segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Ativistas angolanos, de pés descalços, aproveitam julgamento para contestar regime



Os jovens ativistas angolanos, que hoje começaram a ser julgados acusados de prepararem uma rebelião, usaram a sala de audiências para manter o protesto contra o regime, escrevendo mensagens na roupa e entrando descalços no tribunal.

Os jovens 'revús', como são conhecidos, foram aplaudidos em plena sala de audiência e um deles, Benedito Jeremias, usava mesmo uma camisola dos serviços prisionais, onde se podia ler nas costas: "In dubio pro reo [princípio da presunção da inocência]".

Tal como os restantes 14 colegas - mais duas jovens estão acusadas dos mesmos crimes e ficaram a aguardar o julgamento em liberdade -, Benedito está detido desde junho, acusado de atos preparatórios para uma rebelião e um atentado ao Presidente angolano, crime punível com até três anos de prisão e que admite liberdade provisória.

Vestidos com a habitual farda dos serviços prisionais, a maior parte dos 15 jovens chegou à sala de audiência descalço, o que levou o juiz a considerar a atitude "uma falta de respeito".

Benedito Jeremias foi o primeiro a explicar-se, dizendo ser uma "forma de protesto" contra o alegado excesso de prisão preventiva, enquanto Luaty Beirão, o luso-angolano que esteve em greve de fome durante 36 dias, acrescentou: "Estivemos cinco meses [tempo em que estão em prisão preventiva] há espera de botas. Chegaram hoje às 04:00, antes de virmos para aqui. Já não precisamos".

Antes, todos aguardaram várias horas no autocarro dos serviços prisionais, no exterior do edifício do tribunal, em Benfica, arredores de Luanda. Perante uma sala lotada de familiares, populares e jornalistas, foram distribuídos em dois grupos e recebidos em palmas, retribuindo sempre com gestos de satisfação e sorrisos rasgados.

"Esse poder é do povo", atirou, para todos na sala ouvirem, Sedrick Domingos de Carvalho, outros dos arguidos.

Todos os 17 são acusados pelo Ministério Público angolano de preparem uma rebelião e um golpe de Estado, responsabilizados ainda por prepararem um Governo de Salvação, lista que a defesa veio esclarecer que não foi preparada pelos arguidos, mas sim resultou de uma consulta, lançada por outra pessoa, nas redes sociais.

"Estamos a falar do exercício do direito à liberdade de expressão e à liberdade informação. Ou seja, o direito de exprimir e compartilhar livremente os seus pensamentos, as suas ideias e opiniões pela palavra, pela imagem ou qualquer outro meio", sublinhou o advogado Luís Nascimento, que defende, em conjunto com o colega Walter Tondela, dez dos ativistas.

A própria leitura do despacho de pronúncia, com os nomes que resultaram dessa alegada votação para o Governo de Salvação, representou um dos momentos caricatos do julgamento, com o nome de Julino Kulepeteka, líder de uma seita angolana ilegal (detido desde abril), indicado nessa lista, que serve de base à acusação, para Presidente da República, bem como membros do grupo de jovens ativistas e até de advogados de defesa para outros cargos de Governo, perante o riso generalizado na sala.

David Mendes, advogado de defesa e um desses 'nomeados', esboçou o sorriso durante essa leitura, pouco depois de se ter queixado que chega a julgamento sem ter tido acesso ao processo que vem defender.

"Nós estamos aqui sem poder apresentar contestação. Como é que vamos contestar isto, se não tivemos acesso ao processo", afirmou David Mendes, perante o coletivo de juízes.
Enquanto isso, nas costas de Benedito Jeremias podia ainda ler-se: "Nenhuma ditadura impedirá o avanço de uma sociedade para sempre".

Apesar de várias dúvidas nos últimos dias, o julgamento destes ativistas arrancou mesmo hoje e tem sessões diárias agendadas até sexta-feira.

PVJ// PJA – Lusa – foto Ampe Rogério Rede Angola

Portugal. ISTO VAI, MEU DILECTO, ISTO VAI!



Baptista-Bastos – Jornal de Negócios, opinião*

Três séculos de Inquisição, de cantochão e de arrocho, de superstição e de fanatismo, com mais 50 anos de fascismo, fizeram dos portugueses um povo amedrontado e receoso do futuro.

A direita está lentamente a recompor-se do abanão que levou nas suas certezas. O velho tema do medo voltou aos jornais, à rádio e às televisões. O medo é uma arma insidiosa e terrível, tanto mais que a direita, como dispõe do dinheiro e de inúmeros meios de comunicação, que foi adquirindo, ao longo dos anos, utiliza-os, através de estipendiados, para manter o poder. Nesse extraordinário "O poema pouco original do medo", Alexandre O'Neill recita que "o medo vai ter tudo" e faz a enumeração desse "tudo" com a vertiginosa criatividade que faz dele o grande e imparável poeta.

Nas notícias mais breves, nos comentários mais amenos, lá vem o medo. Se atentarmos nos programas de economia, logo o medo é imposto, através de insinuações acerca dos "mercados" e do seu "comportamento" com o novo quadro político. O pobre Paulo Portas, apoplético e raivoso, fala da união de esquerda como se do apocalipse se tratasse. É uma criatura desprovida do mais módico resquício de respeitabilidade e o seu passado, neste aspecto, é de fazer corar o mais insensível. A verdade é que o acontecido é o que tinha de acontecer. E o Governo de Passos Coelho puxou a corda do enforcado até limites insuportáveis.

Durante quatro anos e meio, os portugueses mais débeis foram esmagados com uma ofensiva nunca vista em democracia. Esta ofensiva teve o respaldo de parte da imprensa e de uma televisão conformada com a vilania. Um milhão e meio de compatriotas nossos foram arredados, ostensivamente, dos mais simples actos de cidadania. O "arco do poder", constituído pelo PSD e pelo PS (o CDS só conta como sobressalente), dominou, como quis e entendeu, a desgraça portuguesa. E os anos da coligação acentuaram esse infortúnio. Assisti, confrangido por eles, à triste manifestação em São Bento, dos que eram contra a rejeição do programa do Governo. Como é possível, 40 anos depois de Abril, haver gente tão tacanha, tão atrozmente reaccionária como esta; como é possível? Trata-se, sobretudo, de uma questão de mentalidade, de arejamento das células cinzentas, que me parecem afastadas daquela melancólica turma. É o medo que também os inspira.

