP. O Provedor diz que perante a pobreza agravada, desemprego e precariedade crónica de que sofrem os moradores, a Câmara devia deter o processo de demolições por razões humanitárias. A resposta do executivo foi acelerar as demolições, destruir as casas das pessoas que falaram publicamente, demolir casas com o recheio dentro, expulsar idosas, doentes, crianças e colocá-las na rua. Houve pessoas a dormir nos escombros das suas antigas casas.

A Câmara contou sempre com uma PSP abnegadamente cooperante, que se apresenta às demolições sem despachos, editais, ordens de despejo, equipada para cenário de guerra, quando a oposição que encontra são crianças e idosas de roupão, arrancadas das suas camas. Apresenta-se como a voz da lei, acima da lei e violando-a, recusando apresentar documentos ou informações aos deputados da Assembleia da República ou detendo eleitos locais. Na Amadora a única lei que conta é a do mais forte e o executivo faz questão de utilizar a sua imensa força contra os mais fracos.

Mas não é só no último dia, em que a casa vai abaixo: o terror são os dias, os meses antes. A pressão por funcionários da Câmara que, dia sim, dia não, batem à porta das casas a avisar que no dia seguinte vêm as retroescavadoras, mentindo, da polícia municipal que faz ameaças aos jovens, as crianças cujas matrículas nas creches são negadas. É o terror sem lei em que vive o sal da terra na Amadora. Só aguenta quem não tem alternativas. Até ao dia da retroescavadora.

Pode o líder do PS, António Costa, que propõe ao país uma governação com sensibilidade social, aceitar que uma Câmara de maioria absoluta do seu partido se comporte tão violentamente, despótica e desumanamente perante os mais pobres dos habitantes deste país?

Artigo publicado no jornal “Público” em 19 de abril de 2015

João Camargo - Engenheiro agrónomo e dirigente do Bloco de Esquerda. Deputado municipal do Bloco na Amadora

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