Na
Amadora a única lei que conta é a do mais forte e o executivo faz questão de
utilizar a sua imensa força contra os mais fracos.
João Camargo - Esquerda.net,
opinião
A
Câmara tem despejado centenas de pessoas sem alternativas habitacionais,
demolindo em nome de um realojamento inexistente.
A
Amadora é conhecida por todo o país por ser problemática. A pobreza no
município produziu grandes zonas de exclusão, de preconceito, de violência, de
perseguição. Vigora um regime de terror sobre os mais pobres da Amadora,
particularmente nos bairros marcados pela Câmara para demolição.
A
habitação é fulcral na Amadora. Largas centenas de pessoas viram-se perante a
crise, o desemprego e uma nova lei das rendas medieval na iminência de ficarem
sem casa. As redes familiares foram a sua principal assistência. Deslocando-nos
para o espectro da pobreza extrema encontramos os bairros, muitos de génese
ilegal, que albergaram as dezenas de milhares de pessoas que vieram para Lisboa
e para Portugal para pôr de pé as zonas novas de Lisboa, a Expo 98, a Ponte
Vasco da Gama e os estádios do Euro 2004.
É
nestes bairros, com condições degradantes de vida, que se desenrola a violência
sistemática, liderada pelo executivo de Carla Tavares. Há anos que a Câmara da
Amadora executa demolições e despejos violentos nos Bairros de Santa Filomena,
6 de Maio, Estrela de África e outros. Utilizando o desatualizado Programa
Especial de Realojamento, criado em 1993, a Câmara tem despejado centenas de
pessoas sem alternativas habitacionais, demolindo em nome de um realojamento
inexistente.
A
recomendação do Provedor de Justiça, que a Câmara se recusa a reconhecer,
declara que se estão a usar dinheiros e meios públicos para defender interesses
privados ao limpar o Bairro de Santa Filomena, cujos terrenos são de um fundo
de investimento privado fechado gerido pelo BCP. O Provedor diz que perante a
pobreza agravada, desemprego e precariedade crónica de que sofrem os moradores,
a Câmara devia deter o processo de demolições por razões humanitárias. A
resposta do executivo foi acelerar as demolições, destruir as casas das pessoas
que falaram publicamente, demolir casas com o recheio dentro, expulsar idosas,
doentes, crianças e colocá-las na rua. Houve pessoas a dormir nos escombros das
suas antigas casas.
A
Câmara contou sempre com uma PSP abnegadamente cooperante, que se apresenta às
demolições sem despachos, editais, ordens de despejo, equipada para cenário de
guerra, quando a oposição que encontra são crianças e idosas de roupão,
arrancadas das suas camas. Apresenta-se como a voz da lei, acima da lei e
violando-a, recusando apresentar documentos ou informações aos deputados da
Assembleia da República ou detendo eleitos locais. Na Amadora a única lei que
conta é a do mais forte e o executivo faz questão de utilizar a sua imensa
força contra os mais fracos.
Mas
não é só no último dia, em que a casa vai abaixo: o terror são os dias, os
meses antes. A pressão por funcionários da Câmara que, dia sim, dia não, batem
à porta das casas a avisar que no dia seguinte vêm as retroescavadoras,
mentindo, da polícia municipal que faz ameaças aos jovens, as crianças cujas
matrículas nas creches são negadas. É o terror sem lei em que vive o sal da
terra na Amadora. Só aguenta quem não tem alternativas. Até ao dia da
retroescavadora.
Pode
o líder do PS, António Costa, que propõe ao país uma governação com
sensibilidade social, aceitar que uma Câmara de maioria absoluta do seu partido
se comporte tão violentamente, despótica e desumanamente perante os mais pobres
dos habitantes deste país?
Artigo
publicado no jornal “Público” em 19 de abril de 2015
João Camargo - Engenheiro
agrónomo e dirigente do Bloco de Esquerda. Deputado municipal do Bloco na
Amadora
Leia
mais em Esquerda.net
Sem comentários:
Enviar um comentário