O medo é uma componente da sociedade portuguesa. Três séculos de Inquisição, de cantochão e de arrocho, de superstição e de fanatismo, com mais 50 anos de fascismo, fizeram dos portugueses um povo amedrontado e receoso do futuro, tido como maléfico pelas forças mais conservadoras. Quando Pedro Passos Coelho, num cabisbaixo discurso, no dia do adeus, diz que não abandona Portugal, a frase morre pelo ridículo e pelo descaramento. Foram ele e os seus que empobreceram o país, que enviaram um milhão de miúdos para a fome e para a penúria, que desprezaram os velhos, que tentaram liquidar a escola pública, o Sistema Nacional de Saúde, e a Segurança Social para os fojos, que tornaram a pátria num protectorado alemão - e têm agora, suprema injúria!, o descoco de usar as frases do cordeiro.

O que espera o Governo da união das esquerdas exige dos seus protagonistas uma tenacidade enorme. A direita está disposta a tudo, e até se apoia, desavergonhadamente, nas organizações políticas estrangeiras para procurar manter os seus privilégios e desmandos. A mentira, o embuste, a cilada e a calúnia fazem parte do arsenal habitualmente utilizado. Mas o que foi já está. Um círculo vicioso de poder foi interrompido e, oxalá!, desmantelado. Não digo que uma nova era vai surgir instantaneamente. Não digo. Mas que muitas coisas vão mudar e para sempre, lá isso vão! "Ça ira!"

*Publicado no Negócios, opinião em 13.11.2015

Portugal. CAVACO RECORDA QUE EM 1987 ESTEVE CINCO MESES EM GESTÃO



O Presidente da República recordou hoje que enquanto primeiro-ministro esteve cinco meses em gestão e aconselhou a que se verifique o que aconteceu nos dois casos de crises políticas anteriores, em 1987 e 2004.

"Eu estive cinco meses em gestão, eu como primeiro-ministro de um Governo estive cinco meses em gestão", afirmou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, em declarações aos jornalistas, na Ribeira Brava, na Madeira.

Questionado se não considera urgente que decida sobre a crise política, o chefe de Estado recomendou que se verifique o que aconteceu em casos anteriores: "vá ver nos dois casos de crises anteriores que aconteceram - um foi em 1987 e um em 2009 [sic] - quantos dias esteve o Governo em gestão, o que é que fez o Presidente da República de então e quais foram as medidas importantes que esse Governo de gestão teve que tomar".

O chefe de Estado referia-se, além do seu próprio caso, ao Governo PSD/CDS-PP liderado por Pedro Santana Lopes, tendo, por lapso, referido 2009 e não 2004.

Antes, em resposta às perguntas insistentes dos jornalistas sobre a crise política aberta depois da aprovação de uma moção de rejeição ao programa do Governo, o Presidente da República disse que o que tem feito e continuará a fazer é informar os portugueses sobre cada um dos seus passos.

"O que tenho feito e vou continuar a fazer é, cada passo que dou para resolver a crise, eu informo os portugueses", referiu.

Desta forma, continuou, os portugueses podem ir ao 'site' da Presidência da República, onde está a informação de que o chefe de Estado está a "recolher o máximo de informação junto daqueles que conhecem a realidade social, económica e financeira portuguesa para dar indicações ao poder político qualquer que ele seja quanto às linhas que permita manter uma trajetória de crescimento económico, de criação de emprego e da acesso das empresas, do Estado e dos bancos ao sistema de financiamento".

"Porque sei muito bem, muito bem o que aconteceu em Portugal quando as orientações adequadas não foram cumpridas", acrescentou.

Em 2004, quando o então Presidente Jorge Sampaio dissolveu a Assembleia da República, o Governo liderado por Pedro Santana Lopes esteve em gestão desde 10 de dezembro até à posse do executivo de José Sócrates, que ocorreu a 12 de março de 2005. As eleições legislativas antecipadas realizaram-se a 20 de fevereiro.

Em 1987, o X Governo Constitucional, liderado por Cavaco Silva, foi derrubado a 03 de abril com a aprovação de uma moção de censura ao Governo apresentada pelo PRD.

O XI Governo Constitucional, também liderado por Cavaco Silva, tomou posse cerca de quatro meses e meio depois, a 17 de agosto. As eleições legislativas antecipadas aconteceram a 18 de julho. O executivo entrou em plenitude de funções 28 de agosto, depois do debate do programa de Governo na Assembleia da República.

Lusa, em Notícias ao Minuto

PORTUGAL NA SÍRIA? PCP E BLOCO DIZEM NÃO, PASSOS E COSTA “NIM”



Os ataques de Paris reacenderam a questão sobre se Portugal estará ou não apto e/ou disponível para integrar uma intervenção militar na Síria.

Perante os ataques de sexta-feira em Paris, levantou-se a questão sobre a intervenção militar de países que normalmente não o fazem na Síria. Um deles é Portugal, cuja possível participação divide opiniões.

Na opinião de Passos Coelho fugir às obrigações não é hipótese. Já durante a campanha eleitoral, o líder social-democrata disse que, caso fosse definida uma intervenção militar em conjunto, Portugal não iria fugir “às responsabilidades”.

Este tema foi, aliás, dos poucos que obteve consenso entre Passos e Costa. O Observador tentou contactar os socialistas para saber se a intervenção portuguesa estava em cima da mesa, mas Porfírio Silva, responsável pelas políticas externas do PS,  adiou para “mais tarde” declarações sobre a questão. Costa poderá, contudo, responder a essa pergunta, durante a entrevista que tem agendada para esta noite na RTP.

Quanto ao Bloco e PCP, a resposta é claro não. Contactados pelo jornal online, os comunistas reiteram que “no respeito pela sua Constituição e pela Carta das Nações Unidas, deve-se resolutamente desvincular de quaisquer aventuras belicistas”.

O Bloco, por seu lado, recusou responder às perguntas diretamente, mas a posição já foi conhecida com declarações de membros do partido através das redes sociais. “Os assassinos procuram impor o medo e o ódio. A consternação tem de ser ultrapassada pela solidariedade não pela vingança”, escreveu Pedro Filipe Soares na rede social Twitter.

Notícias ao Minuto

REALIZADORA PORTUGUESA SEM VISTO PARA ENTRAR EM ANGOLA



Inês Oliveira foi convidada para participar no FIC Luanda mas suspeita que o seu apoio aos activistas detidos tenha travado o processo.

A portuguesa Inês Oliveira foi impedida de viajar para Angola, onde iria participar no Festival Internacional de Cinema de Luanda (FIC Luanda). A realizadora foi convidada pelo Ministério da Cultura para exibir o seu último filme (Bobô, 2013), mas não conseguiu obter visto do Consultado de Angola em Lisboa.

Inês Oliveira suspeita de que o seu apoio público aos presos políticos esteja por detrás da decisão, conclusão que começou a ganhar forma quando foi avisada por um amigo angolano. “Fui alertada por um amigo numa mensagem privada, dizendo que se eu queria ir ao festival não era boa ideia assumir a minha posição publicamente. Agradeci-lhe a mensagem e disse ‘tu, tal como eu, querias poder falar livremente e não podes'”, contou ao Rede Angola.

Inês Oliveira lembra que no ano passado, recebeu “sem problemas” um visto do Consulado para entrar em Angola, onde iria participar na edição de 2014 do FIC Luanda, que acabou por não se realizar, cancelado “à ultima da hora”.

A realizadora recorreu às redes sociais para solidarizar-se com os activistas, tendo também participado nas manifestações de apoio em Lisboa. A partir desse momento a viagem para Luanda começou, diz, a esbarrar na burocracia do consulado e na falta de resposta da própria organização do FIC Luanda.

“Senti que este convite e a minha manifestação de apoio aos presos políticos ia entrar em conflito”, admitiu a cineasta. E assim foi. Sexta-feira de manhã recebeu em mãos o passaporte, com o visto recusado. Ao pedido de uma justificação, o consulado limitou-se a dizer que a recusa partiu do Serviço de Migração e Estrangeiros (SME).

Entretanto, Inês Oliveira contactou por email o SME com um pedido de esclarecimento e aguarda resposta.

O RA falou com o Consulado de Angola em Lisboa e foi informado pelos serviços consulares que o processo do visto de Inês Oliveira está a ser analisado pelo SME.

No entanto, o visto solicitado pela realizadora era um visto de curta duração para uma viagem que estava marcada para realizar-se entre o dia 11 e 16 deste mês. Isto é, se tudo tivesse corrido normalmente, Inês Oliveira estaria hoje a embarcar num avião de regresso a Lisboa.

Rede Angola

Angola. Presos políticos. JULGAMENTO CONTINUA SEM A PARTICIPAÇÃO DA IMPRENSA



Manuel Nito Alves é o primeiro arguido a ser ouvido. Polícia dispersa familiares e amigos dos activistas que estão em frente ao tribunal.

O julgamento dos 17 activistas, 15 dos quais em prisão preventiva desde Junho, está a decorrer, neste momento, a portas fechadas e sem a presença da imprensa, que foi retirada após uma pausa que ocorreu entre às 13h30 até às 14h.

O primeiro activista que está a ser ouvido é o Manuel Chivonde Baptista Nito Alves, que além dos crimes de actos preparatórios de rebelião e atentado contra o presidente está também a ser acusado de “falsificação de identidade”.

O julgamento arrancou, às 11h, na 14.ª secção do Tribunal Provincial de Luanda, em Benfica, e durante a fase de leitura do despacho de acusação, do despacho de pronúncia e das intervenções do Ministério Público e das reclamações dos advogados de defesa, os jornalistas puderam trabalhar normalmente no interior da sala de audiências, inclusive recolhendo imagens.

Os arguidos entraram motivados, sob aplausos dos presentes, alguns deles estavam descalços e outros com chinelos, causando constrangimento ao corpo de jurados, que os mandou saírem para calçarem os sapatos. Ao que os activistas responderam em uníssono: “desde que fomos detidos não nos foram atribuídos sapatos”.

O activista Benedito Jeremias entrou com uma camisa em que se lia “nenhuma ditadura impedirá o avanço de uma sociedade para sempre”, numa outra camisa lia-se “Recluso do Zé Du”.

“Vai acontecer o que o José Eduardo [Presidente] decidir. Tudo aqui é um teatro, a gente conhece e sabe bem como funciona [o julgamento]. Por mais argumentos que se esgrimam aqui e por mais que fique difícil de provar esta fantochada, se assim se decidir seremos condenados. E nós estamos mentalizados para a condenação”, afirmou Luaty Beirão em declarações exclusivas à Lusa, durante a pausa do julgamento.

Rede Angola (11:15)

Angola. “VAI ACONTECER O QUE O JOSÉ EDUARDO DECIDIR” – Luaty Beirão



O ativista Luaty Beirão, um dos 17 arguidos que hoje começaram a ser julgados em Luanda, acusados de atos preparatórios para uma rebelião, diz que a decisão sobre este caso está nas mãos do Presidente José Eduardo dos Santos.

"Vai acontecer o que o José Eduardo [Presidente] decidir. Tudo aqui é um teatro, a gente conhece e sabe bem como funciona [o julgamento]. Por mais argumentos que se esgrimam aqui e por mais que fique difícil de provar esta fantochada, se assim se decidir seremos condenados. E nós estamos mentalizados para a condenação", afirmou, em declarações exclusivas à Lusa, durante a pausa do julgamento, que arrancou esta manhã no tribunal de Benfica, em Luanda.

PVJ // EL - Lusa

Angola. TUDO PREPARADO, TUDO DESPREPARADO



O julgamento dos jovens presos políticos 15+2 vai começar, isso é como quem diz, às primeiras horas desta manhã (16.11.15) mas, infelizmente e como é típico num regime não democrático, sem uma peça fundamental.

E essa peça é a “Acusação” do Ministério Público, base de toda a discussão na barra de qualquer Tribunal digno desse nome e que, aliás, é vital para os advogados poderem aferir de que são acusados os seus constituintes.

Aqui chegados, uma pergunta: haverá mesmo julgamento?

Eis a questão intrigante, denotando má-fé do Poder Executivo, que interfere no judicial…

O Folha 8 está presente, no Tribunal para o qual, à última hora, foi transferida esta sessão de julgamento, pois estava para ser inicialmente, na 14ª Secção, sito no município de Cacuaco, arredores de Luanda, mas que com as chuvas, que se abateram sobre a cidade capital, foi inundado, ocasionando a mudança, para a zona do Benfica, entre o antigo controlo e o início da Via Expresso.

Todos causídicos mostram-se defraudados com essa atitude inqualificável do Tribunal, principalmente depois de toda a publicidade partidária do regime e interferência, inclusive do Presidente da República, antes e mais recentemente no discurso dos 40 anos de Independência, do Procurador-Geral da República e seu adjunto, do Ministro do Interior, e do Comandante Geral da Polícia, augurava-se que fossem atempadamente notificados da acusação.

Infelizmente nem réus, nem advogados podem preparar-se para o início da sessão de julgamento, onde deveriam rebater as acusações, apresentando as respectivas contestações, salvo se forem confrontados com um decreto inquisitorial que, os obrigue a iniciar os trabalhos, sem a acusação, por determinação expressa, do Presidente da República, José Eduardo dos Santos.

A ser assim, no decreto constará que o mesmo acabou de se converter em monarquia, acabando com a República e a divisão de poderes, determinando, doravante, a realização de julgamentos com base na presunção, nas características fisiológicas e pensamento dos condenados, sempre que isso for detectado por um membro da corte, ao visionar que o acusado não idolatra o soberano e seu longevo consulado.

Na realidade, faltava esta peça no xadrez: a provável coroação de José Eduardo dos Santos face à condenação de nunca ter sido nominalmente eleito, Presidente da República, por ter medo de enfrentar outros candidatos, agora, foi finalmente, indicado individualmente, pelo “comité central do MPLA”, como monarca de Angola, justiceiro-mor e o representante de Deus na terra, que tudo pode e tudo manda, uma vez abandonada a divisão de poderes, passando o Reino de Angola a ser dirigido pelo PODER ÚNICO E ABSOLUTO de “el rei José Eduardo dos Santos” e ser válida a sua justiça.

“É uma vergonha para o sistema judicial angolano o que hoje nós estamos a viver, mas vamos esperar, pois nenhum advogado, estará em condições de apresentar uma contestação, por não ter conseguido ler a acusação (cerca de 1.000 páginas, incluindo suposta escutas e vídeos) e quando assim é o processo de julgamento começa inquinado”, disse o doutor David Mendes, um dos advogados do processo.

Um forte dispositivo policial envolve o início do julgamento. São dezenas de agentes da Polícia Nacional e guardas dos Serviços Prisionais. Não se sabe se os serviços de informação do regime terão algum indício que a NATO esteja a caminho…

Este caso é visto internacionalmente, embora isso não seja preocupação para o regime, como um teste à separação de poderes e ao exercício de direitos como a liberdade de expressão e reunião.

Os activistas estão todos acusados, entre outros crimes menores, da co-autoria material de um crime de actos preparatórios para uma rebelião e para um atentado contra o Presidente de Angola, no âmbito de um curso de formação semanal que decorria desde Maio.

Observadores independentes temem que o julgamento seja apenas uma formalidade que visará, afinal, dar corpo uma sentença que há muito está determinada.

Folha 8

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Portugal. O MELHOR AMIGO DA DEMOCRACIA



João Quadros – Jornal de Negócios, opinião

Depois de meses a dizer "que se lixem as eleições", as eleições acabaram por lixar Passos Coelho. O XX caiu, sem estrondo, mas com bastante barulho.

Depois de meses a dizer "que se lixem as eleições", as eleições acabaram por lixar Passos Coelho. O XX caiu, sem estrondo, mas com bastante barulho. A direita reagiu mal à matemática e justificou-se com filosofia. Era o primeiro sinal de que as coisas estavam a mudar.

Ninguém gosta de cair, muito menos com pessoas a ver. A coligação ficou chocada com a soma das partes e não aceitou o todo. Marco António Costa veio à televisão dizer que foi um acto ilegítimo e de usurpação de poder mas, estranhamente, não chamou a GNR. Deve ter medo de polícias.

De repente, toda a direita sabia mais sobre a esquerda do que a esquerda sabia sobre si. O JM Tavares explicou a Costa o que era o PS, Nuno Melo garantia que os eleitores do BE foram traídos, Henrique Raposo deu conselhos de como ser comunista ao Jerónimo. Faltou ver Assunção Cristas explicar aos Verdes como é que se faz um charro.

O mundo está ao contrário e tudo indica que assim vai ficar. Repare, o estimado leitor, que o PSD e o CDS garantem que vão chumbar tudo o que venha do XXI Governo. Ou seja, muito provavelmente, vamos ver o PSD e o PP a votar contra a Merkel e a CE. Aníbal Cavaco Silva vai ter de excluir o PSD e o CDS do arco da governação ao segundo chumbo das indicações de Bruxelas - "Votam sempre contra, são meros partidos de protesto, são umas esganiçadas, sempre contra alguém ou contra alguma coisa." Vamos ter Passos de rabo de cavalo e vou acabar a votar na coligação antitratado orçamental: o Pafemos. É esgotante.

Façamos uma pausa no futuro e fiquemos com o que aconteceu. Esta revolução não foi um dia fácil para Passos Coelho, mas, no meio da tormenta, o que mais deve ter custado ao PM foi o voto do deputado do PAN. Depois da trabalheira, respeito, atenção e até dedicação de Passos no dia anterior, respondendo a perguntas sobre os gases da pecuária, o deputado ainda fugiu para o outro lado. Só havia um deputado que estava indeciso naquele Parlamento, só havia um ser naquela sala que estava verdadeiramente interessado no programa do XX Governo Constitucional, e o PAN chumbou o Governo: 100% de negas.

Ninguém quer ser reprovado pelo PAN. Ser chumbado pelo PAN é pior do que ser afastado pelo Sampaio. Um chumbo do deputado do PAN são sete anos de azar com animais. Gatos pretos a passarem-lhe à frente de cinco em cinco minutos.

É bem provável que os cães de Passos lhe rosnem depois de ter sido considerado incapaz pelo PAN. Se o representante dos caniches no Parlamento não confia nele, como é que eles vão confiar? Se calhar, o PM chegou a casa e tinha os chinelos estraçalhados - "Ó Laura, porque é que as minhas pantufas cheiram a xixi?"

Mais que qualquer moção de rejeição de uma frente de esquerda, o chumbo do PAN é a certidão de óbito do Governo do PàF. Se o programa do XX nem para os animais serve, como é que o iam dar às pessoas? 

Portugal. FRAUDE É FAZER DE “ELEIÇÕES DE DEPUTADOS ELEIÇÕES DE PRIMEIRO-MINISTRO”



O secretário-geral do PCP acusou hoje o líder do PSD de estar agarrado como lapa ao poder, considerando ser uma fraude fazer das eleições de deputados para a Assembleia da República uma eleição para primeiro-ministro.

"Há dias, agarrados como lapa ao poder e em desespero de causa, mas também e certamente com o objetivo de dar cobertura a uma qualquer manobra que inviabilize a Constituição de um governo do PS, Passos Coelho veio defender a revisão da Constituição e a realização das novas eleições", disse Jerónimo de Sousa.

Num comício na Marinha Grande, distrito de Leiria, Jerónimo de Sousa referiu que o líder do PSD, "provocatoriamente, apelidou a solução governativa que resulta dos compromissos entre os quatro partidos [PS, BE, PCP e PEV] que são a maioria na Assembleia da República e representam a maioria do voto popular como uma fraude".

"O PCP, reafirmando que não há nenhuma razão político-institucional que possa ser invocada para questionar esta solução governativa do PS chama a atenção que fraude é fazer das eleições de deputados para a Assembleia da República uma eleição para primeiro-ministro que não existe em lado nenhum", sublinhou o responsável comunista.

O primeiro-ministro e presidente social-democrata, Pedro Passos Coelho, lançou o desafio ao PS, para que aceite fazer uma revisão constitucional extraordinária para que rapidamente possa haver novas eleições legislativas, numa sessão pública promovida pelo PSD e CDS-PP, na quinta-feira à noite, em Lisboa.

Na mesma ocasião, Passos Coelho considerou que o executivo proposto pelo PS "representa uma fraude eleitoral e um golpe político" e não deveria "vir a nascer, nem na anormalidade" atual.

Para Jerónimo de Sousa, "fraude é querer governar contra a vontade da maioria dos deputados e sem respeitar a vontade da maioria que existe na Assembleia da República, adiantando que "fraude é utilizar a inexistente e falsa regra que o partido mais votado tem direito a governar e o direito a passar obrigatoriamente na Assembleia da República, mesmo quando minoritário".

"O que é a que a coligação PSD e CDS tinha para oferecer quando foi nomeado Passos Coelho por Cavaco Silva se não uma acanhada e fragilíssima minoria? Que acordos tinham para garantir a passagem dos seus orçamentos?", questionou o responsável comunista, lançando outras perguntas: "Porque é que o Presidente da República não lhe exigiu aquando da nomeação? Onde estava a sua consistência e a sua solução duradoura?".

Para o secretário-geral do PCP, "discordando, compreende-se que o militante do PSD Cavaco Silva defenda os seus", mas "já não se pode aceitar que o Presidente da República, Cavaco Silva, queira impor a outros o que não impôs aos seus".

"Só tem é que cumprir e fazer cumprir a Constituição e a solução governativa alternativa que está colocada e tem decidir tomar posse nas condições e nos critérios estabelecidos por essa maioria", defendeu.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. CAVACO SEM PRESSA DE TOMAR DECISÃO, VIAJA HOJE SOB CRÍTICAS



Presidente da República viaja hoje para a Madeira

O país está em crise e torna-se urgente resolver a situação de indecisão política em que se encontra, definindo quem constituirá o Governo que irá liderar o país.

Porém, aquele que mais interessado deveria estar em fazê-lo, mostra que não tem pressa em dar posse a um novo executivo, escreve o Diário de Notícias.

Isto porque, em plena crise, Cavaco Silva não quis alterar a sua agenda, e parte hoje para a Madeira para participar na 7.ª jornada do Roteiro para uma Economia Dinâmica, um evento que já estava agendado há meses.

A decisão de Cavaco não tem passado despercebida e terá já gerado críticas por parte de vários partidos e líderes políticos. Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo, disse que é necessário “que haja um governo rapidamente”, enquanto Maria de Belém afirmou que caso fosse chefe de Estado provavelmente não iria à Madeira “neste contexto”.

Já o Bloco de Esquerda, pela voz de Rodrigo Trancoso, espera que o Presidente aproveite estes dias “para refletir com lucidez e bom senso”.

Notícias ao Minuto

Portugal. “CAVACO ENTENDE POR CONSENSO A ARREGIMENTAÇÃO DO PS” - Cravinho



Antigo ministro socialista conversou com o Público sobre o impasse político que se vive em Portugal.

Para João Cravinho vivemos atualmente uma “viragem no debate político” que é um “episódio estrutural, profundo, que veio para ficar”, referindo-se ao acordo alcançado entre PS, Bloco de Esquerda e PCP.

Por isso, o antigo ministro do Equipamento, Planeamento e Administração do Território, acredita que o caminho se faz caminhando e as “coisas vão-se construindo”.

“Não acredito que haja um big-bang, as coisas vão-se construindo, mas que veio para ficar, veio”, sublinha, garantindo que é exatamente isto que “preocupa” a Direita, pois “não é uma questão de conjuntura”, e PSD e CDS sabem isso.

João Cravinho acusa Aníbal Cavaco Silva de apelar, de “uma maneira extrema dada a sua posição institucional, ao consenso, consensos mínimos de governação”.

“Mas o Presidente entende por consenso a arregimentação do PS, a adesão ao programa da coligação. Isto significa que não é possível um consenso destes porque seria autodestrutivo do PS”, sublinha.

Ainda assim, o socialista diz que tal não significa que não possa existir consensos, mas “Passos Coelho ao deslocar-se para a Direita, destruindo no seu partido elementos mais sociais-democratas, queimou a hipótese declarando que queria ir para além da troika”.

E foi, na ótica do socialista, esta “declaração ideológica que criou um fosso enorme que não é suscetível de ser vencido”.

“É necessário um consenso, mas não um projeto de fação”, aponta.

Notícias ao Minuto

Portugal. DEMORA DA DECISÃO DE CAVACO SOBRE GOVERNO "NÃO ESTÁ A SER NORMAL"



O candidato presidencial António Sampaio da Nóvoa defendeu hoje que o tempo que o Presidente da República está a demorar a tomar uma decisão sobre o Governo do país "é um tempo que não está a ser normal".

"Não vejo hoje da mesma maneira que vi todas as razões que levaram ao tempo de funcionamento da democracia, até que os partidos tenham decidido o que tinham a decidir na sua sede normal, que é o parlamento: da mesma maneira que eu achei normal esse tempo, também acho que este é um tempo que não está a ser normal", disse Sampaio da Nóvoa à imprensa, na Fundação José Saramago, em Lisboa.

Embora frisando que "do ponto de vista constitucional", Cavaco Silva "não tem nenhum prazo" para tomar uma decisão sobre o próximo Governo de Portugal (após o chumbo no parlamento do programa do executivo minoritário PSD-CDS, recém-nomeado pelo chefe de Estado), Sampaio da Nóvoa considera que "era preciso que esta decisão fosse tomada com a rapidez possível".

"Não há, na minha opinião, nenhuma razão que impeça uma tomada de decisão do senhor Presidente da República", insistiu, acrescentando que "não é boa para Portugal, não é boa para os portugueses, a situação de indefinição que se vive agora".

O candidato às eleições presidenciais alertou que "o arrastar desta situação pode trazer uma degradação da situação política e até da situação social, pode trazer tensões, crispações, agressividades".

"E nós não precisamos de nada disso, precisamos de palavras de serenidade, de entendimento, de paz (...), precisamos de baixar o nível de crispação", sublinhou.

"Nesta altura, a decisão rápida do senhor Presidente da República seria um gesto importante de pacificação da sociedade portuguesa -- é disso que precisamos neste momento", concluiu.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. O PLANO PASSOS



José Mendes – Jornal de Notícias, opinião

Políticos, comentadores e jornalistas desdobram-se na tentativa de interpretarem as intenções do ainda primeiro-ministro quando há dias propôs uma intempestiva revisão da Constituição. A ideia, que aparentemente tem tanto de inviável como de surpreendente, não pode ter sido apenas um desabafo disparado no calor de uma reunião entre militantes laranjas. Passos Coelho é hoje um político demasiadamente experiente para detonar esta bomba sem um propósito predeterminado.

A razão-base para se desconfiar da proposta reside na sua própria justificação. Apenas seis semanas após as eleições e tendo visto o programa de governo da sua coligação ser rejeitado pelos deputados recém-empossados, o primeiro-ministro acha que é melhor repetir as eleições para ver se, desta feita, tem sucesso. E como a Constituição, sábia, o não permite, propõe a respetiva revisão "à la minute", de forma a que o Parlamento possa ser dissolvido no seu semestre inaugural. Só que, para isso, precisa de uma maioria qualificada, ou seja teria de contar com o acordo dos mesmos deputados que lhe chumbaram o programa e que, assim, se autodissolveriam. Inviável, certo?

Estamos, portanto, perante um proposta que morreu antes de nascer, como sempre soube Passos Coelho. Só que este expediente serve o propósito de passar a mensagem de que a democracia está em causa e as instituições não estão a funcionar regularmente. No limite, os deputados da Esquerda terão impedido a Direita de dar voz ao povo. Fica assim criada a marca de água da ilegitimidade de um governo socialista que servirá de cartilha para a oposição da coligação PàF. PSD e CDS estão assim a armazenar energia potencial para, à menor vacilação do futuro Governo, dispararem todas as baterias com as munições da ilegitimidade, no sentido de forçarem o próximo presidente a convocar eleições antecipadas.

O exercício de condicionar o presidente está aliás já implícito nas entrelinhas da proposta-fantasma. Passos Coelho parece que dá como certo que Cavaco ou o seu sucessor cumpririam a sua parte do plano caso se concretizasse a alteração à Constituição, o que não deixa de ser uma forma de pressão.

Este plano de Passos encontra, porém, dificuldades nas contradições do seu espaço político. Se no verão da "demissão irrevogável", o presidente Cavaco não encontrou razões bastantes para convocar eleições, então não será uma qualquer dificuldade que justificará o derrube do Governo Costa. Pior do que isso, o plano Passos só seria possível com Marcelo em Belém, justamente o candidato do seu descontentamento.

O ESSENCIAL SOBRE OS ACONTECIMENTOS DE HOJE EM PARIS



O que se sabe até ao momento dos ataques em vários pontos da cidade de Paris, em França.

Foram identificados hoje mais dois dos bombistas suicidas autores dos ataques em Paris, na sexta-feira. Tratam-se de Ahmad Al Mohammad e e Samy Amimour, um francês de 28 anos, nascido na periferia parisiense, que a justiça antiterrorista já conhecia e era alvo de um mandado internacional de captura desde 2013. Amimour esteve envolvido no massacre de 89 pessoas na sala de espetáculos Bataclan, afirmou.

Há suspeitas de que Abdelhamid Abaaoud, um cidadão belga que estará na Síria, será o cérebro por detrás dos ataques. A informação não foi, no entanto, ainda confirmada oficialmente. Sabe-se queAbaaoud foi condenado a 20 anos de prisão, no início do ano, por ter sido considerado culpado de recrutar para o Estado Islâmico. Não estava presente no julgamento.

Durante a manhã desta segunda-feira, a polícia belga lançou uma operação de larga escala no subúrbio de Molenbeek, em Bruxelas. Chegou a avançar-se que Salah Abdeslam (irmão de Ibrahim Abdeslam, um dos bombistas que se mataram no Bataclan), e o homem mais procurado na França neste momento, por suspeitas de ligação aos atentados, havia sido detido. A informação foi desmentida, mais tarde, e Salah continua a monte.

O outro irmão Abdeslam, Mohammad, foi detido na Bélgica, mas hoje foi libertado sem qualquer acusação.

Sabe-se também que a polícia francesa chegou a interpelar, junto à fronteira com a Bélgica, Salah Abdeslam, que seguia num carro com dois outros homens. As autoridades deixaram-nos seguir porque nenhum dos nomes estava ainda na lista dos procurados.


O grupo de "hackers" Anonymouspublicou um vídeo nas redes sociais em que promete "a maior operação jamais realizada" contra os jiadistas do grupo Estado Islâmico, na sequência dos ataques de sexta-feira em Paris.

Hoje de manhã, a polícia francesa lançou uma série de raides em várias zonas da França, que resultaram em vários detidos.

Paralelamente, Hollande ordenou uma ofensiva militar na Síria, para atacar pontos nevrálgicos do Estado Islâmico em Raqqa.

Jornal de Notícias

Os ataques terroristas de Paris e a "narrativa oficial" – The Matrix estende o seu alcance



Paul Craig Roberts

Apenas uma hora após os ataques de Paris e ainda sem qualquer prova, foi gravada na pedra a narrativa de que os perpetradores eram do ISIL. É assim que funcionam os trabalhos da propaganda.

Quando o ocidente faz isto ele sempre tem êxito porque o mundo habituou-se a seguir a sua liderança. Admirei-me por ver, por exemplo, os serviços noticiosos russos ajudarem a propalar a narrativa oficial dos ataques de Paris apesar de a própria Rússia ter sofrido tantas vezes com narrativas falsas fabricadas.

Será que os media russos esqueceram o MH-17? No mesmo minuto em que era transmitida a narrativa de que o avião da Malaysian fora atingido por um míssil russo sobre a Ucrânia oriental nas mãos de separatistas, a culpa era atribuída à Rússia. E é onde a culpa permanece apesar da ausência de prova.

Será que os media russos também esqueceram a "invasão russa da Ucrânia"? Esta narrativa ridícula é aceite por toda a parte no ocidente como verdade sagrada.

Será que os media russos se esqueceram do livro daquele editor alemão de jornal, o qual escreveu que todo jornalista importante europeu era um activo da CIA?

Alguém poderia pensar que a experiência teria ensinado os media russos a serem cauteloso quanto a explicações que têm origem no ocidente.

Temos agora o que provavelmente é mais uma falsa narrativa estabelecida como verdade. Assim como uns poucos sauditas com canivetes enganaram todo o aparelho de segurança nacional dos EUA, o ISIL conseguiu adquirir armas não adquiríveis e enganar a inteligência francesa enquanto organizava uma série de ataques em Paris.

Por que é que o ISIL fez isto? Tiro pela culatra pelo pequeno papel da França na violência do Médio Oriente?

Por que não os EUA ao invés?

Ou será que o objectivo do ISIL era ter o fluxo de refugiados para dentro a Europa bloqueado por fronteiras fechadas? Será que o ISIL quer realmente manter todos os seus oponentes na Síria e no Iraque quando, ao invés, pode conduzi-los para a Europa? Por que tem de matar ou controlar milhões de pessoas impedindo a sua fuga?

Não espere quaisquer explicações ou questionamentos por parte dos media acerca da narrativa que está estabelecida como verdade definitiva.

A ameaça ao establishment europeu não é o ISIL. As ameaças são a ascensão de partidos políticos anti-UE e anti-imigrantes: Pegida na Alemanha, o UKIP na Grã-Bretanha e a Frente Nacional em França. Os inquéritos mais recentes mostram a Frente Nacional de Marine Le Pen à frente como a provável presidente francesa.

Algo tinha de ser feito acerca das hordas de refugiados provocadas pelas guerra de Washington, ou os partidos políticos do establishment serão confrontados com a derrota às mãos de partidos políticos que também são adversos à subserviência de Washington à Europa.

As regras da UE acerca de refugiados e imigrantes e a aceitação de um milhão de refugiados pela Alemanha, juntamente com fortes críticas àqueles governos na Europa do Leste que quiseram erguer muros para manter os refugiados do lado de fora, tornou impossível o encerramento de fronteiras.

Com os ataques terroristas de Paris, o que era impossível tornou-se possível e o presidente da França imediatamente anunciou o encerramento das fronteiras a França. Os encerramentos de fronteiras propagar-se-ão. A questão principal dos partidos políticos dissidentes em ascensão será neutralizada. A UE estará segura e, assim, a soberania da Europa sobre a Europa.

Se os ataques de Paris foram ou não operações de bandeira falsa com a finalidade de obter estes resultados, estes resultados serão as consequências dos ataques. Estes resultados servem os interesses do establishment político europeu e de Washington.

Será o ISIL tão pouco refinado que não tenha percebido isso? Se o ISIL for tão pouco refinado, como é que ele tão facilmente enganou os serviços franceses de inteligência? Na verdade, pode a inteligência francesa ser inteligente?

Podem os povos do ocidente ser inteligentes a ponto de cair numa narrativa forjada antes de qualquer prova? No ocidente, os factos são criados por declarações de governos no seu próprio interesse. A investigação não faz parte do processo. Quando 90 por cento dos media estado-unidenses são possuídos por seis mega corporações, não pode haver qualquer diferença.

Na medida em que The Matrix aumenta o absurdo das suas afirmações, ela no entanto consegue tornar-se ainda mais invulnerável. 

Ver também: 
  Le Bataclan revendu le 11 septembre. Exercices "multi-sites" du Samu de Paris le matin même , Alexander Doyle

O original encontra-se em www.globalresearch.ca/... 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

'Desastrosa' invasão dos EUA ao Iraque levou à criação do EI, diz pré-candidato Bernie Sanders



Opera Mundi, São Paulo

Com foco em terrorismo e política externa norte-americana no Oriente Médio, debate dos democratas ocorreu um dia após atentados em Paris

Os pré-candidatos democratas à presidência dos Estados Unidos participaram de um debate na noite de sábado (14/11) em que um dos principais temas foi a política externa norte-americana no Oriente Médio. O evento ocorreu um dia após a onda de atentados em Paris que matou ao menos 129 pessoas e deixou outras 352 feridas, segundo o último balanço das autoridades francesas.

Na discussão, o senador pelo estado de Vermont, Bernie Sanders, responsabilizou os EUA pelo surgimento de grupos islâmicos extremistas, dado o vácuo de poder no Oriente Médio. Para o candidato, trata-se de um sintoma que vem se desenvolvendo desde a autorização para a invasão do Iraque, em 2002, que foi sustentada à época por Hiillary Clinton, sua rival na corrida à Casa Branca.

“Eu diria que a desastrosa invasão do Iraque, que eu me opus fortemente, desatou a região completamente, e levou ao surgimento da Al Qaeda e do Estado Islâmico”, declarou Sanders. “Acho que foi um dos piores erros de política externa na história dos Estados Unidos”, definiu.

"Agora, na verdade, o que temos que fazer - e eu acho que há um amplo consenso aqui - é que os Estados Unidos não podem continuar sozinhos. O que precisamos fazer é liderar uma coalizão internacional que inclua de forma muito significativa as nações muçulmanas naquela região”, acrescentou.

Hillary Clinton, que foi secretária de Estado do primeiro mandato do presidente Obama (2009-2013), defendeu-se, alegando que a segurança no Oriente Médio é “incrivelmente complicada” e ainda recordou que o atentado de 11 de setembro de 2011 ocorreu antes da invasão do Iraque.

“Acredito que o que temos mesmo que fazer é enfrentar os problemas colocados pelo terrorismo extremista jihadista e entender que há antecedentes em relação ao que ocorreu no Iraque e devemos ficar vigilantes quanto a isso”, argumentou a candidata, que rejeitou a idéia de que ela e o resto da administração Obama teriam subestimado a ameaça crescente do Estado Islâmico.

Hillary é conhecida por ter uma atitude mais agressiva em relação à política externa dos EUA, desde o período em que foi chefe da diplomacia do país. Nas últimas semanas, ela pediu uma resposta mais robusta dos militares norte-americanos na guerra civil síria. “Nós estamos em uma guerra com extremismo violento e com pessoas que usam sua religião para fins de poder e opressão”, afirmou neste sábado.

Já Sanders concluiu seu ponto, afirmando que os Estados Unidos têm um “histórico de realizar mudanças em regimes" que trazem, sim, "conseqüências" a esses países. "Não acredito que nenhuma pessoa sensível iria discordar que a invasão no Iraque levou a um nível massivo de instabilidade que estamos vendo agora", pontuou.

Sobre a questão do terrorismo em Paris e o papel da política externa norte-americana, o  terceiro pré-candidato democrata presente no debate, o ex-governador de Maryland, Martin O’Malley, concordou em certa medida com Sanders.  “Não foi só a invasão do Iraque, mas foi a falha em investimento de inteligência humana”, declarou.

Hillary é a pré-candidata favorita entre os democratas, com 52% das intenções de voto, de acordo com pesquisas feitas entre 6 e 10 de novembro e encomendadas pela CBS News e pelo New York Times. Sanders figura em segundo lugar, com 33%; e O'Malley, com 5%. 

- Na foto: Bernie Sanders e Hillary Clinton mostraram ruptura entre democratas em relação às políticas militares dos EUA no Oriente Médio / Reprodução/CBS

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A POLÍTICA DE HOLLANDE PARA A SÍRIA, APÓS OS ATENTADOS EM PARIS - Latuff



Carlos Latuff*, Porto Alegre

Na sexta (13/11), Paris foi alvo de ataques reivindicados pelo Estado Islâmico; em resposta, presidente francês intensificou bombardeios com os EUA na Síria.

O cartunista e ativista Carlos Latuff é colaborador de Opera Mundi. Seu trabalho, que já foi divulgado em diversos países, é conhecido por se dedicar a diversas causas políticas e sociais, tanto no Brasil quanto no exterior. Para encontrar outras charges do autor, clique aqui.

*Opera Mundi

CHORO DE HOLLANDE, LÁGRIMAS DE CROCODILO




Os ataques terroristas perpetrados pelo Estado Islâmico, em Paris, são abomináveis e medonhos.

Ataques massivos e aleatórios contra alvos civis, fora de qualquer cenário bélico, constituem regressão inaceitável diante dos acordos contra a barbárie forjados no século XX.

A resposta mundial a estes crimes não pode ser outra além de repulsa a seus autores e solidariedade às vítimas.

Mas esta atitude, de condenação a ações armadas contra homens e mulheres inocentes, não deve se confundir com aplausos ao presidente François Hollande e seus aliados.

Tampouco seria apropriado sua absorção pelo discurso do choque de civilizações, incessantemente repetido por meios de comunicação em todos os recantos.

Este palavrório sobre confronto de valores, entre democracia e terror, não passa de artifício para esconder o ovo da serpente.

A crescente violência entre os povos muçulmanos, muitas vezes banhada pelo desespero e a loucura social, somente pode ser explicada pela ação permanente de rapina das potências ocidentais.

A origem da dor dos franceses não está no islamismo, mas nos Estados dominados pela vertente imperialista da cultura cristã, onde nasceu o colonialismo como sistema afrontoso à autodeterminação dos povos.

O colapso da União Soviética, no final dos anos oitenta, levou os Estados Unidos à conclusão de que poderia desfechar ampla ofensiva pelo controle do Oriente Médio e suas riquezas petroleiras.

Esta estratégia, ao menos até 2001, estava determinada pela construção de uma nova aliança com governos árabes, protegendo os interesses de Israel e isolando lideranças indispostas à hegemonia da Casa Branca.

Não havia espaço, em tal configuração, para movimentos islâmicos que tinham sido estimulados para enfrentar os soviéticos no Afeganistão, pois eram profundas suas contradições com as forças que governavam os principais países de maioria muçulmana.

Estes grupos rapidamente se deslocaram para uma narrativa antiocidental e religiosa, pela qual alinhavam sua identidade com os setores populares, em confronto com a coalizão formada pelos Estados Unidos, as elites locais e o Estado sionista.

Neste caldo de cultura nasceu a Al Qaeda de Bin Laden e outras organizações jihadistas.
A derrubada das torres nova-iorquinas, no entanto, mudou o cenário.

O comando norte-americano trocou a orientação aliancista por fórmula abertamente intervencionista, ao invadir Afeganistão e Iraque, impondo governos títeres e ampliando sua participação direta na região.

Ataques contra população civil, atropelos de direitos humanos e desrespeitos a garantias legais foram se multiplicando em escalada, como parte da chamada guerra ao terror.

Mesmo enfrentando problemas, com idas e vindas, a estratégia seguiu seu curso, buscando levar, à direção dos Estados árabes, frações políticas e econômicas visceralmente alinhadas ao ocidente.

Sem mexer um dedo para desmontar o apartheid sionista e solucionar a questão palestina, a Casa Branca e seus parceiros foram submetendo o mundo muçulmano, do Egito ao Irã, a operações de cerco e asfixia.

O ápice desta orientação veio com a derrubada de Muammar Al-Gaddafi, na Líbia, e o encurralamento do governo de Bashar al-Assad, da Síria.

O papel da França, nestas operações, liderada por conservadores ou sociais-democratas, foi decisivo.

Ao lado dos Estados Unidos e outros países, alimentou vasta fauna de falanges oposicionistas, com recursos financeiros e militares, entre estas o Estado Islâmico.

Cada uma das potências buscava, na medida das possibilidades, alargar seu domínio sobre territórios de formidável riqueza ou enclaves fundamentais para o controle geopolítico.

Ao perderem o poder sobre suas criaturas, empoderadas para representar seus próprios interesses, foram surpreendidos pela necessidade de combate-las antes que levassem à desestabilização da presença ocidental no Oriente Médio.

Os jacarés criados no tanque da política neocolonial tinham crescido e ameaçavam comer a mão dos antigos donos.

O presidente francês agora chora pelos mortos e promete mais uma guerra implacável contra o jihadismo.

Pura hipocrisia.

Enquanto seu governo e a União Europeia estiverem capturados pela velha lógica imperialista, depois de uma Al Qaeda sempre virá um Estado Islâmico, que será sucedido por alguma expressão ainda mais descontrolada e selvagem de violência anticolonial.

As lágrimas de Hollande são de crocodilo.

Aproveita o sangue vertido em solo francês para aprofundar a mesma política de usurpação que levou à tragédia atual.

*Opera Mundi

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